A Poção
Olhei mais uma vez para aqueles olhos da bruxa, que pareciam ainda mais insanos do que da última vez que eu havia olhado.
-O que quer que eu faça?-Pergunto, engolindo um seco e olhando para o caldeirão.
-Bem, queridinha, para que isso funcione você precisa querer.-Ela diz.-Só assim você poderá ter seu poder de volta.
-Mas eu pensei que mudaria meu destino...-Eu contesto, confusa com suas palavras.
-Mas é isso que estou fazendo, querida! Sabe, na verdade, a única que realmente mudará seu destino é você. Eu só dou um empurrãozinho.-Ela responde. Sua voz parece ligeiramente masculina e sua pele parece brilhar. Ela dá um risinho muito agudo e eu franzo as sobrancelhas.
-Eu não entendo...-Eu digo, ainda mais confusa, olhando a bruxa.
-Bem, é simples. Você faz um desejo para a Poção, ela restaura seus poderes, você volta para o castelo, encontra sua mãe tirana e então...-Ela se aproxima, falando mais baixo.-Mata ela.
-Eu, matar minha mãe? E como eu faria isso?-Pergunto, me levantando.
-Com seus poderes, é claro!-Ela fala.-E você tem de matá-la. Por que esse, Vossa Majestade, é o meu preço.-Ela dá mais uma risadinha sinistra.
Eu pisco muitas vezes, assimilando suas palavras e olhando o chão, antes de tirar algo da minha bolsa.
-E a faca? Aquela que foi usada para tirar meus poderes. Não serviria?-Pergunto, tentando evitar precisar cometer assassinato.
Por mais cobra que minha mãe fosse, não queria ter sangue do meu próprio sangue em minhas mãos.
-Vai servir como pagamentos pelos serviços prestado ao príncipe, muito obrigada.-Ela diz, fazendo um gesto com a mão. A faça vira fumaça e eu a encaro.
Ela pega a minha mão e me leva até o caldeirão. Ela sorri para mim e Ginga pousa em seu ombro, parecendo tão interessado quanto ela.
-Vamos, faça seu desejo, querida. Traga seus poderes de volta. Mas use as palavras certas. Porque caso o contrário, o caldeirão poderá entender errado.-Ela me explica.
Eu me curvo sobre o líquido turvo e brilhante, inalando seu cheiro familiar, antes de me concentrar. Ok. Palavras certas. Eu penso.
-Me traga a única coisa capaz de mudar meu destino.-Eu sussurro, de olhos fechados.
A poção emite uma luz muito clara e eu sou lançada para trás com uma explosão. A velha bruxa riu e se aproximou, pegando o líquido com uma colher.
-Ah, funcionou perfeitamente. Você é uma menina mais esperta do que eu me lembro do seu pai ter me contado.-Ela fala, com um sorriso, enquanto enchia um grande jarro de vidro com o líquido bifásico branco e negro.-Até a última gota...-Ela, sussurrou, compenetrada.
Trevor se aproxima de mim e me puxa pelo braço.
-Você não está realmente considerando isso, está? Matar sua própria mãe, a Rainha?-Ele sussurrou, parecendo preocupado. Só agora pude notar seu sotaque nórdico, enquanto ele ainda me encarava.
-Ex-Rainha. E você não sabe o que aquela mulher me fez.-Me solto dele, afagando meu pulso, onde ele antes apertava com um olhar desafiador.-E desde quando você é um defensor da paz e da ordem, assassino?
-Quantas vezes terei que repetir que eu não matei o seu noivinho?-Ele pergunta, revirando os olhos, claramente demonstrando impaciência.
-Quantas forem necessárias até eu decidir te matar, bonitinho.-Eu falo, venenosamente, antes de me virar para velha da qual o nome eu já havia esquecido.
Ela se aproximou de mim, com seu vestido dançando enquanto ela andava desajeitada.
-Aqui. Tem que beber tudo.-Ela fala, pegando uma jarra tão grande que poderia alimentar um país pequeno.
Eu olhei, assustada, antes de pegá-la com mãos trêmulas e pô-la na boca, tomando em grandes goles, sentindo o líquido me preencher. Quando já não aguentava mais, finalmente havia acabado. A velhinha me fitava com olhos cheios de expectativa.
Inicialmente, eu não senti nada. Mas como tudo que é bom dura pouco, logo formigamentos se espalharam por todo meu corpo, me fazendo tremer. Eu vi um brilho forte e a lua estava a minha frente.
"Bem-vinda de volta, criança. Senti sua falta". Falou a voz calma da lua. Logo ela desapareceu e eu senti algo poderoso fluir pelo meu corpo. Algo que parecia estranhamente familiar.
Eu caí no chão, assim percebendo que antes eu flutuava. O ar pareceu pesado e se tornou difícil pra mim respirar, antes de recuperar os sentidos totalmente de novo. Eu me levantei, ofegante, olhando o príncipe a minha frente. Ele me olhava, incrédulo.
Seu rosto parecia mais belo do que nunca e senti minhas memórias ganhando clareza. Até mesmo aquela luta que ele alegou apareceu em minha mente, substituindo a morte de John por um sequestro.
Trevor se aproximou lentamente de mim, parecendo preocupado e alerta ao mesmo tempo.
-Você está bem, Castellian?-Ele perguntou.
-Você disse a verdade... Ele não morreu.-Eu falo, o olhando.-Me desculpe. Eu estava cega.
Seu olhar se suaviza e um pequeno sorriso se forma em seus lábios.
-Tá tudo na boa.-Ele fala, imitando o sotaque sulista e rindo.-Se sente mais poderosa, afinal?
-Na verdade sim, me sinto. É como se tivesse acordado de um longo pesadelo.-Eu digo, me sentindo estranhamente feliz. Eu olho a bruxo que está comum sorriso vitorioso no rosto.-Obrigada.
-Foi um prazer querida.-Ela sorri ainda mais.-E para o rapaz...-Ela tira um fraquinho com líquido azul e pequenino dos cabelos e o entrega.-Isso deve resolver seu problema. Aplique apenas algumas gotas e tudo ficará bem.
Ele assentiu.
-Temo que precisemos ir embora agora. Obrigada por tudo.-Trevor fala, mesmo que ainda um pouco desconfiado dela.
-Mas é claro! Muitas coisas a fazer vocês têm, é sim. Podem ir. Sabem onde fica a saída.-Ela fala, fazendo um gesto e conjurando um banquinho para que pudesse se sentar.
O gato Ginga miou, muito mais dócil do que quando haviam chegado. O príncipe puxou-me pelo braço e nos levou para fora, o de já havia anoitecido sem que notássemos.
-Eu não sei exatamente o porquê, mas eu não confio nessa mulher.-Ele diz, já adentrando na floresta.
-Nem eu.-Eu respondi.-Mas acho que posso nos levar para o castelo de maneira bem mais rápida.-Eu falo, ponderando.
Ele me olha e faz uma reverência.
-Por favor. Já estou cansado de andar nessa floresta.-Ele fala e eu rio.
Ainda não confiava no Príncipe Trevor, mas saber que ele não assassinou meu amigo já era um grande passo.
Eu segurei sua mão e estalei meus dedos, fazendo-nos desaparecer da floresta.
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