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O Mαɳυʂƈɾιƚσ - Cαρ. 16

𝓢ã𝓸 𝓙𝓸𝓼é 𝓭𝓸𝓼 𝓒𝓪𝓶𝓹𝓸𝓼

𝟙𝟞 Minhas cefaleias pioraram, ao ponto de ficarem insuportáveis. Tivemos que entrar no município de São José dos Campos e procurar um hospital, onde me deram uma medicação analgésica do tipo opioide. Não tão implacável quanto a morfina, algo com capacidade dez vezes menor, ainda assim um remédio forte e receitado apenas sob prescrição. O médico indicou uma tomografia computadorizada com urgência.

Nos hospedamos num hotel e procuramos nos informar de uma clínica que pudesse realizar o exame. Em uma semana, enfim, eu tinha o resultado nas mãos, que constatou um tumor cerebral. Novos exames foram solicitados, entre eles uma biópsia, o que nos obrigou a ficar na cidade por mais quinze dias. Boa parte do tempo ficávamos reclusos, evitando transitar pelas ruas ou ir a locais destinados a turistas. Seria difícil Manolo saber que estávamos ali. Ao Padre Germano tinha dito que íamos direto para Conselheiro Lafaiete, ao encontro de meu tio Jonas, delegado na região. E mais uma vez Lea me recriminara por dar detalhes ao padre, sobre nossos passos.

— Tenho duas notícias, uma boa e outra ruim — iniciou o médico, após analisar o resultado dos exames. — Qual desejam primeiro?

— Doutor, a única notícia boa que imagino possa haver, nesses exames, é que meu tumor não seja maligno.

— Exatamente. E a ruim, pode imaginar?

— Sim! Não é passível de cirurgia.

O médico riu:

— Calma, Sr. Casqueira. Eu disse ruim, não péssima. Passível de cirurgia, é, todavia, é uma operação delicadíssima e creio que somente um cirurgião no mundo todo poderia realizá-la com alguma chance de sucesso.

— E quem é ele?

— Saul Horowitz! Ele é israelense. A notícia ruim é que ele foi sequestrado por palestinos na faixa de Gaza. A região está novamente em conflitos e não se sabe se ele está vivo ou morto.

— Primeiro, então, ele vai ter que sair vivo de lá.

— Exatamente.

𝓞𝓾𝓻𝓸 𝓑𝓻𝓪𝓷𝓬𝓸

Era muito perigoso irmos para Conselheiro Lafaiete. As paredes têm ouvidos e não sabíamos até que ponto alguém, além de Padre Germano, já não teria conhecimento do destino que eu planejara. E o padre, seria mesmo de confiança? Uma coisa me martelou a cabeça depois da saída do Seminário, além do tumor, foi ele dizer que Omar viera ao Brasil, quando então o ajudara. Que eu soubesse, Omar só tinha vindo uma vez ao país, em 1963, não mais e, nessa época, Padre Germano havia de ser um menino. Teria voltado depois? E outra, por que Aziz teria lhe contado sobre o documento "Q"? Havia ali pontos nebulosos, que me faziam pensar. Assim, contatando tio Jonas, ele preferiu nos levar para a casa de tia Laura, em Ouro Branco.

Laura Casqueira, irmã de meu pai, 79 anos. Firme e forte, lúcida e ativa, sempre se dizendo pronta para o que desse e viesse.

— Sem medo de ser feliz, meus queridos. Nossa, Lea, como você é bonita. E que belas mãos tem.

— Obrigado. A senhora também é muito linda.

— Ah, minha querida, já não sou aquela que fazia os rapazes suspirarem. E hoje até posso dizer (e não vai ter mesmo mais ninguém para me julgar), sabem, na verdade eu sempre preferi as moças.

Rimos. Lea disse:

— As mulheres muçulmanas escondem o corpo justamente para que os homens valorizem nelas o que elas têm por dentro, quero dizer, não por debaixo da roupa, mas no interior, na alma. Valorizo na senhora o que é e o que conquistou, até chegar em tão bela idade. É isso que a faz bela.

Tia Laura arrepiou-se:

— Nosso Deus, que coisa linda! Pensava que as mulheres que usam essas roupas... Como se chama? No estilo árabe, vestidos longos, lenços e véus... Eu não sei o nome, desculpa, mas pensava que elas não eram felizes por terem de se esconder.

— Nem todas são infelizes, muitas gostam de seguir os preceitos de Alá. E os homens também cobrem o corpo, já reparou? É o requisito de modéstia e mulheres mais ligadas às tradições gostam de usar. Lá na Turquia tentaram ocidentalizar o país e proibiram o véu. Muitas mulheres se uniram e derrubaram a lei.

— Verdade? Puxa! Olha, tradições por tradições, o mundo cristão está repleto. O hábito de rezar o terço, por exemplo.

— É o que sempre digo, D. Laura, cada qual com suas crenças.

— O problema é quando se impõe, não é? — Fez uma pausa, em que passou uma das mãos nos cabelos: — E como sua mãe se casou com seu pai? Quero dizer, ele era muçulmano, não? E ela cristã?

— Sim, mas quando mais jovem meu pai cometeu seus pecados, digamos assim. — Lea riu.

— Ah, entendo. E os muçulmanos gostam mesmo é de arranjar esposas em suas andanças, não é?

Tia Laura, sempre com um sorriso largo no rechonchudo rosto, nos fazia rir a toda hora. Serviu-nos o tão esperado café com leite, com pão de queijo. Mas no fundo, eu não via mesmo era a hora de saborear o frango ao molho pardo, sua especialidade. Para tanto, uma das galinhas criadas no terreiro do sítio seria passada na faca, infelizmente.

Mais tarde, acompanhado de Lea na varanda, olhávamos as estrelas. Sua silhueta, à luz da lua, fazia-a radiante. Naquela atmosfera, o acelerar de meus batimentos cardíacos brotava do peito tal qual flechas de cupido.

Nunca na vida me envolvera emocionalmente e ainda que eu cogitasse tão somente um repentino despertar da libido, não se tratava disso, estabelecia-se ali um sentimento de cumplicidade. Somente amizade? Vínhamos passando muitas coisas juntos, uma atmosfera favorável nos conduzia, éramos como espiões em fuga obstinada, mas... até que ponto eu poderia 'avançar o sinal'? Tocar-lhe uma das mãos? E o que se diria se materializado meu real desejo: arrancar-lhe um beijo?

Quando voltei o olhar para o céu, deparei-me com a constelação do Cruzeiro do Sul. Lendo meus pensamentos, Lea disse:

Crux!

— O que disse?

Crux. A constelação do Cruzeiro do Sul, somente visível no Hemisfério Sul, mas isso nem sempre foi assim. Sabia que ela foi vista em Jerusalém, pela última vez, no século I da Era Cristã?

— Lea, a Crux! O enigma de seu avô!

— A Crux?

— Sim! O Cruzeiro do Sul! Ele possui cinco estrelas.

— As cinco chagas de Cristo?

— Isso mesmo!, e olhe só, cinco são os evangelhos.

— Mas os evangelhos não são quatro?

— Sim. "Marcos, Mateus, Lucas e João", já na ordem da crítica textual, porém, essa proposta de mudança da ordem canônica, só ocorre pela suposição da existência de "Q", portanto, seriam na verdade cinco, os principais evangelhos. "Q" não é o quinto, mas o primeiro, vindo depois os outros quatro. Veja, a pequena estrela que fica à direita da 'estaca' e abaixo da 'trave', na Crux. É o evangelho "Q".

Examinei mais um pouco a constelação da Crux e posteriormente pesquisei sobre suas estrelas. As mais visíveis eram em número de cinco: Alpha, Beta, Gama, Delta e Epsilon¹. E Epsilon, a Intrometida, a estrelinha menor. Intrometia-se na cruz, por isso recebia também esse nome. Tal qual "Q", um evangelho intrometido entre os quatro.

— Ainda assim, Domingos, aonde tudo isso nos leva? O quanto realmente avançamos na resolução dessa charada?

— Não sei o quanto, Lea, mas que avançamos, avançamos, pode ter certeza.
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Nota:
¹Alpha Crucis (Magalhães); Beta Crucis (Mimosa); Gama Crucis (Rubídea); Delta Crucis (Pálida); Epsilon Crucis (Intrometida).

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