Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 13 - Olhos de cristal

Confesso que revelei aos meus familiares o mínimo necessário para que entendessem os motivos para a minha saída da prisão e que, por não ser algo oficial, a minha presença deve continuar em segredo. Ambos compreenderam e não me questionaram, apesar da vontade deles não me passar despercebida.

— Eu não abandonei a escola — conta Brizo, enquanto nós estamos à mesa jantando pão com manteiga, tarde da noite, depois que a emoção do reencontro diminuiu. — Você e o professor Redmond estavam certos.

— E me desculpe, meu amor — papai fala para mim. — Eu não acreditei em você sobre a índole daquele mal caráter. Ele disse absurdos, quando veio aqui, querendo me obrigar a assinar os papéis do casamento.

— Onde foi que arranjaram a manteiga? — pergunto, enquanto tiro a meleca amarelada do canto da minha boca. Não vejo razão para se desculparem. Estou tão leve que não sinto nenhuma raiva, apesar de que eu tenho considerações. — Brizo, em palavras curtas e grosseiras: você quase nos matou e é um desmiolado. — Até penso em mencionar Feal, mas não acho que isso será saudável. — Não precisa seguir exatamente o que eu digo, só pense mais antes de agir. Use o senso comum, menos heroísmo. Peça mais conselhos para mim, ao pai, ao Redmond, até a Leanan deve saber uma coisa ou outra.

— Sabe que Leanan só vai me dar dicas de como assassinar o marido e como dar um golpe na herança... — Brizo é interrompido pelo pai com um tapa na nuca, que claramente está o fuzilando, querendo dizer "essa não foi a educação que eu te dei".

— Sobre a manteiga — inicia meu pai, após pigarrear e procurar por algo nos seus bolsos. De repente, chovem monas de prata das suas mãos, com todas caindo na área livre da mesa. — Apareceram quinhentas monas no sofá de casa e eu não fazia ideia de como foram parar ali, então fui fazer compras no mercadinho.

O quê?

— Quinhentas — saliento, deixando o pão cair da minha mão.

— Quinhentas — os dois repetem.

Uma pessoa anônima contratou os seus serviços. Te pagará bem. As únicas condições são que você venha trabalhar na residência e mantenha o bico fechado.

Quinhentas monas por um dia de trabalho.

Agora entendo porque Balor disse que minha família não pode enriquecer socialmente. Além de ser para não levantar suspeitas, trata-se de dinheiro para sustentar o resto de nossas vidas na miséria, sem que eu precise voltar a trabalhar depois que finalizar o arco e as flechas. Não haverá mais necessidade de eu forjar, e não posso dizer que estou descontente com isso. Meus braços agradecem, de tantas fibras que já rompi.

De maneira estranha, hoje é o melhor dia da minha vida.

— Eu amo vocês — a fala sai sem querer da minha boca, e não me arrependo.

Papai e Brizo sorriem para mim.

— Também te amamos, maninha — completa Brizo, levantando um copo de plástico para brindarmos.

Pela manhã, faço exatamente como Balor me instruiu. Uso roupas grandes, escondo os meus cabelos com uma touca preta e uso um plástico escuro que antigamente servia de proteção para os meus olhos. São trapos sujos, nem tem motivo para alguém me parar nas ruas.

Aproveitando o meu adiantamento, passo pela Rua Pregos, a rua da escola, e vejo se Redmond está regando as suas flores na fachada da instituição, como é de costume, porém não o encontro em lugar algum. Até posso parar em uma lanchonete no meio do caminho. O estabelecimento acabou de abrir, perto das cinco da manhã. Encostada no balcão, peço um café com açúcar para a atendente de avental e ela liga um rádio, antes de me servir. Levo o copo à boca e tomo, sem pressa. Estou perto do local de encontro com Balor e ainda faltam quinze minutos. Não consegui dormir e provavelmente nem deixei Brizo pregar os olhos com o meu vira-vira na cama. Estou meio eufórica, até ouvir o rádio.

É presa e condenada Aisling Maeve, acusada de invadir a arena do Salão Cóisir, durante o Beltane. A criminosa cometeu um assassinato e obrigou um familiar a desistir da Ascensão. O familiar pagou fiança e foi liberado, mas está proibido de participar novamente do Beltane.

Mal posso acreditar quando penso que tudo isso aconteceu há dois dias.

Aisling Maeve não existe mais, tento reforçar a ideia na minha cabeça. E dói pensar assim. Eu não devia nem ter procurado por Redmond mais cedo. Druida ou não, me denunciar pode resultar em recompensas, e recompensas são sempre bem-vindas em qualquer lugar, a qualquer um.

O café desce rasgando na minha garganta. Tomo tudo em uma golada, pago depressa pela bebida e saio da lanchonete.

Sigo para a entrada do bosque e sinto uma fisgada na minha mão quando chego, perto de arbustos.

— Coloque a venda. — É uma voz grossa de homem. Não é Balor. Não é ela! Estou prestes a correr, porém sou novamente segurada pelo pulso e puxada de volta para o mato. — Balor não está disponível hoje. Eu a conduzirei no lugar dela.

— Tudo bem... — digo com a mão no peito. Até fiquei sem ar pelo susto.

O caminho é o mesmo, o destino também. Sou deixada de frente à porta para o subsolo do paredão e sequer vejo o rosto do homem que me trouxe dessa vez. Não sei dizer se é humano ou druida, e sinceramente isso não importa, afinal ele me deixa sozinha muito rápido. Eu entro na minha oficina e fecho a porta, acendendo as luzes no interruptor ao meu lado.

Hoje tenho que continuar mexendo no alumínio e...

— Bom dia! — Levo outro susto, tanto que quase arremesso o martelo nas minhas mãos. — Presumo que Balor não esteja pegando leve contigo, para te fazer vir trabalhar a essa hora.

— Ah, Dother? — O sigo com os olhos. Ele se levanta da cadeira e vem até mim, com um sorrisinho tímido, e para a uma distância respeitosa. Suas roupas não são muito diferentes das de ontem, opulentas e cheias de luxo, dignas de um druida. — E não tá muito cedo pra você estar aqui, na oficina? — Me sinto meio burra por falar tão informalmente.

— Esse lugar é um tédio, seja na hora de acordar ou dormir. — Ele olha para mim e depois para a minha mesa, que está bagunçada desde ontem. Ninguém tocou em nada por aqui, e Dother transborda curiosidade. — O que vai fazer hoje?

— Mexer com o alumínio — digo, enquanto coloco o meu uniforme de proteção. — Esse material fede mais do que as axilas de maratonistas que não tomam banho depois da corrida. É capaz de você se traumatizar e preferir cheirar queijo podre.

Dother ri com gosto. Até vejo os seus caninos avantajados.

— Vamos ver se posso burlar isso. — Há um sutil ar desafiador nele, mesmo depois de voltar a se sentar em um cantinho, com a promessa de não me atrapalhar.

Estou lixando o alumínio. Mesmo eu usando uma máscara, Dother está sem nenhum protetor e não muda a sua expressão. Só o vejo suspirar algumas vezes, até o momento em que ele parece confiante o suficiente.

— Não precisa mais da máscara, Aisling — diz, simplesmente.

— Quer me matar? — ironizo. Druidas devem ter alguma falta de sensibilidade no olfato. Não tem outra explicação para Dother suportar o odor de alumínio.

— Confia em mim?

Essas são palavras fortes, penso, porém acabo cedendo e retiro a minha proteção. Decidi respirar só um pouco e colocar a máscara o mais rápido possível para caso ele esteja caçoando de mim.

As minhas narinas são invadidas pelo cheiro inconfundível de jasmim, nem resquício de alumínio. Nunca estive em um ambiente tão agradavelmente perfumado, o que me desconcentra do trabalho.

— Você nem saiu do lugar, como fez isso? — Só percebo a minha desatenção quando passo a um fio de lixar o meu dedo, no lugar do material.

— Já ouviu a frase que os druidas sentem tudo e o tudo está ligado a cada rastro de nossas existências? — Confirmo a sua questão com a cabeça. — Fazer eu e você acreditarmos que o alumínio tem um aroma semelhante ao de jasmim é bem fácil.

— Isso quer dizer que...

— Que, na verdade, o alumínio continua fedendo como a morte — completa. Dother ri mais uma vez e acabo o fazendo companhia nesse quesito. — Vamos precisar de um bom banho.

— Para mim não vai dar. Custa vinte monas para frequentar uma casa de banho em Wexford — afirmo, dando continuidade à conversa. — Quanto custa por aqui?

— Como assim? Aqui é de graça. — Ele inclina a cabeça e cruza os braços. — Há um toalete com água quente no andar de cima. Quer que eu te leve lá?

Você não está permitida a sair por nenhuma das três portas. Se sair, haverá retaliação.

— Não, eu passo. — Tento suavizar a voz, para não parecer grosseira, e volto a me focar.

Mais um dia, e mais quinhentas monas de prata foram entregues em minha casa, escondidas no sofá de molas. Papai e Brizo estão abobados com tanto dinheiro. Comemos felizes e dormimos de barriga cheia. Descanso bem, muito melhor que em qualquer outro dia.

Dother também está me esperando no dia seguinte. Fica lá o tempo inteiro, conversando comigo.

— Sério? Você nunca viu o que tem além do bosque? — Dother está indignado com essa questão. — Eu posso te levar para conhecer. Tem uma nascente não muito longe daqui, é limpa e tem água cristalina.

— Limpa? Então eu realmente estou longe de casa — desconverso. — As nascentes de Wexford estão no lixão. Mesmo que seja um rio raso, não dá nem para ver o fundo de tão poluído que é.

Em cinco dias, Dother fica na mesma cadeirinha, apenas jogando conversa fora e realmente não atrapalhando o meu trabalho. Nas horas em que necessito de concentração, ele se cala e só volta a falar quando sou eu quem abre a boca. Admito estar começando a apreciar sua presença. Eu abro a porta do subsolo e ele sempre está lá, todos os dias, pronto para reclamar da sua vida chata e ficar curioso a respeito da minha, sendo que deveria ser bem o oposto disso.

Balor me disse que não posso ser vista aqui, especialmente de noite — por isso sou enviada para casa aos fins de tarde — e ela também decidiu que não trabalharei aos fins de semana. Hoje é sexta. A semana passou veloz como um raio e já conto com mais de duas mil e quinhentas monas.

Tanto dinheiro e estou proibida de sair daquele lixão conhecido como Wexford...

Dother está assobiando, cantando alguma música de druida, e eu estou afinando o aço cobalto.

Ouço um sino tocar e meus olhos recaem sobre Dother. Ele também para de assobiar. Sempre que o sino toca, ele diz que precisa ir, e hoje não é diferente, pelo menos eu espero que não seja.

— Ah, tenho que ir — anuncia. Ele se levanta na maior calma do mundo e espreguiça as costas, depois se aproxima de mim bem na hora que estou operando o fole e suja de fuligem. Fico parada e me surpreendo quando ele se aproxima mais que o comum. — Mas hoje quero que você me acompanhe, Aisling.

Não há recuo para mim. Um passo para trás e dou com as costas na fornalha quente.

— Não posso — insisto, e é difícil. Os olhos cristalinos estão vidrados em mim. — Balor vai me punir e eu não posso parar o que estou fazendo...

— Por favor. — Sua expressão revela certa carência e Dother ainda tenta minguar o espaço entre nós. — Hoje é um dia especial e queria que você estivesse presente nele. Prometo que Balor não fará nada contigo, desde que ela saiba que fui eu quem te convenceu.

— Eu não sei. — Tento voltar à fornalha, porém fracasso em me concentrar. Achei que nossas conversas eram só um passatempo. Estou bem confusa. — Logo tenho que voltar para casa...

— Não há problema — assegura, quase urgente. — Não precisa ficar muito. — Agora ele parece indeciso sobre continuar a falar. Não sei o que está passando por sua cabeça, só sei que quer me convencer a todo custo. — É o aniversário do meu irmão do meio, Dian.

— E por que quer que eu vá?

— Gosto da sua companhia — revela, fazendo-me sentir as bochechas esquentarem de imediato, por um ínfimo segundo. Dother é direto demais e nada escapa das suas íris de cristal. — Além disso, Aisling, eu julgo que seria mais sensato da sua parte se dominasse a sua localização atual. Onde está, os rostos de quem mora aqui e as rotas discretas. Entende onde quero chegar? Se algo vier a dar errado, você pode planejar uma rota de fuga com antecedência.

— Por que você mesmo não me conta?

— Não sei o quanto Balor expôs ou deixou de expor. — Dá de ombros. Até parece que já me persuadiu, e talvez não esteja tão errado. — Pense como será vantajoso para você. Pode se divertir, jantar e ainda reconhecer a área sem que ninguém perceba.

Bem... Não terei muito avanço na criação do arco, de qualquer forma, tento amenizar para mim mesma.

— Só um pouco. — Gesticulo com os dedos, deixando o do meio e o polegar quase se tocando.

— Só um pouco. — Dother repete o meu gesto, satisfeito e sorrindo, vitorioso.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro