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O Mαɳυʂƈɾιƚσ - Cαρ. 6


𝓢𝓪𝓵𝓪𝓶𝓪𝓷𝓬𝓪, 1960

𝟞 A coisa toda só se foi explicando aos poucos:

— Em Chicago... Na universidade havia um jovem estudante, nascido em Salamanca, filho de um bilionário espanhol. Ele era aluno de Libby. Seu nome: Javier Loyola!

Tomei um susto:

— Javier Loyola, o fundador da Ordem Agnus?

— Ele mesmo. Foi ali que Javier tomou contato com "Q" e pariu-se sua obsessão pelo documento. Cinco anos depois fundou a Ordem. Assim, em 1952, quando eu finalmente decidi enviar o códice para o Egito, fui surpreendido pela visita de um leão de chácara, e confesso, não imaginava haver quem desse tanta importância ao papiro, uma vez não ser um texto destoante dos evangelhos, pelo contrário. Mas como explicara Helga, "Q" é base dos canônicos, ao menos importância comprobatória para a questão da existência de Jesus, ele teria. Ingenuamente, eu achava que o documento estava bem seguro em meu cofre, mas o 'visitante' nem precisou do segredo para abri-lo.

— Não?

— Não! Ele simplesmente levou o cofre consigo.

E assim, a única prova da aventura que eu ouvia, fora roubada em 1952, há quarenta e três anos. Era como tirar o doce da boca de uma criança, no caso, eu.

Com o acontecido, logo ficou claro para Omar como é que sabiam onde procurar. Bastou fazer as conexões: Javier, Helga e o roubo.

— Mas e todo aquele discurso sobre "Q", um documento que "precisaria ser conhecido pela humanidade"?

— Tudo papo furado!

"Anos depois eu fui a Salamanca e pude comprovar o que já suspeitava desde Chicago: Helga havia me traído com Javier Loyola!

"Na oportunidade, adentrei um restaurante e ali tive a infeliz surpresa de vê-la com um homem, enamorados. Temendo ser visto, escondi-me atrás de um garçom, depois escorreguei de lado para detrás de um biombo. De onde conhecia o miserável? Logo lembrei, era o jovem estudante da Universidade de Chicago, aluno do professor Libby. E aí compreendi tudo: Helga envolvera-se com ele já nos EUA. Dez anos mais novo do que eu e, à época da viagem a Chicago, um rapaz tímido e introvertido, embora sempre atento a tudo.

"Num daqueles dias Helga sumira de tarde e depois disse passear pelas ruas da cidade, sem destino certo. Teria ido se encontrar com Javier? Sempre achei a explicação estranha, pois além de ir sem mim, ela não falava inglês, o que dificultaria bastante o eventual passeio. E o jovem aprendiz falava alemão. Várias vezes os peguei em conversas com sorrisinhos, que eu não era capaz de compreender. Afora isso, olhares furtivos e discretos, mas reveladores de um affair que nascia bem debaixo de meu nariz.

"Saí do restaurante o mais rápido que pude, mas já com a certeza de que Javier era o autor do roubo, ajudado por Helga. Assim, procurei saber de seus passos e na manhã seguinte o encontrei sozinho, na velha catedral.

— "Javier Loyola?

— "Eu mesmo.

— "Posso falar contigo?

— "Quem é você?

— "Omar Khaled!

"Javier ergueu os olhos, fazendo um giro rápido de um lado a outro da catedral, como a contemplar a colossal igreja, em estilo românico-gótico, mas em franco sinal de desconforto. A cúpula sobre o cruzeiro, conhecida como a Torre do Galo, era assaz impressionante e contribuía para uma espécie de ar inibidor. E Javier usava isso a seu favor, também buscando me intimidar com sua simples presença física. Vestido todo em preto, portando uma bengala em ébano, com a empunhadura entalhada em forma de cabeça de leão, anel largo no dedo médio, jovem, não mais que 30 anos, os acessórios conferiam-lhe à personalidade um ar inquisidor.

"— Omar Khaled? É um prazer conhecê-lo.

"Estendeu-me a mão. Sentados no primeiro dos bancos da igreja, Javier inclinava o corpo na minha direção, em postura de domínio da situação. Noutras vezes, girava ligeiramente o tronco, voltando o rosto para a rua, como a imprimir em seu tom um ar de desdém, ao mesmo tempo de poder. Intimidado, eu desviava o olhar para o retábulo, fixando-me nos afrescos de Nicolás Fiorentino, cuja riqueza de cores e de expressividade faziam as figuras saltarem dos painéis e uma delas parecia olhar-me e dizer: "Ímpio, serás punido pelo inquisidor".

"— O que deseja, Sr. Khaled?

"Descruzei os braços, saindo da postura defensiva, abrindo ligeiramente as pernas e colocando as mãos apoiadas sobre os joelhos, numa clara forma de também ocupar espaço e me impor:

"— Sei que foi você, Javier, que mandou roubar o documento "Q" em meu antiquário, em 52.

"Javier desdenhou:

"— Não sei do que está falando, Sr. Khaled, mas sei bem o que é o evangelho "Q". Ele foi encontrado?

"— Não se faça de besta, embora não esperasse mesmo uma confissão sua, mas sabe o que me dá certeza?

"— Nem imagino.

"— Helga!

"— Helga? — Javier fingiu não a conhecer.

"— Não adianta negar. Eu vi vocês dois juntos num restaurante, aqui em Salamanca. O que há? Casou-se com ela?

"Javier afastou o corpo para trás, abrindo a guarda:

"— Sim, estamos casados. Algum problema?

"— Nenhum. O que me pergunto: quando foi que vocês efetivamente se conheceram? Antes ou depois de nossa ida aos Estados Unidos?

"Javier voltou a inclinar o corpo à frente, apoiando-se na cabeça de leão, com o anel preto da Ordem marcando o dedo central:

"— Nos vimos a primeira vez no laboratório do Libby. E nos apaixonamos.

"Irônico, busquei alertá-lo:

"— Apaixonaram-se? Não se empolgue. Estivemos juntos por seis anos e ela também me dizia: 'amor à primeira vista e juntos para sempre'! Deu no que deu e eu me pergunto: por quanto foi que ela se vendeu?

"Havia uma nítida disputa por espaço físico, numa igreja tão grande, em que se incluíam Helga e 'Q'.

"— Sr. Khaled, então me acusa de estar mancomunado com Helga e roubar o códice, é isso?

"— É isso!

"— Bem, entre achar e ser verdade, há uma distância muito grande, concorda? Mas vamos ser práticos, não está aqui para propor um duelo, não é? Pela mulher amada...

"Ri da desfaçatez:

"— Claro que não!

"— E também não veio me perguntar onde escondi 'Q', certo? Até porque eu jamais o diria, caso o tivesse mesmo roubado.

"— Outro fato!

"— Então... O que efetivamente quer de mim, posso saber?

"Endireitei o corpo, deixando-o reto, a demonstrar seriedade:

"— Gostaria de entender... Qual o perigo de 'Q'? Por que tamanho interesse nele?

"O espanhol mostrara-se desde o início em posição de ataque e assim permaneceu. Iniciou:

"— Há sempre interesses escusos, derivados de um documento desse naipe, como a obtenção ilícita de grande soma em dinheiro, por exemplo.

"Desconsiderei:

"— Se fosse para ganhar dinheiro, eu mesmo o teria vendido já de início, mas fui convencido do contrário por Helga, tudo em nome do 'bem da humanidade'... E o que ela fez? Apunhalou-me pelas costas. Não, não é disso que falo e não acredito que você esteja interessado em dinheiro, pois sei que é muito rico. O que há com esse papiro, de tão importante assim?

"— É um documento bem perigoso, se posso assim dizer.

"— Perigoso, como?

"— Um possível divisor de águas para o Cristianismo, eu diria.

"— Divisor? De que tipo?

"— Um divisor... Algo que pode mudar a história da doutrina cristã para sempre!

"Tentei eu próprio estabelecer uma teoria:

"— Seria algo como o quê, por exemplo? Eu conseguiria ver perigo se o corpo de Jesus fosse encontrado sepultado em Jerusalém, afinal, se há um corpo, não há ressurreição e convenhamos, o que poderia ser mais devastador para a crença cristã do que ficar provado que Jesus não ressuscitou?

"Javier oscilou o tronco, como se não soubesse se recuava ou seguia em frente:

"— Bem — ainda temeroso —, conduzirei as respostas visando um motivo que interessa à Ordem, que é o de preservar o cânone da Santa Madre Igreja, mas tudo o que eu disser, daqui por diante, será hipotético, que fique bem claro. Vejamos... Eu arrisco a dizer que o documento 'Q' não teria nenhum poder bombástico, a princípio, capaz de ser notado com facilidade, mas creio que ele poderia sim, representar o início do fim.

"— O início do fim?

"— Sim. Você não deve desconsiderar o poder que possui a água que se infiltra na fundação de um edifício. Vê-se o edifício em pé e pensa-se que está firme, mas quando menos se espera, ele rui e vem abaixo.

"— Isso não seria um exagero?

"Javier prosseguiu:

"— Eis o perigo, subestimar o inimigo. É claro que diante de uma eventual (e hipotética) descoberta como, vejam só, encontrar o corpo de Jesus — riu —, que heresia!, ou mesmo quando aventam ignominiosas relações entre Jesus e Maria Madalena, outro absurdo, a teoria que vou articular até parecerá pífia, mas diferentemente dessas ideias, que esbarram ou na ficção ou na errônea interpretação dos apócrifos, o documento 'Q' deriva de um argumento científico, desenvolvido através da crítica documental e textual, portanto, uma ideia bem mais perigosa.

"Sem tatear o terreno em que me arriscava, verdadeiro campo minado, insisti:

"— Mas a tal descoberta 'Q' estaria em qual nível? Pergunto-me: o que poderia ser pior do que Jesus não ter ressuscitado? Ou ter mantido relações sexuais com Maria Madalena, engravidando-a, por exemplo?

"Javier foi enfático:

"— Você é direto nas conjecturas e isso é um perigo.

"— Perigo para quem? Para mim ou para a Santa Madre Igreja?

"— Para ambos! — E quase fincou a bengala no chão. —Estamos num lugar sagrado.

"— Falamos por hipóteses. E Deus há de nos perdoar.

"— Deus nada tem a ver com isso, mas não vou fugir da resposta. Pior que essas duas situações, quais sejam: Jesus não ter ressuscitado ou ter legado um descendente, através de Maria Madalena (e lembre-se de que falo em forma hipotética e sob um ponto de vista herético), talvez que Jesus não tivesse sido gerado pelo Espírito Santo, mas sim como qualquer outro mortal, através de relações amorosas entre José e Maria, o que implicaria em sua destituição da condição de 'Deus'. A meu ver, isso seria tão devastador, ou mais.

"— E o conteúdo do achado 'Q' teria esse poder?

"— Como lhe disse, não a princípio, mas tal descoberta fortaleceria a perniciosa 'Teoria das Duas Fontes', que engloba o próprio 'Q' e o evangelho de Marcos. Você a conhece?

"— Sim. Helga me explicou.

"— Pois bem, pensemos: se a teoria das duas fontes for um fato, a primazia de Marcos (ou prioridade Marcana) ganhará força. Sabe o que é a primazia, não é?

"— Sei. Primazia refere-se ao evangelho que foi escrito primeiro. O Cristianismo não considera a 'primazia ou a prioridade' de Marcos, mas sim a de Mateus. Mateus foi escrito primeiro, segundo a Igreja.

"— Pois então, ganhando força a ideia da primazia de Marcos, ganhará força a ideia da 'construção mítica'. Se Jesus está envolto em um mito, talvez não seja Deus. Se Jesus não é Deus, o que acontece com a Trindade Santa? Viu as implicações? 'Q' seria como a água que sorrateiramente entra pelas fundações do edifício e solapa sua base, sem que ninguém veja...

"Teoria conspiratória? Era o que Javier parecia transparecer, tendo em vista a forma como explanava o assunto. Ele parecia ver um monstro onde eu nada via — e essa era a característica nociva de sua personalidade, que em geral move fanáticos, em torno dos quais séquitos se formam, às vezes até piores do que seus 'grão-mestres'.

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