
O Mαɳυʂƈɾιƚσ - Cαρ. 15
𝟙𝟝 ¹ Às 5h00 da manhã ouvimos um barulho vindo da área ajardinada frontal do Seminário, seguido de vozes que se altercavam. Lea acordou, assustada:
² — O que foi isso, Domingos?
³ Eu também me sentara na cama, sobressaltado. A luz da aurora já entrava por uma fresta das cortinas, iluminando o belo rosto de Lea.
⁴ — Nem imagino. Está acontecendo alguma coisa aí na frente.
⁵ Levantei-me e corri até uma das janelas, afastando ligeiramente a cortina. As janelas do Seminário eram envidraçadas, estruturadas em madeira, finas e compridas, com arco superior. Cada quarto possuía duas.
⁶ Um carro estava estacionado bem próximo da recepção. Logo percebi toda a ação:
⁷ — Alá nos proteja, Lea.
⁸ — O que houve?
⁹ — Manolo e Enrico estão lá embaixo, armados. Renderam o segurança e o Padre Homero. E agora estão entrando.
¹⁰ — Temos que fugir!
¹¹ O burburinho já se fazia geral, com padres e seminaristas pelos corredores, todos tentando saber o que acontecia. Nos vestimos rapidamente e nem havia tempo para quaisquer pudores. Lea tirou sua camisola, ficando apenas em roupas íntimas, revelando um corpo maravilhoso, mas não havia espaço para pensamentos daquele tipo — e talvez em nenhum outro momento houvesse. Lea colocou rapidamente o vestido, pouco se importando com qualquer outro acessório muçulmano. Para evitar maiores constrangimentos, vesti a calça por sobre a bermuda de pijama, colocando uma blusa de frio sobre a camiseta. Não podíamos gastar nem mais um segundo ali.
¹² Quando, porém, tentei abrir a porta, a maçaneta estava travada.
¹³ — A porta! Não abre!
¹⁴ — Como, não abre?
¹⁵ — Não sei. A maçaneta não desce.
¹⁶ — Só nos resta a janela...
¹⁷ — Sãos doze metros até o chão — informei.
¹⁸ O desespero começou a tomar conta de nós. Supus que Manolo iria vasculhar o prédio à nossa procura e parece que não tínhamos como sair dali. Era questão de tempo, até nos encontrarem. Lea começou a rezar e o Seminário era o lugar certo para isso.
꧁*꧂
¹⁹ Passados cinco minutos, uma eternidade sem fim, a porta foi aberta e Padre Germano entrou, fechando-a atrás de si.
²⁰ — Padre — exclamei —, o que está acontecendo?
²¹— São Manolo e o comparsa. Padre Homero foi até o portão principal e quando subia a rua interna, o italiano passou com o carro, estourando a cancela e o rendeu. Enquanto isso, na portaria, Manolo rendeu o segurança. Agora estão examinando quarto por quarto.
²² — Chamaram a polícia?
²³ — Ainda não. Padre Homero e o segurança estão em risco.
²⁴ Havia uma barra de ferro em sua mão.
²⁵ — Ah, isto? Desculpem ter travado a maçaneta por fora. Foi necessário, pois vocês não podiam sair daqui sem mim, seriam presas fáceis. Venham, vamos por um local seguro.
²⁶ Saímos para o largo corredor e logo adentrávamos a escada de segurança, descendo rapidamente até o térreo. Sem parar ali, continuamos na direção do subsolo. Padre Germano já deixara aberta a grade que eu vira trancada no dia anterior e, como desconfiava, a escada dava realmente acesso a uma espécie de casa de máquinas.
²⁷ — Por que nos trouxe aqui, padre? — preocupou-se Lea.
²⁸ — Confie em mim.
²⁹ Ao fundo da sala, numa reentrância, havia uma parede de tijolos aparentes. Não estávamos entendendo nada, até que, apertado um determinado tijolo, a parede se moveu. Imaginei haver um trilho no piso, fazendo-a lentamente desaparecer em um nicho escondido.
³⁰ — Não posso crer! — admirei-me. — Uma passagem secreta?
³¹ — Sim. Venham.
³² Assim que atravessamos o portal, Padre Germano apertou novo tijolo, agora do lado interno. A passagem se fechou e ficamos na total escuridão, mas um interruptor acendeu pálidas lâmpadas ao longo de cem metros, num corredor úmido, teto em arco, tudo feito em tijolos, cuja saída eu não conseguia vislumbrar.
³³ — Por aqui, vamos.
³⁴ Com o ferro ele ia retirando as teias de aranha que encontrávamos, em alguns pontos quase fechando o caminho.
³⁵ — Não se preocupem. Não são venenosas.
³⁶ — E não há escorpiões?
³⁷ — Nunca vi nenhum, Lea.
³⁸ Era um lugar sombrio e aterrorizante, uma passagem subterrânea. Lembrava os calabouços de um castelo, todavia, quase no fim da galeria as paredes e teto deram lugar à rocha bruta. Andamos por mais de dez metros ladeados pelo que já se assemelhava a um túnel, escavado em algum tipo de granito. As dimensões iam-se apertando, as paredes se aproximando, o teto descendo, já quase tínhamos que dobrar os joelhos nos metros finais.
³⁹ — Padre Germano, estou passando mal. Não suporto lugares apertados. Tenho claustrofobia.
⁴⁰ — Aguente firme, Lea, já estamos chegando.
⁴¹ Ao final, nova parede corrediça foi aberta, desembocando em um ambiente de dimensões muito mais largas. Uma escada terminava em grossa porta de madeira, com tranca apenas pelo lado interno. Padre Germano girou a pesada chave e ao puxar a porta, as dobradiças rangeram enferrujadas. A luz do sol invadiu a área e pude ver que se tratava de um depósito.
⁴² O carro estava a poucos metros de nós e destrancado. Haviam mexido nele, mas quem? Procurando o que, bem sabíamos. Padre Germano ficara preocupado e mesmo não ficando indiferente à possibilidade de alguém infiltrado no Seminário, nos apressou, dizendo:
⁴³— Vão em paz e que Deus os abençoe, meus filhos.
⁴⁴ Entramos rapidamente no veículo. Germano abriu o portão e avançamos como um raio em direção à rodovia, deixando para trás duas perguntas: por que havia aquele corredor secreto no Seminário? E quem seria o infiltrado?
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