Perdida?
Nós estávamos caminhando havia algumas horas, depois de nos despedirmos da senhorinha na taverna. Taylor e Tati resolveram vir com a gente, e era bom ter uma menina no grupo, pra me fazer companhia.
Depois de três dias de viagem em silêncio e andando pela floresta, nós decidimos acampar.
Eu vou andando para espairecer, respirar sem ninguém por perto e por os pensamentos no lugar.
Eu paro e sento em uma árvore. Olhando para o teto de folhas. Do meu lado há um arbusto com flores roxas e brancas, contrastando com o lugar escuro e sombrio.
Eu sorrio para elas e estendo a mão para elas. Acaricio as pétalas vagarosamente. Engraçado. Parecia que a folha esta retribuindo. A folha começa a se enrolar no meu dedo, e então tento puxá-lo de volta, mas não consigo.
A folha vai crescendo e se enrolando na minha mão, não consigo alcançar a aljava e o arco ali na árvore. Outra folha começa a se enroscar na minha outra mão e o pânico toma conta de mim.
Merda.
-Socorro!- Grito desesperada.-Ajudem!!!
Sua idiota, não se deve gritar em uma floresta assim. Minha consciência diz, me fazendo me calar apenas por um minuto antes de gritar de novo, pois a planta estava me apertando com uma força descomunal.
Ninguém responde e observo que as folhas começam a enroscar meus pés também, fazendo com que não consiga me mover mais.
-Socorro!- Grito novamente, tentando me levantar, inutilmente-Aqui!! John! Jeremy!!!
As folhas vem se enroscando em meus braços e chegam até minhas coxas, por cima do vestido, lentamente me tornando uma múmia viva.
Algumas já chegam no peito e nas costas, ficando difícil de respirar, fazendo eu ter que arfar, soltando gritos cada vez mais desesperados.
Quando as folhas chegam até meu pescoço, sei que vou morrer. Não há como alguém chegar a tempo.
-Alguém!!! Jeremyyy!!! Alguém me ajude! Por fav..- As palavras se engasgaram em minha garganta.
As folhas começaram a vir até o rosto e apertavam a garganta, me fazendo perder o ar e a voz para gritar de novo.
Só os olho para as folhas verde escuras das árvores, já perdendo a consciência.
Vejo algo de prata cortando o ar, e um grito. Seria meu? Não sei mais. As lágrimas e os pontos negros dançantes me empediam de ver muita coisa.
As plantas aliviam e me soltam mas não me mexo nem um centímetro. Isso é estar morta? Era ruim. Era impotência.
Um belo homem me encarou. Um anjo? pensei. Ia morrer vendo esse belo rosto, pelo menos. Não era tão ruim assim, então.
Ele tocou em mim e eu automaticamente aprendi como que se respirava. Inspirei muito forte e repentinamente, tossindo um pouco.
Ele se afastou um pouco. Eu comecei a arfar e a minha visão voltou a ser clara. Continuei respirando forte. O homem tinha cabelos negros e olhos azuis, barba por fazer e usava um sobretudo preto, o protegendo do frio.
-Você ia morrer.-Disse ele, baixo e calmo.
-Ah, jura?- Comentei sarcasticamente, com a voz ainda rouca.
-Desculpe se salvei a sua vida.- Ele disse em um tom pretensioso, estreitando os olhos.
Arfei. Mas ele tava certo. Ele salvou a minha vida.
-Valeu.-Eu digo, regulando minha respiração.
-Pelo o que, pelo comentário?- Ele perguntou, sarcástico, erguendo uma sobrancelha.
-Idiota. To falando do fato de ter me salvado.- Eu disse, me sentando.
-Ah. De nada por isso.- Ele disse, indiferente.-Está perdida?- Ele pergunta me olhando dos pés a cabeça. Cabeça. A coroa. Penso tomada novamente pelo sentimento de pânico.
Olho rapidamente para o chão e a vejo, abaixo dos meus pés. Me abaixo, fingindo que irei amarrar os cadarços das botas e agarrei a coroa. Se o garoto viu, não disse nada. Discrição. Um ponto pra ele. Penso.
-Pelo que parece.- Eu digo, indiferente.
-O que uma moça como você procura nessa floresta?- Ele pergunta, estreitando os olhos.
-Alguém que possa mudar o meu destino.- Eu digo, ereta e resoluta, já completamente recuperada.
-Como?- Ele pergunta, agora com apenas curiosidade no olhar.
-Com... Magia.- parece ainda mais patético falando.
-Certo... Eu não sou um grande crente mas... Que eu saiba toda magia vem com um preço.- Ele diz, com uma pontada de advertência e questionamento na voz.
-É eu sei.- Digo eu, insegura, antes de me aprumar e dizer bem mais polida e indiferente, - Mas eu estou disposta a correr o risco. É importante demais para ser deixado de lado.- Eu termino falando em um tom importante.
Ainda era a Rainha dos EUSA, mesmo que minha mãe fizesse de tudo para mudar isso. Ainda tinha poder. O que ele poderia fazer contra mim?
-Sim, claro, claro.- Ele diz com um tom divertido e esperto na voz.- Para uma rainha fugir de seu próprio palácio, no dia do casamento e apenas dois meses depois de assumir o trono, fazendo o exército de todo o país, e algumas pessoinhas de fora sem importância saírem em sua procura, deve ser de extrema importância.- Ele faz uma pausa, e eu me contendo a olhá-lo, tentando deixar a máscara de indiferença bem presinha no lugar.- Não é mesmo rainha Janette?- Ele pergunta com um sorrisinho e uma sobrancelha levantada.
Filho da mãe. Eu xingo, suspirando, mas logo o reconhecendo.
-E para um príncipe herdeiro de um pais rico e soberano, governado com a tirania de seu pai, vir aqui para salvar uma rainhazinha de um reino qualquer que fugiu por benefício próprio deve ser bem chato né? Dormir com as criadas deve ser bem mais divertido.- Eu digo, orgulhosa de mim mesma por pensar naquilo tão rápido.-Não é príncipe Trevor?
-Na verdade, eu não ligo para criadas. Não vim aqui pra te achar, apesar de ser o que todo esse povinho pensa. Eu vim porque também preciso de magia.- Ele diz, desdenhoso.
-Esse povinho ainda é meu, então veja lá como fala.- Eu respondo, raivosa.
- Pare de encher o saco. A antiga rainha tem a magia que eu quero, princesinha. E ela vai me entregar... É claro, tem um preço...
-Qual?- Eu pergunto, desconfiada.
-Te levar de volta para o castelo.- Ele diz, me puxando.
-Não!-Gritou uma voz atrás de mim.
John sacou a espada e começou a lutar com Trevor.
-Corra, Jane!- Ele grita para mim.
Eu corro um pouco e olho para trás, a tempo de ver Trevor derrubar a espada de John e enfiar a sua própria no coração de meu noivo.
-Não!!!- Gritei, com lágrimas nos olhos. John me encara uma ultima vez, dizendo para mim, sem emitir som: Eu te amo.
Jeremy aparece e me puxa para longe. Tudo fica abafado, fazendo com que eu não entenda as palavras que ele me diz.
Nós paramos por um momento, e eu caí, desmaiando de cansaço.
Acordo ao lado de Jeremy, enquanto ele prepara uma lata de comida para cada um. Ele lançou-me um sorriso triste.
Triste? Por que ele está triste? Me pergunto, ainda no torpor matinal. Tudo o que aconteceu ontem cai em mim. As plantas, o príncipe, a espada, e John. John. A palavra tinha um som estranho. Como se não fizesse mais sentido usá-la. As lágrimas aparecem em meu rosto. Eu odiaria Trevor pelo o que ele fez. Eu o odeio. Odeio demais.
Jeremy me tomou nos braços e me abraçou.
-Me desculpe pelo seu amado.- Ele disse, com dor, encarando o chão.
-Eu nunca o amei. Continuo amando a mesma pessoa que amava há dois anos atrás...- Eu digo ainda com a cabeça em seu peito.
-Aé é? Quem?-Ele pergunta, com um pequeno sorriso.
Eu o puxo para perto e lhe dou um selinho.
-Responde a sua pergunta?- Pergunto, sentindo o ódio me deixar, lentamente.
-É. Responde.- Ele disse sorrindo, me puxando para um beijo de verdade.
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