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𝓡essabiado, o ex-delegado Belo não estava lá muito convencido de que houvesse um estranho se fazendo passar por seu sobrinho, mas como tudo que o impostor havia dito a Bruno, batia com os fatos, resolveu colaborar. Friccionou as mãos nervosas sobre as pernas:

— Não, ele não morreu no dia da árvore. Foi algum tempo depois... — Uma lágrima escorreu de um dos olhos do delegado, parando junto ao aro dos óculos, apoiado na bochecha rosada. Ele a enxugou: — Sabe, ele era muito afoito e desligado. E teimoso, não escutava a gente. Quase quebrou o pescoço naquele dia, em frente ao retiro. Tempos depois, colidiu com o caminhão na frente da mineradora. E morreu. Por isso é impossível você ter conversado com ele.

— E como o falso Olavo obteve tantas informações?

Belo tomou mais um trago:

— Digam ao meu médico que é o último, está bem? Olha, Olavo vinha escrevendo um livro. Cheguei a ler algumas anotações. Tudo que aconteceu naqueles dias, ele registrou em alguns cadernos.

— E onde estão esses cadernos?

— Não faço ideia, mas essa deve ser a explicação. O meliante botou a mão nesse material e os usou...

— ... na composição do personagem! — concluiu Bruno, que soltava aos poucos as informações, tencionando que o próprio delegado prestasse um depoimento sem influências. Mas a pinga começava a fazer efeito e Belo, sem perceber, pegou um atalho na história, contando algo que praticamente ninguém sabia, até então.

— Sabem, Adriana Casqueira... Eu a conheci... e me apaixonei por ela, mas ela era casada...

Bruno e Nora olharam-no, curiosos. O advogado lembrou-se do que dissera o falso Ravacini, ao narrar uma conversa com o tio ocorrida naquela mesma mesa, vinte anos atrás, quando então perguntara: "O senhor nunca pensou em se casar, tio"? E ele respondera: "Não, nunca"! E Ravacini teria sentido que a negativa do tio havia sido muito enfática, como se na verdade quisesse ter dito: "Sim"!

"— Mas... Nunca teve ninguém? Nunca se apaixonou?

"— Uma vez... Ela era casada e deu a maior zebra... Isso faz muitos anos... Mas não gosto de falar nisso..."

Era evidente: dos tais cadernos desaparecidos, o falso Olavo obtivera as informações. Belo deu mais uma bebericada e contou aos dois, enfim, aquilo que há vinte anos sonegara ao sobrinho:

— Eu amei profundamente Adriana...

E narrou os fatos como se os vivenciasse novamente:

"— Largue do seu marido. Eu te amo, case-se comigo.

"Adriana me beijou:

"— Somos dois inconsequentes, Sr. José Andrade Belo — disse-me, sorrindo. — E parecemos dois juvenis... Mas também te amo.

"Adriana enlevara-se acima da razão, onde somente a emoção e a paixão reinam, mas agora parecia haver algo que necessitava julgamento ponderado — e pés no chão:

Belo... Tem algo que preciso te dizer...

"O tom de voz preocupou-me. Passei a mão delicadamente em seus lisos cabelos, beijando-a levemente nos lábios:

O que há?

"Ela me deu um abraço forte. No encontro de seu peito com o meu, já percebia o crescimento de meus batimentos cardíacos.

"— Estou grávida!

"— Hã, grávida?

"— Sim. De um filho teu!

"Diante do embaraço, ela prosseguiu:

" — Você bem sabe, querido, há dois meses Jerônimo está em viagem...

"— Eu sei, mas tem certeza da gravidez?

"Ela me beijou:

"— Tenho! Minhas regras vieram depois da partida dele, mas agora estão atrasadas!

"Recostou a cabeça em meu ombro, chorando:

"— Quando Jerônimo souber, tenho medo de que faça uma besteira.

"— Meu Deus! Que tipo de besteira?

"O tempo mostrou que não seria apenas uma, mas duas. Ele a matou e se autoexterminou. A julgar pela gravidez, três!"

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— Ah, Adriana... Quantas lembranças... Um amor tão lindo, interrompido tão cedo... Eu estava com ela naquele dia... 12 de junho de 1964... Quantos anos?

— Vinte e um, com... trinta e seis... Cinquenta e sete — ajudou Nora.

— Pois é... — Nova lágrima, esta vencendo e ultrapassando o aro dos óculos, caiu sobre a mesa.

Nora estava pensativa e enredada pela história. Bruno, mais concentrado, indagou:

— Como soube que Jerônimo matou a esposa? O senhor viu quando ele atirou?

— Quê? Se tivesse visto iria até o inferno eu mesmo para acabar com ele. Matou Adriana e meu filho, ainda no ventre da mãe, o covarde! Mas não o vi porque o primeiro tiro desviou minha atenção. Era para mim, mas acertou as costas de um profeta, não lembro qual, acho que Baruc. Escapei por pouco. O segundo tiro, porém, foi certeiro e então me concentrei em socorrer Adriana. No fim, sempre achamos que os disparos tinham vindo da Cavalaria. — Belo enxugou o suor com um lenço: — Mas você me perguntou como eu soube a verdade... D. Laura, irmã do infeliz, me procurou anos atrás e me entregou uma carta de despedida, na qual ele confessa o crime e onde fica claro que ele não sabia da gravidez, podemos dar esse desconto. Somente nesse dia então contei sobre o filho a ela, que ficou mortificada, a pobre.

A carga emocional crescia e Bruno resolveu retirar da mesa a garrafa de cachaça, pois percebeu que o ex-delegado precisava parar de beber.

— Ei, rapaz, deixe isso aí!

— Melhor não! — E colocou-a longe dele. — E o senhor ainda tem a carta do Jerônimo?

— Guardada em algum lugar, só preciso procurar. Tenho também o teste de grafoscopia da letra dele. Assim que a Laura me entregou, eu mandei fazer a perícia.

— Então tem certeza da autenticidade...

Belo sentiu-se ofendido e demonstrá-lo já era efeito do álcool:

— Moço, sei que tem de perguntar, mas fui delegado de polícia a vida toda e sei como funcionam as coisas. Garanto a você: tudo é autêntico e principalmente, verídico!

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Após o almoço e de um delicioso frango com quiabo, o casal despediu-se de Belo e partiu para Ouro Branco, utilizando-se da BR-040, mas antes visitaram o Santuário do Senhor bom Jesus de Matosinhos. Maravilhados com as obras de Aleijadinho, duas horas depois, eram recebidos por tia Laura.

— Ah, meus queridos, que visita mais do que agradável. Sabem que conheci o delegado Basílio? Faz uns dez anos, eu acho. 2011? Ele esteve hospedado no sítio do Esmeril e foi justamente no dia que o conheci, que entreguei a carta do Jerônimo ao Belo. Parece que o Basílio ajudou com seus peritos a confirmar a letra do meu irmão naquela missiva.

"Em 64, imaginei: não vou revelar a carta, não se sabe mesmo quem atirou e assim poupo meu irmão de mais uma exposição pública, mas se era uma declaração derradeira, não se nega isso a quem decide por um ato tresloucado como o dele, concordam? Todos querem saber os porquês. Eu devia ter mostrado já naquela época, não é mesmo? Mas era um tempo em que se lavava a honra com sangue e não nego que eu própria tinha pensamentos hoje sabidamente errados. Minha cunhada jamais gostou do Jerônimo e hoje entendo que ela foi a verdadeira vítima. Ela e a criança que carregava no ventre. Quando penso nisso..."

— A senhora realmente tem cem anos de idade? — perguntou Bruno, guinando o assunto.

Ela recriminou-o:

— Ora, e desde quando se pergunta a idade a uma mulher?

Riram. Para uma pessoa centenária, ela era incrivelmente lúcida e ainda com mobilidade inacreditável. A pedido, rapidamente procurou e encontrou as fotos de Domingos. Estavam num pequeno baú, em madeira entalhada. Abrindo-o, retirou um terço e uma medalhinha de Nossa Senhora. Mais ao fundo, um envelope:

— Aqui estão, não são muitas. — Selecionou uma delas. — Esse é o meu sobrinho. Coitado, morreu muito jovem.

— Foi enterrado no cemitério Bonfim?

— Isso mesmo. Foi tudo muito triste. A família ficou destroçada. O caixão, lacrado. Somente um teste de DNA, para nos provar que era ele ali, naquela urna. Ah, as sombras do passado... Pareciam novamente sobre nossas cabeças. E aprontaram mais uma.

— Alguma vez alguém veio procurar por fotos dele?

— Sim, uma vez, o sobrinho do Belo... o que morreu na estrada do minério. Esteve aqui e também as quis ver.

Bruno as examinou com cuidado. Nora lançou-lhe um esperançoso olhar:

— E aí, Bruno, alguma possibilidade de ele ser o falso Ravacini?

A foto mais recente tinha mais de quarenta anos:

— Não, não é ele não. Ele não tinha o nariz adunco. — E Domingos lembrava mesmo o centurião da capela da Crucificação, que pregava Jesus na cruz.

Tia Laura intrometeu-se:

— Quem dera fosse ele, ainda vivo, a falar contigo.

Ao se despedirem, Laura pegou nas mãos de Nora:

— Você é muito linda querida. E que belas mãos tem. Eu gosto de ver as mãos, sabe? Mas não as leio.

Fixou-se num sinal no dedo anelar:

— Uma marca de nascença?

Nora aquiesceu. Uma pequena pinta, em forma de coração:

— Esse sinal diz muito de você. Tens um coração bom, és generosa e amorosa. Dedica-se a uma causa como ninguém. A melhor companheira que um homem pode ter. Desejo a vocês toda a felicidade do mundo.

— Obrigada, D. Laura. — E beijou sua face direita.

— Vão com Deus, meus filhos. E voltem logo, não demorem muito, pois é provável que eu não esteja aqui na próxima vez.

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