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Capítulo 23

Hipólita havia voltado ao povoado, e um turbilhão de emoções invadiram seu coração enquanto tentava processar as informações que haviam virado sua cabeça de cabeça para baixo. Caminhando lentamente pelas ruas de terra, sentia a curiosidade crescente sobre sua avó, a Condessa Vitória, e seu pai, Bernardo, que não chegou a conhecer.

Ao chegar à modesta casa de adobe, Hipólita encontrou Emília, sentada à mesa de madeira. Havia uma tristeza nos olhos de sua mãe. Hipólita sabia que, apesar das circunstâncias, precisava entender o motivo pelo qual sua mãe havia ocultado a verdade por tanto tempo.

— Filha, que bom que chegou. Precisamos conversar.

— Preciso saber o porquê me ocultou algo tão importante de minha vida, mãe?


— Filha, eu sei que errei em ter te ocultado sobre sua origem — começou Emília, com a voz trêmula. — Mas não queria que você sofresse. A Condessa é uma mulher astuta e egoísta.

Hipólita se aproximou e sentou-se diante da mãe, buscando seu olhar.

— Você nunca me deixou que me aproximasse da fazenda — disse Hipólita, com a voz carregada de frustração. — Perguntava-te o motivo e você não falava nada ou mudava de assunto. Por mais doloroso que tenha sido seu passado, deveria ter me contado, mãe.

Emília suspira profundamente, suas mãos tremendo ligeiramente.

— Eu sei, filha! — murmurou, as lágrimas começando a rolar por suas bochechas. — Perdoe-me, por favor!


Hipólita sentiu seu coração se apertar ao ver o sofrimento de sua mãe. Sabia que a história que estava prestes a ouvir seria dolorosa, mas também entendia que precisava ouvir para poder seguir em frente.

— Mãe, eu preciso entender tudo — disse Hipólita, segurando as mãos de Emília. — Conte-me tudo o que aconteceu.

Emília enxugou as lágrimas e começou a falar, a voz embargada pela emoção.

— Eu conheci seu pai, Bernardo, quando trabalhava como costureira na fazenda. Ele era um homem bom, gentil, e nos apaixonamos perdidamente. Porém, a mãe dele, a Condessa Vitória, nunca aprovou nosso relacionamento. Ela sempre me viu como uma ameaça, alguém que estava tentando afastar o filho dela e porque eu era de classe inferior.

Hipólita apertou as mãos da mãe, incentivando-a a continuar.

— A Condessa planejou um acidente para eliminar-me, mas seu pai, acabou morrendo em meu lugar. Quando descobri que estava grávida, decidi viver afastada da fazenda e cuidar sozinha de você e Vitória jamais saberia que teria um bebê.

Hipólita estava atônita com as revelações. A dor que sentia era profunda, mas também havia uma nova compreensão sobre o motivo pelo qual sua mãe havia mantido o segredo.

— Mãe, entendo que você tentou me proteger — disse Hipólita, com a voz mais suave. — Mas eu preciso conhecer minha história, saber de onde vim. Só assim poderei encontrar meu lugar no mundo.

Emília assentiu, compreendendo a necessidade da filha.

— Eu te apoiarei em tudo, filha. Sei que a verdade é dolorosa, mas você é forte. — Emília olhou nos olhos de Hipólita, cheia de determinação. — Juntas, enfrentaremos o que vier pela frente.

Hipólita sorriu, sentindo-se aliviada pela sinceridade da mãe. Sabia que a jornada para descobrir mais sobre seu passado seria longa e cheia de desafios, mas com a mãe ao seu lado, sentia-se preparada para enfrentar qualquer obstáculo.

Em hotel simples e antigo no povoado, Verônica e sua mãe, Doña Juana, estavam imersas em uma discussão fervorosa. Verônica, uma mulher ambiciosa, estava agoniada com a simplicidade do local. Seus desejos por luxo e riqueza a impulsionavam a buscar desesperadamente o casamento com o Conde Luis Manrique, garantindo, assim, sua entrada na realeza e desfrutando de toda a opulência que vinha com o título.

— Amanhã iniciamos o plano contra Hipólita — declarou Verônica, os olhos brilhando com determinação. — Diego vai se aproximar dela, conseguindo sua confiança, enquanto enviamos uma carta anônima para a Casa Grande, sugerindo que o acidente de Amélia, foi suspeito e que Hipólita é uma das principais suspeitas.


Doña Juana, uma mulher astuta e experiente, olhou para a filha com um ar de ceticismo.

— Provavelmente o Luis Manrique não irá acreditar — respondeu Doña Juana, com um tom amargo. — Ele está cego de amor por essa mosca morta que, com aquela carinha de sonsa, o engana.


Verônica deu um sorriso maligno, seu plano já tomando forma em sua mente.

— Inicialmente vamos levantar suspeitas — disse ela, convicta. — Aos poucos, o Diego vai adquirir a confiança da Hipólita e, se necessário, até poderá sequestrar.

— O primeiro passo será criar difamação pública pelo povoado sobre o caráter da Hipólita, acusando de comportamentos imorais que a fariam perder a dignidade dos moradores do povoado. Vamos começar a criar as provas falsas que implicam essa mulherzinha em um crime. Eu me encarrego em forjar um documento que sugira que Hipólita está envolvida no acidente da Amélia.

— Perfeito, mãe! Posso me disfarçar de Hipólita e cometer alguns atos que manchariam a reputação dela, como por exemplo, encontros com pessoas inimigas do Luis. — afirmou Verônica com determinação.

Doña Juana assentiu, compreendendo a gravidade da situação. Sabia que Verônica estava determinada a alcançar seus objetivos, independentemente dos meios necessários.

— Devemos ser cuidadosas, minha filha — alertou Doña Juana, com um olhar severo. — Hipólita tem uma origem misteriosa. E o Conde e a Condessa, são espertos. Precisamos nos certificar de que todos os nossos passos sejam calculados.

Verônica riu, um som frio e calculista que ecoou pelas paredes do quarto modesto.

— Não se preocupe, mãe. Estou preparada para qualquer desafio. E com Diego Arrellano ao nosso lado, conseguiremos afastar Hipólita do Conde Luis Manrique.

A figura de Diego Arrellano era sombria e enigmática. Conhecido por sua astúcia e falta de escrúpulos, ele seria um aliado valioso nos planos de Verônica. Sua capacidade de manipulação e suas conexões no submundo tornavam-no perfeito para o papel que Verônica estava planejando para ele.

— Diego será uma peça-chave em nosso plano — afirmou Verônica, decidida. — Ele ajudará a semear dúvidas e intrigas, afastando Hipólita e abrindo caminho para mim.

Enquanto a noite avançava, mãe e filha continuaram a planejar seus próximos passos, suas mentes ardendo com a expectativa do que estava por vir. Elas estavam dispostas a tudo para conseguirem o que almejavam.

Na manhã seguinte, o forasteiro, em seu quarto, coloca água fria em uma pequena bacia e lava o rosto e o peito para despertar completamente. As últimas informações que recebeu indicam que a pessoa a quem procura está na região. Ele precisa estar atento às conversas e continuar o reconhecimento do local em busca de mais evidências. Não pode falhar agora que está tão perto.

Após terminar de se vestir, coloca novamente a capa marrom, cobrindo boa parte do rosto, pois passar despercebido é fundamental. Perdido em seus pensamentos, acaba esbarrando em uma moça no salão de café.

— Olhe por onde anda, imbecil! — Ela chamou sua atenção, dando dois passos para trás.

— Perdoe-me, senhorita, não tive a intenção. — Ele se inclinou, desculpando-se.

Ao cruzarem os olhares, ele ficou inquieto, pois a moça lhe pareceu muito familiar, o que a incomodou. Ele fixa seus olhos nela, dando um meio sorriso, tentando reconhecê-la. Ela sentiu-se intimidada, e um arrepio perpassa sua espinha.

— O que está acontecendo? Algum problema, senhorita Verônica? — Diego apareceu  encarando-o, tentando protegê-la, e o forasteiro puxou mais o capuz sobre o rosto.

— Esse estúpido quase me jogou no chão. — Verônica respondeu, ríspida.

— Perdeu os modos, senhor? — Diego perguntou com um ar desafiador. — Posso lhe dar uma lição que, aposto, será inesquecível.


O forasteiro inclinou novamente a cabeça, num pedido silencioso de desculpas, e se afasta, sentando-se no fundo do salão, prestando atenção na conversa dos dois.

— Deixe esse idiota para lá, precisamos traçar os próximos passos do plano.

Nesse momento, chega um grupo de marinheiros, e um deles, visivelmente embriagado, comenta.

— Queria saber quem é o fidalgo que chegou à cidade. Veio carregado com muitos baús, dois deles parecem ter muito dinheiro ou joias, pelo peso que têm.

Um de seus companheiros o repreendeu.

— E o que lhe interessa? Você ainda está muito bêbado. Feche essa boca, se não quiser que o capitão saiba que anda falando demais e o escorrace de vez do navio.

— Pouco me importa. — Ele cambaleou, dando de ombros.

Outro marinheiro o puxou para sentar-se.

— Cale-se! Você precisa de um café bem forte para recuperar a sobriedade e o juízo.

Ao ouvir o que diziam, os olhos de Diego brilharam gananciosos, e sua mente começou a maquinar uma forma de roubar esses baús.

— Senhoras, com sua licença. Preciso cuidar de uns assuntos urgentes. Tenham um bom dia! — Ele deixou Verônica e Doña Juana, saindo a passos apressados, antes de terminar o café.

Elas ficaram sem entender a atitude dele, enquanto o forasteiro permaneceu discretamente de olho em Verônica, tentando lembrar-se de onde a conhece.


Hipólita permaneceu em casa, enquanto Alba  foi para a fazenda cuidar de Clarita, que sente falta de sua babá. Ao chegar, escuta Isabella e Guto falando para o Conde Luis sobre a criatura que andava  pelos arredores e fica curiosa.

— Que história é essa, crianças? O que vocês andaram vendo?



— Tem uma criatura vagando pela mata, parece uma assombração! — Isabella respondeu, assustada.

— Sim, ela é grande e assustadora. — Confirmou Guto.

Alba sorriu com o relato das crianças.

— Provavelmente vocês devem ter visto algum animal ferido se arrastando pela mata, isso sim.

— Não era um bicho não, parecia gente, acho que era um fantasma. — Isabella negou com a cabeça, muito convicta.


— Um fantasma? E em plena luz do dia? Crianças, vocês têm uma imaginação muito fértil! — Afirmou  Alba, ainda sorrindo.

— Não é imaginação, não, Alba. A gente viu, não foi, Bella? E nós não somos mais crianças. — Respondeu Guto, contrariado.

O Conde Luis Manrique pediu que todos tenham cuidado, diz às crianças que não se afastem muito da casa e que Alba, ao voltar para a vila, também se cuide e vá acompanhada por um dos empregados.

— Não se preocupe, senhor Conde. Não tenho medo de Bicho Papão e conheço o caminho como a palma da minha mão. Pode ficar sossegado.

— De qualquer forma, fiquem atentos ao andarem por aí, e você, Alba, volte acompanhada. Seu pai ou seus irmãos jamais me perdoariam se lhe acontecesse alguma coisa.


Ela pediu licença e  foi cuidar de Clarita, enquanto o Conde se retira para o escritório.

Alba encontrou Clarita muito triste pela ausência de Hipólita.

— Ah! Minha pequena. Você está com saudades de Hipólita, certo?

Clarita afirmou que sim, balançando a cabeça.

— Que tal se nós chamarmos o Guto e a Bella para brincarmos de Cabra Cega? — Perguntou, tentando animá-la, retirando o lenço da cabeça.

Clarita saiu correndo em busca das outras duas crianças.

No navio, o forasteiro recolheu rapidamente seus pertences e escondeu bem entre suas roupas os dois pequenos baús, repletos de joias e moedas de ouro e prata. Ao cair da noite, montado em um cavalo com a pelagem castanha escura e branca, ele galopeou em direção ao hotel, quando foi emboscado por dois sujeitos com trajes pretos e máscaras no rosto. Eles saltaram sobre ele, e começou uma ferrenha luta. O som do metal cortando o ar e das espadas chocando-se uma contra a outra interrompe o silêncio noturno.

Apesar de ser um excelente espadachim, o forasteiro foi ferido no braço direito, abrindo ainda mais uma ferida recente. A dor era insuportável, e ele acabou soltando sua espada. Ele caiu de joelhos e tentou recuperá-la. Um dos sujeitos se aproximou, apontando a espada para seu peito, escarnecendo com ar de triunfo.

— O amigo não deveria andar sozinho a essas horas da noite. Pode ser perigoso. — Debochou, chutando a espada de seu oponente para longe.

O forasteiro pareceu reconhecer a voz, tentou se levantar e olhou para o sangue manchando a manga da camisa branca. Seu atacante aproveitou o momento e passou a espada em seu rosto, na altura do queixo, marcando-o. Em seguida, o derrubou, dando-lhe um chute no peito e atingindo-o novamente abaixo das costelas.

Eles roubaram os baús, espantaram o cavalo e o deixaram sangrando na beira da estrada. Tudo ficou ainda mais escuro, e o forasteiro perde a consciência.

Alba, que vinha cantarolando pelo caminho, viu algo mover-se perto de um arbusto. Ao escutar um gemido, aproximou-se com cuidado. Levou as mãos à boca, assustada com a cena.

— Ajuda... Por... favor... Ajuda... — O homem ferido sussurrou, erguendo a mão com dificuldade.

Ela abaixou-se para ajudá-lo. Ao retirar a capa com cuidado, percebeu que ele está muito machucado e perdendo sangue.

— Santo Deus! O que aconteceu aqui?


Será que o mistério do forasteiro, enfim, será revelado? Há muito a ser descoberto nos próximos capítulos de "A Força do Verdadeiro Amor".

Capítulo escrito em parceria com @alba6674 na qual é a coautora dessa obra.

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