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Capítulo 2

Capítulo 2

Anita acordou no dia seguinte numa casa estranha, com uma sensação igualmente estranha e com um enorme vazio em seu peito. Estava só. Literalmente só. Então fechou os olhos e rezou, mesmo não sendo religiosa, e pediu a Deus pelos seus pais. Que os Santos tivessem piedade deles. Que eles os trouxessem de volta para ela. Que eles não sofressem.

Levantou com uma dor de cabeça latejante e se lamuriou: "maldito remédio." Assim que colocou o primeiro pé no chão, encontrou um bilhete ao lado da cama.

"Fui à escola, não quis te incomodar. Volto somente no final do dia. Sinta-se a vontade na minha casa. Ivan."

Linda caligrafia, Anita concluiu ao levar o pequeno papel aos lábios. Escola... A vida continuava... Como a vida poderia prosseguir sem que ela tivesse seus pais? Como as pessoas podiam acordar, se levantar e seguir com sua rotina usual quando estava tudo de pernas para o ar?

Ao ver o seu próprio reflexo, assustou-se com o estado deplorável de seus cabelos. Que horror! O que Ivan teria achado dela? Correu para o banheiro assim que pegou seus pertences necessários na mala ao lado da cama. Não foi difícil encontrar o chuveiro no minúsculo apartamento.

A antiga Anita não se relacionaria com alguém que morasse num lugar tão pequeno, ela costumava ser esnobe e preconceituosa. Agora nada mais fazia sentido e como primeira lição na vida nova ela descobriu que dinheiro não trazia integridade. Que o Ivan era muito mais nobre e valia dez vezes mais do que provavelmente todos seus amigos juntos. Ele nem a conhecia... E cuidara dela... E a beijara... Anita ficaria eternamente agradecida.

Colocou a primeira roupa que viu e deixou seus cabelos soltos ao natural. Não fazia o menor sentido se arrumar. Pelo menos não para fazer o que ela pretendia e ir para onde ela iria.

Chegando a rua, se informou a respeito de sua localização. Um bairro do subúrbio, mais pobre dos que ela costumava freqüentar. Nunca havia estado ali... E de que importava isso, se ela agora se sentia a criatura mais pobre do mundo? De que valia que seus pais a tivessem colocado numa retoma de vidro, alienada e protegida, se eles agora a abandonavam a sua própria sorte?

Pegou a condução indicada, o bonde amarelo, e chegou a seu destino em 20 minutos. Seu coração batia agitado, ansioso. Talvez a Maria – a empregada doméstica – estivesse lá...

A porta ainda estava escancarada, mas agora com as luzes apagadas. Qual a primeira tarefa a ser feita? Anita pensou. Subiu em cima da bancada de alumínio da pia e rezou para que o pote de dinheiro que sua mãe guardava ainda estivesse intacto, escondido naquele vão tão oculto. Graças e Deus! Anita agradeceu aos céus ao encontrar algum dinheiro na pequena latinha de chá. Colocou-o no bolso e saiu de casa. Vinte minutos depois, retornou com um homem apto ao arrumar o grande estrago da porta. Seu Manoel, um velho conhecido da família.

- Nossa! – foi o único comentário que ele fez ao perceber o estado lastimável da residência. Pela pouca estranheza em seu rosto, Anita constatou que ele já estava habituado a tal situação. Devia fazer parte de sua rotina consertar portas arrombadas por policiais. Em sua concepção, Anita pensava que policiais servissem para ajudar as pessoas e não para invadir suas casas e destruir suas portas. Só que mais uma vez, ela estava enganada.

Novamente sozinha, sentiu-se um pouco mais segura podendo trancar sua porta. Deu duas voltas, o máximo permitido, na fechadura. E então iniciou a operação faxina. Começou juntando os papeis, após observar um a um, preservando os que julgava importante e colocando os demais no lixo. Depois guardou os livros de volta na prateleira, jogando os agora imprestáveis fora. Em breve o primeiro saco enorme preto enchia e ela o levou a rua, depositando-o em frente de casa.

Depois buscou na garagem a caixa de ferramentas dos pais e tentou imitá-lo, lembrando de como ele costumava fazer, tentando pregar e reposicionar as pernas destruídas das cadeiras de madeiras. Sentiu-se orgulhosa ao ver duas delas em pé, as que continuam o menor estrago. A mais destruída, levou ao lixo. As outras três, guardou na garagem. Talvez seu pai as consertasse quando voltasse.

Depois limpou o chão, esfregando com vigor a mancha de sangue. Usou todos os produtos de limpeza disponíveis até conseguir removê-la com sucesso. Passou um pano nas paredes, arrumou os quartos, até que enfim só sobrou o sofá.

Anita colocou as mãos na cintura, observando a costura destruída, o estofado para fora, e pensou. Pegou a caixa de costura de sua mãe e uma sacola de retalhos e passou o restante do dia costurando-o. Aprendendo na marra e por vezes espetando os próprios dedos ou apanhando para encaixar a linha no diminuto buraco.

Já anoitecia quando se deu por satisfeita. O sofá remendado e agora colorido (com pedaços de tecidos rosa, vermelho, amarelo e verde) estava mais ou menos apresentável. Não mais assustador, mas pelo menos engraçado. E o melhor de tudo: confortável para se sentar nele, como deveria ser um bom sofá. Exausta, Anita seguiu para um novo banho. Missão comprida: agora seus pais poderiam voltar para casa.

Anita decidiu ir para a cozinha, fazendo uma das únicas coisas que sabia fazer, que sua mãe a ensinara antes de partir sem aviso: panquecas, em quantidade suficiente para três. Seus pais poderiam voltar e poderiam estar com fome.

Colocou a mesa, com lugar para três pessoas, sentou-se no sofá remendado e esperou. Mesmo com a barriga roncando, só havia comido um sanduíche na hora do almoço, esperou pelos menos uma meia hora até que a campainha finalmente tocou.

Entusiasmada, Anita levantou num pulo, esperançosa. No curto trajeto do sofá até a porta, assustou-se. E se o DOPS tivesse voltado para buscá-la também? Medrosa, escorou-se à parede. Não, sua idiota – ela concluiu – se fossem eles, já teriam arrombado a porta. Eles não pedem licença para entrar.

Um novo toque, ela se encorajou e indagou:

- Quem é?

- Sou eu, o Ivan. Trouxe tua mala, Anita.

Anita destrancou a porta numa alegria inusitada. Surpreendeu-se com o seu aspecto: Ivan parecia cansado, com olheiras profundas sob os olhos.

- Oi! – ela sorriu, radiante. Sem disfarce. Ele a fazia feliz. – Já jantou?

- Na verdade, não.

- Janta comigo? Eu fiz panquecas!

- Está bem. – ele tentou sorrir em resposta.

Ivan não dormiu a noite, revirando na cama. A presença dela o atordoava. Não conseguia ter paz. E ele precisava de paz. O vestibular se aproximava e ele precisava se concentrar exclusivamente nos estudos. Não poderia ter nenhum tipo de distração. E Anita era uma distração e tanto! Mas ela estava tão só, tão desolada, que ele não podia simplesmente dar-lhe as costas.

Chocado, Ivan reparou na casa, tão diferente da noite anterior. Se não fosse pelo sofá incrivelmente remendado e as cadeiras marteladas, não se poderia afirmar que era a mesma casa.

- Você chamou alguém? – ele indagou curioso enquanto ela aquecia as panquecas no fogão.

Ela o olhou e apenas sorriu. Aquele sorriso largo e luminoso que o desnorteava.

- O que você achou? – ela questionou enquanto ele se inclinava sobre o pé da cadeira martelada para ver se era mesmo seguro sentar-se ali. - O que você acha, está bem consertado?

Ele se ajoelhou e olhou com atenção.

- Aparentemente sim. – ele enfim se sentou – Quem fez isso? – deu uma garfada na panqueca.

- A mesma pessoa que arrumou a casa, costurou o sofá e fez todo o resto – o semblante de Anita exibia um nítido orgulho.

- Você? – Ivan indagou boquiaberto, sem esconder seu assombro.

- Sim! – ela assentiu em concordância. - Não dava para morar nessa casa. – ela murmurou. – E quando meus pais voltarem, gostaria que eles encontrassem tudo em ordem...

- Anita... – ele suspirou longamente, revirando os olhos. – Você se sabe que eles podem demorar para voltar, não sabe?

- Um dia, eles voltam... Nem que seja quando a ditadura acabar... – ela balbuciou, tentando camuflar sua insegurança – Eles voltam. – Ela repetiu dessa vez mais para convencer a si mesma.

Ivan não estava certo disso, mas não disse nada em contrariedade. Ela ficava linda esperançosa, com os olhos amendoados abertos e brilhantes, e ele percebeu como gostava de vê-la assim.

- Que bom que você está aqui! – ela afirmou mais animada, após ter comido outro pedaço de panqueca– Vai dormir comigo, não vai? Não quero ficar sozinha.

- Anita... – ele franziu o lábio, desgostoso – Não sei se é adequado.

- Adequado para quem?

- Os seus vizinhos, por exemplo, o que eles podem pensar?

- Certamente não vão pensar nada pior do que pensaram ontem. – ela deu uma garfada na comida, e então prosseguiu – A dona Sheila deve estar pensando: "pobrezinha da Anita, está sozinha e desamparada", mas não se deu o trabalho de vir aqui para ver se eu estou bem, se eu estou precisando de algo, mesmo tendo me visto retirar o lixo. O seu Moises deve estar pensando que eu agora sou uma "mulher perdida", expressão que ele adora repetir, e do jeito que ele me encarava antes, com um jeito de tarado, em breve deve vir me oferecer um ombro amigo, certamente com segundas intenções. Deve pensar que eu sou uma presa fácil sem meus pais, mas ele sequer sonha que eu encontrei arrumando a casa, um spray de pimenta. – ela sorriu - E o casal da casa ao lado, recém casados e com dois filhos pequenos, devem querer se manter livre de encrenca, não querendo se misturar comigo. As pessoas andam assustadas, Ivan. Seus conhecidos desaparecem da noite para o dia e todos fingem que nada aconteceu, que está tudo igual. Só que nada está igual. Eu não estou igual. Minha casa não está igual e meus pais não estão iguais. Eu estou revoltada, com vontade de sair na rua e gritar! Então, diante da bagunça que está esse país, eu novamente pergunto: você dormir aqui não é adequado para quem mesmo?

Ele ficou confuso, surpreso com ela, com suas palavras, com seu modo de agir. Cada vez mais, ela o intrigava. Não era esse o comportamento que ele esperava de uma garota mimada, filhinha de papai.

- Para a gente. – ele afirmou - Não é adequado para a gente.

- Tudo bem, se você quer, pode ir. Eu não me importo. – ela deu de ombros e se levantou para lavar a louça. – Vou esperar minha tia. Em breve, ela deve chegar.

- Sua tia, Anita – ele também se levantou e parou em suas costas. Colocou as mãos sobre os seus ombros, para ampará-la – Mandou dizer que te ama.

- O quê? – ela, deduzindo o que ele quis dizer, deixou cair a louça branca sobre a bancada de alumínio, quase a quebrando. Virou-se para ele. – O que... O que você quer dizer? Ela não vai voltar? – ela mordeu os lábios, trêmula, num esforço para reter o choro.

- Acredito que não.

- Não! – ela gritou e então ficou imóvel. Abraçando a si mesma. – Eu estou sozinha... Sozinha.

- Você não está sozinha, Anita. Eu estou aqui. – sua voz era doce agora.

- Mas você quer embora. – ela disse, falando baixinho e olhando para o chão.

- Eu não vou a lugar algum. – ele comentou, rompendo o espaço e a abraçando.

- Eu preciso pensar. – ela, depois de um minuto, se desvencilhou de seus braços e então começou a andar pela sala. Ele sentou no sofá remendado, observando-a calado.

A campainha tocou. Nove da noite, quem poderia ser? Anita tremeu.

- Mônica? – Anita abriu a porta e sua amiga, encabulada e acompanhada da mãe, evitava encará-la.

- Viemos ver se você está bem, querida. – a mãe da Mônica sorriu, num esforço evidente para ser simpática. – Você está sozinha? – esticou o pescoço para espiar a sala. – Mas a casa está arrumada... – ela ficou perturbada – Me contaram que estava uma zona...

Anita sentiu-se enojada. Sentia-se um objeto de curiosidade, digna de pena. Não queria que as pessoas pensassem assim a seu respeito.

- Está precisando de alguma coisa? Quer companhia? – a mãe de Mônica prosseguiu.

- Eu não estou sozinha. – Anita raciocinou rápido. Dizer a verdade talvez apenas aguçasse as fofocas - Meu primo está comigo.

- Oh, que bom querida! Não sabia que você tinha um primo.

- Nem eu. – a amiga finalmente abriu a boca. Parecia desconfiada ao encarar Anita.

- Eu trouxe um cheque. – a mãe de Mônica disse - Precisa de dinheiro ou de alguma outra coisa? Soube que você ficou sem nada...

- Não, obrigada, eu estou bem. – Anita mentiu. Não precisava de esmolas.

- Bom, se você não está sozinha e não precisa de dinheiro, nós vamos indo, não é, mãe? – Mônica cutucou a mãe. Estava com pressa para ir embora. Queria se ver livre de Anita com urgência. Ela não era mais uma companhia adequada, e se não fosse por sua mãe, nunca teria a visitado. Segundo os boatos, ela agora era pobre, e Mônica tinha horror a pobres. Além disso, ela era agora uma garota falada e não faria bem para sua reputação andar com Anita.

Assim que Anita fechou a porta, voltou à sala bufando.

- Que ódio! – ela exclamou cerrando os dentes. Encontrou o Ivan sentando no sofá sobre o retalho cor de rosa. Ela achou graça do inusitado da cena e começou a rir.

- O que foi? – ele a encarou, intrigado. Talvez ela estivesse entrando em choque.

- O sofá. – ela gargalhava agora, e seu corpo todo se inclinava para frente, sacudido pelas risadas. – O sofá está ridículo.

- E isso é engraçado? – ele permaneceu sério, franzindo as sobrancelhas. Observava-a agora com preocupação.

- É sim! Está tudo ridículo e do avesso, Ivan! – e então ela parou de rir, secou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, deu um par de passos e sentou em na frente dele - A única coisa certa é você.

Comovido e surpreso, ele ficou imóvel, mas a observou de maneira amorosa. Ele não esperava por isso. Anita recebeu aquele olhar como um convite e se jogou em seus braços, surpreendo-o ainda mais.

- Eu quero colo. – ela afirmou como se fosse óbvio. – Me abraça como ontem. – ordenou.

Anita sorriu para ele e ele, incapaz de dizer não, obedeceu, colocando seus braços ao redor do corpo dela. Mas o abraço não durou nem dois minutos, pois logo Anita se lembrou de algo, se desvencilhou e se levantou num pulo.

- Tenho que te mostrar uma coisa. – Anita explicou. Voltou à sala com um talão de cheques. – O que você acha? Encontrei no fundo de uma gaveta. Se eu conseguir falsificar a assinatura da minha mãe, não posso sacar dinheiro?

- É... Pode dar certo. – ele respondeu. Ivan estava fascinado com a inteligência e a vivacidade dela - Anita? Tua tia me contou algumas coisas sobre os teus pais ontem, você quer saber?

- Claro. – ela arregalou os olhos. – Quero saber tudo.

Durante o trajeto até a casa dela, Ivan estava incerto se deveria ou não contar a ela. Mas Anita o surpreendia. Mostrava ser mais do que um rosto bonito. Era forte, muito mais forte do que ele sequer imaginara. E orgulhosa. O jeito que enfrentou a mãe de sua antiga amiga, com garra, sem se deixar abalar, lhe deixou cheio de admiração.

- Nossa! Partido Comunista? É pior do que eu pensava, Ivan. E agora?

Então ele lhe contou que falou com sua mãe, sobre o emprego disponível, a possibilidade de ficar em seu antigo quarto e permanecer com sua família até que ela fosse capaz de se virar sozinha ou até que seus pais voltassem.

- Eu não vou.

- Por quê? Se teus pais voltarem, Anita, não será difícil de encontrá-la. Você logo será avisada e por enquanto ficará segura lá.

- Eu não vou. – ela repetiu e cruzou os braços, decidida.

- Por que não? Pelo amor de Deus! Você não pode ficar aqui sozinha! É perigoso! E eu não posso cuidar de você, Anita.

- Não pode? – ela franziu a testa, tristonha e surpresa - Porque não pode?

- É por isso que você quer ficar? – ele se assombrou – Por minha causa? – indagou para se certificar. Isso não era possível, ou era?

- Você, Ivan, é tudo que eu tenho agora. – ela simplesmente respondeu, cabisbaixa. Seu coração batia a mil por hora. Ele permaneceu imóvel. Impassível.

- O que eu sou para você, Anita?

- Tudo. – ela repetiu, dessa vez com mais ênfase. Dessa vez olhando no fundo dos olhos dele, corajosa.

- Eu não posso ser tudo, Anita. Você só me conhece há dois dias. Você está confusa – ele se inclinou e acariciou seus cabelos de maneira afetuosa – Você está carente e se sentindo sozinha.

- Eu não estou sozinha. – ela murmurou – Você está aqui.

- Mas eu não deveria estar.

- Por que não? – ele não a queria. Isso era óbvio! Então por que ele estava ali? Será que ele sentia pena dela? Anita esperava pela resposta, aflita. Ele não podia ter só pena dela!

- Preste atenção. – ele se afastou um pouco e apoiou o braço sobre o encosto do sofá para observá-lo melhor – Eu estou aqui para estudar, Anita. Vou concluir o colégio e no final do ano presto vestibular para medicina. A prova é composta pela redação e por cinco questões dissertativas, que podem ser sobre qualquer assunto e se eu desconhecer qualquer uma delas, já posso me considerar fora. Meu pai faleceu no ano passado e desde então minha família está passando por dificuldades. Minha mãe trabalha numa escola, onde ela e a minha irmã são professoras, mas o salário não é muito alto. Meu irmão trabalha como bancário, e também não ganha muito. Eles juntos estão se esforçando para me manter aqui. Se esforçando para me pagar esse colégio caro, cheio de filhinhos de papais. E eu não posso fracassar. Não posso perder um ano. Um ano é sacrifício demais para eles. Se eu não der tudo de mim, irei me odiar. Você está compreendendo?

Ela permanecia muda, com os olhos abertos e fixos nele. Balançou a cabeça em confirmação.

- Eu não tenho dinheiro nem para me manter direito aqui. Passo os dias na biblioteca, já que não posso comprar os livros. Vou a pé para a escola, mesmo sendo 20 minutos de caminhada, para economizar. Inclusive na chuva. Não vou nunca a festas, a primeira que eu fui foi ontem, quando a conheci. Levo sanduíches para escola, para não gastar com alimentação. Estou aqui a muito custo e não posso sacrificar minha família. Não posso ter distrações. E você, Anita, é uma distração e tanto – sua voz se tornou agoniada – Ontem, mal consegui dormir. Hoje passei o dia inteiro preocupado com você, sem conseguir me concentrar. Fiquei pensando onde você estaria, se estaria segura, o que estaria fazendo, no quanto deveria estar triste. E eu só vou conseguir ter paz, sabendo que você estará segura, que você estará sendo bem cuidada. Não vou conseguir me concentrar em nada, se eu não estiver certo que você estará bem.

- Tudo bem. – ela afirmou.

- Tudo bem o que?

- Eu vou. Posso viajar amanhã? Poderia viajar amanhã à noite. É menos cansativo para mim, eu durmo a madrugada inteira. Tenho facilidade para dormir em ônibus.

Ela sorriu. Um sorriso amplo luminoso. Ivan não compreendeu. O que ela estaria pensando? Parecia estranhamente alegre.

- Não quero que você perca mais nenhum dia de estudos por minha causa. – ela afinal acrescentou.

Anita estava realmente feliz. Ivan gostava dela! Preocupava-se com ela! Ela não seria egoísta então e se afastaria para o bem dele. Se ele fez tanto por ela, ela também poderia fazer isso por ele. E afinal de contas, estaria com a família dele! Eles não perderiam o contato.

- Quando você vai me visitar, Ivan? Quando eu vou te ver de novo?

- Não sei. Se eu passar no vestibular, terei férias no verão.

- Mas faltam seis meses – ela choramingou. – Eu vou sentir saudades.

Ele apenas sorriu. Não soube o que dizer.

- Já que eu vou embora amanhã... - ela deixou a frase em suspense – Acho que vou dar uma passadinha na escola de tarde.

- Para dar tchau para as pessoas? – Ivan estava certo que não seria uma boa idéia.

- Hum hum – ela negou com a cabeça.

- Não?

- Para a gente ficar as últimas horas juntos. Eu já disse, vou ficar com saudades.

- Eu... – Ivan não soube novamente o que dizer. Não queria se aproximar, para não se aproveitar da situação. Anita estava confusa e vulnerável e só um completo canalha se aproveitaria desse fato. Mas era tão linda, tão atraente e encantadora, que era difícil manter-se longe.

Ela piscou os longos cílios, e pareceu cansada.

- Estou com sono. Vamos dormir? – ela levantou, sem esperar por ele. Elevou os braços para o ar e os percebeu doloridos – Nossa! Estou quebrada!

- Tem dois quartos na casa, não tem? – ele disse ao se levantar do sofá.

- Tem, mas nós vamos dormir juntos na cama dos meus pais.

- Não. Eu não acho uma boa idéia.

- Por quê? – ela olhou para ele com uma expressão de deboche, parando em frente à porta do quarto de casal - Você não consegue se controlar? – brincou.

Ele ficou sem graça.

- Tudo bem, Ivan. Eu não me importo. – ela queria dizer: eu sou tua, Ivan. Hoje, amanhã, ou depois, não faz diferença. E eu não me importo se você não se controlar.

E ele acabou cedendo.

- Acho que não foi uma boa idéia dormir aqui. – Anita murmurou assim que apagaram as luzes. Algo começou a pressionar em seu peito. Uma angústia. Uma saudade avassaladora. E ela começou a chorar baixinho.

- Anita... – braços fortes a envolveram. Ela sentiu-se segura. Mas nem isso foi capaz de aplacar sua dor.

– Eu sinto falta deles, Ivan.

- Eu sei. – ele a comprimiu contra o seu peito.

- Eu os amo.

- Eu sei.

Ela agora chorava, aconchegada a ele.

- Não me deixe nunca, Ivan. – ela suplicou em meio as lágrimas. – Eu não vou agüentar.

- Eu não vou deixar.

- Me beija de novo?

- Dessa vez não, Anita. Se daqui a seis meses você ainda quiser, eu te beijo.

- Por quê? – ela choramingou. – Por que esperar seis meses?

- Por que você está confusa, querida. Não quero me aproveitar.

Anita queria gritar. Ela não estava confusa! Ela estava certa sobre os seus sentimentos! Ela o queria. Mas sentia-se esgotada e sem forças para argumentar.

- Obrigada, Ivan. – então apenas agradeceu.

Como resposta, ele apertou mais o abraço.

Eu poderia dormir assim todas as noites... – Anita concluiu, antes de apagar de vez.

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Dois dos 13 capítulos postados. Agora antes do restou preciso de uma sinopse e de uma capa. 

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