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Neste mundo, há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, é a outra a de os satisfazermos.
Oscar Wilde
ATUAL
Dizem que quando amamos uma pessoa você instantaneamente fica feliz, apenas por vê-la feliz, e é como eu me sinto agora. Kassia, minha melhor amiga de infância, está radiante com a notícia, seu namorado, Thomas, pediu ela em casamento ontem a noite, ela está radiante. E mesmo eu estando destruída por dentro, eu ainda consigo me sentir feliz por ela. Kassia merece toda a felicidade do mundo, seus olhos castanhos claros brilhavam olhando para o anel no seu dedo, ela está toda radiante, como eu nunca havia visto.
Desde meu sequestro, a seis meses, eu não sou mais a mesma. Eu larguei meu emprego na escola, abandonando meus alunos e amigos, não consigo mais sair para festas como antes, dormir já não é mais uma opção, resumindo, eu passo meus dias, trancada em casa ou na casa dos meus pais, tendo que ir duas vezes por semana no psicólogo. Muitas pessoas acreditam que quando passamos por algum trauma, temos que superar e voltarmos a ser quem éramos— porque isso é sinal de força—. mas eu não consigo. Não consigo mais me olhar no espelho e me admirar, não consigo mais confiar nas pessoas a minha volta, não consigo mais dar um sorriso verdadeiro ou ser feliz. É como se a antiga Carla estivesse morta, deixando apenas o corpo.
Eu me lembro que eu era tão feliz. Eu amava a vida, as pessoas. Eu amava ser quem eu era. Então, bastou eu ser sequestrada, bastaram algumas horas, para tudo o que eu levei uma vida inteira ser destruído. Você leva uma vida para conseguir ser plenamente feliz, mas bastam alguns minutos, seguidos ou horas, para tudo desmoronar.
— Então, vamos sair para comemorar hoje?— saio dos meus pensamentos com a voz alegre da Kassia.
Olho para a minha amiga e sorriu forçado, no por mim não está feliz por ela, e sim, por me odiar por sentir um pouco de inveja da sua felicidade. Eu me lembro de quando era feliz, e mesmo que eu tente, não consigo voltar a ser.
Kassia está me olhando com expectativa nos olhos e um pouco de preocupação, assim como todos a minha volta, como se a qualquer momento eu fosse surtar e desmoronar. Eu sei que a minha família não pode me ajudar com a minha dor — porque ela apenas os fariam sofrer— então eu apenas sorrio e tento convencê-los de que estou bem, mesmo que muita das vezes não decerto.
— Eu adoraria.— minto, mas eu vou comemorar com ela. Kassia merece isso, ela merece a felicidade, e se ela quer estar comigo em um dos momentos mais felizes da sua vida, eu adoraria.
— Maravilha, eu venho de pagar às oito horas.— ela falta gritar de alegria.
Eu apenas balanço a cabeça e sorrio para a sua felicidade, é tudo o que eu posso fazer.
— Você se importa se o Rafael for? É que ele está bem próximo do Thomas.— Kassia pergunta curiosa e com medo da minha reação.
Sorrio me lembrando dele. Rafael não saiu do meu lado em nenhum momento em que estive no hospital e até hoje, diariamente ele me manda uma mensagem ou me liga perguntando como estou, mesmo após tê-lo rejeitado a dois meses atrás. Eu confesso que ele me fez sentir coisas que nunca senti na vida e até mesmo um pouco viva. Mas, eu nunca poderia ficar com ele, Rafael merece uma mulher inteira, não apena suma parte dela.
— Não tem problema Kas, eu não me importo.-
— falo sorrindo.
Vai ser bom, vê-lo depois de meses. Vai ser bom me sentir viva depois de meses, porque sempre eu que eu o via, uma parte minha se sentia viva e com esperança.
— Maravilha!— Kassia sorri.
Encaro a doutora Thalita, minha psicóloga desde meu sequestro. Uma mulher muito elegante e linda, cabelos cacheados castanhos, morena, boca carnuda, alta, corpo perfeito, e sempre em suas roupas formais e sorrisos faciais e gentis.
— Então, como você está hoje?— ela faz a mesma pergunta de sempre.
— Estou ótima.— e como sempre, eu minto.
Às vezes não falar da sua dor, é como se ela não existisse.
Thalita sorri e balança a cabeça para os lados.
— Claro, sempre bem. Alguma novidade?
— Hoje eu vou em uma boate com o pessoal, vamos comemorar o noivado da Kassia e do Thomas.— sorriu forçado.
— Isso é um grande passo, é a primeira vez que você vai para um lugar tão cheio deste o incidente, você está confortável com isso?— pergunta curiosa.
— Não, mas eu sei que nunca estarei. Mas, eu irei, a Kassia merece um pouco de paz, sem precisar se preocupar com a amiga ou se sentir mal por estar feliz.— sou sincera.
— Você acredita que ela se sente mal por estar feliz?
— Eu sei que se sente, eu conheço minha amiga. Ela se culpa, afinal foi o pai dela que me sequestrou.
— É a primeira vez que você toca nesse assunto, sempre muda de assunto quando toco nele.
— Não é segredo doutora, eu fui sequestrada e isso me mudou. Não consigo ser eu mesma, por isso estou aqui.— falo seria.
— Sim, quem vai estar na boate?-pergunta mudando de assunto, ela sabe que não estou pronta para falar sobre o sequestro, e talvez, nunca esteja.
— Acredito que todos, Kassia, Thomas, os irmãos dele, meu irmão, o Rafael e a sua irmã.
— Rafael? Esse é o mesmo que você diz ter dito um envolvimento?
— Sim, e não foi um envolvimento, eu apenas quase transei com ele, mais...
— Mais?— me incentiva a continuar.
— Mais, eu congelei.
— Por quê?
— Porque eu sabia que se fosse até o final, não teria volta. O Rafael tem o certo controle sobre mim, é como se com ele ao meu lado, eu me sentisse segura e impotente, tudo junto. Eu não tenho controle sobre minhas ações ao seu lado.— falo tudo rápido e baixo.
Rafael com intenção ou sem ela, ele consegue me controlar. Eu me sinto como uma garotinha apaixonada e todos os meus demônios desapareceram, ele me acalma e, ao mesmo tempo, me agita, é complicado e assustador. Eu não deveria confiar tanto em alguém que não conheço.
— Isso não é bom?
— Isso nunca é bom.— falo seria.
Eu me levanto e pego minha bolsa no chão, a doutora Thalita me olha sem entender e eu apenas sorriu indo em direção a porta.
— Eu prometi pro meu irmão que iria para casa dos nossos pais hoje, uma companhia a mais para ir pra boate. Até a próxima consulta.—termino de falar e saio do consultório.
Eu sei que menti, o Gustavo irá me encontrar na boate, mas aquela conversa estava me sufocando, não gosto dos sentimentos que o Rafael me desperta e nem do assunto do sequestro. Então, como sempre, eu fujo.
Entro no meu carro e sigo para o meu apartamento, ouvindo apenas meus pensamentos nada saudáveis.
Me olho no espelho e a pessoa que vejo, não é a mesma de uns meses atrás, é como se ela estivesse morta. Meus olhos não têm mais o brilho de antes, até minha aparência mudou, eu emagreci muito. Meu cabelo não parece ter o mesmo brilho. O engraçado é que não sabia que o cabelo poderia sentir seus sentimentos. A mulher que estou vendo, ela está com a aparência, os olhos mortos, ela nos exala felicidade como antes...
Dou um sorriso e como esperado não é como a meses atrás.
Quero acreditar que estou bem, quero mostrar para as pessoas a minha volta que continuo a mesma, mas não sei se estou conseguindo.
Dou um novo sorriso e penso comigo mesma. Só mais um dia, Carla, você consegue. É só sorrir e dizer que está tudo bem.
Essa frase virou meu mantra de uns meses pra cá. Olha mais uma vez pra mim, solto um suspiro e coloco um sorriso no rosto.
Olho para a minha roupa e sorrio com o resultado, é uma roupa que a antiga Carla com certeza aprovaria. Estou usando um vestido vermelho, ele é lindo e simples, vai até o torço do pé, de alças finas, duas vendas do lado de cada perna e um decote V discreto. Coloco um salto preto com uma fivela dourada, um colar de borboleta pequeno e delicado, e deixo meus cabelos soltos mesmo. Não tô com paciência pra fazer nada neles. Passo um rímel, blush e meu batom vermelho. Pego minha bolsa preta de mão e saio do quarto. Chego na sala, pego as chaves de casa, tranco ela e entro no elevador, assim que chego no hall do prédio, eu espero apenas dois minutos ate Kassia aparecer no Borche preto do Thomas, ela saiu do carro e dá uma voltinha para mim. Ela está linda, está toda de branco, um macacão branco e estiloso, uma sandália de salto alto preto, um rapo de cavalo no topo da cabeça, batom vermelho e salto alto 15 preto, uma diva.
— Você está muito gostosa, credo.-
— ela grita fazendo o porteiro joão sorrir e balançar a cabeça para os lados.
Jão conhece a Kassia dos tempos que ela morava comigo, antes de se mudar com o Thomas, isso depois deu obrigar ela a fazer isso e seguir seu coração. Então, desde então eu moro sozinha e sofro sozinha. Saber que se fosse a meses, atrás quem estaria gritando seria eu ao invés da Kassia, eu sempre fui a escandalosa e ela a tímida, mas parece que as coisas mudaram. Mas, isso ao invés de me deixar triste, me fez ficar feliz, é muito bom saber que a minha melhor amiga está feliz.
— Olha quem fala, a diva do momento.— sorrio e tento parecer como antes.
— Eu sei, vamos logo, o pessoal já está nos esperando e o Thomas já me ligou umas três vezes, você sabe como é paranoico comigo, dirigindo.— ela diz rindo e revirando os olhos.
Sorrio, já imaginando o que se passa na cabeça do Thomas, eu o entendo, eu amo minha amiga, mas o noivo dela está certo, Kassia é péssima no volante.
— Claro.— entro no carro e Kassia liga o som no último volume, fazendo com que eu esqueça meus problemas por um momento e curta o momento, cantando junto da Kassia como duas amigas completamente doidas.
Assim que a Kassia para o carro com um cavalinho de pau eu sinto meu coração sair pela boca, me fazendo descer o mais depressa possível do carro e sentindo minhas pernas bambas, Kassia é doida. Kassia desce rindo e entrega as chaves para o manobrista que olha para ela assustado, eu reviro os olhos e me assusto com a fila da boate, está dobrando a esquina, quando eu estou indo em direção ao final da fila, Kassia me puxa pelo braço e anda até o homem de dois metros de altura mal-encarado, mas assim que a Kassia fala seu nome ele sorri e deixa nós passamos fazendo com que as outras pessoas revelarem.
Assim que entro na boate ela me surpreende. É assustadora e, ao mesmo tempo, linda. As paredes têm tons vermelhos e conforme você vai andando, vai aparecendo chifres e o famoso tridente do diabo. Passo por uma porta e meu queixo vai quase no chão. O chão dá uma impressão de ser de foco, como larvas, a pista de dança tem luzes de todas as cores, o balcão de bebidas é todo vermelho com demônios, chifres, tridente. Olho para cima a área VIP e Kassia me puxa até ela. Ela dá nossos nomes para o cara que está com uma máscara de diabo vermelha e um terno preto. Ele libera nossa entrada e subimos a escada. Que é toda vermelha com marcas pretas que parecem chifres!
Chego ao topo e dou um sorriso. As cadeiras da área vip, se parecem com tronos, elas são todas vermelhas com um chifre em cima e um tridente do seu lado. E as mesas são pretas, mas parece que elas foram queimadas.
Essa boate é totalmente diferente de tudo que já vi na minha vida, mas, já era de se esperar, ela se chama, The Devil's Paradise(o paraíso do diabo).
Olho em volta e vejo no final o pessoal. Andamos até eles, Kassia anda até o noivo e o beija sorrindo quando ela diz algo no sue ouvido, eu comprimento todos com sorrisos no rosto e tentando parecer feliz, como antigamente. Geovana, irmã do Rafael, está usando um vestido verde longo e soltinho que ainda marca suas curvas, os cabelos loiros soltos e os olhos azuis marcados por uma maquiagem leve e delicada. William e Gustavo, irmãos do Thomas, estão sorrindo para mim e com pelos ternos pretos, dando um charme maior neles, William é um homem alto, lindo, moreno e muito sério, já o Gustavo um loiro alto bonito brincalhão, duas personalidades distintas, Thomas está usando um terno azul e com o mesmo sorrindo de sempre. Olho para meu irmão e ando até ele, o abraçando e se sentando do seu lado, Gustavo está usando um blazer preto e camisa branca, e calças pretas, os cabelos sempre no devido lugar.
— Como você esta princesa?—ele pergunta no meu ouvido.
— Estou ótima.—sorrio.
Gustavo passa a mão pelos meus cabelos e sorri.
— Espero que saiba que sempre pode contar comigo.
— Eu sei.—sorrio.
— Cade o resto do pessoal?—Kassia pergunta sentada no colo do Thomas.
— O Paulo teve uma emergência e teve que viajar, a Fernanda disse que não estava se sentindo bem e o Rafael já deve estar chegando.—Thomas responde enquanto bebe seu whisky.
— Como conseguiram as entradas para esse lugar? É a inauguração e está esgotado a semanas.—meu irmão pergunta se mostrando mais curioso que o normal.
— Rafael, ele é o dono.—Geovana responde sorrindo.
- O quê? Desde quando o Rafael tem uma boate? Ainda mais com esse nome?—pergunto surpresa.
Pelo, o que eu sei ele é todo certinho, eu nem sabia que ele frequentava boate.
— Ele comprou tem uns quatro meses, já é a terceira dele.—Geovana responde como se não fosse nada, mas eu percebo que todos estão surpresos, menos ela e o Thomas.
— Legal.—murmuro.
Eu avisto uma garçonete e a chamo, e assim que eu vou pedir meu pedido Kassia grita como a doida que ela se tornou.
— Vamos dançar.—assim que ela termina de falar, ela pega eu e a Geovana pela mão, indo em direção a pista de dança no andar de baixo. Dançamos umas três músicas juntas, pulando, rebolando sem ligar para nada e nem ninguém. Depois bebemos uns 5 shots e continuamos a dançar, enquanto as meninas estão já bêbadas, eu me encontro de boa, não sou fraquinha como elas. Mas, confesso que a bebida me faz esquecer todas as pessoas, a minha volta e meus demônios.
— Nós vamos ao banheiro. — Kassia grita para mim, que só balança a cabeça e continua a dançar. A música acaba e logo em seguida dou um grito.
— É A MINHA MÚSICA! — grito quando a música, River da Bishop Briggs começa a tocar. Começo a dançar com conforme a batida, fecho os olhos, sentindo a música.
Passo as mãos pelo meu corpo e me remexo devagar, rebolando. Mexo nos meus cabelos e sorrio. Dançar é muito bom, ainda mais com essa música.
Sinto olhares em mim, mas no momento não ligo, eu só estou a fim de dançar e sentir a música. Quando ela acaba, abro os olhos e vejo um par de olhos que conheço muito bem me olhando.
Rafael Gonzaga.
Ele está todo lindo. Vestido uma blusa social branca que marca seus braços, uma calça preta e sapatos pretos, e claro um relógio dourado. Ele me olha, com seus olhos verdes intensos, penetrante... Dá, um sorriso safado de lado com a barba por fazer contornado sua boca deliciosa. Como, eu queria beijar essa boca. Ela é perfeita. Anda até mim. Quando chega perto, eu já estou com a boca aberta.
Ele levanta a mão, tira umas mechas de cabelo que estão no meu rosto e pescoço. Contorna minha boca com os dedos. Dá, um sorriso. Ele se agacha um pouco, porque mesmo eu estando de salto não alcanço ele. Rafael teve de ter uns 1,90 e pouco de altura, enquanto eu só tenho 1,60.Ele chega no meu ouvido dá, uma mordida e depois assopra.
Prendendo um gemido, eu pico varias vezes tentando não desmaiar ou surtar com as sensações que ele me transmite.
— Você dançando é fodidamente sexy pequena. — diz com a voz sexy, grossa, potente, poderosa como o pecado. — Tive que me segurar para não cometer nenhum assassinato.
Dou um sorriso.
Rafael levanta a cabeça, olha para minha boca, passa a língua pelo lábio inferior da sua boca e depois olha para mim.
— Eu não sou sua, para ser sua pequena. — falo tentando desmontar que ele não me afeta.
— Ainda. — me desafia olhando para mim, mas desvio o olhar.
— Rafa...
— Eu sei... Eu sei pequena. Mas um dia você ainda será minha, por completo.
Como eu queria isso, Deus. Mas eu não consigo. E não sei se um dia irei conseguir.
— Não pensa, não agora. — dizendo isso ele me beija. E é impossível não retribuir.
O beijo é tão poderoso, forte, intenso, que até esqueço que estamos em público. Só é nós dois. Não tem barulho e nem pessoas. Só nós e nossas respirações pesadas. Solto um gemido quando sua língua entra na minha boca e se encontra com a minha, onde começa uma guerra que não terá vencedor. Rafael coloca uma mão em minha cintura onde aperta e a outra puxa meus cabelos da nuca. Solto outro gemido. Fico na ponta dos meus pés e coloco às duas mãos no seu cabelo. Onde, dou uma arranhada e leve puxada de cabelo. Rafael solta um gemido rouco.
— Você é muito gostosa pequena. — fala entre o beijo. Rafael morde e puxa meu lábio inferior, abaixa a cabeça e começa a distribuir beijos, mordidas, chupadas no meu pescoço. Abro a boca e solto um gemido, quando ele morde atrás, na minha nuca e depois assopra e beija o local.
— Vem comigo Carla, por favor, pequena. — pede sem deixar de me beijar.
Não irei dizer nada...
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