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Capítulo 12 - Tudo o que eles precisam

Não tenho certeza de que horas é o fim do meu expediente, nem sei se já está de tarde ou de noite, tampouco se papai e Brizo estão bem. Eu vou te tirar daí, lembro das palavras do meu irmão e também me lembro de que ele é um idiota que só vai descansar quando estivermos todos mortos, pelo visto. Se esse for o seu objetivo, não entendo. Nossa família não é como nos contos de fadas citados pelo professor Redmond, durante as aulas. Não somos filhos de família com herança. Se matar a família toda, Brizo vai herdar uma casa sendo demolida pelo tempo, a poeira dos quartos e o único paletó do papai.

Quase me esqueço do alumínio e o fedor entra nas minhas narinas, com violência, mas não o bastante para puxar a comida do meu estômago. Nada me fará vomitar. Pela manhã, estive demarcando a barra de aço cobalto e serrando a silhueta do arco, conforme o projeto constatado na cartolina suja de carne. Agora estou trabalhando com o alumínio. Tive sorte por encontrar num armário de madeira um avental para ferreiro, para a minha segurança. Tudo de couro e que cheira a novo. Posso até contar com um óculos escuro para não machucar a minha vista, sem mais precisar do meu plástico preto improvisado.

Desse jeito eu até pareço uma trabalhadora muito digna. Não sei quanto irei receber. Não vejo o mundo lá fora. Não sei em qual condado me encontro — e definitivamente não é Wexford. Estou sozinha pelo dia inteiro, praticamente. Mas tem comida, espaço e condições impecáveis de trabalho. Isso acendeu uma chama em mim que esteve apagada desde o início da minha carreira. Chama essa que só aparecia nos meus olhos e coração quando via o meu pai finalizar uma espada e fazer uma demonstração para mim, com a lâmina reluzindo sob a luz do sol.

As espadas do meu pai cortavam o ar e distorciam o seu rastro. Eu ainda não tenho essa excelência.

— Está na hora. — Balor entra pela mesma portinha, abaixando a cabeça para não bater a testa. — Vire de costas.

— Mas eu...

Estou com o aço do futuro arco em mãos quando Balor me faz deixar tudo apressadamente na mesa e tirar o meu uniforme. Ela até ameaça me espetar com seus espinhos se eu não andar logo. Assim que me viro, ela me venda e compartilha uma cordinha comigo.

Sou arrastada para a carruagem do mesmo jeito e continuo sem saber que horas são.

E Dother não apareceu como havia prometido.

— Até amanhã, menina — despede-se Balor, após me desvendar. — Estarei aqui às cinco, preferencialmente antes do sol nascer. Não me faça esperar.

Desvio o foco por um rápido instante e me sinto aliviada por encontrar as plaquinhas azuis no começo de cada esquina da grande favela de tijolo e madeira. Sei o nome das ruas, então sei me localizar em qualquer lugar de Wexford.

Confirmo para Balor, acenando.

— Estarei aqui.

— Que bom. — Pela falta de iluminação, mal vejo o sorriso despontar nos seus lábios, e não é tão amigável quanto talvez ela deve imaginar que é. Balor intimida demais com suas cicatrizes, para ser simpática, sem falar no dente de ouro. — As monas já foram entregues na sua residência.

— Quanto é? — não resisto e pergunto.

— Será do seu agrado. — Agora o seu sorriso combina bem mais consigo, é todo conspiratório.

Os cavalos puxam a carruagem e logo estou sozinha.

Me localizo à beira de um dos incontáveis bosques que rodeiam Wexford. É impossível alguém me notar aqui, ainda mais sem a iluminação dos postes ou do sol. Não há um toque de recolher definitivo no condado, porém virou de consentimento geral que sair depois das dez horas da noite significa que você será assaltado com quase certeza.

Me arrisco a dizer que não me importo de ser roubada. Os bandidos são miseráveis demais para portarem alguma pistola, devem carregar só facas. Podem quebrar o meu dedinho e os druidas o curarão, como fizeram hoje, com a moça mergulhando a minha mão em ervas medicinais e inexplicavelmente sarando as minhas dores, sem ser de forma apenas anestésica. Os ladrões também não terão o que levar de mim, pois o meu dinheiro será entregue em casa. E o lado bom de tudo isso é: sem gente que conheço nas ruas, sem testemunhas do meu retorno da prisão. Meu crime é inafiançável. Ou melhor, meus crimes são imperdoáveis aos olhos do nosso rei, Dagda Fir Bolg.

Odeio assumir, mas eu continuo sendo o pilar da casa. Aquela que tem a obrigação de se arriscar e se expor à podridão das ruas e às mentes contaminadas por desejo e avareza, principalmente inveja. A inveja é um fator em destaque. Nunca me esquecerei do dia em que umas meninas da escola em que eu frequentava tentaram me arrancar os cabelos porque, nas palavras delas, eu sou bonita demais e finjo ser pobre.

Pensando melhor, preciso começar a andar armada.

Sinto a sorte transbordar de mim por não me encontrar com uma alma viva até alcançar a minha casa, na Rua Polia. Só tive a companhia das moscas e de um cachorro sem coleira que me seguiu por uns metros, até desistir. É uma pena, contudo, mesmo latindo, insistindo para que eu o acolha, não interrompo os meus passos. Não paro nem com os choramingos agudos que sinceramente tocam a minha alma e sequer posso afagar a sua cabeça. Lamento.

— Vá plantar discórdia na casa da viúva negra! — esbraveja o meu irmão Brizo, com um tom estridente. Ele basicamente está mandando alguém ir incomodar a Leanan Sidhe para ser presenteado com um tiro de espingarda. A senhora é conhecida pela falta de empatia e paciência, apesar de ter me salvado no outro dia.

Tão sem paciência, que até hoje não sei de onde ela arranjou aqueles bilhetes do Beltane.

Ninguém sabe que a janela do meu quarto está com o trinco quebrado tem eras. Usufruo disso para abri-la e entrar pelos fundos. Encosto a orelha na parede e ouço passos desordenados, além da gritaria.

— Só saio daqui com o papel assinado. — É a voz de Conan. Meus dedos se contraem bruscamente e arranco tinta da parede com as unhas. — Assine! Você é o pai dela, velho inútil!

Alguém rasga os papéis.

— Você não vai mais casar com a minha filha, seu estrupício. — Nunca ouvi meu velho tão bravo. Surpreendo-me. Papai finalmente entendeu o porquê de eu tratar o canalha com desprezo. — Saia da minha casa ou...

Ele é interrompido. Os passos estão tão esparsos que não sei mais o que está acontecendo na sala de casa. Há burburinhos e pedidos de ajuda, o que me fazem inclinar o meu corpo pela porta, para bisbilhotar. Brizo empurra Conan e sequer o deixa terminar uma frase, só para quando o canalha cai na lama do lado de fora da casa, então meu irmão bate a porta e tranca.

Conan berra umas vezes e volta a bater na porta. Bater mesmo, até chutar, mas é tão fraco que não consegue quebrar nem uma porta de madeira podre. Ele desiste e sai de perto da nossa residência, graças a Danu. Às vezes a nossa deusa salva quem não merece. Porque eu o socaria tanto, que ele nem teria condições de voltar a falar ou de denunciar a minha fuga da prisão às autoridades.

— Já era, papai. — Brizo passa os dedos na parte de trás da cabeça. Ele ainda tenta alisar o cabelo, porém esquece que seus longos cabelos foram cortados no Beltane. Ouço ele fungar o nariz e a voz ficar chorosa. — Eu nunca mais vou ver a Ais... Eu ferrei tudo. Já era... A gente nem sabe de onde veio esse dinheiro...

Meu pai nunca foi do tipo que gosta de esbanjar a sua masculinidade. Ele é um homem simples, humilde e sentimental, tanto que não hesita para se aproximar do meu irmão e abraçá-lo, por mais que Brizo, com dezesseis anos, seja mais alto. Os dois se apoiam um no outro. Então, percebo que estão chorando. Talvez por tudo. Pela minha falta, pelo dinheiro, pelo amor ou até pela vida que Brizo vai ter que desperdiçar para os sustentar, como foi com a minha.

O meu coração aperta por pensar que, graças a Balor e ao contratante anônimo, eu ainda sou abençoada com essa cena. Estou sorrindo. Posso e vou morrer de saudades se não entrar no meio daquele abraço, nesse exato instante.

Que mal tem em fazer uma brincadeira, uma vez na vida?

Pulo, fazendo o barulho infantil dos fantasmas e saio do meu esconderijo. O som do meu salto sobre a madeira é estrondoso e eu jogo os braços para o alto. Papai e Brizo estão de costas para mim, porém se viram no mesmo segundo e esbugalham os olhos. Meu irmão até dá um gritinho de susto inesquecível e ambos se empurram acidentalmente. Papai bate em mim, sem perceber que sou eu, e acabo gargalhando com isso, embora o soco de um ferreiro aposentado seja pesado feito uma martelada. Ainda bem que me defendi.

— Para! Para! — suplico, entre risos, antes que meu pai me acerte e eu não bloqueie com os braços.

Eles reconhecem a minha voz, os fios brancos de neve, por fim, os olhos de sangue. Até o traje escuro de sempre, o que é muito quente, não me serve e que uso para trabalhar.

Diferente do que fez com Brizo, meu pai pestaneja para me abraçar. Está em seus olhos a descrença de que eu voltei para eles.

Estou aqui, é o que minha expressão diz.

— Como? — indagam, em uníssono, esmiuçando-me.

— Arranjei um emprego — digo e dou de ombros, com um sorrisinho.

Mas não é com dinheiro que eles estão preocupados.

— Meu amorzinho... — A voz do meu pai está chorosa e necessitada. Chega a tremular na sua aproximação quase incerta. — Foi Danu. É um milagre...

Bastou um momento para nos abraçarmos e menos ainda para eu sentir o cheiro de mofo do meu pai e cheiro de peixe de Brizo. É terrivelmente nostálgico. Sinto conforto. Pela primeira vez, sinto positividade em tudo. Esperança me alivia como um banho refrescante na cachoeira. Só fui uma vez para as cachoeiras e estará para sempre nas minhas memórias. Foi minha mãe que descobriu uma queda-d'água bem longe daqui e nos levou até lá, há anos.

— As coisas vão melhorar — afirmo, apertando ambos no abraço. Não quero ficar longe deles nunca mais, nem preocupá-los.

— Não poderiam estar melhores — confessa o meu pai, o que me faz levantar o olhar para ele. Seu choro é nítido. Ele não tem vergonha de expressar a sua felicidade. — Ter você aqui é tudo o que a gente precisa.

Sou contagiada e me permito emocionar. As lágrimas acabam se formando nos meus olhos e até tento disfarçar, mas Brizo percebe a tentativa e dá uma risadinha que me desconcerta. Sequer sinto mais raiva dele. Não é todo dia que ele vai me ver chorando.

Como uma luz acendendo, eu finalmente me dou conta do que tive de passar para chegar nesse ponto, de volta ao lugar que cresci, à estaca zero. Agora até quero gritar. Gritar guturalmente por ter sobrevivido ao Beltane, salvado Brizo, evitado um casamento e saído da prisão. Tanta coisa.

E considere-se com sorte, muita sorte. Hoje eu definitivamente sou a pessoa mais sortuda do mundo. Eu tenho a minha família de volta.

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