Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

R

RESSABIADO, o ex-delegado Belo não estava lá muito convencido de que houvesse um estranho se fazendo passar por seu sobrinho, mas como tudo que o impostor havia dito a Bruno batia com os fatos, resolveu colaborar. Friccionou as mãos nervosas sobre as pernas:

— Não, ele não morreu no dia da árvore. Foi algum tempo depois, embora na mesma estrada. — Uma lágrima escorreu de um dos olhos do delegado, parando junto ao aro dos óculos apoiado na bochecha rosada. Ele a enxugou. — Sabe, ele era muito afoito e desligado. E teimoso, não escutava a gente. Quase quebrou o pescoço naquele dia, em frente ao retiro. Tempos depois colidiu com um caminhão na frente da mineradora. E morreu. Por isso é impossível você ter conversado com ele.

— E como o falso Olavo obteve tantas informações? — perguntou Nora.

Belo tomou mais um trago:

— Digam ao meu médico que é o último, está bem? — soluçou. — Deve ser porque Olavo vinha escrevendo um livro. Cheguei a ler algumas anotações. Ele registrou tudo o que aconteceu por aqueles dias em alguns cadernos, pois dizia que tinha uma história e tanto nas mãos. Eu nunca acreditei naquela conversa de manuscrito, se quer saber.

— E onde estão os cadernos?

— Não faço ideia, mas deve ser essa a explicação. O meliante, digo, o farsante... botou a mão nesse material e os usou... — Mais um soluço.

— Na composição do personagem! — concluiu Bruno, que soltava aos poucos as informações tencionando que o próprio delegado prestasse um depoimento sem influências. Porém, a pinga começava a fazer efeito e Belo, sem perceber, pegou um atalho na história, passando a contar algo que praticamente ninguém sabia até então.

— Sabem, Adriana Casqueira... Eu a conheci... e me apaixonei por ela, mas ela era casada...

Bruno e Nora olharam-no, curiosos. O advogado lembrou-se do que dissera o falso Ravacini ao narrar uma conversa com o tio ocorrida naquela mesma mesa, vinte anos atrás, quando então perguntara: "O senhor nunca pensou em se casar, tio"? E ele respondera: "Não, nunca"! E Ravacini teria sentido que a negativa do tio havia sido muito enfática, como se na verdade quisesse ter dito: "Sim"!

"— Mas... Nunca teve ninguém? Nunca se apaixonou?

"— Uma vez... Ela era casada e deu a maior zebra... Isso faz muitos anos, mas não gosto de falar nisso..."

Ficava evidente: era nos tais cadernos desaparecidos que o falso Olavo obtivera informações tão íntimas. O verdadeiro Ravacini havia escrito tudo. Belo deu mais uma bebericada e contou aos dois, enfim, aquilo que há vinte anos sonegara ao sobrinho:

— Eu amei profundamente Adriana...

E narrou os fatos como se os vivenciasse novamente:

"— Largue do seu marido. Eu te amo, case-se comigo.

"Adriana me beijou:

"— Somos dois inconsequentes, Sr. José Belo Ravacini — disse-me, sorrindo. — E parecemos dois juvenis... Mas também te amo.

"Adriana enlevara-se acima da razão, onde somente a emoção e a paixão reinam, mas agora parecia haver algo que necessitava julgamento ponderado — e pés no chão.

Belo... Tem algo que preciso te dizer...

"O tom de voz preocupou-me. Passei a mão delicadamente em seus lisos cabelos, beijando-a levemente nos lábios.

O que há?

"Ela me deu um abraço forte. No encontro de seu peito com o meu, já percebia o crescimento de meus batimentos cardíacos.

"— Estou grávida!

"— Hã, grávida?

"— Sim. De um filho teu!

"Diante do embaraço, ela prosseguiu:

" — Você bem sabe, querido, há dois meses Jerônimo está em viagem...

"— Eu sei, mas tem certeza da gravidez?

"Ela me beijou:

"— Tenho! Minhas regras vieram depois da partida dele, mas agora estão atrasadas!

"Recostou a cabeça em meu ombro, chorando:

"— Quando Jerônimo souber, tenho medo de que faça uma besteira.

"— Meu Deus! Que tipo de besteira?

"O tempo mostrou que não seria apenas uma, mas duas. Ele a matou e se autoexterminou. A julgar pela gravidez, três!"

꧁༺༻꧂

— Ah, Adriana... Quantas lembranças... Um amor tão lindo, interrompido tão cedo... Eu estava com ela naquele dia... 12 de junho de 1964... Quantos anos?

— Vinte e um... com... trinta e seis... Cinquenta e sete — ajudou Nora.

— Pois é... — Nova lágrima, esta vencendo o aro do óculos e caindo pungente sobre a mesa.

Nora estava pensativa e enredada pela história. Bruno, mais concentrado, indagou:

— Como soube que Jerônimo matou a esposa? O senhor viu quando ele atirou?

— Quê? Se tivesse visto iria até o inferno eu mesmo para acabar com ele. Matou Adriana e meu filho, ainda no ventre da mãe, o covarde! Mas não o vi porque o primeiro tiro desviou minha atenção. Era para mim, mas acertou as costas de um profeta, não lembro qual, acho que Baruc. Escapei por pouco. O segundo tiro, porém, foi certeiro e então me concentrei em socorrer Adriana. No fim, sempre achamos que os disparos tinham vindo da Cavalaria. — Belo enxugou o suor com um lenço. — Mas você me perguntou como eu soube a verdade... D. Laura, irmã do infeliz, me procurou anos atrás e me entregou uma carta de despedida, na qual ele confessa o crime e onde fica claro que ele não sabia da gravidez (podemos dar esse desconto). Somente nesse dia então contei sobre o filho a ela, que ficou mortificada, a pobre.

A carga emocional crescia e Bruno resolveu retirar da mesa a garrafa de cachaça, pois percebeu que o ex-delegado precisava parar de beber.

— Ei, rapaz, deixe isso aí!

— Melhor não! — E colocou-a longe dele. — E o senhor ainda tem a carta do Jerônimo?

— Guardada em algum lugar, só preciso procurar. Tenho também o teste de grafoscopia da letra dele. Assim que a Laura me entregou, eu mandei fazer a perícia.

— Então tem certeza da autenticidade...

Belo sentiu-se ofendido e demonstrá-lo já era efeito do álcool:

— Moço, sei que tem de perguntar, mas fui delegado de polícia a vida toda e sei como funcionam as coisas. Garanto a você: tudo é autêntico e principalmente, verídico!

꧁༺༻꧂

Após o almoço e de um delicioso frango com quiabo, o casal foi convidado a passar o resto da tarde e a noite na propriedade, em um dos chalés de temporada. Como tinham bebido, resolveram aceitar e somente no dia seguinte partiram para Ouro Branco, utilizando-se da BR-040, mas antes visitaram o Santuário do Senhor bom Jesus de Matosinhos. Maravilhados com as obras de Aleijadinho, duas horas depois eram recebidos por tia Laura.

— Ah, meus queridos, que visita mais do que agradável. Sabem que conheci o delegado Basílio? Faz uns dez anos, eu acho. 2011? Ele esteve hospedado no sítio do Esmeril e foi justamente no dia que o conheci, que entreguei a carta do Jerônimo ao Belo. Parece que o Basílio ajudou com seus peritos a confirmar a letra do meu irmão naquela despedida.

"Em 64 decidi não revelar a carta, pois não se sabia mesmo quem tinha atirado e assim poupei meu irmão de mais uma exposição pública, mas se era uma declaração derradeira, não se nega isso a quem decide por um ato tresloucado como o dele, concordam? Todos querem saber os porquês. Eu devia ter mostrado já naquela época, não é mesmo? Mas era um tempo em que se lavava a honra com sangue e não nego que eu própria tinha pensamentos hoje sabidamente errados. Minha cunhada jamais gostou do Jerônimo e hoje entendo que ela foi a verdadeira vítima. Ela e a criança que carregava no ventre. Quando penso nisso..."

— A senhora realmente tem cem anos de idade? — perguntou Bruno, guinando o assunto.

Ela recriminou-o:

— Ora, e desde quando se pergunta a idade a uma mulher?

Riram. Para uma pessoa centenária, ela era incrivelmente lúcida e ainda com mobilidade inacreditável. A pedido, rapidamente procurou e encontrou as fotos de Domingos. Estavam num pequeno baú de madeira entalhada. Abrindo-o, retirou um terço e uma medalhinha de Nossa Senhora. Mais ao fundo, um envelope.

— Aqui estão, mas não estão muitas. — Selecionou algumas delas. — Esse é o meu sobrinho. Coitado, morreu muito jovem.

— Foi enterrado no cemitério Bonfim?

— Isso mesmo. Foi tudo muito triste. A família ficou destroçada. O caixão lacrado e somente um teste de DNA para nos provar que era ele. Ah, as sombras do passado, vieram novamente sobre nossas cabeças e aprontaram mais uma.

— Alguma vez alguém veio procurar por fotos dele?

— Sim, uma vez, o sobrinho do Belo... o que morreu na estrada do minério. Esteve aqui e também as quis ver.

Bruno as examinou com cuidado. Nora lançou-lhe um esperançoso olhar:

— E aí, Bruno, alguma possibilidade de ser ele o falso Ravacini?

A foto mais recente tinha mais de quarenta anos.

— Não, não é ele não. Domingos tinha o nariz adunco. — E o arqueólogo lembrava mesmo o centurião da capela da Crucificação, que pregava Jesus na cruz.

Tia Laura intrometeu-se:

— Quem dera fosse ele ainda vivo, a falar contigo.

Ao se despedirem, Laura pegou nas mãos de Nora:

— Você é muito linda querida. E que belas mãos tem. Eu gosto de ver as mãos, sabe? Mas não as leio. — Fixou-se num sinal no dedo anelar. — Uma marca de nascença?

Nora aquiesceu. Era uma pequena pinta em forma de coração.

— Esse sinal diz muito de você. Tens um coração bom, és generosa e amorosa. Dedica-se a uma causa como ninguém e será a melhor companheira que um homem poderá ter. Desejo a vocês toda a felicidade do mundo.

— Obrigada, D. Laura. — E beijou sua face direita.

— Vão com Deus, meus filhos. E voltem logo, não demorem muito, pois é provável que eu não esteja mais aqui na próxima vez.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro