⊰ CAPÍTULO 7 ⊱
A brisa fresca me arrepia e um facho de luz que ousa parar em meu rosto me desperta. Com os olhos ainda embasados sinto que estou no meu próprio quarto, sabia que aquilo tudo não passava de um sonho maluco. Me sento na cama e esfrego os olhos, espreguiço meu corpo e uma dor fina na região dos ombros e clavícula me fazem recuar, alguns curativos foram feitos nessa região. Olhar para o quarto que me encontro com as sobrancelhas juntas.
Rústico e bem simples, as paredes e a mobília são de madeira. Bem a minha frente uma janela que quase chega ao chão e literalmente faz parte do teto, o mesmo se reclina para fazer um V de cabeça para baixo. Um pouco perto da janela há um pouco de lenha, seguindo a mesma direção do meu lado esquerdo tem uma simples escrivaninha repleta de bagunça e leva como companheira uma cadeira esbranquiçada. A coberta pesada e cinza me faz pensar que aqui é um lugar muito frio durante a noite, por mais que eu não tenha sentido nada.
Esse quarto com toda certeza não é meu, o desespero vem aos poucos e a ilusão disso tudo ainda ser um sonho se vai.
Saio da cama em pulo e vou até a janela, o que vejo é quase inacreditável. Diversas casas que rodeiam as árvores, chega a ser de duas a três casas numa mesma árvore, algumas são dentro do próprio tronco. Passarelas extensas que liga uma árvore a outra foi construída para facilitar a rota dos habitantes. A maioria das casas tem seu teto alto, mas as telhas de madeira quase encostam o chão por causa do seu formato em V super acentuado. Bem lá em baixo tem várias rodas grandes feitas com troncos grossos de madeira, de noite aquilo se torna as fogueiras que avistei ontem durante o vôo. Avisto poucas pessoas andando ou trabalhando.
Do lado esquerdo tem uma árvore mais fina que as outras, nela tem uma pequena plataforma quadrada, uma estrutura masculina está deitada nela. Seus braços são seu travesseiro, as pernas dobradas sendo a direita cruzada logo acima, balançando calmamente. Kennedy.
Me afasto da janela e olho para os lados a procura da porta, vou no mesmo sentido que o Kennedy se encontra, abro a porta e o ar puro já me cumprimenta. Saio da cabana e ando um pouco receosa pela passarela suspensa, um vão na distância de um passo é o que separa onde estou da plataforma do Kennedy, com um salto eu passo para o outro lado, o barulho faz com que o rapaz se sente e me olhe com um sorriso leve nos lábios.
— Incrível, não é? — diz voltando a admirar o pequeno vilarejo suspenso.
Me sento ao seu lado, deixando minhas pernas penduradas para balançarem.
— Onde nós estamos? Que tipo de coisa você é? — pergunto olhando para ele, o mesmo não esboça nada, apenas suspira.
— A resposta virá em breve — responde apenas e logo se põem em pé, ele estende sua mão para me ajudar a levantar, a pego sem rodeios e ele me puxa para cima — Antes que eu possa dizer que você estará segura aqui, tenho que te apresentar para a chanceler. — solto sua mão de imediato e olho para ele confusa.
— Não disse que iria ficar, nem queria vim aqui para início de conversa. Tenho que achar meu amigo. — dou as costas para ele e sigo caminho em passos pesados, sinto a passarela tremer um pouco.
— Ok, mas você está indo pela direção errada. — diz cantarolando com deboche, suspiro e cerro os punhos irritadas — Eu posso ajudar a encontrar seu amigo, tenho quase certeza sobre sua localização...
Escutar isso me faz parar de imediato, meu coração palpita com a possibilidade.
— Me acompanhe, querendo ou não, você precisa de mim para sair da aqui. — em seu tom notasse a autoconfiança e uma leve ameaça, forço ainda mais minhas mãos a ponto de quase rasgar minha pele com a unha.
Droga...
— Bom, preciso que você use isso nos seus olhos — ele tira um pedaço de pano cinza do seu bolso, um lenço suponho.
— Nem fudendo! — contesto em desaprovação, recuso para trás. — Eu não te conheço, não faço a menor ideia do que corvos humanos gostam de fazer com garotas vendadas, mas de uma coisa eu sei, no meu mundo disso não vem coisa boa!! — respondo tudo rápido demais, sinto meu rosto queimar pela falta de ar.
— Você terá que confiar em mim, ao menos dessa vez... — ele percebe que não irei ceder, então ele fecha os olhos e suspiro de forma pesada, seus dedos se perdem em meio aos fios de cabelo escuro, ele coça sua cabeça e logo penteia o cabelo para trás para enfim me olhar novamente — Esse lugar não existe e queremos que continue assim para o pessoal de fora, nenhum estrangeiro pode saber aonde fica o concelho.
Isso não me parece uma boa ideia, mas pelo pouco que vejo acho que posso confiar nele, posso sentir isso quando vejo seus olhos, não há maldade neles. Fecho os olhos por um tempo, respiro fundo e solto o ar sem presa. Tenho que fazer isso, caso contrário jamais acharei o Benjamin.
— Tudo bem. — digo apenas ao voltar meu olhar a ele, seu rosto esboça um certo contentamento.
— Obrigado por confiar em mim, Alice. — diz num tom aveludado.
Ele se aproxima de mim e então coloca aquele pano em meus olhos, ele amarra com cuidado para não puxar nenhum fio de cabelo meu. Suas mãos deslizam pelo meu braço até se encontrarem com minhas mãos, seu toque arrepia meus braços. Ele pega minhas mãos e as leva até seus ombros largos.
— Certo, pode pular — não me seguro e acabo rindo. — É sério, não quero correr o risco de você se machuca no caminho... — diz baixinho, diria que é preocupada genuína, mas não ainda não sei se isso faz parte de uma atuação para conquistar minha confiança. Pulo sem protestos, seus braços fortes seguram minhas pernas de maneira confortável, laço meus braços em seu pescoço para que eu me mantenha firme.
— Não... Faça aquilo, por favor... — peço num sussurro do qual só ele é capaz de escutar, deixei escapar meu medo na hora de falar e pude sentir meu peito se apertar só de pensar na ideia de voar daquele jeito de novo.
⊰•⊱
A caminhada longa aparece não ter mais fim, por mais que eu não esteja andado sinto o cansaço chegar e isso me leva a pensar no Kennedy. O coitado deve estar morto, mas não abriu a boca nem por um segundo para reclamar. O caminho foi silencioso em grande parte do percurso, rompido apenas quando Kennedy pergunta se estou bem.
Sua gentileza é tão grande que sinto até pena dele, consigo imaginar inúmeras pessoas maliciosas se aproveitando disso. O mundo é cruel com a pessoas boas, por isso sempre digo;
Seja você o filho da puta!
Na prática é bem mais difícil, mas tento e tenho 95% de fracasso nessa estratégia anti decepção.
Kennedy parece subir alguns degraus e então para de andar e se abaixa, avisa que já posso descer pois enfim chegamos. Ele toma meu pulso e me puxa para dentro, escuto uma porta se fechar atrás de mim e logo sinto ele mexer da amarra da bandagem. Meus olhos completamente embasados lutam para se adaptar a claridade, as coisas a minha volta vão tomando forma aos poucos. Apenas um corredor extenso com algumas plantas e quadros por ele todo, ao final, uma porta escura.
Tomamos como rumo a porta, Kennedy anda em passos largos e rápidos, tento acompanhar por mais difícil que seja. Ao chegar, Kennedy parece pensar se deve fazer isso ou não, já que ele ficou imóvel por longos segundos com a maçaneta na mão. A coragem lhe vem e o cômodo finalmente é revelado.
Na sala um grupo de sete pessoas formam uma roda em volta da mesa, todos falam muito rápido, não consigo entender uma única palavra, mas pelo tom posso dizer que não é um grupo de organização festiva. Ora apontando para o mapa que cobre a mesa toda, ora exclamando a indignação com as mãos e as vezes, um curto silêncio. Kennedy tentou chamar a atenção de todos algumas vezes, mas de nada adiantou, a concentração extrema não permite. No meio dessa discussão uma mulher chamou minha atenção, ela não falou uma única palavra, sua mão no queixo indica que ela esteve processando toda a informação que recebia.
Seu cabelo longo e bem ondulado cai feito uma cascata pelo seu corpo, em meio a imensidão castanha há uma mecha branca, as maçãs volumosas acentuam o rosto. Posso dizer que a idade lhe fez bem, pois sua beleza é indescritível. Um passado agitado deixa evidência, sua cicatriz do lado esquerdo do rosto, que parece ter sido feita com barras enormes, me faz pensar nas coisas horríveis que ela já deve ter passado. Seu olhar baixo não me alcança, mas o meu se encanta com o pigmento laranja vivo que lhe pertence.
Ela me olha de relance e volta sua atenção a mesa, mas rapidamente volta a me olhar, intercalando entre Kennedy e eu. Uma mistura de confusão e raiva começa a se formar em seu rosto, ela levanta a mão e todos se calam diante o gesto brusco.
— Você está louco, garoto?!! — pergunta a moça de cabelo castanho — Por que diabos você a trouxe para cá?? — lança outra pergunta ainda mais furiosa.
— Me desculpe chanceler Heike... Mas eu não entendo, qual é o problema dela estar aqui? Ela é apenas uma garota que eu encontrei na floresta, ela pre-
— KENNEDY, OLHE BEM PARA ELA!! — a moça o interrompe gritando repleta de fúria.
Seu comportamento me lembra o da senhora Hildgard, meu corpo se encolhe, abraço bem forte meu próprio corpo e acabo por me esconder atrás do Kennedy, sabia que isso era uma péssima idéia.
A moça se aproxima de mim com certa velocidade, com um simples sinal de mão ela obriga Kennedy a sair de perto de mim. Seus olhos laranja forte recheados do mais puro ódio gratuito conta mim se encontram com os meus, recuo um passo para trás, mas sua mão direita rapidamente agarra meu rosto que fez meu corpo voa em sua direção e colidir nossos corpos.
— Os olhos. Esses malditos olhos entregam sua linhagem horrenda. — o nojo é nítido, meu corpo treme de medo, minha garganta se fecha e dói como nunca doeu antes. Kennedy intervém, fazendo ela me soltar — Tire-a daqui agora mesmo, a devolva para o reino corrupto dela... — diz rosnando, seus olhos parece quererem me matar aqui mesmo. — Antes que a vejam e pensem que somos os Paladinos da Noite.
Ele concorda com a cabeça e toma minha mão puxando-a para sairmos o quanto antes daquela sala. Posso sentir a raiva emanar do Kennedy, a forma como ele segura minha mão diz isso, a força esmaga meus ossos. Seus ombros sobem e descem sem pausa, consigo escutar sua respiração agitada. Quero acalma-lo, mas não sei o que diz para ajudar.
— Queria poder ajudar... Sinto muito ter feito você passar por isso, não fazia a menor ideia — diz num tom baixo soltando minha mão, cabisbaixo.
— Relaxa, cara! Tá tranquilo, acontece. Não pretendia ficar mesmo. — digo apoiando minha mão em suas costas. — Eu apenas... — pauso, pois minha voz vacila — quero encontrar meu amigo... — digo me afastando dele, desço as escadas com os braços cruzados, puxo o ar com calma e inspiro.
— Você pode passar mais uma noite em casa, depois disso eu te ajudo a se preparar. — apenas concordo com a cabeça.
Gostaria de começa pela minha busca agora mesmo, Benjamin pode estar em perigo e o pior é que eu nem sei por onde começar. Esse lugar é estranho, coisas e pessoas que nunca vi antes. Como é possível olhos laranja? Reinos? Pessoas animais? Paladinos? Nada disso me faz sentido, algo me diz que isso não é nem o começo.
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| CAPÍTULO NÃO REVISADO |
Espero que gostem ^-
Mas gente, pq aquela reação da Heike? Veia estranha.
Paladinos da Noite??¿¿
Só no aguardo das teorias ksksksks ate a próxima, mas antes, gostaria de informar que irá demorar um pouco para sair os próximos capítulos, estou organizando umas coisas e talvez afete o que já está escrito.
Obrigada por ler até aqui <<33
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