Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

O Mαɳυʂƈɾιƚσ - Cαρ. 8

𝓣𝓾𝓻𝓺𝓾𝓲𝓪, 1963

𝟠 Os evangelhos gnósticos, a seu tempo, tinham sido considerados heréticos pelo Cristianismo, mas no fundo tudo tinha muito a ver com o patriarcado imperante na época, em especial o que se relacionava com Maria Madalena. Como apóstola, ela foi assumindo um papel cada vez maior no seio do movimento cristão nascente, ameaçando a hegemonia dos grupos primitivos patriarcais (consequentemente machistas) que defendiam o primado do apóstolo Pedro. Assim, importava minar os grupos gnósticos e, mais à frente, eliminar seus documentos, para não se ter o risco de uma mulher encabeçando a obra do Cristo.

E no que os apócrifos afetavam esse primado? Se os canônicos apenas insinuavam a importância de Madalena, haja vista ela ter sido a primeira a ver Jesus ressuscitado (e também incumbida por ele próprio de comunicar isso aos apóstolos), os apócrifos ressaltavam abertamente essa importância. Por isso sempre fora necessário destrui-los ou desacreditá-los, mas Nag Hammadi os trouxera à tona, ao menos em parte, quisessem ou não seus contraditores.

Por outro lado, se "Q" era canônico (e portanto, não gnóstico), qual o perigo dele, se não trazia nada além do que já estava na Bíblia?

Paradoxal, mas não se travava do "quê" e sim de "quando". "Q" alterava a ordem de surgimento dos evangelhos e para Javier, em seus devaneios, isso poderia destituir Jesus de sua divindade, abalando o dogma da Santíssima Trindade. Embora conspiratória, a teoria encontrava-se no limite do inverossímil, ou seja, apesar de improvável, era possível. E sempre haveria pessoas interessadas em destruir documentos que colocassem em risco as suas crenças.

— E como termina a história, Omar?

Ele me olhou e devido à longa jornada, demonstrava cansaço:

— Ela não termina, pois ainda nem começou. O fundador da Ordem Agnus, Javier Loyola, está atrás de mim!

— E por quê?

— Porque descobriu que foi enganado.

— Enganado por quem?

— Por Helga.

Helga, então, tornara-se a especialista em trair consortes? Omar explicou:

— Desde 1952, o documento "Q" estava na casa de Javier, em uma vitrine impenetrável.

— O troféu da vitória!

— Exato! Mas Helga acabou por se arrepender e encomendou uma falsificação. Comparsa de Javier, ela sabia como penetrar a inexpugnável 'fortaleza' e assim trocou os documentos. Quando foi embora de Salamanca, no final de 1962, levou consigo o verdadeiro "Q" e Javier jamais desconfiou.

— E onde está o verdadeiro códice?

— É aí que entra sua mãe! E é por isso que fui te procurar.

Estava mais do que surpreso. O que minha mãe teria a ver com tudo aquilo?

— Em janeiro de 1963 eu estava no porto e embarcaríamos para o Brasil, eu e Adriana. Foi então que Helga apareceu...

"— Omar...

"— Helga? O que faz aqui?

"— Vim me despedir. Vou voltar para Berlim. Larguei Javier.

"— Ora, que notícia boa! Mas tenha em mente que você não traiu somente a mim, ou a ele, você sabe, não é? Traiu à humanidade inteira.

"— Eu tive meus motivos.

"— Motivos? Quais?

"Havia angústia em sua voz:

"— Eu precisava de dinheiro, por causa de meu irmão. Ele devia à máfia italiana e estava sendo ameaçado de morte. E aí surgiu Javier, oferecendo-me uma soma irrecusável.

"— E por que nunca me disse?

"— Não queria envolvê-lo nisso, não seria justo, mas saiba, eu nunca amei Javier.

"Animava-me o fato de que não fora por causa de uma paixão, mas por um motivo nobre: salvar a pele do irmão. Ela prosseguiu:

"— Eu sei, eu errei, mas tentarei consertar. Quando me afastar, repare bem em mim e entenderá.

"— Sobre o que está falando?

"— Javier agora só tem uma falsificação. — E deu-me um demorado beijo. — Adeus, Omar!

"— Não vá, venha comigo!

"Sem responder e em silêncio, ela se afastou. Então eu a observei e só aí percebi: quando chegou, carregava uma mala e agora saía sem nenhuma. Voltando o olhar para a minha bagagem no ancoradouro, percebi: Helga deixara ali a mala que trouxera consigo."

— Mas não compreendi, quando foi que Javier descobriu a falsificação?

— Ano passado. Soubemos, porque estávamos de olho no teu 'mecenas', Jerome Gasly. Nós grampeamos os telefones dele.

— Nós, quem?

— Eu e meu filho, Aziz. E descobrimos que Gasly é filiado da Ordem. Já reparou se ele usa uma gargantilha, com um pingente contendo uma ovelha e uma cruz?

— Não, nunca.

— Os membros da Ordem costumam usar esse adereço. É um símbolo tomado emprestado da devoção ao Agnus Dei. Pois bem, foi num desses nossos grampos que soubemos: ano passado, convencido por Gasly a verificar a datação, Javier descobriu a falsificação. Devem ter ido atrás de Helga, mas ela morreu faz cinco anos e assim começaram a me cercar.

E finalmente havíamos chegado ao ponto do porquê da perseguição:

— É por isso então que os dois capangas estão atrás de você?

Naquele instante, ouvimos fortes batidas no portão de ferro:

— Omar! Abra! Não adianta mais fugir.

— Nos acharam! Demoraram a chegar. Devem ter ido primeiro ao hotel.

E suas palavras demonstravam que, sem que eu quisesse, estava mesmo envolvido até o pescoço naquela história.

— O que fazemos, Omar?

— Tenho um plano. Você sai pelos fundos e pula o muro para a casa vizinha. Dá um jeito de pegar um táxi e foge. Procure meu filho, na Turquia. Já eu, vou segurá-los aqui.

— Nem pensar! Não vou deixá-lo sozinho.

Omar possuía uma tranquilidade invejável:

— Vá!, pode ir. Eles não vão me matar, pois tenho a informação que desejam.

— A localização do documento "Q"?

— Não há tempo para explicar. Preciso telefonar.

Fez uma rápida ligação, falando em árabe, idioma que eu não dominava.

— Pronto! Tenho conhecidos na Autoridade Palestina, em breve membros da Polícia Civil estarão aqui. E esses dois são bem amadores, estarei bem. Vá embora, antes que seja tarde.

Um dos homens novamente gritou:

— Omar! Abra ou vamos arrombar. Sabemos que está aí. Você e o arqueólogo.

O aviso ao menos já esclarecia: sabiam realmente de mim!

Com muita relutância — e mesmo considerando que não o matariam, mas poderiam torturar, ainda assim fiz o que ordenou e pulei o muro, caindo no terreno vizinho. Um menino que brincava deu um grito e logo sua mãe apareceu, com uma faca na mão, gritando em árabe. Um cachorro agarrou a barra de minha calça e tive de arrastá-lo até a saída, quando então lhe dei um chute e ele se afastou, ganindo. Saindo para a rua, corri como um louco, sem saber para onde iria, até que cheguei a uma movimentada avenida, onde tomei um táxi.

— Para o hotel Jericó, rápido.

Fechada a conta no hotel e já em posse do carro alugado em Telavive, com todos os meus pertences praticamente atirados, ou no porta-malas ou dentro do habitáculo, segui rapidamente para a estrada e em pouco tempo virava à direita no entroncamento que, em linha reta, levaria a Qumran.

Preocupado, lancei um último e angustiado olhar na direção do Mar Morto, que de mar e morto nada tinha, muito embora a alta concentração de sais no lago, dez vezes maior do que em qualquer oceano da Terra, tornasse inviável a vida orgânica em suas águas, exceto a bacteriana. Em pura audácia, os peixes que se atrevessem a chegar nele pelo Jordão, igualar-se-iam a homens que se atirassem em um mar de lava.

E era assim que eu estava me sentindo, dirigindo agora para Telavive, onde em breve embarcaria para a Turquia. Aquele dia tivera tudo para terminar tranquilo, não fosse Omar surgir feito tempestade, atirando-me ao centro de um furacão, contando-me uma história que eu não sabia dizer onde terminava a realidade e começava a ficção.

Olhava tudo, desconfiava de todos, estava inclusive acelerando mais do que o habitual, certificando-me a toda hora de não estar sendo seguido. E Omar? O que teria acontecido com ele? Teria sido justo deixá-lo à própria sorte, à mercê dos bandidos de Gasly? Ainda que não fosse um assunto que me dissesse respeito, embora de meu total interesse — e a despeito do fato de que eu fora inserido nele sem prévia autorização, ainda assim, quisesse ou não, havia laços quase familiares entre eu e Omar Khaled.

Em meio a esses pensamentos, desviei meu olhar para o painel, cujo relógio indicava pelo menos duas horas até o aeroporto em Telavive. Qumran e Jericó ficavam para trás, e meus pensamentos fixavam-se agora em Istambul, onde um declarado inimigo, antes aliado, me aguardava: Jerome Gasly!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro