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𝓢obrevoando as nuvens, com destino a São Paulo, Bruno e Nora foram interrompidos em seu chamego pela voz do comandante. Com tempo bom e sem turbulências, o piloto já fazia ecoar pela aeronave o tradicional aviso acerca dos procedimentos de descida, solicitando à tripulação que se preparasse para o pouso.

Aproveitando a proximidade do aeroporto com o município de Taiaçupeba, Bruno resolveu fazer uma visita ao ex-delegado Basílio. Queria lhe agradecer pessoalmente toda a ajuda que vinha dando. Basílio aproveitou para abrir o vinho, recebido de presente e mesmo com os olhares de Regina, sua esposa, que o monitorava regiamente na quantidade de álcool consumido, brindaram ao aniversário do ex-policial.

À noite, finalmente, o casal voltou para casa. Nora comentou:

— O Basílio é um amor de pessoa.

— Sim, e de alguma forma sempre envolvido em casos extraordinários, mas dessa vez não caberá a ele a resolução do mistério. O bom delegado já se aposentou e só pensa em criar gansos.

— Aposentado? Esteve até na Antártida¹, quem diria.

— Uma história incrível, mas isso já faz dez anos.

— Quem foi rei, nunca perde a majestade.

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As pesquisas iam céleres. Mesmo sem retorno pecuniário, a Fontana Lobo havia encampado a investigação, convencida da importância histórica do documento "Q". Antes de mais nada, um serviço a prestar à humanidade.

— Um custo alto, porém — comentou Bruno, enquanto almoçava com Nora e evidentemente num restaurante à altura da ruiva. — Mas é por uma causa mais do que nobre.

— E o Jorge não vai achar ruim?

— Quase não tenho conseguido falar com ele, mas são duas as coisas a considerar: ele gosta de um bom mistério e a pessoa apegada ao dinheiro sou eu.

— Ah, é? Então é você quem assina o cheque?

Bruno afagou sua mão, aquela que tinha o sinal em forma de coração:

— Claro, meu anjo.

Nora Gômer, alocada no escritório da Fontana Lobo, tratava-se agora de uma 'ajuda especializada', argumento que se suspeitava ter uma cota de paixão impregnada, ainda que inegavelmente ela reunisse conhecimentos imprescindíveis.

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Todo o trabalho vinha confirmando as informações. Aos poucos, elas iam-se constituindo em fatos — e não mais em boatos ou fofocas.

Terminando de ler o já denso relatório, Bruno descansou um momento. Em movimentos giratórios do pescoço, levantou a fronte e passeando o olhar pelo escritório, reportou-se em desdobramento a um andar de moderno edifício na avenida Luís Carlos Berrini, fascinando-se com a disposição das mesas, a iluminação em led e a decoração ultramoderna. Reabrindo as pálpebras, sua percepção voltou à realidade, repousando agora em outra bela imagem, esta ruiva. E bem à sua frente. De supetão, indagou:

— Que se casar comigo, Nora?

— O quê?

— Casar comigo! Tem sido muito bom esse tempo juntos... Por que não tornar isso permanente?

— Nossa, Bruno, não sei... Sempre fui uma mulher tão independente... Estou amando esse tempo em sua companhia, mas nunca me vi casada...

— Creio que Maria de Magdala também não...

Nora levantou-se e deu a volta na mesa. Beijou-o:

— Quer saber? Mulheres corajosas não devem ter medo de nada, principalmente de se envolver. Aceito! "Que seja eterno enquanto dure", já diz o vosso poeta.

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Passados alguns dias, Mário trouxe informações adicionais. O relatório final teria de sofrer uma revisão.

— E o que temos hoje? — inquiriu Bruno.

— Domingos Casqueira teve mesmo o enterro com caixão lacrado!

— É mesmo? Ratificada então a informação prestada por tia Laura.

— Sim e há muitas testemunhas. Uma senhora nos confirmou e outro senhor, um vizinho dela, também esteve no velório.

— Bem, vamos adiante... Algo mais?

O moço escarafunchou o tablet:

— Deixe-me ver... Ah, o Olavo, o verdadeiro, era solteiro e não tinha filhos. Seus pais ainda são vivos, bem velhinhos. Moram em Congonhas com outro filho, José Ravacini, irmão gêmeo de Olavo. Um adendo: a mãe deles é que é irmã do delegado Belo. Ravacini é sobrenome do pai deles.

Bruno interessou-se pelo novo personagem:

— Alguma foto desse José Ravacini? Conseguiram falar com ele?

— A mãe nos forneceu uma foto, em que ele e o verdadeiro Ravacini estão juntos. Veja. — E entregou-lhe o tablet. — Reconhece?

Bruno nem precisou olhar atentamente:

— Não, não é nenhum deles, embora sejam iguais. Mas é bom ser finalmente apresentado ao verdadeiro Olavo Ravacini.

— José Ravacini viajou. Disseram que está no Ceará. E também descobrimos que é formado em Letras pela UFMG.

— Letras? Sugestivo, não? E os pais, ficaram sozinhos?

— Ele contratou um acompanhante e uma enfermeira antes da viagem. Comunica-se com eles apenas por telefone fixo.

Bruno franziu o cenho, fazendo um bico com os lábios:

— O irmão gêmeo seria um excelente candidato a Olavo Ravacini, mas... E sobre as propriedades do Esmeril, o sítio e o alambique?

— Continuam e sempre estiveram em nome do delegado Belo. O delegado esteve mesmo em apuros no ano de 2001, com dívidas que perduraram por dez anos, até serem sanadas. As dívidas, segundo informações, foram contraídas devido à ampliação do alambique e à construção de dois chalés de aluguel para temporadas.

— E sobre as câmeras do edifício do 919? Alguma coisa?

— Nada conclusivo. Há um homem que é visto transitando, no período em que a suposta editora ocupou o nono andar. Barba e boné, óculos de aro grosso. Não dá para ver o rosto.

— Tem aí as imagens?

Vendo-as, Bruno garantiu ser mesmo o falso Ravacini, pois o homem mancava da perna esquerda, embora bem disfarçado. Parabenizou Mário:

— Excelente trabalho, o teu e de toda a equipe. Estenda meus cumprimentos a todo o pessoal.

— Obrigado, Bruno. — E saiu dali feliz, com o elogio do chefe.

— "E agora, José?" — recitou. — "E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio — e agora? Com a chave na mão, quer abrir a porta; quer morrer no mar; mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?"

Nora vinha entrando. Aplaudiu:

— Que lindo.

— Conhece?

— Não. Vinícius de Moraes?

— Não, essa é do Carlos Drummond. Recitei essa poesia no colégio quando tinha dezesseis anos. São seis estrofes, mas só me lembro dessas duas.

— Realmente uma boa pergunta: e agora?

Houve um silêncio, que logo foi quebrado por Bruno:

— E agora? Agora vamos a Belo Horizonte, amanhã! Enfim saiu a autorização para a exumação do corpo de Domingos.

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A equipe da Fontana Lobo estava ansiosa. A Justiça havia liberado o desenterro com relativa rapidez, e naturalmente, com uma ajudinha do ex-delegado Basílio. O casal encontrava-se no Cemitério Bonfim, acompanhando os trabalhos.

— Não se sente incomodada com a profanação de um túmulo? — indagou o advogado, tomando a mão da antropóloga.

Ela respondeu, em tom sério:

— Confesso que sim.

— Sabe, eu ficaria muito mais cismado se fosse um corpo recente, mas nesse caso só vai haver cabelos e um punhado de ossos.

E, de fato, esse era mesmo o material disponível, pouca coisa havia. O ex-delegado Belo e tia Laura também estavam no cemitério. Acompanhavam a exumação de longe.

— Ah, meu bom delegado — suspirou Laura. — Somos almas encarnadas nesse mundo e o que tem ali é somente matéria. Eu já vivi vinte anos mais que você e já não ligo nem um pouco para essas coisas. Faço sim é hora extra nesse mundo.

Belo riu e sentiu uma pontinha de inveja. Mais velha duas décadas, tia Laura parecia ter a mesma idade dele. Lúcida, independente e vaidosa, trazia os cabelos difusos pintados na cor preta.

— Tia Laura, a senhora está melhor do que eu. Eu já uso até bengala.

— Meu filho, estamos ambos bem — abraçou-o carinhosamente, embora com alguma dificuldade. — Próximos da passagem, é verdade, mas veja meu Domingos... Fez a viagem há vinte anos e nós ainda continuamos aqui. Dizem que as pessoas de bem partem cedo. O senhor já aprontou muito, delegado, por isso ainda não foi?

— Que é isso, tia Laura. Sou quase um santo!

— Sei...

Enquanto riam, o IML² findava seus trabalhos. Haviam retirado para análise duas amostras, uma óssea e outra de fios de cabelo.

Nora esfregou as mãos:

— Finalmente terminou.

— Agora é aguardar. Sinceramente, não sei pelo que torço — disse Bruno.

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Após o túmulo da família Casqueira ser fechado, Bruno procurou o jazigo da família Mendonça. Informando-se na administração, logo o encontrou. Tal qual mencionado no manuscrito, inscrito numa pedra de mármore, havia mesmo o epitáfio sobre a "liberdade, ainda que tardia" e a menção ao cruzeiro no céu. Tia Laura achegou-se, por detrás dele:

— Olá, seu Bruno. Veio ver o túmulo de Adriana?

— Sim, D. Laura. Domingos mencionou no manuscrito a lápide encomendada por Omar e vim constatar se era verdade.

— Verdade, verdadeira. E aí está ela, perene, tanto tempo depois... Mas não sei se soube, o túmulo foi profanado em 2020.

— Sério?

— Sim.

— E levaram algo?

— Não que eu sabia, mas arrombaram todos os caixões.

— Meu Deus!

E o motivo era mais do que evidente: procuravam "Q"!, e somente alguém que tivesse tido acesso ao manuscrito, poderia suspeitar que ele estivesse ali. Teria sido o falso Ravacini?

Pouco antes de Laura ir ter com Bruno, junto ao túmulo de Adriana — e aproveitando que ele se afastara, aproximou-se de Nora:

— Oi, querida, tudo bem?

— Tudo, D. Laura. Como vai?

— Enquanto eu estiver de pé, estarei bem, mas me deixe ver novamente aquela marca no seu dedo...

Nora estranhou, mas fez o que ela pediu. Laura pegou na esguia mão da portuguesa, acariciando levemente o sinal:

— Eu sei quem você é, querida.

— Hã? Do que está falando?

— Eu sabia que já tinha visto essa marca antes. Sabe, não te reconheci, quando esteve com Bruno lá em casa, para ver as fotos do Domingos. Vinte anos mais velha, cabelos soltos. Só lhe tinha visto uma vez e na oportunidade você estava com roupas muçulmanas, que cobrem quase tudo.

— Do que a senhora está falando, D. Laura?

— Você é Lea Khaled, não é? Eu sei! E nem tente desmentir, eu me lembrei de suas mãos. Como lhe disse, sempre as examino, sou fascinada por mãos. E esse sinal de nascença: Lea Khaled possuía um igual.

Desarmada, Nora puxou a mão, ainda apoiada sobre a de Laura, que arrematou:

— Não adianta negar.

— Tia Laura, por favor, não conte nada ao Bruno.

— O que há, por que o está enganando?

— É para o bem dele, acredite. Ainda não é hora de ele saber. Por favor, confie em mim.

Laura pediu-lhe um abraço:

— Você fez muito pelo Domingos, como não confiaria em você? Fique tranquila. Levarei comigo esse segredo para o túmulo. Sempre espero que não seja breve, mas o será. Às vezes esqueço que já tenho cem anos de idade.
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Notas:
¹  "O Desafio Antártico, um caso do Delegado Basílio", CBJE, 2005. Disponível na Amazon com o título "Assassinato no Continente Gelado". Versão em inglês: "Murder on Ice Continent".
² IML: Instituto Médico Legal.

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