A Fonte
Apesar do hiatus, eu precisava escrever isso, é algo que estou trabalhando já faz um tempo e é importante para mim :) espero que gostem
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"Jeongguk!", Taehyung cochichou para o bosque silencioso. Era verão e o sol costurava padrões dourados entre as folhas no chão, um tapete em renda cor de bronze. O garoto esperou uma resposta, mas escutou apenas o pio distante das andorinhas. "Jeongguk! Apareça, sou eu, TaeTae."
Sentiu o frio na barriga, sensação que já associara a Jeongguk desde que o conhecera naquele bosque, no verão passado. Jeongguk tinha quase a mesma idade que Taehyung, um ano e alguns meses mais novo apenas, e ele surgira numa tarde excepcionalmente quente em que Taehyung estava largado ao lado da fonte velha e emperrada do bosque, depois de ter passado o dia brincando no quintal da avó, as canelas estendidas na grama, salpicadas por mordidas de mosquito.
"Oi", Taehyung ouvira a voz mansa e melodiosa e, quando abriu os olhos, a respiração pesada e o rosto suado, enxergou a figura de um garoto pequeno com grandes olhos escuros e nariz grande, o fitando de cima.
"Oi", e tudo que veio depois disso foram brincadeiras até o anoitecer e descobertas secretas de lagos, trilhas e grutas embrenhadas no bosque.
Agora, Taehyung estava de volta à casa da avó para mais um mês de férias e ele admitia que tinha passado o ano letivo inteiro pensando naqueles trinta dias em que, esperava, encontraria Jeongguk de novo. Taehyung tinha muitos amigos, era um garoto popular, divertido e de temperamento leve, mas havia algo em Jeongguk que o deixava fascinado. Era fácil esquecer de Jimin, Hoseok, Yoongi, Monie e Jin quando estava com Jeongguk. Não que seus amigos da escola fossem chatos ou desinteressantes, longe disso, mas Jeongguk... Ele era tão tímido, mas fazia Taehyung corar quando o olhava diretamente nos olhos enquanto Taehyung contava uma história. Era misterioso, escapulindo das perguntas de Taehyung,
Jeongguk nunca as respondia, desviava o olhar e inventava depressa uma nova brincadeira para distrair Taehyung. E, Taehyung descobriu no final das férias, Jeongguk tinha um sorriso engraçado.
Ele jamais contaria para seus amigos da escola sobre Jeongguk, e não apenas porque Jeongguk pedira segredo, por razões que Taehyung nem imaginava, mas porque era tão legal ter Jeongguk só para si, como um grande e precioso enigma.
"Jeongguk!"
Uma risadinha borbulhante veio de cima e Taehyung ergueu a cabeça, um sorriso genuíno e radiante esticando seus lábios sobre os dentes ao ver Jeongguk sentado num galho alto da macieira, pés descalços balançando no ar.
Eles riram ao se verem, pólen e poeira dourada girando ao redor deles, e Taehyung começou a escalar a árvore até esgueirar-se devagar pelo galho de Jeongguk. Quando chegou, eles sorriram ainda mais um para o outro, tão largo que os olhos de ambos estreitaram em traços apertados e brilhantes.
Taehyung se perguntou se deveria abraçá-lo. Ele abraçava seus amigos de escola sempre que voltava das férias, mas com Jeongguk era diferente. Ele sentia que era, mesmo que não entendesse o porquê.
Os dois se olharam e olharam, sorrindo, até que o silêncio se tornou timidez e eles desviaram o olhar para o chão de folhas douradas lá embaixo. Jeongguk tinha um cheiro tão familiar e agradável, um pouco doce, como um sorvete de baunilha, um pouco floral.
"Eu aprendi coisas legais na escola esse ano", Taehyung falou depressa, a boca seca e coração disparando.
Jeongguk pousou os olhos grandes e afetuosos em Taehyung, que corou, sentindo o calor daqueles olhos o acariciando como raios de sol.
"Eu aprendi as constelações!", Taehyung disse, e ergueu o rosto a tempo de capturar a expressão maravilhada de Jeongguk.
"O nome delas?"
"Sim! E eu pedi de aniversário para os meus pais uma luneta! Eles vão me dar, se eu tirar boas notas no ano que vem."
"Quando é seu aniversário?"
"Em dezembro! Eu vou fazer doze anos."
Jeongguk assentiu, o olhar perdendo um pouco do brilho.
"O que foi?", Taehyung inclinou-se para olhar por debaixo da franja do garoto. "Você pode vir, eu estou te convidando!"
"Obrigado, TaeTae", Jeongguk moveu o dedo mindinho, de modo que pudesse roçar os de Taehyung. "Mas eu não poderei ir."
Taehyung piscou.
"Hm. E se eu perguntar o motivo de você não poder ir, não vai me contar, não é?"
Jeongguk riu e, por mais que os segredos dele o entristecessem, pois fazia com que Taehyung se sentisse distante e inútil, o som que ela produziu no peito magro do menino causou calafrios na boca de seu estômago.
"Pode pelo menos me dizer quando é o seu aniversário?"
Jeongguk ficou calado e Taehyung suspirou. Mais uma pergunta sem resposta. Mas então Jeongguk falou animado:
"Podemos inventar uma data! Se é o meu aniversário, eu posso celebrar quando eu quiser!"
"Na teoria, não. É o dia em que você nasceu. Que dia você nasceu?"
"Eu quero que seja o dia em que eu encontrei você aqui no bosque", Jeongguk admitiu num sussurro, o rosto ganhando flores suaves e rosadas.
"Que ideia!", mas Taehyung ponderou, surpreso por lembrar tão perfeitamente o dia. "Foi quinze de Julho."
"É essa a data, então."
"É na semana que vem!", Taehyung riu. "Ei, vou pedir para minha avó fazer um bolo, que sabor você quer, Gukie?"
"Tae, você não pode contar, você..."
"Eu não vou contar! Vou dizer que o bolo é para mim, ela adora me entupir de doces, nem vai desconfiar. Eu gosto de morango, e você?"
"Chocolate."
"Morango e chocolate!"
"Sim!", eles riram juntos bobamente, os dedos de Jeongguk se enrolando distraidamente nos de Taehyung, que virou a mão para cima na coxa, deixando que Jeongguk a tomasse.
Eles ficaram sob o sol falando sobre as aulas de Taehyung, e Jeongguk escutou com atenção e encanto tudo que sobre as peripécias de Jimin, Hoseok, Yoongi, Jin e Monie, rindo e se abismando nas horas certas. Taehyung não entendia porque Jeongguk gostava tanto de escutar sobre seus amigos, ele parecia realmente interessado e pendurado em cada palavra de Taehyung, grandes olhos arregalando de deleite.
"E aí o Yoongi..."
"Como ele é?", Jeongguk perguntou ansiosamente.
"Hã?"
"Ele é mais baixo que você? Mais alto? Loiro, moreno? Eu quero imaginar."
Taehyung franziu a testa, estranhando a pergunta.
"Hm, ele é mais baixo, eu acho. E mais magro. E mais branquinho, porque ele detesta sol e a mãe dele é paranóica com câncer de pele. Ele cheira a protetor solar e talco e sempre sai refletindo nas fotos, é engraçado. Mas ele é legal. Um pouco rabugento quando não dorme o suficiente, mas, sabe, ele é realmente legal e leal. Ele tem o cabelo castanho, como o meu, e faz comentários sarcásticos e tira as melhores notas mesmo sem estudar."
"Ele parece ser tão legal!", Jeongguk disse, sonhador. "E Jimin?"
"É meu melhor amigo, a gente se conhece desde sempre. Nossas mães são amigas. Ele é baixinho como Yoongi, e gordinho, mas não deixamos que os idiotas mexam com ele por causa disso. Yoongi pode ser muito protetor quando quer, é assustador. Jimin tem os melhores abraços, é bom abraçar ele, e ele tem...", Taehyung se calou quando os braços de Jeongguk o envolveram de lado, a testa do garoto se encaixando na curva de seu pescoço. Ele sentiu que seu coração poderia explodir. "Gukie?"
"O meu abraço também é bom?"
Taehyung riu nervosamente.
"Sim. É sim", hesitante, passou os braços em torno de Jeongguk, sentindo a estrutura frágil do garoto por baixo da camiseta fina, a calidez da pele dele. O cheiro doce e suave era ainda mais forte nos cabelos e Taehyung fechou os olhos, apertando-o gentilmente, os dedos fazendo desenhos nas costas de Jeongguk. Tentou lembrar do que estava falando. "Hm... e, bom.. O Jimin, ele... ele é realmente legal."
Jeongguk grunhiu no pescoço de Taehyung, nada disposto a se soltar. Taehyung suspirou, sorrindo sem graça ao se acomodar melhor contra o tronco da árvore e puxar Jeongguk mais para perto. Ele não costumava ter esse tipo de contato com os amigos da escola, a não ser com Jimin, quando dormiam juntos ou deitavam juntos para dividir o mesmo mangá, mas ainda assim seu coração não ficava tão quente feito caramelo derretido. E, bem, Jeongguk era mesmo tão macio de abraçar, magro, mas quente e seus ângulos encaixavam tão bem nos de Taehyung.
Taehyung contou sobre Hoseok, o garoto risonho e cheio de magnetismo, e sobre Jin, o das piadas sem graça que fazia todo mundo rir e que cuidava dos mais novos como um bom irmão, e Namjoon Monie, o maior devorador de livros da história. Ele falou tanto sobre seus amigos e riu tanto com Jeongguk que, quando a noite caiu e eles começaram a sentir frio, Taehyung tinha a impressão de que eles eram amigos de Jeongguk também, todos eles.
Era bom. Pelo menos, aplacava a estranha sensação que Taehyung tinha no peito toda vez que olhava no fundo escuro dos olhos de Jeongguk, de que o garoto doce e tímido era completamente sozinho.
No dia do aniversário de Jeongguk, que eles inventaram, Taehyung chegou no bosque com um prato cheio de bolo de chocolate com morango e encontrou Jeongguk na beira do rio, só de bermuda, cabelos pingando nos ombros nus.
Eles devoraram o bolo com a mão, rindo quando se sujavam com a calda de morango nas beiradas.
Naquela noite, Taehyung levou para o bosque uma manta quente e eles deitaram na clareira, olhando as estrelas, e Taehyung mostrou cada uma delas a Jeongguk, dando nomes e traçando os contornos.
"E essa é órion."
"Onde?"
"Ali."
"Onde?"
Taehyung entrelaçou os dedos aos de Jeongguk e guiou a mão do garoto com a própria, apontando para cada pontinho brilhante no céu.
"Aqui, aqui, aqui e aqui...aqui...", ele brincou de ligar pontos com a mão de Jeongguk, que ria gostosamente ao seu lado, o corpo tão quente e aninhado contra suas costelas. "E aqui...e aqui... Viu. Órion."
"TaeTae...", Jeongguk o chamou timidamente e Taehyung abaixou a mão e deixou de fitar as estrelas para olhar o rosto de Jeongguk. "Eu posso falar uma coisa?"
"Claro, o que é?"
"As vezes, quando você vai embora.. Eu fico aqui e olho para as estrelas, e se eu olhar muito, muito tempo, parece que estou caindo nelas. Caindo no céu."
"Caindo no céu?", Taehyung duvidou.
"É. Tenta."
Taehyung voltou a encarar as estrelas junto com Jeongguk.
"Eu não estou..."
"Shiu. Quieto. Só olhe, sem piscar."
Taehyung obedeceu. Eles ficaram em silêncio e em silêncio até que tudo em torno deles fosse silêncio e estrelas sobre suas cabeças e não houvesse mais horizonte, e Taehyung perdeu a noção do chão, do que era em cima e em baixo. As estrelas giraram e o puxaram, o negrume profundo o engolindo e fazendo seu coração sair pela boca.
"Uau!", ele arquejou, colocando as duas mãos na grama úmida e sentando, a cabeça girando. Encarou Jeongguk, deslumbrado. "É verdade! Eu achei que eu fosse cair no céu! Uau, Jeongguk, isso é tão legal! Não acho que Jimin saiba disso, uau, uau!"
Eles riram, Jeongguk fascinado e orgulhoso por ter ensinado algo novo para Taehyung, mostrado para ele algo do seu mundo.
"Tae, você vai mostrar para eles?", Jeongguk perguntou baixinho.
"Eu queria, mas na cidade tem os prédios, as estrelas não brilham tanto e há muito barulho. Se eu os trouxesse aqui..."
"Não! Taetae, você prometeu que nunca ia contar, esse é o nosso lugar, o meu lugar...!", o pânico torceu as feições de Jeongguk e Taehyung arregalou os olhos, surpreso. O garoto não costumava ter reações tão intensas, em geral Jeongguk era bom em contê-las.
"Ei, ei, está tudo bem, eu não vou trazer mais ninguém aqui", Taehyung olhou para Jeongguk com um peso no peito. O garoto mordia o lábio, dedos apertando o braço de Taehyung. Ele não soube ao certo porquê inclinou-se e pressionou os lábios na bochecha corada de Jeongguk, só pareceu certo e mais forte que seu raciocínio. "Jeongguk, feliz aniversário."
Eles se olharam, Jeongguk respirando forte perto do rosto de Taehyung, então sorriu e esfregou a testa no ombro do amigo. O corpo inteiro de Taehyung formigava, e era bom.
Houve um verão em que Taehyung foi para a fazenda da avó e tudo estava diferente. Parecia mais quente e agitado. Os morangos que ele catava no quintal, mais doces e macios. Ele sentia essa euforia pulsante no peito e na pele, uma fome que não era de comida e o acordava no meio da noite com um desejo ardente.
Ele não sentia mais tanta vontade de brincar com Jeongguk, mas ele sentia uma vontade implacável de estar com o garoto e, ao mesmo tempo, um medo esquisito de vê-lo. Levou uma semana inteira para que tomasse coragem de se embrenhar na floresta e procurá-lo. Taehyung tinha dúvidas que só cresciam: onde Jeongguk morava? Por que nunca falava dos pais? Por que não parecia ter mais nenhum amigo além de Taehyung? Talvez o garoto tivesse pais muito ruins e sentisse vergonha deles? Ou sua vida envolvesse algum tipo de trauma que Taehyung pensava que seria melhor não saber mesmo.
Na verdade, andava pensando muito em Jeongguk, não como antes. Antes, ele ansiava pelas férias para correr com Jeongguk pela relva e saltar dos penhascos na água gelada do lago, ou deitar na grama de noite e apontar estrelas e brincar de cair no céu. Era diferente agora, mais sobre Jeongguk e menos sobre o que iam fazer. Nas aulas, na escola, quilômetros e milhas os separando, Taehyung pensava em Jeongguk, o rosto bonito, olhos redondos brilhantes e o modo como as clavículas afiadas ficavam expostas na gola da camisa folgada de verão que o garoto usava.
Nas festas, no cinema com Namjoon e os outros, Taehyung olhava para o espaço vazio ao seu lado e se perguntava como seria se ele fosse preenchido pela presença cálida de Jeongguk. Ele sentia falta de Jeongguk como se o garoto fosse uma ausência pulsante, e era assustador. Jeongguk grudava em sua mente como um chiclete.
Na tarde quente e seca, Taehyung deitava na cama e apoiava a cabeça nos braços, roupas grudando no suor da pele, o ar quente queimando as narinas. Na cozinha, sua avó preparava uma torta de maçã e o cheiro doce o deixava mole, entranhas eriçadas porque ele queria algo que nunca chegava. Ultimamente, sua boca enchia d'água pelos motivos mais estúpidos.
Foi numa manhã de domingo, em que o céu era de um azul esmaecido como um filtro retrô, que Taehyung calçou os tênis surrados e atravessou o quintal até a floresta. Com o coração pulsando com força no peito, ele passou pela antiga fonte quebrada, sentindo pontadas de decepção ao não encontrar Jeongguk debruçado nela, nem encarapitado na macieira frondosa que costumavam escalar.
Fingindo indiferença, pele pinicando de calor, Taehyung correu para o lago, tirou a camisa e mergulhou. Talvez Jeongguk não tivesse vindo nesse verão, embora Taehyung não conseguisse pensar numa razão, o garoto nunca deixava de vir. Era um acordo mútuo que tinha sido costurado com risadas borbulhantes, olhares intensos e silêncios cósmicos.
Ele mergulhou e secou na margem do lago, sob o sol, respirando no calor da tarde até que estivesse suando novamente. Sentou e olhou ao redor. As cigarras berravam, esturricando nas árvores, e Taehyung sentiu uma presença familiar o vigiando quando, de repente, todas se calaram.
"Jeongguk?"
Ele voltou para casa naquele dia tendo passado a tarde sozinho.
Taehyung voltou ao lago no dia seguinte e no próximo, sempre pego de surpresa pela sensação de estar sendo vigiado. Ele sabia que era Jeongguk e isso o divertiu. Era um tipo novo de brincadeira, um pouco sensual, porque Taehyung se estendia na grama úmida, sem camisa e com o short de banho colando nas coxas e sabia que Jeongguk o olhava escondido. Um prazer morno percorria Taehyung e ele fechava os olhos, deixando-se ser observado em segredo.
"Eu sei que está aí, Jeongguk", murmurou, sorrindo para o céu azul brilhante. Quase achou que ia ser ignorado novamente, mas então:
"Por que demorou tanto para vir me ver?", a voz de Jeongguk soava magoada. E também mais rouca, firme e madura. Taehyung engoliu em seco, abriu os braços na grama e fechou os olhos, respirando fundo.
"Desculpa. Eu não sabia se você ia querer me ver."
"Por que eu não ia querer ver você, Taehyung? Você...", Jeongguk se interrompeu como se estivesse sufocado. O coração de Taehyung disparou quando ele sentiu a presença crescer e crescer até se transformar no ruído de passo suaves na grama.
Apertou mais os olhos fechados, suprimindo o clarão alaranjado do sol por trás das pálpebras. Quando foi que Jeongguk se tornou algo tão tão tão grande?
A presença de Jeongguk estacou ao seu lado, sólida e real. Taehyung abriu os olhos devagar, sorrindo bobamente, e a silhueta alta do garoto surgiu desenhada em negro contra o vermelho vivo da luz. Devagar, como um negativo revelando, Jeongguk brilhou em detalhes: shorts jeans desgastados acima de joelhos fortes e rosados, regata branca solta e cabelos longos ondulados sobre olhos escuros.
A primeira coisa que Taehyung pensou é que tudo estava errado. A segunda, quando Jeongguk mordeu o lábio, foi que tudo estava certo.
Ele tragou o ar pela boca aberta, absorvendo Jeongguk inteiro, o corpo crescido do garoto, o cabelo bagunçado e grande explodindo em todas as direções, o rosto de criança diluído em traços masculinos surpreendentemente perfeitos.
Houve um momento de total desconcerto em que Jeongguk o olhou da mesma forma que Taehyung o olhava, silêncio ajustando-se à percepção nova de que tudo havia mudado e agora havia algo quente entre eles, latente e maior. E então, deslizando suavemente pelo estômago de ambos, a realização de que era apenas eles, Taehyung e Jeongguk, e eles riram. Jeongguk puxou a regata pela cabeça e correu para o lago e Taehyung não esperou mais um segundo para pular junto.
Taehyung experimentava no céu da boca o cheiro da água doce do lago na pele molhada de Jeongguk. Eles estavam boiando juntos apoiados num pedaço apodrecido de madeira, girando suavemente na água parada. O sol dourava a pele de Taehyung e avermelhava a de Jeongguk, mas ambos estavam amolecidos demais pela preguiça do ócio para se importarem. De frente um para o outro, cotovelos juntos e as cabeças enterradas de lado nos antebraços, eles respiravam em silêncio.
Gotas pingavam das mechas do cabelo de Jeongguk no braço de Taehyung e ele seguia com o olhar o trajeto delas entre a penugem dourada. Às vezes um joelho de Jeongguk esbarrava em sua coxa, o contato macio perdurando mais que casualmente, ou então a perna de Taehyung projetava entre as de Jeongguk para chutar suavemente a água e levá-los para o centro do lago.
"Eu gostei do seu cabelo assim", ele murmurou, dedos se erguendo para fitar as mechas úmidas na testa de Jeongguk, que moveu a cabeça e o encarou. Taehyung ficou preso na sensação do rosto de Jeongguk tão perto, a pele clara e rosada do sol, lábios vermelhos que, agora ele percebia, eram tão bonitos.
Jeongguk piscou timidamente e olhou para baixo, cílios roçando as bochechas quentes. Ele sempre fora assim, magnético?
"Você também mudou", Jeongguk disse, embora não fosse exatamente disso que Taehyung estivesse falando.
"Mudei?"
"Mais alto. Mais... Você sabe."
"Não sei", Taehyung provocou, brincando com a orelha de Jeongguk, puxando-a carinhosamente. "Mais o quê?"
"Mais barbudo", Jeongguk disse, rindo desafiadoramente e Taehyung recuou, indignado. Ele raspara o resquício de barba sobre seu lábio superior naquela manhã, era impossível que Jeongguk estivesse notando. A risada de Jeongguk virou uma gargalhada por causa da expressão de Taehyung. "Certo, não era isso que eu ia dizer. Você voltou como quem viveu coisas."
Era a forma de Jeongguk se expressar, dando voltas e acertando sempre, lendo nas entrelinhas tão bem.
"Todo mundo vive coisas."
"É, mas... estou falando de coisas adultas."
Taehyung corou. Jeongguk estava insinuando que ele tinha feito sexo? Como ele podia ser tão tímido e então ousado de uma hora para a outra? Ora, ele também podia jogar esse jogo.
"Você viveu, Jeongguk? Coisas adultas?"
"Não", o garoto respondeu francamente, naturalmente, e Taehyung sentiu-se estúpido. Jeongguk agitou as pernas na água e Taehyung percebeu que se distraíra de sua função, tinham boiado para perto da margem, quase no raso. "E então? Você...?"
Taehyung riu maliciosamente, queimando por dentro. Não sabia porque tinha a necessidade de impressionar Jeongguk, mas estava agindo sem raciocinar muito bem.
"Eu fiz uma coisa, é legal. Você quer saber como é?"
Jeongguk piscou inocentemente, esperando, então Taehyung ajeitou-se no tronco, deslizando para frente e encostando os lábios no de Jeongguk. O garoto exalou uma respiração surpresa, Taehyung escorregou a boca pela de Jeongguk, sorvendo devagar o lábio inferior do garoto antes de se afastar e encará-lo em expectativa.
"Bom, foi um pouco mais que isso, mas é bom, não é?"
Os olhos de Jeongguk eram duas bolas tão grandes prestes a caírem de sua cabeça. As orelhas dele cobriram-se de um rosa berrante e ele piscou, lábios entreabertos.
"Jeongguk?", Taehyung bagunçou os cabelos do garoto, fingindo que não tinha feito nada de demais. Por dentro, estava quase explodindo de felicidade. "Você gostou?"
"Como", Jeongguk gaguejou, "Você... Quando foi que... Com quem?"
"Jimin", Taehyung declarou, sorrindo divertido, "Foi numa festa. Eu falei dele para você, lembra?"
"Seu amigo", Jeongguk parecia constipado. Por alguma razão, o estômago de Taehyung esfriou. Ele não esperava essa reação de Jeongguk, não era tão grave assim, então porque ele agia como se fosse um erro?
"É. Foi só por diversão. A gente queria saber como era", ele pensou se deveria contar que convenceu Jimin a se beijarem planejando experimentar com Jeongguk quando o verão chegasse, queria ter a satisfação de mostrar a ele, ensiná-lo. Mas agora parecia errado, porque não estava sendo divertido ou legal como esperava e Jeongguk estava claramente ofendido, além do que ele se sentia idiota por imaginar que seria ele o primeiro beijo de Jeongguk, quando nem ao menos sabia sobre a vida do garoto. "Jeongguk, eu sinto muito, eu não devia ter feito isso..."
"Tudo bem", Jeongguk se afastou, espirrando água ao bater os pés para longe. Eles nadaram por um momento, ambos tentando ignorar o clima esquisito, mas, no dia seguinte, Jeongguk não apareceu no lago e Taehyung voltou para casa, entrou no quarto e bateu a porta.
Não conseguiu dormir. Pensamentos confusos beliscavam sua mente - Jeongguk não queria aquilo? Ele estivera lendo errado a conexão que existia entre eles e só entre eles? Ele devia ter omitido a parte sobre ter beijado Jimin? Explicado melhor que era só coisa de amigos? Ele nem mesmo sentiu com Jimin as sensações que sentira com Jeongguk, embora com Jimin o beijo tivesse sido mais longo, experimental e profundo. Foi apenas língua e saliva e giros. Com Jeongguk foi como estar voando e caindo - caindo no céu estrelado.
Por que estava doendo? Ele precisava ver Jeongguk de novo, arrumar aquela confusão. Quando foi que a vida ficou tão complicada?
Somente dois dias depois, Jeongguk apareceu. Taehyung estava largado perto da fonte enguiçada, mordiscando um graveto de canela, quando uma sombra despenteada cobriu o sol.
"Hm, oi", Jeongguk disse, voz macia.
Taehyung levou uma mão aos olhos para tapar a luz e enxergar o garoto.
"Ei. Você sumiu."
"É", Jeongguk cutucou as costelas de Taehyung, brincalhão, um bico carente nos lábios. "Eu só... não sabia o que fazer."
"Jeongguk, eu...", começou a sentar, mas Jeongguk esticou a mão e o puxou para cima afoitamente.
"Quero mostrar um lugar", sem deixar Taehyung responder, Jeongguk o levou pela floresta, na direção oposta ao lago. Eles andaram por alguns minutos antes que Taehyung avistasse a fachada carcomida de uma casa.
As janelas não tinham vidro, hera e mato as cobriam desordenadamente, lembrando a Taehyung os cabelos de Jeongguk. As paredes descascadas podiam ter sido verdes um dia, ou vermelhas ou azuis, as manchas das camadas se sobrepunham umas às outras, criando um mosaico colorido estampado ao sol. O soalho velho estalou quando eles entraram, passando pela franja de samambaias na entrada. O ar cheirava a mofo, terra úmida e sol quente.
"Uau", Taehyung perdeu o fôlego, ele se virou para Jeongguk, que o olhava em expectativa. "Como nunca descobrimos esse lugar?"
O garoto deu de ombros. Usava uma camiseta amarela com a costura azul nas mangas, a frase old summer coast escrita em letras antigas em vermelho desbotado. Os cabelos ondulados estavam brilhantes como cetim, roçando as bochechas rosadas. Taehyung suspirou ao olhar os braços e os ombros largos do garoto, não conseguia se acostumar com o quanto Jeongguk estava... gostoso.
"Nunca exploramos para esses lados, eu acho", ele disse com desinteresse estudado, então apontou para o clarão de luz atrás da escadaria que levava ao segundo andar. "Venha, tem uma coisa ainda mais legal."
Havia um pátio interno, como nas casas marroquinas que Taehyung via nos filmes. Era mal cuidado e abandonado, o que só o tornava ainda mais mágico. Flores e mato cresciam em volta do que claramente era uma pequena fonte, a estátua de um fauno olhando curiosamente sobre os ombros, como se os espiasse em segredo, encimava o jorro constante de água.
"Está funcionando!", Taehyung exclamou, tocando o fluxo cristalino de água. Um arco-íris dançou entre seus dedos através dos respingos.
"Eu liguei ela mais cedo, antes de trazer você", Jeongguk sorriu, refletindo o entusiasmo de Taehyung. "É potável, está instalada sobre um poço artesanal, por isso ainda funciona."
"Quanto tempo faz que foi abandonada?", Taehyung olhou para cima, para a varanda que cercava todo o segundo andar e o telhado apodrecido contra o céu.
"Não sei. Anos? Uma década? Quanto tempo uma casa pode se sustentar vazia?"
Taehyung realmente não se importava. Ele nunca tinha visto nada tão legal e... deles. Era isso, certo? Jeongguk o levara ali para que aquele fosse o lugar deles, como o lago, a relva do verão, as macieiras. Todo aquele jardim infinito.
"Você tem razão, Gukie. É irado", Taehyung disse com um sorriso grande e quadrado. Jeongguk piscou, maravilhado, e então retribuiu.
Voltaram na casa abandonada nos dias seguintes. Sempre havia algo novo para descobrir nela, um cômodo diferente, o descascado de um papel de parede velho por baixo da camada de tinta, uma tábua do solha solta, revelando um vão que eles decidiram fazer de esconderijo, embora não tivessem nada para esconder. Taehyung teve a ideia de fazer braceletes com a relva e as pequenas flores que cresciam em volta da fonte, e Jeongguk o ensinou a fazê-los, entrelaçando a hera delicada nos dedos hábeis. Taehyung olhou para as mãos de Jeongguk, as juntas grossas, a palma grande, mas os gestos cuidadosos e precisos e ele teve vontade de beijar os dedos de Jeongguk e tê-los em si, tocando-o. Eles fizeram uma coroa, que Jeongguk colocou em Taehyung e ambos riram, porque era um pouco afeminado, mas Taehyung não se importava. Eles fizeram braceletes, anéis e esconderam tudo no vão embaixo do soalho solto.
"No ano que vem", Jeongguk disse timidamente na última semana em que teriam juntos, "eu vou esperar você aqui."
"Certo", Taehyung concordou.
E foi assim que esse verão começou e acabou.
Talvez fosse o verão mais quente dos últimos anos.
Quando Taehyung entrou na casa abandonada, ofegante e sentindo a camisa grudar nas costas suadas, ele só queria ligar a fonte e se refrescar nela.
"Jeongguk!", ele gritou, mas a casa não deu sinais de vida. O sol passava pelos ângulos do telhado, faixas translúcidas como véus descendo até o jardim e fazendo a hera verde vivo cintilar. Taehyung ficou um tempo parado no pátio interno, então entrou, subiu as escadas e foi verificando cômodo por cômodo. Às vezes, no verão passado, ele encontrara Jeongguk deitado no colchão encardido de um dos quartos do segundo andar, dormindo no calor abafado. Ele estava suado, cabelos úmidos puxados para trás, a pele brilhando como nácar, olhos fechados e lábios macios que Taehyung quase beijou. Ele tinha passado todos aqueles dias até agora pensando em Jeongguk. Na boca dele. Nas mãos. Nos olhos dele, no sorriso e no cheiro de garoto que ele tinha, algo como terra úmida, sal e manteiga.
Estava tão ansioso e desejoso que mal deixou as malas no quarto, na casa da avó, e correu para a casa abandonada. Tinha chegado cedo demais. Jeongguk ainda não estava ali.
Taehyung desceu, ligou a fonte e esperou o fluxo estourar em um arco entre os cascos do fauno curioso. Apoiou as mãos na margem de concreto e curvou-se na direção do fluxo, lábios se abrindo para receber os respingos. Fechou os olhos, gemendo baixo em alívio. A água era tão pura e doce. Ele deixou que ela molhasse sua boca e seu queixo e pescoço, sem se importar se sua camiseta ficaria encharcada. Estendeu a língua, recolhendo o fluxo como um mel. Algo suave roçou sua bochecha e Taehyung estremeceu e abanou a cabeça, ainda de olhos fechados, imaginando ser um desses mosquitos de verão, mas um ofegar familiar aproximou-se de sua orelha, e em seguida, antes que tivesse qualquer reação, o contato macio de uma língua adejou na sua. Ele ficou quieto, muito quieto, lábios entreabertos provando o contato gelado da língua deslizando pela sua através da fluidez doce.
O coração disparando, as borboletas no estômago esvoaçando para todas as direções, Taehyung abriu os olhos e viu o rosto de Jeongguk colado ao seu. Os olhos dele estavam abertos também, avaliativos, tão escuros e lindos, e ele girou a língua na de Taehyung sem timidez alguma. Ele sentiu o lábio inferior de Jeongguk dançando sobre o seu, a forma como ele beijava era suave, mas sensual, olhando-o de perto como se o desafiasse a recuar. Taehyung não ia, nem a pau. Ele estava em êxtase, deixando que Jeongguk o beijasse, deliciado com cada mínimo movimento da língua do garoto na sua. A água fluindo entre elas deixava-as sensíveis e receptivas e Taehyung gemeu outra vez, fechando os olhos e saindo do fluxo para provar o gosto verdadeiro de Jeongguk. Eles alinharam as colunas, os peitos juntos, Taehyung segurou as laterais do pescoço quente de Jeongguk, encaixando os lábios sem muita pressão. As mãos de Jeongguk seguraram a camisa de Taehyung na cintura, puxando-o para mais perto. Eles tentaram aprofundar o beijo, mas o contato suave era tão bom e excitante que eles voltaram ao ritmo lento, língua explorando e buscando. Taehyung sentia o peito apertar e precisava se afastar para respirar. Jeongguk estava tão lindo, cabelos escuros e despenteados caindo sobre os olhos, bochechas cor de pérola cobertas de suor; Taehyung as beijava, e as pálpebras de Jeongguk, o queixo e de volta os lábios. Eles suspiravam, tão cheios de afeto que mal conseguiam pensar.
Taehyung sentia cada nervo do corpo magnetizado, veias como feixes de energia chispando e fazendo seu coração pulsar. Ele queria saber se Jeongguk se sentia assim também, tão vivo, então o beijou suavemente e pousou a palma da mão aberta sobre o peito do garoto, em cima do coração. Eles sorriam, porque o peito de Jeongguk vibrava.
"Tae", ele murmurou, lábios roçando, úmidos e frescos. "Eu gosto tanto de você."
Taehyung sorriu também, mas todas as palavras que podia pensar como resposta eram insuficientes. Ele queria mais de Jeongguk, mais do sabor do garoto com quem crescera brincando nos verões, ele queria saber como era a pele de Jeongguk suada e quente sobre a sua, descobrir cada centímetro dele e os sons que ele fazia, todos eles, ele queria olhá-lo nos olhos por horas, e tocá-lo, dedos entrelaçados. Ele queria tanto Jeongguk, tanto.
Então, porque não havia nenhuma linguagem completa o bastante que não fosse a de seus corpos se conectando, ele beijou Jeongguk com toda a vontade que sentia, segurando-o pela nuca e tomando-o até que o sol ficasse vermelho atrás de suas pálpebras.
Aquele foi o verão mais torrencial dos últimos anos. As cigarras berravam nos jardins e os dentes de leão se desfaziam na brisa seca. A avó de Taehyung separava pêssegos e nectarinas e Taehyung escolhia furtivamente as melhores para comer com Jeongguk. Eles nadavam no lago e sentavam na relva, dorsos nus brilhando na tarde, e comiam as frutas, melando os dedos e o queixo.
"Diga uma coisa que você quer fazer e nunca fez", Taehyung perguntou, mastigando um pedaço suculento de pêssego. Jeongguk olhou para a superfície espelhada do lago e Taehyung se distraiu contando as pintinhas que ele tinha, no pescoço, no ombro, na costela. Ele ainda se pegava desejando tocar cada uma delas com um beijo.
Jeongguk hesitou e Taehyung sentiu o medo sondando o garoto; era tão fácil ler Jeongguk. Taehyung tocou o rosto dele, não necessariamente exigindo uma resposta, mas mostrando que estava tudo bem não ter uma. Ele não sabia porque às vezes Jeongguk ficava em silêncio, distante e triste, mas Taehyung entendia que no fundo não importava os motivos de Jeongguk, a vontade de fazê-lo se sentir seguro e confortável era maior que qualquer curiosidade.
"Dormir com você", Taehyung disse, fazendo Jeongguk se voltar, surpreso. Ele corou e Taehyung riu. "Não nesse sentido. Não apenas nesse sentido. Dormir com alguém é um gesto de confiança. É um estado de vulnerabilidade plena. Eu gostaria de dormir com você", e quando Jeongguk abriu a boca para, provavelmente, lembrá-lo que eles já tinham dormido juntos: "uma noite inteira."
Era diferente agora que eles sabiam que havia uma possibilidade nova e inexplorada de simplesmente terem um ao outro como quisessem, quando quisessem. Eles ainda se olhavam em perplexidade entre os beijos mais longos, ofegantes e maravilhados porque eles podiam ter um ao outro e somente um ao outro. Livremente.
Os cílios de Jeongguk estremeceram quando ele olhou para baixo.
"Eu tenho medo que acabe."
"Sempre acaba, Jeongguk. Todo verão acaba e por isso são tão bons."
"Não o verão, hyung."
Taehyung engoliu em seco. Ele sabia do que Jeongguk estava falando, mas não achava que precisavam colocar um peso tão grande no que tinham, como se realmente fosse algo que pudesse acabar do dia para noite.
"Jeonggukie, eu gosto de você", Taehyung o beijou na bochecha, "não tenha medo, eu sempre vou voltar."
"E se um dia, quando você voltar, eu não puder estar aqui?", Jeongguk soltou, olhar obscuro disparando para os de Taehyung em desafio. O peito subiu e desceu com a respiração perdendo o ritmo. "E se, quando você voltar, não existir mais nada disso? E se o que você sente por mim não for o bastante para que eu fique?"
Taehyung piscou, aturdido.
"Como assim?"
"Você gosta de mim, é o que você diz. Mas existem coisas mais fortes, hyung, muito mais forte do que apenas um gostar e eu não posso lutar sozinho por elas", os punhos de Jeongguk se fecharam na grama, lágrimas descendo pelas bochechas. Taehyung agoniou-se, tentando limpá-las com os polegares e sussurrando para que o garoto se acalmasse, mas Jeongguk segurara a verdade por tempo demais. Ele não suportava mais viver com medo de que não existisse um amanhã, que não existisse mais ele e Taehyung. "Eu sempre estou aqui, não é, esperando você? Nunca se perguntou o porquê? Por que estou aqui todos os verões, só para você, esperando, e quando chega a noite e você vai embora, tudo recomeça?"
"Eu sempre me perguntei isso, Gukie. Onde estão seus pais, seus amigos, onde você mora. Mas você nunca quis responder, eu..."
"Eu não posso responder!", Jeongguk soluçou, olhos cheios de lágrimas encarando Taehyung dolorosamente. "Eu não posso sair daqui, estou preso aqui, nesse jardim, nessa vida. Eu vivi todos esses dias, desde que conheci você, desejando que um dia você pegasse a minha mão e me levasse para além dos limites desse jardim. Mas nunca aconteceu, e eu estou ficando sem tempo."
"Jeonggukie, eu não entendo... Como assim, sem tempo?"
"Talvez tenha demorado demais", Jeongguk passou a mão pelo rosto, enxugando as lágrimas que teimavam em descer. "E agora seja tarde."
"O que é tarde, Gukie?"
"O seu amor. Se é que é amor. É, hyung?"
Taehyung ficou confuso. Ele não sabia o que pensar de tudo isso, as coisas que Jeongguk dizia não faziam sentido. Por que ele estava preso naquele jardim? Taehyung crescera vendo o jardim como uma coisa boa, porque Jeongguk sempre estava nele. Então, por que o garoto fazia soar como se fosse uma prisão? E ele estava chorando e o olhando com tanta dor, o peito de Taehyung doía como se uma mão torcesse seu coração.
"Jeonggukie, eu não sei...", Deus, ele era tão novo para jurar a alguém um amor. Ele gostava de Jeongguk demais, ele sabia que era um sentimento muito forte, mas como podia dizer que era amor? Ele não queria prometer algo a Jeongguk e depois descobrir que não era nada daquilo, ele só queria viver esse sentimento. Pegou a mão de Jeongguk, o polegar afagando a pele macia do garoto, "Eu... gosto de estar com você, e beijar você e rir com você. Isso não pode ser o bastante agora?"
A expressão de Jeongguk partiu o coração de Taehyung.
"Não, Tae", ele murmurou e afastou a mão, "eu sinto muito, mas não é o bastante."
Naquela noite, Jeongguk sentou na beirada da fonte enguiçada no meio do jardim e olhou para o reflexo das estrelas na água escura. Ele chorou, lágrimas doloridas borrando seu reflexo. Cada dia que passava, desde que fora amaldiçoado por Oberon, ele olhava o próprio reflexo no fundo da fonte e via seus contornos se dissolvendo. O tênue brilho lunar de sua pele perdia o viço. Ele sentia a vitalidade de seu coração apagando como uma chama no vento. Quando tentava fazer essa energia pulsar em sua pele, acendendo seu peito como uma lâmpada e irradiando até o céu, ela tremeluzia, fraca, e ele se via encarando um garoto sem poder algum, menos que um humano; um fantasma.
"Oberon", ele implorou. "Me dê mais tempo. Só mais um pouco. Ele vai me amar. Oberon, por favor."
A floresta ficou em silêncio. Nem mesmo uma folha se moveu. Oberon dera sua resposta, e ele não tinha compaixão. Jeongguk enterrou o rosto nas mãos e chorou. Nas entranhas da floresta, aninhada em seu trono de faias e lírios e jacintos, Titania, a Rainha das Fadas e esposa de Oberon, escutou o pranto do garoto. Cercada de vaga-lumes e fadas mordentes, ela tocou os longos cabelos prateados e soltou um muxoxo de contrariedade.
"Dê a ele pelo menos mais um verão Oberon. Não é justo que o menino pague pelos erros dos pais, você sabe. Ele já sofreu o bastante."
"Alguém tem que pagar, minha Rainha", Oberon beijou os dedos da esposa. "Eles desprezaram o que existe de mais puro e mágico. É necessário que a lição seja aprendida"
"Eles morreram por isso, não é uma punição boa o bastante?", Titania, a condescendente, ponderou. "Jeongguk era somente um bebê."
"Não, Soberana. Ele é fruto de uma traição, e por isso precisa aprender o que é o amor verdadeiro e honrar a nossa magia. Ele precisa entender a dor de perder algo mágico e único, o que os pais dele não souberam."
Titania calou-se. O amor verdadeiro era o sentimento mais mágico e puro que as fadas podiam ter. Amar alguém, encontrar esse sentimento em alguém, especialmente um humano, era a magia suprema. Quando uma fada e um humano se apaixonavam, todo o universo celebrava. Quebrar esse amor, maculá-lo de qualquer forma, era um crime hediondo que Titania e Oberon jamais perdoavam. Os pais de Jeongguk haviam desonrado o Reino das Fadas ao encontrarem o amor verdadeiro e desprezá-lo, traindo-se mutuamente. Por isso, ao nascer, fruto dessa desonra, Jeongguk foi amaldiçoado. Não podia sair do jardim. Devia crescer esperando que um humano o achasse, o quisesse e o amasse apesar de todos os segredos, sem saber de onde vinha, quem era, o que era. Amá-lo puramente, simplesmente.
Jeongguk olhou para o céu estrelado, o rosto cintilando com lágrimas. No final desse verão, ele completaria dezessete anos. E então, seu tempo terminaria, e ele morreria sem nunca ter sentido o amor verdadeiro.
Taehyung passou quase uma semana sem voltar ao jardim. Estava assustado. Não apenas isso, mas a avó adoeceu e ele decidiu que deveria passar algum tempo com ela, já que a cada verão ela estava mais fraca e debilitada. Os pais de Taehyung tentaram de todas as formas levá-la para a cidade para que ela tivesse companhia e assistência, mas ela não abria mão de sua fazenda, a plantação de morangos, a rotina tranquila. Então, naquele verão, Taehyung prometeu a si mesmo que seria mais carinhoso com ela.
Tentou não pensar em Jeongguk e falhou miseravelmente. Só conseguia pensar em Jeongguk. Tinha que organizar os sentimentos, a pergunta que o garoto lhe fizera, se ele realmente o amava, era tão aterrorizante. A mãe de Taehyung sempre lhe dissera que não devia enganar ou iludir ninguém, ser sempre fiel a seus sentimentos. Taehyung passou aqueles dias buscando encontrar a verdade sobre seus sentimentos: jamais sentira nada meramente parecido por ninguém; o que ele sentia por Jeongguk era muito profundo, num nível que ele não entendia. Mas era amor? E se não fosse? Eles só tinham se beijado e trocado alguns olhares mais intensos. E se o amor fosse algo ainda mais grandioso? E se, com o passar do tempo, ele e Jeongguk não dessem certo e encontrassem outras pessoas? Parecia tão importante para Jeongguk saber se Taehyung o amava, como se sua vida dependesse disso, e Taehyung não podia, ele não podia responder isso agora.
Os dias passaram, as noites passaram. Taehyung recolhia morangos com a avó nas manhãs em que ela acordava mais disposta, e fazia bolos e geleias com ela. Mas sua mente sempre o puxava para Jeongguk das formas mais bobas; Jeongguk gostaria de provar aquele doce. Jeongguk morderia aquele morango e sorriria, Taehyung o beijaria, a língua de Jeongguk com sabor de morango. Ele sentia tanta falta do garoto que mal podia suportar. Sonhava com ele. Acordava pensando nele, com o nome de Jeongguk rolando na ponta da língua.
Deitado no sofá da sala numa tarde de calor, Taehyung fechou os olhos e respirou, o ar quente machucando nas narinas e a camisa colando nas costas. Não podia voltar a procurar Jeongguk enquanto não fosse capaz de lhe dar uma resposta sincera.
"Jeongguk", ele sussurrou. "Eu não sei.. Eu ainda não sei... o que eu sinto..."
Jeongguk sorveu a água fresca da fonte, olhos fechados e lábios entreabertos, a ponta da língua para fora capturando os esguichos refrescantes. O sol alto do meio-dia queimava sua nuca, cobrindo sua pele com uma fina camada de suor salgado e dourando-a nos braços e nas bochechas. Normalmente, ele não sofreria os efeitos do clima, não sentia frio ou calor, mas cada segundo o levava para mais perto do fim do verão e, consequentemente, para o fim de sua magia.
Ele se tornava mais e mais humano, até que, enfim, como um mortal, morreria.
Jeongguk não chorava mais. Ele tinha gastado todas as suas lágrimas orando para Oberon e Titania e nenhum deles intercedeu a seu favor. Não restava mais nada a não ser esperar por Taehyung dia após dia na casa abandonada. Jeongguk vagava pela floresta, tomava banho no lago, caçava grilos e borboletas e comia frutas silvestres.... E Taehyung nunca voltava. Talvez tivesse se enganado com ele, não seria Taehyung a salvá-lo. Ele não o amava, era uma mentira. Humanos eram tão volúveis, jogavam os sentimentos fora por puro medo. E agora, Jeongguk não tinha mais tempo.
Ninguém se aventurava naquela região. Ele até mesmo desconfiava que Oberon e Titania tinham jogado um feitiço no jardim, para que ele se tornasse inacessível aos humanos, e apenas Taehyung conseguia penetrá-lo, embora a razão para os Soberanos da floresta terem o escolhido fosse obscura para Jeongguk.
Naquela tarde, Jeongguk se sentia sonolento e febril. Sua magia o protegia da fragilidade humana, mas agora ele percebia na pele toda a fúria do verão e a desesperança o consumindo. Arrastou-se para um dos quartos do segundo andar, cujas portas duplas abriam-se para o imenso jardim multicolorido lá embaixo. Deitou no colchão, pálpebras pesadas e respiração irregular. Sua garganta ardia e suas costas suavam. Ele tirou a camisa e a jogou no chão, agoniado de calor. Fechou os olhos. Seu coração batia depressa no peito, lutando contra o mal-estar. Ele adormeceu, e em seu sonho a boca macia e quente de Taehyung o acariciava no rosto, nos lábios e no pescoço, e a voz rouca e profunda do garoto humano o acalentava e implorava desculpas. Jeongguk abria os olhos e piscava, vendo o teto do quarto cair em cima de si e o esmagando num novo ciclo de devaneios.
"Hyung", ele murmurou em algum momento, quando mãos cálidas e macias o acariciaram no peito e nos braços. "Hyung, não me abandone..."
"Nunca mais, Jeonggukie", a voz de Taehyung respondeu de algum lugar à esquerda. Jeongguk abriu os olhos e fitou o rosto perfeito do garoto pairando acima de si, cabelos loiro claros deslizando sobre os olhos intensos cor de caramelo. Ele estava despido, peito e ombros dourados radiantes no sol da tarde, linhas feitas em ouro e veludo. Uma única lágrima acumulou no canto do olho de Jeongguk. Ele suspirou e sorriu, porque ao menos isso ele ainda não tinha perdido: a capacidade de sonhar coisas lindas.
Jeongguk acordava, pele em brasa, e sentia o calor da pele nua de Taehyung na sua. Ele não sabia se queria que aquele delírio acabasse, porque apesar de se sentir fraco, ele tinha Taehyung. Taehyung o beijava, o tocava, Jeongguk sentia o peito prestes a explodir de felicidade porque jamais tinha sido tocado assim, dedos tão cuidadosos o tratando com reverência, beijos de adoração cobrindo seu rosto, boca e barriga.
As vezes, algo gelado e úmido era aninhado em sua testa. Ele lembrava vagamente de ter mastigado pedaços de frutas secas antes de voltar a se enrolar como uma bola. Ele lembrava da voz de Taehyung em seu ouvido numa noite em que Jeongguk abriu os olhos e fitou o céu estrelado lá fora, tantos pontos luminosos que era como uma aurora-boreal em azul e roxo.
"Eu não me importo de onde você vem, ou quem você é, Jeongguk. Eu quero você, me desculpe por demorar a entender. Só seja meu, só fique bem e seja meu."
Devagar, o calor foi sumindo. Os sonhos se intercalavam com a realidade com menos frequência e, quando estava acordado, Jeongguk conseguia distingui-la. O som da fonte ligada no jardim, o chilreio dos pássaros, o aroma das flores do campo e o cheiro de caramelo das tarde de verão.
E então, numa manhã silenciosa, ele abriu os olhos e viu Taehyung adormecido ao seu lado. Jeongguk não estava mais delirando, era seu humano ali, cabelos claros despenteados, suaves olheiras sobre os cílios cerrados, bochechas coradas e o dorso nu. Jeongguk moveu-se cuidadosamente pelo colchão e abaixou a cabeça para respirar o cheiro naturalmente salgado e masculino do garoto. Ele sentiu o adocicado da água do lago na pele de Taehyung, o suor seco e o leve rastro floral de amaciante de roupa, um cheiro artificial que fazia o nariz de Jeongguk coçar, mas era o cheiro de Taehyung. Sua impressão olfativa e era maravilhoso. O melhor cheiro do mundo.
Jeongguk olhou pela janela e viu o céu do final da tarde, as nuvens brancas e o doce aroma do outono chegando. No tempo das fadas, que era mais longo que o dos humanos, eram as últimas horas do verão.
Dedos roçaram sua bochecha e Jeongguk olhou para cima. Taehyung o fitava, olhar sonolento embevecido de afeto. O coração de Jeongguk deu uma pirueta e liquefez.
"Você está bem?", Taehyung perguntou rouco.
"Sim. Você... Não foi um sonho? Você esteve mesmo aqui todo esse tempo?"
"Foram só dois dias", Taehyung sorriu, ainda afagando o rosto de Jeongguk, que ainda não acreditava se tinha mesmo acordado. Taehyung ali, tocando-o, cuidando-o, olhando-o daquela forma... Se fosse um sonho, Jeongguk não aguentaria a dor de acordar. "Jeonggukie, eu senti tanto medo. De te perder, de te magoar. O que eu sinto por você.... É forte demais. E ainda que eu não saiba o nome disso, está aqui e eu não posso mudar meus sentimentos. Eu não quero que o verão acabe, porque irei embora e não sei mais como viver uma vida sem você. Não tem sentido. E eu sei que é louco, mas se você não pode vir comigo, eu quero ficar."
"Taehyung, você não pode", Jeongguk agitou-se, sentando depressa, coração saindo pela boca. "Não há nada aqui para você! E Jimin e Yoongi? E seus amigos? Sua família? A sua vida inteira?"
Taehyung deitou de lado, apoiado num cotovelo, e tornou a acariciar o rosto de Jeongguk com a ponta dos dedos, um sorriso triste sob o olhar doce.
"Você está errado, Gukie, há você aqui, e você importa."
"Hyung, isso não tem graça."
"Não é para ter", Taehyung sentou e o beijou nos lábios, Jeongguk mal conseguiu respirar, as emoções comprimindo seu coração e o deixando ofegante e zonzo. "Eu gosto de você, Gukie, tanto e tanto", Taehyung o beijou, e outra e outra vez, dedos apertando-o na nuca, puxando-o até que estivessem deitados outra vez, Taehyung o cobrindo com seu peso e seu cheiro e seu calor. "Eu quero você."
Foi algo na respiração quebrada de Taehyung, como se ele estivesse se afogando em necessidade, que fez Jeongguk ceder. O beijo ficou mais longo e urgente e as peles suadas deslizaram uma sobre a outra encontrando os encaixes perfeitos. Ele se beijaram até que as mãos afastassem as roupas de baixo e os olhares se lessem sem nenhuma palavra. O calor da tarde aqueceu seus corpos despidos conforme os corações batiam depressa e as línguas se provavam. Eles eram dois garotos, apenas dois garotos se descobrindo. Jeongguk achou que podia morrer, o que ele sentia era poderoso, o que eles faziam agora era devastador. Taehyung o apertava e o pressionava e ele era implacável e incansável, exigindo de Jeongguk tudo. Ele achava que não podia haver uma magia maior no mundo que amar Taehyung, mas ele estava errado.
Havia algo maior e mais gradioso, muito mais poderoso.
Era ser amado de volta.
O céu estava limpo, como na noite em que Jeongguk chorou e implorou por misericórdia a Oberon, estrelas e uma lua cheia prateada. Conforme olhavam para cima, enrolados numa manta velha na varanda, Jeongguk pensava que tudo estava diferente agora. Ele tinha um elo com Taehyung. Ele sentira Taehyung dentro de si da forma mais genuína e dera a ele tudo que tinha, suas lágrimas, seu coração, sua felicidade. Seu corpo não era mais somente um corpo, era um lugar cheio de Taehyung, lembranças dele, vestígios e impressões. Ele até mesmo sentia o ardor da violação, mas não era ruim. Ele achava que sentimentos tão grandes e fortes deixavam uma marca física. Fadas não eram capazes de sentir tanto com outras fadas - apenas o amor humano ia tão fundo.
Era a melhor coisa que Jeongguk já experimentara. E como uma fé estranha, Jeongguk sabia que havia muito dele em Taehyung também.
"Gukie", Taehyung começou, a voz baixa. "Eu acho que amo você."
Jeongguk sorriu timidamente, olhando a lua. Ele sonhara em ouvir isso de Taehyung, mas agora percebia que as palavras enfim vieram tarde demais. Respirou fundo, sorvendo o perfume da noite, o acidez plumbea das nuvens distantes e a umidade da terra preparada para o outono. Ele ouviu os galhos secos estalando e as primeiras folhas da estação crepitando, amarelando como frutas maduras. Levaria um tempo até caírem, mas para as fadas, o verão terminara com o último pôr-do-sol daquele dia.
Enquanto Jeongguk e Taehyung faziam amor.
Jeongguk escutou a risada das fadas brincando entre as árvores, e viu em sua mente o sorriso gentil de Titania o saudando. Ele escutou o farfalhar das folhas e elas lhe diziam suavemente seja livre.
"Gukie, você ouviu?", Taehyung o chamou, dedos buscando os de Jeongguk para entrelaçar. "Eu amo você. Verdadeiramente amo você."
"Eu ouvi, hyung, e não importa. Nunca importou", Jeongguk disse e o semblante de Taehyung começou a murchar, mas Jeongguk logo completou: "Não importou porque o tempo todo eu soube, e eu devia ter acreditado no meu coração. O seu amor me libertou, desde sempre. Eu só precisava acreditar nisso e, na verdade, quem teve medo fui eu, porque eu queria provas, e queria um nome, e queria palavras. E nada disso importa, se eu mesmo não acreditava que podia ser amado por você."
"Acho que sempre te amei", Taehyung confessou, olhando para o modo como sua mão aninhava a de Jeongguk perfeitamente, dedos longos e elegantes entre os fortes e bonitos do garoto. "Eu só não entendia."
"Sentimentos não são para serem entendidos. Eles devem ser aceitos e sentidos. Esta é a magia."
E Jeongguk a sentia, a palpitação radiante de seu coração voltando à vida, agora que ele se permitia sentir o amor de Taehyung fluindo por cada célula de seu corpo encantado.
"Jeongguk, o seu peito", Taehyung murmurou. "Está... acendendo..."
"Você já ouviu falar em fadas, hyung?", Jeongguk sorriu, voltando o corpo para que Taehyung visse plenamente seu peito nu, a suave luminescência de seu coração brilhando e bombeando magia por suas veias. Ele não tinha mais medo de se revelar para Taehyung, tinha orgulho. "Bem, não procure asas nelas, nem todas possuem. A minha magia está dentro de mim, e agora ela flui junto com o seu amor, e por causa dele."
Taehyung olhou para Jeongguk, admirado e maravilhado. A pele do garoto era translúcida sobre o desenho cintilante das veias, um padrão que lembrava a Taehyung a fina nervura das folhas de verão, e era ainda mais forte no fundo dos olhos de Jeongguk, duas bolas metalizadas como ouro líquido.
Mas, se Taehyung fosse muito sincero consigo, não estava tão surpreso assim. No fundo, sempre soube que Jeongguk era um ser incomum, capaz de despertar nele sentimentos sobrehumanos e únicos.
Ele beijou Jeongguk, o rosto, a boca, o pescoço, e fez amor com ele mais uma vez. Jeongguk contou para Taehyung sobre a traição de seus pais, e como Oberon e Titania decidiram puni-lo com uma maldição.
"Não foi justo punirem você por um erro dos seus pais, Jeonggukie."
"Fadas podem ser criaturas perversas, mas elas são verdadeiras ainda assim. O desamor pode ser passado de pais para filhos. Eu cresci tendo medo de ser amado, tão apavorado pela possibilidade de nunca acontecer que não vi os sinais. Nos seus olhos, no seu toque, desde quando éramos crianças, estava tudo ali. Taehyung, você um dia entrou no jardim secreto das fadas, e continuou voltando, porque você já me amava. Quando um mortal ama uma fada, ele é livre para entrar e sair do Reino. Eu acho que Titania sempre soube, mas sentimentos não podem ser explicados ou apontados. Eu tinha que sentir por mim mesmo."
"E o que você quer fazer, meu amor, agora que é livre?", Taehyung roçou os lábios no rosto de Jeongguk. Ele jurava que jamais se cansaria de senti-lo de todas as formas possíveis.
"Eu quero ir com você, para onde quer que você vá."
Quando amanheceu, eles tomaram banho no lago, comeram frutas recém colhidas e se beijaram nus na grama macia. O verão tinha terminado, Taehyung deveria voltar para casa, mas agora ele sabia como era a sensação de entremear os dedos com os de Jeongguk e andar com ele para além dos limites do jardim.
E ela era mágica.
***
obrigada por lerem <3
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