O Ataque Rebelde
Já era o fim da noite, mas o baile continuava a todo o vapor. Eu estava sentada no meu trono, olhando os reis e rainhas dançarem.
O rei Sinbad estava sentado perto de mim, rindo dos casais.
-A liberdade nunca pareceu tão boa.-ele disse, enquanto olhava o rei da França pisar nos pés de sua rainha, desajeitado.
Eu dei um sorrisinho, tomando um gole da minha taça de vinho.
-Eles estão melhor que os escandinavos.-eu falo baixinho.
Sinbad ri comigo.
-Com certeza. Ninguém está pior que os escandinavos.-ele diz.
Ja'far estava perto de seu rei, calado, mas com um pequeno sorriso no rosto, enquanto Spartos falava alguma coisa para ele.
-Um brinde à liberdade.-eu ergo a minha taça na direção dele.
Ele bate sua taça na minha com leveza.
-Saúde.-ele disse, rindo.
Eu me virei para olhar todos aqueles governantes ali presentes. Poucos deles estavam sóbrios e isso certamente não incluía o imperador kyoshiano, que brincava de fazer tranças na própria barba enquanto ria com o presidente da Austrália.
Tudo estava tão calmo que eu até me sobressaltei quando vi Jullian atravessando o salão parecendo alarmado.
Ele veio até mim e se aproximou de meu ouvido. Eu pude sentir o calor humano que emanava dele e ouvir sua respiração acelerada.
-Nós temos um problema. E é dos grandes.-ele disse, com a voz falha.
-O que houve?-eu perguntei, tentando aparecer indiferente ao ouvir aquilo que meu irmão tinha a me dizer.
-Jeremy está aqui. E não é numa visita amigável.-sussurrou o meu Conselheiro Real.-Ele está com dois outros rebeldes. Os guardas o barraram na entrada. O que devo fazer?
-Não se preocupe, meu irmão. Eu cuidarei deles pessoalmente. Mande os soldados protegerem o salão caso seja uma armadilha.-instruí ele, tentando parecer o mais calma possível.
O rei Sinbad havia ouvido a conversa e parecia preocupado, assim como Trevor que havia acabado de chegar.
Eu olhei para o rei de Sindria.
-Venha comigo, majestade. Mas deixe seus homens aqui. Não sabemos se tentarão um ataque enquanto estamos do lado de fora.-eu falei e o rei apenas assentiu. Eu olhei para Trevor.-Fique aqui. Confio em você caso algo dê errado.
-Não vai dar, Jane. Você é poderosa demais para que dê.-ele falou, me lançando um olhar que me fez mais confiante.
Eu me levantei e como um tornado, saí do salão de baile seguida por Sinbad, que tinha sua mão pousada de maneira firme, mas gentil sobre a espada em seu cinto.
.
Eu estava com Zac e Marlin do lado de fora do palácio. Os soldados da rainha apontavam suas armas para mim e mesmo sabendo que poderia vencê-los, não invisto contra eles.
Aquela podia não ser uma visita agradável, mas eu queria a rainha do lado de fora e não havia necessidade de derrubar soldados se eu não fosse avançar.
Mas uma ordem em um dispositivo que eles tinham no ouvido foi dita e todos eles pararam de apontar suas lanças com armas acopladas. Apenas a apoiaram no chão e bateram-na uma vez no solo em uníssono, como se esse fosse um adeus das armas.
Eles se dividiram em duas filas e se afastaram em direção ao interior do palácio.
Droga. Mas é claro que Jane pensaria em proteger os reis e rainhas bêbados. Mas talvez não dos alucinógenos que uma de minhas rebeldes da cozinha colocou em algumas bebidas.
Foi então que eu vi um furacão vestido de preto. Era ela. Era aquela que eu havia amado havia tanto tempo. Aquela que eu havia usado, aquela que eu havia ajudado e agora era aquela que eu traía. Bem, não poderia ser considerada uma verdadeira traição, já que estávamos em lados diferentes.
Mas eu sabia que isso não a impediria de me odiar.
A Rainha Janette estava acompanhada de um homem que parecia vagamente familiar. Devia ser um subordinado de algum dos reis que não estava louco o suficiente para deixar a rainha sair do castelo sozinha. Se bem que essa rainha não precisava de proteção.
Ela parou a minha frente, toda vestida de preto e sorriu, para minha surpresa.
-Ora, ora. Vejam quem está aqui.-ela falou, ainda sorrindo.-O grande e temido líder rebelde... Imagino que não tenha vindo ao palácio comemorar o fato de nosso país estar em paz com o mundo.
-Não mesmo. Não quando há gente morrendo de fome nas ruas de suas cidades, majestade.-eu falei, com um olhar grave.
A reação dela me fez recuar. Ela apenas cruzou os braços e me olhou da maneira mais debochada do mundo.
-Ah, é mesmo? As pessoas estão morrendo nas minhas ruas? O que mais vai dizer? Que existem pessoas tão pobres que são incapazes de alimentar seus filhos? Tão fracos que andar se tornou um fardo?-ela perguntou.
-Sim, majestade. Existem pessoas assim. Milhares de pessoas assim. Desde que sua mãe entrou no poder as coisas só pioraram e ninguém recebeu informação de melhora.-Zac falou, olhando a rainha e depois para o homem atrás dela.
-Ah então vocês não vêem se isso é verdade ou não por si só?-ela pergunta, com um sorriso.-Coitadinhos. Tem traidores até mesmo entre os traidores da nação.-ela disse.-Eu viajei todos os cantos desse país. Fui em vilarejos que sequer estão no mapa. Eu cuidei de todas as pessoas, durante esses dois meses. Hoje em dia, não há mais moradores de rua nem violência, muito menos mortes de fome ou frio. E eu fiz tudo isso em dois meses. Não acreditam? Saiam daqui e andem nas ruas. Não percam o meu tempo.-ela diz, virando de costas pra mim.
Ela está dizendo isso para confundi-lo. Eu pensei. Mas não estava. Ela estava confiante, resoluta de que tudo aquilo era verdade.
E se realmente fosse verdade, significava que ela era uma governante justa, que havia feito seu país entrar em paz. O que também significava que não haviam motivos para os rebeldes estarem lutando. Não havia contra o que lutar. Mas como contar isso aos outros?
Como contar que tudo que eles tinham contra a rainha não passavam de mentiras? Eram tantos homens e mulheres que tinham prêmios por suas cabeças, entocados no esconderijo...
-Não se preocupe com o resto de seus amigos rebeldes.-disse ela, ainda de costas.-Não há recompensa pela captura de ninguém, por enquanto. Se algum for capturado, eu conversarei com o réu antes de tudo. Não é da minha natureza matar quem não merece.
Eu não sei o que falar nem como agir. Tudo que me fazia odiá-la desmoronou tão de repente que eu só conseguia olhar para as costas nuas de seu vestido, tentando bloquear a sua existência da minha vida.
E uma explosão soou. Merda. Eu pensei. O ataque havia começado e gente iria morrer por nossa causa, sendo que não precisavam morrer, não tinham pelo que morrer.
Mas talvez eu conseguisse reunir novas acusações contra a rainha. Talvez eu conseguisse acusações reais.
Ela me olhou uma última vez e seguiu com o homem até o salão de bailes.
.
A barreira mágica que eu havia deixado estava em pleno funcionamento.
Os rebeldes atacavam a barreira, tentando quebrá-la, inutilmente.
A rainha Janette fez um gesto com a mão e todos eles caíram no chão, dormindo. Ela me olhou.
-Desde quando você é um mago?-ela pergunta, com uma sobrancelha erguida.
-Não sou. É só uma ferramenta mágica. Ganhei de um amigo que já morreu faz tempo.-eu disse, de maneira triste, porém calma.
Retirei o objeto de metal que controlava a barreira da parede e o guardei no bolso interno do terno.
-Rei Sinbad, você é cheio de surpresas.-ela disse, sorrindo para mim.
Depois de chamar os guardas e instruí-los de colocar os rebeldes nas celas da prisão em pares, Janette tranquilizou os outros reis e rainhas.
Poucos deles não sabiam do risco de um ataque rebelde e todos eles pareceram entender. O que foi um alívio para ela. Acho que a última coisa que ela precisava era ser questionada por mais alguém.
Depois daquilo, a festa obviamente acabou e restaram apenas eu, Ja'far e Janette no salão de bailes.
Segundo Ja'far, Spartos havia conseguido um pouco de diversão com uma das princesas indianas.
Eu olhei para a rainha, que sorriu para mim e se despediu com uma reverência, antes de ir para seus aposentos.
Eu a olhei sair e me virei para Ja'far.
-O que acha dela, Ja'far?-perguntei, olhando-o corar.
-Ela é uma baita rainha.-ele disse, olhando para qualquer lugar que não fossem os meus olhos.
-Sim, é sim.-eu respondi.
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