⊰ CAPITULO 8 ⊱
A noite nesse pequeno vilarejo é a mais bela que eu já vi, várias fogueiras enormes são acendidas, as pessoas vão se reunindo para juntas desfrutarem de um jantar delicioso. Alguns vagalumes ajudam as estrelas a iluminarem o céu, as árvores parecem terem sido enfeitadas com luzes pisca-pisca.
Me junto a fila para poder pega minha comida, o banquete é posto na mesa para você mesmo se servir, repleto de variações de carnes e somente isso, com exceção de uma pequena vasilha esquecido no final da mesa com salada e algumas frutas por perto. As carnes não são familiares, mas me arrisco a experimentar uma. Termino de montar meu prato que em grande parte é verde, algumas uvas e morangos. Sinto as pessoas me olharem estranho e sei exatamente o por quê.
Kennedy faz um sinal com a cabeça para que eu o siga e assim faço. Subimos uma passarela em forma espiral, tendo como base a árvore, ao topo a casa dele, seguimos um pouco a frente e nos sentamos na plataforma suspensa.
— Kennedy, o que ela quis dizer aquela hora? — pergunto receosa, me acomodando ao seu lado. A necessidade de uma explicação é grande, mas o medo do que pode vir é ainda maior — Sei lá, parecia que ela me odiava, mas cara, eu-nem-a-conheço!! — digo o fim rápido demais, dando a impressão que a frase é uma única palavra. Não escondo a indignação, olho pra ele com os olhos bem abertos e boquiaberta.
Ele me olha, analisando cada parte do meu rosto, principalmente o meus olhos âmbar. Um sorriso fraco luta para surgir, mas consegue. Sua canela balança de um lado para o outro em meio a um suspiro pesado.
— Ela está certa... Você parece muito com a rainha — diz baixinho — menos o cabelo, nunca vi uma pessoa com essa cor estranha de cabelo. — arqueia uma sobrancelha e com o dedo aponta para o meu cabelo ruivo, gesticulando para cima e para baixo.
Rimos em uníssono e logo o silêncio se instala entre nós, comemos calmamente, sem trocar conversa fiada. Não sei onde estou, nem que tipo de pessoa eles são, mas gosto. Não esperava nada do tipo dessa floresta, ainda nem acredito nisso tudo, por mais que seja legal sei que não sou bem vinda, não me encaixo nesse mundo louco, tenho que encontrar Benjamin o quanto antes para irmos embora.
Quanto mais a noite cai, mais congelante se torna o ar. Nos abrigamos dentro da casa, quente e aconchegante. Kennedy improvisou uma cama para ele no chão, insisti para que ele mesmo ficasse em sua cama, mas ele não aceitou nem mesmo se deitar comigo. Queria que eu ficasse confortável. Antes de dormir ele me preparou uma mochila com suprimentos e me disse por qual direção deveria seguir para chegar em alguma cidadezinha, ele sente que alguém lá pode me ajudar a achar o Ben.
⊰•⊱
A neblina leve toma conta do chão da floresta, durante a tarde a mesma aparenta ser bem mais acolhedora, todo o meu medo aquele dia com certeza foi fruto dos filmes de terror que Bonnie insistia para que eu assistisse. Por mais que eu esteja seguindo o caminho que Kennedy instruiu, me sinto perdida no meio dessas árvores enormes e tão semelhantes.
O silêncio reina, nem mesmo os pássaros estão cantando, o único som é meus passos destruindo as folhas secas e os gravetos.
Me sento em um tronco caído para poder descansar, meus pés estão moídos, meu corpo e mente exaustos. O chão começa a tremer abruptamente, as pedrinhas logo se juntam nessa dança compassada. O tremor aumenta a cada segundo, olho para os lados e avisto uma fera gigante e peluda me olhando. Seu pelo brilhoso e preto são levados para trás com o vento que sopra suave, seus olhos verdes me prendem. Tudo parece devagar, uma típica cena em câmera lenta antes do desastre acontecer, já posso sentir o filme da minha vida chegar. Um rosnado logo vem e minha única reação é correr o mais rápido que posso.
Se um lobo de tamanho normal já faz um estrago, nem consigo imaginar o que esse poderá fazer comigo. Ora ou outra olho para trás, o animal anda devagar, como se eu fosse seu brinquedo que ele pode destruir quando quiser. Meu corpo se colide com outro, acabo caindo sobre algo duro, mas não tanto quando o chão. A pessoa me joga para a o lado e se põem em pé. Levanto o olhar e uma onda de medo me faz suar frio, meu corpo rasteja para trás sem que ordene.
Seus olhos de safira penetram o meu, sua intensidade me aterroriza. Dona de uma pele tão branca como a neve, seu cabelo prateado que caem formando ondas leves até seus cotovelos. Em meio dessa combinação de tons pálidos uma marcara de gás preta - que mais parece com parte do crânio de uma pessoa - cobre meta do seu rosto. Seus olhos se desviam dos meus e se encontram com os do lobo.
— Parece que você está com problemas. — diz com sua voz abafada.
Ela estende sua mão para me ajudar a levantar, sua força espreme meus ossos e sinto que minha mão irá descolar do pulso quando ela me puxa para cima. Sem me dar tempo para pensar ou reagir ela começa a correr enquanto segura minha mão, mal consigo me manter em pé, tropeçando nele próprio. Com muito esforço começo enfim acompanhá-la.
A minha visão parecem vários flashes rápidos, fotos que me vem e logo são tiradas, frames de um salto do qual mal me movo ou sequer toco o chão. Me sinto atordoada, meus olhos mal acompanham essa transição estanha, tento focar nas arvores ao longe, mas nem preciso me esforçar tanto já que as mesma se tornaram próximas de um segundo para o outro.
A garota então para e me joga contra uma árvore, seu braço direito é usado para me sufocar, enquanto o outro se esconde atrás da sua jaqueta de couro vermelho escuro, de lá ela retira uma adaga que é levada até meu olho, tão próximo que já a imagino entrar dentro de mim. Seus olhos que antes eram vermelhos se tornam completamente preto, da esclerótica até a pupila. Não só seu braço, como meu desespero me sufocam.
— Quem é você? O que você está fazendo aqui? — pergunta ríspida, ela afrouxa um pouco o braço.
— Sa-Samantha Hildgart — respondo rápido — Estou procurando meu amigo.
— Você me lembra alguém... — ela resmunga juntando as sobrancelhas e abaixando a adaga. — Agora sei que você não é uma ameaça, me desculpe por isso — diz se referindo a adaga, ela me soltar e da um passo para trás, continuo paralisada, o medo não me permite se mover.
Ela guarda a adaga, seus olhos voltam a cor original e eles analisam cada centímetro do meu ser. Seus olhos se arregalam e as sobrancelhas se erguem ao seu máximo, como se algo de extrema revelação lhe viesse.
— Você. Não acredito. Finalmente!! — diz levando as mãos a cabeça, não consigo ver, mas sinto que ela está sorrindo — Você não está entendendo nada, me perdoe — diz num tom amigável — Me chamo Maelle Tuney, pertencente ao antigo clã White. Você tem sorte de ter trombado comigo... se um dos guardiões tivesse te encontrado, enfim, não vamos pensar nas variáveis! — Ela diz com uma serenidade surpreendente, nem parece que estava preste a me matar segundos atrás. — Você vem comigo, sem mais e nem menos, a não ser que queira morrer agora... — faz uma pausa e me puxa pelo braço para me levantar. — Ótima escolha, agora vamos princesinha perdida.
Princesinha? De novo algo do tipo...
Aparentemente não tenho a liberdade de escolha. Ela começa a andar cada vez mais rápido até começar a correr, é meio difícil acompanhar enquanto se está sendo puxada com certa força. Uma onda de impulso inexplicável me vem, como se meu corpo fosse empurrado para uma fenda densa no ar. Num instante o cenário de uma imensa floresta muda para uma cidadezinha acinzentada, que parece estar em ruínas, coberta por uma neblina pesada.
— PUTA QU-
Minha visão fica preta por causa da minha pressão simplesmente ter despencado, algo como um martelo bate na minha cabeça. Cambaleio para o lado e levo minha mão a cabeça. Maelle imediatamente tampa minha boca com sua mão direita e me puxa para um beco escuro, ela me prensa contra a parede, seu rosto está tão perto do meu que consigo ver cada detalhe do seu rosto pálido repleto de sardas assim como o meu. Sua expressão que deixa clara sua raiva faiscante me estremece.
— Está querendo nos matar, garota! — Sussurra esbravejada. — Quando chegarmos no nosso destino eu respondo qualquer pergunta, agora fique calada, se possível nem respire — apenas concordo com a cabeça.
Ela faz um breve sinal de silêncio, aos poucos tira a mão da minha boca. Não é apenas a aparência, essa cidadezinha é perigosa, levando em conta sua reação. Maelle olha cautelosamente para o lado e enfim ela me puxa para fora daquele beco sinistro. Em meio aquele nevoeiro intenso vejo algumas luzinhas verdes no céu, bem clarinha, quase inexistente, as mesmas ganham intensidade conforme se aproximam. O que poderia ser essas luzes estranhas?
— Maelle! — Chamo num sussurro, ela se vira pra mim extremamente irritada, mas não fala nada, apenas faz um sinal de silêncio me massacrando com os olhos. — O que são aquelas luzes? — Pergunto ignorando-a completamente.
Aponto na direção das luzes, no instante em que direcionei os olhos para elas percebi que elas estavam ainda mais próximas e já não eram mais verdes e sim vermelhas, ficavam cada vez mais próximas, vinham numa velocidade impressionante. Essas luzes não são coisas boas.
São drones. Eles começam atirar em nós, as nuvens de fumaça escura se erguem ao nosso lado, errando os disparos por um triz. O desespero já me consome, paraliso diante a ameaça.
Maelle me puxa pela mão, tento manter a postura, já que quase voei para frente com o seu puxão. Acompanhar sua velocidade é difícil, mas consigo com muita luta. Ela desvia de coisas que não consigo ver, sinto que não é apenas nós duas que estamos correndo.
Não sinto o chão, as coisas parecem ocorrer em câmera lenta, quando dou por mim estou caindo. Meus gritos fazem Maelle me mandar calar a boca. Não consigo ver nada, não é o nevoeiro que me cega, mas sim uma intensa escuridão. Não sei qual é a altura da queda, mas espero não morrer no final.
Meu corpo se choca com algo elástico. Uma rede elástica. O alívio vira predominante, mas sinto que vou desmaiar a qualquer momento. Uma queda de segundos já é o suficiente para fazer me arrepender, isso tudo é loucura, o que estou fazendo? O que estava se passando pela minha cabeça quando decidi entrar na maldita floresta?
Enquanto tento me manter calma, Maelle se diverte ao meu lado. Pelo visto não é a primeira vez dela aqui.
— Vamos. — Ela se aproxima de mim e me ajuda a sair daquela rede.
O lugar faz muito eco, é grande a área e está vazia, apenas uma única fonte de luz ilumina esse lugar todo. Logo abaixo da lâmpada solitária há uma passagem, Maelle me conduz até ela às pressas. Um corredor estreito tomado pela escuridão, a sensação gelada me faz arrepiar. Consigo escutas gotas encontrarem o chão. Sua extensão parece não ter fim, o medo residente só cresce, as teias de aranha que me prendem a todo instante e a sensação de que algo ruim irá acontecer apenas ajuda para o crescimento do medo.
Um clarão forte me atordoa, levo as mão para tentar diminuir a intensidade, mas de nada adianta. De forma bruta Maelle toma um dos meus braços, conduzindo-me para a luz forte.
O barulho alto das luzes sendo trocadas ecoa pelo espaço escuro, o que antes me cegava agora esta bem mais fraca e focada somente em mim, como se eu fosse a estrela de um musical. Maelle é consumida pelo breu. Cochichos raivosos correm pelos cantos, não consigo entender uma única palavra. Meus olhos rolam por todos os cantos a procura por detalhes de onde estou, mas a busca foi em vão, tudo foi consumido pela escuridão.
— Viu?! É ela! Veja com os seus próprios olhos, senhor Lancaster! — Escuto Maelle cochichar.
— Qual é o seu nome? — Pergunta um homem de voz grossa e abafada, pude ouvir o barulho de uma arma sendo destrancada, que foi o suficiente para eu entrar em desespero.
— Samantha. Samantha Hildgard. — respondo de imediato deixando claro meu desespero.
Ao dizer quem sou, duas pessoas passam a ser visíveis. Maelle e um homem. Sua altura não me parece ameaçadora, ele deve ter no máximo 1.55 de altura, mas a arma que ele carrega em sua mão, sim. Seu cabelo grisalho me diz que ele tem muita experiência de vida, seus olhos castanho avermelhado e cansados, também. Suas roupas são bem parecidas com as da Maelle e assim como ela, ele usa uma máscara de gás, mas a sua é uma M50 comum.
Ele abaixa sua arma e me olha atentamente, caminhando ao meu redor, estudando cada detalhe do meu corpo.
— Talvez você tem razão, senhorita Tuney. — diz o homem baixinho passando a mão no cabelo grisalho, enquanto ainda me analisa — Ainda não tenho muita certeza, o cabelo dela não condiz com eles, mas os olhos... — ele para na minha frente, olhando no fundo dos meus olhos — eles são inconfundíveis.
— Eles? — pergunto abraçando meu corpo, tudo isso é muito desconfortável — Meus olhos... por que todo mundo parece se importar com eles? — resmungo para mim mesma com o olhar baixo.
— O sobrenome Astéri te diz alguma coisa? — pergunta Maelle tímida, como resposta aceno de um lado e para o outro. — Bom, eu não sei que tipo de caverna você esteve todo esse tempo, mas a família Astéri é a realeza do reino de Neutrok. Eles estão te procurando há 17 anos. — disse ela de maneira fria, deixando claro sua aversão pela tal família. Ela percebe a confusão nascente em meu semblante — Talvez, mas só talvez, você seja a princesa que fora raptada.
— Isso tudo é uma grande loucura — digo rindo de nervoso, apertando ainda mais o abraço. — Vocês estão me confundindo — digo rindo ainda mais juntando as sobrancelhas, pensando na possibilidade disso tudo ser uma piada, mas suas expressões serias me dão uma resposta contraria — Não é uma piada? — dou um passo para trás — Não sou princesa. Sou uma adolescente normal, com problemas não tão normais no momento, mas ainda sim, normal.
O silêncio se estabelece, os dois parece se comunicar apenas com os olhares. Um suspiro pesado espanta a quietude e seus olhares caem sobre mim com certa hostilidade.
— Deixo essa responsabilidade em suas mãos Maelle, se algo der errado, lembre-se, será sua cabeça em jogo. — disse ele sem desviar seu olhar de mim, algo me diz que sua fala não foi no sentido figurado. — Garota, antes de simplesmente recusar qualquer proposta, escute com atenção o que vou lhe dizer: — pausa para respirar fundo — o reino precisa de você, alguém que ainda não fora contaminado pela podridão da sua família. — sua áurea se tornou mais tenebrosa, seus olhos perderam o pouco brilho que lhes restavam. — Maelle dará detalhes da situação, pense com muito cuidado.
Poucos passos para trás foram necessários para ele se camuflar na escuridão. Ele diz algo para Maelle mas não consigo entender, mas percebo que ela concordou com a cabeça. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Maelle foi para trás de mim e um golpe certeiro de algo duro atingiu minha cabeça. O preto consume minha visão rapidamente, minha consciência se vai mais rápido ainda.
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| CAPÍTULO NÃO REVISADO|
OI! Sinto muito pela inatividade, estou passando por umas coisas aí e n estou conseguindo escrever, sem contar o trabalho ksk.
Esse capítulo ficou bem grande, espero que gostem. Quero suas teorias, opinião e tudo mais. Não esqueçam de comentar e de votar <<33
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