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O Baile

      Eu optei por um longo vestido preto de mangas compridas e calda estilo sereia. Suas costas eram abertas, onde correntes com diamantes adornavam minhas costas, envolvendo meu pescoço e caindo em arcos até a minha lombar.
       Meus cabelos loiros estavam soltos e alisados. Sobre a minha cabeça estava uma coroa de metal escuro com diamantes tão pesada que pensei duas vezes se realmente a usaria. E meus olhos violetas foram ressaltados com a sombra preta e brilhante que havia em minhas pálpebras e em meus lábios, não havia nada.
       Eu alisei a saia do meu vestido enquanto me olhava no espelho e análise cada detalhe.
       -Nada mal, nada mal mesmo.-eu falei, sorrindo e olhando Leila.
       Ela tinha os cabelos presos em um coque trançado e estava com um vestido rosa-chá tomara que caia um pouco rodado. Seus lábios estavam em um vermelho vibrante e seus olhos estavam apenas com rímel. E ela não usava nenhuma jóia além dos brincos de diamante.
     -Você está magnífica.-eu digo, subindo em meus saltos incrivelmente confortáveis.
     -Obrigada, Jane. Você também está.-ela diz, sorrindo.
     -Brigada.-eu disse, me sentindo ótima.-Agora, devemos ir.
     -Tem razão.-ela disse, abrindo a porta de meu quarto.
     Nós duas fomos andando pelo corredor até o Salão de Bailes calmamente, já sendo possível ouvir as conversas que vinham daquela direção.
     As portas do salão estavam fechadas para nós e todos os convidados já haviam entrado. Eu pude ouvir a voz abafada de alguém me anunciando e me preparei, respirando fundo.
      Quando elas se abriram, eu entrei e houve uma hesitação de um segundo antes de todos aplaudirem. Mas é claro que hesitariam.
       Eu era uma rainha toda de preto, muito diferente das outras rainhas de vestidos vibrantes ou de cores pastéis e coroas delicadas. Eu sorri para o meu público. Eles me observaram enquanto eu descia as escadas.
       Eu, a rainha que se recusou a casar, que fugiu do palácio e que tomou o reino de sua mãe em rede nacional.
       Quando as escadas acabaram eu fui logo em direção ao meu irmão, que estava com Sinbad e seus dois subordinados, Ja'far e Spartos. O rei sorriu ao me ver.
       Ele estava vestido com roupas ocidentais formais. Seu terno era preto, a blusa social era de um roxo muito, muito escuro e a gravata era preta. Ele usava seus típicos brincos de argola de ouro, mas a espada não estava mais lá, nem o resto das jóias.
      Apenas era possível de ver um bracelete por baixo da blusa social quando ele levantava as mãos. Seus cabelos roxos extremamente longos estavam presos e pareciam mais escuros de alguma maneira.
       Ja'far estava com um terno verde muito escuro, uma blusa social branca e uma gravata preta. Seus cabelos brancos estavam penteados para trás e os olhos verde-acinzentados estavam tranquilos como sempre. Eu notei que ele deveria ter a minha idade, ou ser um pouco mais novo que eu. Ele me olhou por um instante e vi que suas bochechas corararam.
      Spartos permaneceu sem expressão alguma enquanto via em me aproximar. Seus cabelos continuavam cobrir um de seus olhos e eu me perguntei se realmente havia um olho abaixo daquela montoeira de cabelo vermelho.
      Ele usava um terno azul petróleo, com uma blusa social preta e uma gravata branca. Ele também parecia mais novo que eu ou Sinbad. Deveria ter no máximo dezenove anos.
      -Rainha Janette.-disse o rei Sinbad quando eu finalmente cheguei até eles.-Você está magnífica essa noite, se me permite dizer.
       -Muito obrigada, Sinbad.-eu disse, fazendo uma reverência.-Devo dizer que ficaram muito bem com as roupas ocidentais. Quem as escolheu para vocês?-perguntei, com um sorriso debochado.
      -Na verdade, o rei Sinbad escolheu nossas roupas.-disse Ja'far, evitando me olhar.
       -Ah, é mesmo?-eu ergo as sobrancelhas e aceito uma taça de champanhe que um garçom me ofereceu.-Não me impressiona estar solteiro, então.
       Ja'far segurou o riso, mas Spartos não tentou esconder o sorriso do rosto. Sinbad não recuou diante a minha brincadeira. Ele riu alto.
       -Você tem um senso de humor muito diferente do resto dos reis e rainhas do mundo, Janette.-ele falou, também pegando uma taça de champanhe.-Isso só a torna mais encantadora.-ele falou, me olhando.
       -Pois saiba que posso ser bem mortal quando eu quero, Sinbad.-falei, com um meio sorriso.
       -Não duvido nem um pouco disse, majestade.-ele falou, tomando um pouco da bebida.-E é por isso que você consegue me fascinar tanto. Você não é como as outras rainhas. Você não é um bibelô.
       -Espero que considere isso algo positivo.-eu disse, ainda o olhando com curiosidade.
       -Certamente.-ele falou, me olhando.
       E assim ele ficou, por muito tempo. E eu não desviei o olhar dele. Eu não era fraca, não iria recuar nenhum passo.
       Jullien se aproximou de mim e tentou soar o mais gentil possível, mesmo estando notoriamente nervoso.
       -Irmã. Você ainda precisa falar com todos os outros governantes presentes. Não acha que seria melhor flertar depois de ter cumprimentado todos eles?-perguntou ele, baixinho.
      Mesmo ele tendo falado ao pé do meu ouvido, eu pude concluir que o rei de Sindria havia ouvido cada palavra, pois havia um sorriso convencido em seu rosto.
      -Bem, se me dão licença, tenho outras pessoas com quem conversar.-disse eu, apenas para provocá-lo.-Espero que não sintam muita falta de mim. Prometo que dou um beijinho de boa noite em vocês antes de ir para a cama.
       -Eu não reclamaria nada disso.-falou Sinbad, olhando sua taça de champanhe.
       Eu apenas o ignorei e segui o meu irmão, que me apresentou a vários reis, rainhas, presidentes e imperadores de todas as partes do mundo. Já eram tantos nomes, sorrisos e sotaques na minha cabeça que já estava difícil de lembrar quem era de que lugar.
         Mas sempre haviam aqueles que se destacavam. E o Império Kyoshi não poderia fazer nada usual, e é claro.
      O Imperador era um homem frio e calculista, cujas palavras pareciam feitas de puro veneno. Mas não era apenas ele que me preocupava. A conversa que eu havia tido com Sinbad na manhã daquele dia era o que me deixava mais alarmada.
      O príncipe herdeiro kyoshiano era um homem alto e esguio. Ele tinha cabelos castanhos e olhos tão escuros que pareciam feitos de carvão. Seu sorriso poderia fazer qualquer mulher de mente fraca derreter e ele parecia um perfeito cavalheiro.
       -Este é o meu filho, Rainha Janette.-disse o Imperador.-Ele é o meu maior orgulho. Hukini é o homem mais esperto que a senhorita já pensou em conhecer.
       Eu fiz uma reverência, olhando Hukini atentamente. Ele também fez uma reverência perfeita e me olhou de cima a baixo, descaradamente.
       -É um prazer finalmente conhecê-la, Rainha Janette.-disse ele.-Você está mortalmente linda, esta noite.
       -Pode apostar que essa não é a única coisa mortal em mim, Príncipe Hukini.-falei, com um sorriso.
       Ele me olhou de maneira misteriosa. Seus olhos me davam calafrios. Eram escuros demais, indecifráveis demais e eu me sentia perdida quando olhava-os.

        Hukini me chamou para dançar em algum ponto do baile. E assim como todas as conversas que tiveram, foram palavras feitas de entrelinhas e não havia uma que ele não compreendesse. Aquele herdeiro era extremamente perigoso.
       Quando a música acabou, alguém tocou o meu braço.
      Eu me virei e vi aquele que era a pessoa mais esperada por mim naquela noite.
      Trevor estava com roupas completamente negras e um grande sorriso no rosto.
       -Já faz um tempo, não é mesmo, princesa?-Ele sorriu para mim. Eu fiz uma reverência breve e olhei para ele.
       -Faz. Bastante tempo. E é por isso que acho que seria melhor que me chamasse de uma maneira mais formal, príncipe Trevor.-lancei um olhar para ele que ele automaticamente entendeu.
      -Mas é claro, majestade. Onde eu estava com a cabeça? Espero que perdoe a minha indelicadeza.-ele falou de uma maneira que quase não o reconheci.
      -Mas é claro que o perdôo, alteza. Principalmente se o meu quarto for o último do segundo andar.-falei, sorrindo.-Onde está seu pai?
     -Conversando com o Imperador do Império Kyoshi. Você sabe, os dois são praticamente melhores amigos.
      Eu vi os dois conversando num canto, aos sussurros. O rei dos Estados Nortistas parecia preocupado com alguma coisa. E o Imperador parecia concordar com ele.
     Afastei os dois de minha cabeça e levei Trevor até o lugar onde Sinbad estava. Apenas Ja'far estava com ele. Spartos havia tirado uma moça para dançar e não havia voltado até agora.
      -Rei Sinbad. Acho que deveria conhecer o príncipe Trevor, Do EUNA. Ele me guiou até o meu destino, por assim dizer.-falei.
     O rei de Sindria sorriu.
     -É um prazer conhecê-lo, alteza.-disse Sinbad.-Temos muito o que conversar.
      
 

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