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Capítulo 33 - Hoje é um dia comum

Acordo com o despertador e me reviro no travesseiro, onde acabo pondo os olhos na Rosa da Glória, em um vasinho sem terra.

Dother volta hoje de viagem.

— Bridie, desliga isso... — resmunga Muirne.

— Desculpa.

Me inclino e dou um tapa no despertador, para trazer o silêncio.

Meus pés entram em contato com o chão amadeirado e frio pela manhã álgida. Sinto que estou agindo de forma mecânica e puramente racional, porque hoje não é um dia normal para mim, apesar de ser para os outros. Não tem ansiedade pairando pelo ambiente, eu que sou a transmissora.

É o meu último dia aqui.

Em algumas horas, nada do que eu presenciei em Kildare terá importância. Bridie Marfach deixará de existir.

A rotina é a mesma. Me troco, desço para o banho e tomo café. Shira nunca descansa, continua norteando os afazeres dos druidas e faz o seu trabalho com notável veemência, mesmo que os druidas criados temam as suas unhas gigantes.

É raro, mas alguns duques mais próximos do Rei Dagda ainda se dão ao trabalho de cumprimentar os criados.

Tudo indica que os druidas de preto e branco são criados, não escravos, metaforicamente dizendo, afinal não são assalariados como deveriam. Eles são pessoas com identidade, gostos e sentimentos, só são mercadoria para suas famílias.

Nós ficamos paradas, apertando bem forte a mão uma da outra, o assistindo sufocar no próprio vômito da última ressaca.

Eles têm dignidade aqui como não teriam em nenhum condado humano. É pessoal de cada um afirmar se dignidade e uma vida tranquila longe da família é mais valioso do que o salário e a liberdade.

Eu apoio uma mão no chão e uso a outra para molhar o pano no balde ao meu lado, então volto a esfregar o piso do salão do Crann Bethadh com toda a minha força, o suficiente para sentir as gotículas de suor escorrendo pela minha testa. Estou sozinha aqui, ajeitando o cômodo para o almoço dos nobres e só pensando no meu próprio almoço bem temperado.

Limpo o chão até cerca das onze da manhã. Não tem nada de grandioso para realizar, exceto ajeitar a mesa e ir fazer outras coisas. Eu fico dentro do meu próprio mundo, recriando as memórias de como seria voltar a forjar agora, visto que o arco provavelmente, e assim espero, seja a minha última arma.

Não quero esquecer de como forjar, isso ainda é parte de mim. Até arrisco pensar como poderia trazer papai e Brizo para cá, assim não teria o perigo de passarmos fome nunca mais.

Me pergunto se o certo a se fazer é eu ficar aqui e nunca mais vê-los, porém os fornecendo dinheiro para viverem bem.

Me pergunto se é egoísta eu querer voltar para eles e trazer o risco de volta.

Pode ser que eu seja assaltada um dia e simplesmente leve uma facada que trará a minha morte.

O tempo passa depressa quando eu trabalho pensando na vida e em grandes fantasias.

Depois do almoço, eu sigo até o pátio central do Crann Bethadh, onde ocorrem as principais cerimônias e festas. É o mesmo lugar que Dother me trouxe da primeira vez e que guarda os meus arrependimentos. As arcadas tem o detalhe incomum de simularem os galhos e flores. É um grande jardim, agora que vejo com pouca movimentação. Há casinhas artesanais para os pássaros e água com açúcar nos bebedouros, um ambiente perfeito para respirar o ar fresco.

Ouvi dizer que Rei Dagda coloca escondido uma cadeira de balanço e fica a tarde inteira por aqui, nas suas folgas, só apreciando o canto das aves que devem ser o seu animal predileto. Às vezes Dub o acompanha e o herdeiro fica sentado no gramado e dá semente para os pardais, enquanto discute com o pai ideias para um futuro mais distante.

Se os fofoqueiros escutaram certo, Dub falava sobre investir em reurbanização e educação para uma pequena quantidade de condados humanos e continuar expandindo isso durante as próximas gerações. O clima da discussão era suave e esperançoso.

É por isso que eu gosto da ideia de ter Dub como o próximo rei, mas prefiro me manter distante dele. Dub é meticuloso e de longe o mais astuto entre os três irmãos, bem como foi dito por Dother.

— Aqui, deixa eu te ajudar. — Shira vem ao meu resgate quando eu estou prestes a perder a paciência com as guirlandas. Não sou muito alta, fica difícil pendurar uma planta pesada e o prego está além de onde meus braços alcançam.

— Posso ser curiosa e querer saber o que vai acontecer aqui hoje? — indago.

Uma reunião apressada e bem mal programada vai acontecer. Todos os criados estão agitados, especialmente Shira que tem de coordenar todos nós.

— Sua Majestade fará um anúncio — diz Shira, já correndo para ajudar os outros a carregarem as mesas.

É impressionante que essa mulher não esteja nem ao menos suando.

— Deve ser algo grandioso o que Sua Majestade vai dizer.

Me viro instantaneamente ao ouvir a voz de Muireen. Ela e Muirne estão me trazendo outra guirlanda para pendurar.

— São só seis da tarde, vocês já deveriam estar acordadas? — pergunto. Olhando ao redor, posso reconhecer bastante gente que deveria começar a trabalhar só depois das sete.

— Shira disse que hoje é uma ocasião especial. Não é um dia nada comum — explica Muirne.

Eu fico com Muirenn e Muirne o tempo todo. Elas me trazem a lembrança do revólver ainda no meu bolso, sempre pesando. Ainda não sei se posso fazer isso, mas não pretendo atirar fatalmente no assassino. Essa não é a minha batalha, então que seja Balor a resolver o seu próprio conflito, com quem quer que seja.

Essa arma é para me proteger, somente.

Leva mais meia hora até que eu possa me sentar em um cantinho reservado aos criados e beber água. Ser criada é estranhamente um serviço exaustivo e ao mesmo tempo recompensador. Nunca imaginei que eu sentiria satisfação ao ver como a minha contribuição tornou um salão a céu aberto e vazio em um dos ambientes mais mágicos e agradáveis de Kildare.

É como estar do outro lado da moeda. Às vezes ainda me vejo entrando pela porta que Dother me trouxe e vislumbrada ao ponto de parecer uma criança. Uma criança amedrontada, mas maravilhada com as estrelas que via tão nitidamente.

A área dos criados é separada dos nobres, porém não significa que nós não temos uma ótima vista do palco. Com o tempo que sobrou, Shira permitiu que Muirenn fosse com mais cinco pessoas fritar salgadinhos de queijo exclusivamente para nós.

Agora estou sentada ao lado das minhas colegas de quarto e com pelo menos oito salgadinhos na minha mão. Os burburinhos são constantes até todos se levantarem e a magia que nos ilumina se apagar. Tudo fica escuro como da última vez, então o céu é clareado por fogos de artifícios. Vem o som dos tambores e dos flautistas fazendo uma rápida apresentação e por fim a presença de Rei Dagda Fil Bolg é lotada de aplausos.

Dagda tem uma postura rígida para com o seu povo, entregando à Corte exatamente o que ela quer.

Os três príncipes estão na sombra do pai.

Dian veste uma túnica justa branca que chega até o meio das coxas e que se abre em V conforme chega a extremidade, tem um cinto fino preto e dourado acinturando sua silhueta, uma faixa no meio em vertical traz um destaque para peça com bordados pretos que combinam com os bordados de sua manga. Sua túnica possui um penduricalho arranjado no bolso e está vestindo um colar longo que dá duas voltas em seu pescoço e exibe um grande símbolo da tríscele como pingente. Suas calças tem o mesmo bordado da túnica na sua barra.

Dother usa um colete branco com arabescos e um sol pintados à mão em cinza claríssimo e com algumas joias de brilho azul costuradas cuidadosamente, a blusa que usa por baixo tem mangas bufantes e é decorada com as mesmas pedras do colete.

Eles sequer se encaram ou trocam uma palavra, a tensão entre ambos é perceptível, apesar de todos fingirem não ver. Ou talvez ninguém esteja mesmo vendo, porque a presença de Dub só não é maior que a do próprio rei, a conduta sempre implacável e o sorriso calmo que me lembra o de Dagda.

A rainha, acomodada ao lado de Balor, veste um vestido comprido, com uma longa cauda e que desce bem justo até suas coxas, é um vestido de manga longa, mas que em seu busto e braços possui um tecido transparente com lindas pedras brancas costuradas, o sapato mal se pode ver, devido ao tamanho do vestido, mas o pouco que se pode perceber é um salto de bico finíssimo cheio de arabescos e pedras. Não consigo olhar para essa mulher e não sentir um frio na espinha, como se ela estivesse perfurando as minhas costelas, ao invés das de Dian.

― Estamos ligados a tudo, e tudo está em nossa posse ― anuncia a voz vigorosa.

A ansiedade se fortalece no ar e cada um de nós controla as respirações. Dos criados aos nobres, por mais que nenhum deles saiba o que será dito, todos querem prever o que os traz aqui com urgência.

Rei Dagda percorre o olhar do salão principal até a arquibancada lateral, onde eu e meus colegas de trabalho estamos. Ele não encara ninguém em específico, é mais um gesto de respeito e que mostra lembrar de nós.

Um rei governado pela saudade. Um rei que aprendeu a governar, mas não a fazer as mudanças necessárias. Um rei que não nasceu para ser rei, que inveja um professor lecionando nas favelas carentes.

― Há momentos nas nossas vidas que são realmente determinantes. Hoje é um destes dias, mesmo que os passarinhos cantem como em todos os fins de tarde, os grilos tomem conta e as crianças voltem normalmente da escola. ― Sua fala é bem audível a todos. Deve ser uso da magia que faz a voz ficar bem alta. ― Hoje é o encerramento de um ciclo. Um ciclo calmo, não tempestuoso e nem milagroso, e, sim, trivial.

Só percebo que está chovendo quando as gotinhas batem na ponta do meu nariz. Todos parecem imersivos demais para se lembrarem de uma mera chuva.

― Todos têm o seu lugar no mundo, mas muitos não têm condição de buscar pelos seus sonhos. Eu fui uma dessas pessoas e cumpri o meu dever de guiá-los durante esses trinta anos ― continua Dagda, fazendo gestos com as mãos. É mais do que um discurso. Ele conversa conosco. ― Hoje eu rompo este cordão umbilical que nos une para procurar o meu lugar no mundo.

Boann, a Rainha Peregrina. O primeiro e único amor do rei.

Um raio corta os céus ao meio assim que Dagda se vira para Dub.

― Hoje é o dia em que eu desejo entregar esta coroa ao meu sucessor.

O príncipe herdeiro, sempre tão culto e sério, agora franze as sobrancelhas, conforme cada pessoa presente ali foca o olhar em si. Não sei quantos se atentaram ao passo em falso que ele quase deu para trás.

― Perdão? ― Dub arruma a postura imediatamente, apesar do choque. ― Eu... não posso aceitar isso. Não agora.

Dagda dá as costas à sua plateia e se aproxima de Dub, pondo a mão no seu ombro, antes que o príncipe recue.

― Ninguém está pronto, não importa o quanto treine e simule. O momento é agora. ― Rei Dagda se assegura de suas palavras ao balançar o filho por alguns segundos. ― Mas você vai ficar bem.

― Por que tão de repente? ― Os olhos de Dub decaem e se focam no chão. Ele é excelente em se manter controlado.

Deve ser o dia mais importante da sua vida. Dub provavelmente nasceu ouvindo sobre esse dia e dedicou cada ano de sua vida para merecer a coroa de seu pai.

Vejo que Dother está comentando alguma coisa e rindo com isso. Dian ouve o suposto comentário e apenas encara o irmão mais novo, sem respondê-lo. As coisas realmente não estão boas entre eles.

O rei desvia a sua atenção de Dub e se volta para a multidão de nobres ansiosos, com a sua voz impondo presença.

― Me tornarei peregrino. Há uma jornada pessoal que só poderei realizar sem o peso de um país nas costas ― revela, sem delongas. ― Sucessor, dê um passo e ajoelhe-se perante a mim.

A coroação é improvisada. Dos fundos do pátio, quatro druidas anões correm atrapalhados e de olhos esbugalhados, com cada um carregando uma coisa. Um cetro de carvalho branco com folhas douradas, com uma bola de cristal azul na ponta; um manto revestido por penas branca; outro manto, este de pele de urso e, por último, um copo de chifre com um líquido avermelhado e escuro dentro.

Há trovadores ao fundo tocando gaitas de fole, flautas e harpas. A música que acompanha o ritual garante sua notoriedade sem nos distrair do mais importante.

Um dos druidas pequeninos apoia o manto de pele de urso nas costas de Dub, depois que ele se ajoelha, e parte para perto do rei, onde serve de escada para o outro subir nos seus ombros e terem altura suficiente para que o druida coloque o manto de penas brancas nos ombros largos de Dagda.

Os outros dois druidas oferecem o copo de chifre e o cetro branco para o rei que os pega e volta a sua atenção para o filho ajoelhado, enquanto os servos baixinhos saem de cena andando de costas e somem na multidão.

Somado à luz colorida e não exagerada que nos envolve, com todos nós iluminados por trovões, não importa o quão ferozes, a leveza com que Dagda conduz a cerimônia sozinho e sereno é capaz de nos cativar.

― Que o dia mais triste de teu futuro não seja pior que o dia mais feliz de teu passado. Que o teto nunca caia sobre ti e que os amigos reunidos debaixo dele nunca partam, assim como os civis agora sob tua proteção. Que sempre tenhas palavras cálidas em um anoitecer frio, uma lua cheia em uma noite escura, e que o caminho sempre se abra à tua porta ― profere o rei zelosamente. Dagda espera os druidas anões voltarem para trocar os mantos, deixando Dub com o manto branco de penas, então o rei despeja o líquido vermelho do copo sobre a cabeça do filho e o fluido desce em cascata pelo manto, manchando as penas de carmesim profundo. ― Que Danu esteja contigo e te abençoe, que vejas os filhos de teus filhos, que o infortúnio te seja breve e te deixe rico de bênçãos para beneficiar os seus iguais e não iguais. Que teu coração permaneça leve. Que vivas duzentos anos, com um ano extra para arrepender-te.

Dagda toca o cetro em cada ombro de Dub, sussurrando palavras inaudíveis.

As luzes que nos cercam adquirem a cor branca e os trovadores intensificam a música com notas altas, grossas e longas.

― Levante-se ― ordena o rei.

Dub se atenta a não apoiar as mãos no chão. O líquido escorre dos seus cabelos e deixa manchas volumosas no seu uniforme branco, nas joias e medalhas no seu busto e mais da metade do manto de penas está coberto de vermelho forte. A expressão agora é convicta e resiliente.

O ato final de Dagda é abraçar acima da nuca de Dub e trazê-lo para próximo de si até que as suas frontes encostem e ambos fecham os olhos, permanecendo assim durante os segundos que as palmas altíssimas ressoam pelo pátio. É tão alto que mal dá para ouvir a música, a felicidade é contagiante o bastante para me animar a bater palmas também, mas eu acabo me lembrando que estou segurando os meus salgadinhos numa das mãos e sou obrigada a bater na minha coxa, só para não deixar passar em branco.

É estranhamente uma das cenas mais emocionantes que eu já vi. Essa sensação de mudança e calmaria é purificante.

Dagda se afasta.

― Se quiser ser amado, ame principalmente os necessitados. Cuide de todos, bem como você foi cuidado. Se preocupe com todos e não dê as costas a ninguém. Não governe apenas, ouça mais os seus conselheiros, a sua família e os seus protegidos ― finaliza, ainda permitindo que um sorriso se faça visível no seu rosto. ― Você jura cuidar deste país e se sacrificar por ele?

― Eu juro. ― Dub faz uma pose de honra, ignorando as gotas de chuva traçando o seu rosto. ― Eu juro, no meu reinado e além dele, tornar cada druida e humano digno da própria vida.

O rei leva as mãos à cabeça, para retirar a coroa.

Outra leva de fogos de artifício estoura em branco e clareia os céus junto aos raios incessantes. O pátio está uma loucura de pessoas se abraçando risonhas, algumas já embriagadas e outras dançando, tanto que mal dá para ver a silhueta de baixa estatura se esgueirando de forma bem desengonçada por entre os nobres. Eu só percebo quando a figura se revela como um dos pequenos druidas que trouxe os itens da cerimônia, mas ele está coberto de ferimentos e cortes acima da sua pele, permitindo que o sangue escorra por todo o seu corpo. Está extremamente debilitado e ele só é percebido por todos com o seu grito gutural.

― Vossa Majestade! ― O desespero é notável, porém o pequeno druida cai imóvel nas escadas do palco do pátio e deixa um rastro de sangue para trás, além do que está escorrendo do seu corpo já desfalecido.

A música cessa.

Antes dos gritos começarem, vejo o reflexo de algo metálico brilhando sob a claridade de um raio estrondoso no canto da minha visão e acabo piscando com isso. O pandemônio já está estabelecido quando eu abro os meus olhos.

Dagda foi atingido no busto por uma flecha.

Uma flecha de visco, a haste idêntica à que Quinn confeccionou. A mesma que eu forjei o aço. A mesma que eu arrisquei a minha integridade para garantir uma vida melhor e que agora está apresentando os seus resultados bem diante de mim.

Me jogo contra os limites da arquibancada e procuro imediatamente por Balor, a quem dá passos furtivos para as sombras do pátio e desaparece de vista. Viro imediatamente para o lugar que eu vi o reflexo da flecha antes de ela ser atirada e não consigo ver exatamente quem é, porém reconheço a silhueta grande de Liam em qualquer lugar. Ele também não fica parado e se põe a correr. Eu procuro por Dother e meu arrependimento é imensurável, vendo-o inexpressivo diante do pai que está desabando sem forças no solo.

Algo quebrou em mim e talvez nunca será consertado.

O meu trabalho aqui está cumprido, mas, depois do jogo de xadrez, sinto que falhei.

Os sons são abafados e tudo parece tão lento. Mal ouço o corpo do rei entrando em contato com o solo molhado, com Dub indo ao chão junto para amortecer a queda.

Quando as coisas voltam ao tempo normal, tudo fica frenético, instável e caótico. A Rainha Carman mal se atenta às bordas do seu vestido quando ela invade o palco, usa o próprio corpo para empurrar Dub para longe de Dagda e apoia a cabeça do antigo rei sobre o seu colo.

― Balor! Balor! ― Carman até levanta o rosto para a voz ser mais audível, deixando que a chuva se mescle às suas lágrimas e borre os cosméticos, enquanto Dub está completamente em choque, de joelhos. ― Balor, por favor! Onde você está? Pelo amor de Danu, alguém o ajude!

Mas ninguém vem.

Apesar de lesionado, Dagda usa o restante de suas forças para estapear brutalmente o solo, fazendo com que raízes gigantescas surjam, quebrem o solo e estraguem toda a plantação delicada para se tornarem uma barreira impenetrável que separa o atirador da sua família. As casinhas de passarinhos são desmanchadas e os bebedouros estilhaçados. O som é estrondoso como dos trovões.

― Eu quero falar com o meu filho ― implora Dagda, engasgando com o sangue saindo pela sua boca e sujando o vestido de Carman.

Dub se arrasta para próximo do pai e segura uma de suas mãos, sem conseguir se atentar totalmente às falas do seu antecessor, pois fica virando de costas para não ser pego desprevenido por outro ataque. Está paranoico, independentemente da proteção de Dagda.

― A ajuda vai vir, pai ― promete.

Pela forma como a expressão de Dagda é calma e conformada, ele sabe que não há mais muito tempo para si. Não está desalentado. Foi um tiro certeiro no coração, a sua pele está inchando e ganhando a tonalidade roxa com rapidez a partir de onde a flecha atingiu. O antigo rei só tem forças para levantar a sua mão livre e apoiá-la na bochecha do novo e inconsolável rei.

― Seja gentil. ― A magia que deixa a voz de Dagda bem distinguível está enfraquecendo. ― Mesmo que seja fácil odiar, não mate, não condene, não se vingue. Mesmo que o caminho daqui para frente seja o mais tortuoso possível, mantenha-se gentil, mesmo com aqueles que não mereçam o seu coração. Agora coloque a coroa. Rápido.

As mãos trêmulas de Dub sofrem para alcançar a coroa na cabeça do seu pai. Mal tem forças para retirá-la.

― Coloque, Dub.

A corrosão do corpo de Dagda está quase completa. Só dá tempo de Dub apoiar a coroa em sua cabeça e as últimas de Dagda são sussurros levados pelos ventos frios da tempestade:

― Eu o declaro Rei de Tuatha Dé Danann.

E seus olhos se fecham. Calmamente.

Um novo disparo é realizado, sem atingir ninguém. Carman dá um grito de susto só de ouvir, enquanto Dub está com os olhos presos no corpo desfalecido de Dagda, sem sequer dar atenção ao que ocorre à sua volta.

Não vejo Dian ou Dother em lugar algum, só Carman voltando a empurrar Dub, à medida que o pátio se esvazia de nobres e criados e é tomado pelos guardas que estão indo em busca do atirador.

― Um humano invadiu Kildare! ― anunciam em uníssono entre si.

― Ele já ia te dar a coroa, como você pôde ser tão egoísta?! ― Talvez num excesso de fúria, Carman move a mão de forma brusca e acidentalmente libera uma magia cortante na direção de Dub. ― Subordinou um humano!

A magia não chega a atingir o novo rei, ela só perde forças e se torna parte da ventania.

Quem usa esta coroa é abençoado com a maior das sortes, ainda ouço a voz de Dagda.

― Eu... ― Dub fracassa em se levantar, está desorientado. ― O que você disse?

― Era o seu pai, Dub. ― A mulher mal consegue falar, a voz tremida e os gestos perdidos.

― Eu não fiz isso. ― O rei procura aprovação em todos os cantos, sem a encontrar. ― Eu não fiz isso... Foi você...

― Você está ouvindo a si mesmo? ― grita Carman, a voz de escárnio me faz tremer da cabeça aos pés. ― Por que então a coroa está na sua cabeça, e não na minha?!

Só lembro que eu estou parada quando a minha gola falsa é puxada para trás e quase me enforca. Eu sou virada bruscamente, derrubo os meus salgadinhos e meus punhos são segurados por Muirenn e Muirne, que estão me puxando para longe da arquibancada, assim que um terceiro disparado é lançado e corta a tempestade, enquanto toda a minha visão é coberta pelas armaduras dos guardas. Minha única luz e guia são as mãos das minhas colegas de quarto.

De passo em passo eu deixo o pátio e, de passo em passo, eu condeno cada martelada que dei na minha vida.

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