Fuga
-John... Você é o melhor amigo do mundo!-O abraço e lembro que devíamos partir logo.-Devemos ir. Agora.-Olho para ele, séria.
Ele assentiu e me seguiu.
Leila sabia de tudo e havia preparado todas as coisas necessárias para que partisse, ela estava me esperando na porta dos fundos com lágrimas nos olhos e segurava um lenço assoando o nariz a todo o tempo. Meu irmão estava ao seu lado, de mãos entrelaçadas com ela.
-Vão até a enseada e procurem por Jeremy. Ele vai ajudá-los a se manter. -Disse minha Dama de Honra, dando-me a mochila e apontando para o cavalo amarrado num poste.-Este é o cavalo mais rápido que já vi. Fujam e não olhem para trás.
Meu irmão se aproximou de mim e me deu um abraço, com um sorriso calmo no rosto.
-Cuide-se minha irmã. Espero que encontre o que procura.-Ele me me olha.
-E espero que você me dê sobrinhos bonitos.-Eu sorrio, vendo os soldados se aproximando do outro lado do pátio do jardim.
-Claro.-Ele ri.-Amamos você.
Assenti e montei no cavalo branco, com John na minha frente. Leila me deu uma capa com um capuz branco para proteger tanto minha idade quanto minha temperatura corporal e deu uma azul marinho a John que agradeceu com um aceno de cabeça.
-Cuide dela.-Falou ela, com um olhar determinado e ele assentiu, antes que ela batesse no traseiro do cavalo que saiu correndo.
Leila correu atrás, fingindo que estava tentando nos impedir.
John acelerou com o cavalo e eu fiquei com as costas nas dele para poder ver se alguém nos seguia.
Após algum tempo, eu me vi em um estado de torpor tão absurdo que se não fosse pelos meus braços em volta do corpo de John eu teria caído do cavalo e focado na estrada para sempre.
A enseada estava próxima e os cidadãos olhavam curiosos para os dois forasteiros encapuzados que passavam numa velocidade absurda, quase tão rápidos quanto os carros. Ninguém parecia feliz com a nossa presença. Era como se eles soubessem que eu era da realeza.
John assumiu uma postura mais curvada para não gerar suspeitas. Não mais suspeitas que a espada em sua cintura, é claro.
Ele parou o cavalo no cais, onde havia uma pequenina taverna, toda feita de madeira e levemente torta para a esquerda. Assim que descemos do cavalo, entramos no estabelecimento, que não tinha ar, mas ventiladores que chiavam cheios de bolor.
Quando entramos, havia apenas a balconista e um hóspede de capuz negro, assistindo uma velha televisão de plasma no balcão, tomando cerveja.
-Um um quarto para dois viajantes. Camas de solteiro por favor.-Diz John educadamente.- Estamos procurando um tal de Jeremy.-Diz ele a moça do balcão enquanto a pagava.-Sabe quem é?
Tanto tempo. Eu pensei, tentando me conter, ao ouvir aquele nome que sempre fazia meu coração disparar, não importa quanto tempo passasse.
-Deve estar falando de mim. -Disse um jovem de cabelos castanho escuros e olhos verde-folha. Quando eu o olhei, só faltava derreter. Ele continuava exatamente igual, tirando a barba que estava por fazer.
-Uma mulher chamada Leila disse que poderia nos ajudar.-Digo, olhando-o. Ele finalmente me olha e arregala os olhos, surpreso, mas logo se recuperando.
-Leila enviou vocês? Então talvez possa ajudar. Venham comigo, levarei vocês até seu quarto.-Ele diz, se levantando do balcão.
Ele sobe as escadas de madeira e nos leva até um grande quarto com uma lareira, duas poltronas e duas camas. Ele manda nos sentarmos em duas poltronas e senta da mesinha de centro, olhando desconfiado para nós.
-O que a Rainha Janette e... Um cara qualquer fazem por essas terras? Se a Rainha queria ver a situação precária dos plebeus, ao sul de Elfindor é pior. O Leste é até calmo, na maioria das vezes, assim como o Oeste... Já o Norte, vocês devem saber, é lugar mais rico que tem. Mas não parece que vieram em missões diplomáticas, não é mesmo? Então, por que vieram?-Ele se senta, sem tirar os olhos de mim.
Elfindor, a cidade central, do país, tinha tudo. Era o coração do Estado.
Jeremy olha para mim com mágoa e raiva e eu sei que preciso falar com ele a sós, antes que ele simplesmente explodisse na frente do meu ex-noivo.
-John, nos deixe a sós.-Eu digo, depois de um momento de silêncio.
-O que?!-Ele pergunta, com um olhar preocupado e ofendido.
-Só saia.-Digo, olhando-o nos olhos.-Nos dê cinco minutos.
Ele me encara e eu encaro de volta, medindo minhas palavras. Ele finalmente cede e diz:
-Cinco minutos.
Eu meneio com a cabeça e ele sai, irritado.
Eu me viro para Jeremy, sem saber por onde começar.
-Então, por quanto tempo você vai fingir que não me conhece?-Ele pergunta, desdenhoso.
-Jeremy...-Eu começo, mesmo não sabendo como terminar a frase.
-Jeremy nada! Você sabe o que foi esperar, torcer , para que você tenha conseguido voltar, por dois anos e não saber de nada sobre o que têm acontecido contigo? Tirando as últimas notícias, é claro.-Ele diz, com uma risada amargurada olhando para a espada em sua mão, furioso.-Como foi a cerimônia? Bonita? E esse aí, é o seu marido? Estão em lua-de-mel e você veio para esfregar a sua felicidade na minha cara?!
-Jeremy. Você não está entendendo. Minha mãe cortou todos os meios de comunicação que eu tinha, me obrigou a andar com um guarda por meses e só agora ela me liberou. Eu ia falar com você, eu juro, mas ela começou a me encher de obrigações e... Eu fugi. No dia do casamento. Antes de me casar, mas já rainha. Eu não quero isso Jeremy, nunca quis. E você sabe.-Eu digo, dando passos em sua direção, querendo tocá-lo, abraçá-lo, beijá-lo.
-Eu não sei de nada. Não sei quem você é.-Ele recua.-Não mais. Por que está aqui? Por que veio até mim?
-Preciso que nos leve até ela. Ela é a única que pode me ajudar. Ajudar a mudar o meu destino.-Eu o olho gravemente, esperando que ele entenda o tamanho do meu pedido.
-Está fora de si?! Sabe que isso não sairia impune, sabe que sempre...-Ele para, e continua com um ar mais cauteloso.-Sabe que sempre vem com um preço.
-Eu preciso tentar, Jerry.-Eu digo, respirando fundo.
-Jane, não. Não vou fazer isso.-Ele nega com a cabeça, virando de costas pra mim.
-Sinto que não é pelo perigo que não quer ir.-Digo, estreitando os olhos.
-E se for pelo perigo?-Ele me fita de soslaio, virando a cabeça.
-Ah, Qual é? Jeremy Black com medo? Nem vem.-Reviro os olhos, cruzando os braços.
Jeremy suspira e olha para a lareira.
-Amanhã bem cedo.-Ele diz, com outro suspiro, antes de se virar para mim.
-Obrigada Jerry!- Eu digo abraçando ele do nada.-Significa tanto pra mim.
-Aham, aham. Pode me agradecer. Eu sei que sou demais.-Ele dá tapinhas nas minhas costas, mas sei que estava sorrindo.
Eu não consigo conter uma risada.
-Ca-ham.-Diz alguém, depois de abrir a porta.
John.
-Cinco minutos, lembram? Mas se quiserem. Eu estendo a noite a vocês.-Ele fala, com a voz tão fria quanto um bloco de gelo.
Eu saio dos braços de Jeremy, muito vermelha, mordendo os lábios.
-John, Jerry é meu amigo de muitos anos.-Eu digo, mentindo descaradamente e tentando agir com naturalidade.
-Ah. Que bom que se reencontraram.-Ele diz, sínico.
-Tenho que ir. Boa noite aos dois pombinhos. Amanhã cedo partiremos.-Diz Jeremy, saindo de cena.
John não me olha nos olhos, só senta na cama, tira os sapatos e deita para dormir.
Droga.
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