Não só as pessoas estão mudando, o clima também tem mostrado sua variação. As vezes penso que essa estranha cidade é capaz de sentir o que nós sentimos e demonstra da sua maneira. Hoje amanheceu com o céu cinza, pesado e triste. O ar a minha volta parece me puxar para baixo, meu peito e ombros pesam tanto quanto o clima.

A escola está barulhenta, mesmo sem muitos alunos. Com os olhos corro pelos corredores a procura de-

     — Por quem estou procurando mesmo? — pergunto a mim mesma num rápido murmuro. Fecho os olhos e balanço a cabeça de um lado para o outro. — Devo estar ficando loca mesmo.

De longe consigo ver seu cabelo amarelo todo cacheado. Bonnie. Ela está enfrente ao seu armário pegando o material que ela irá usar hoje. Me aproximo de seu armário, ficando ao seu lado esperando ela notar à minha presença. Ela parece distraída e um pouco abatida.

     — Bonnie? — Chamo sua atenção, ela me olha imediatamente, deixando bem perceptível as lágrimas que ela tenta conter.

Ela não fala nada, apenas me envolve em um abraço apertado. Sinto algo quente molhar meu ombro.

     — Bonnie, o que aconteceu? — Pergunto em um sussurro preocupado. Ela me envolve ainda mais, deixando quase sufocante seu abraço. — Bonnie, por favor, me fale o que está acontecendo?! — Minha voz saí um pouco esganiçada. Ela se afasta e limpa seu rosto todo avermelhado. — É aquilo... Né? — pergunto bem baixinho, com receio de desestabiliza-la ainda mais.

     — Eu não sei... — ela pausa e fica me olhando, consigo ver lágrimas se formando em seus olhos. — Aquela sensação... Dói! — sua voz que costuma ser forte sai tão baixa que mal pude escuta-la, ela leva as mãos ao peito e abaixa o olhar.

Por um momento pude sentir meu coração parar, minhas pernas estremecerem. Por mais estranho que pareça esse sentimento, eu entendo ela, sinto a mesma coisa.

Algo quente começa escorrer pela minha bochecha, indo até meu queixo. Levo minha mão ao rosto para saber o que era àquele negócio estranho e molhado.

Isso não é hora de chorar, Samantha!

Com as costas das mãos eu trato logo de limpar meu rosto. Não posso chorar agora, não enquanto Bonnie precisar de mim. Envolvo ela em um abraço apertado, fazendo ela finalmente se calar, sua retribuição é tão forte que dá a impressão de que minhas costela vão se quebrar.

O sinal toca alto e em bom som, anunciando o início das aulas. Bonnie se desprende de mim e me olha com um sorriso fraco de canto, sei que ela se esforçou muito para conseguir esboça-lo, seu olhar caído me mata, não suporto ver minha menina cheia de vida assim, sem seu brilho gritante.

Nos damos as costas e seguimos por rotas diferente, enquanto ela vai para a sala 12 eu vou para sala 5, de filosofia. Entro na sala de aula e me dirijo para o final da sala, perto das janelas extensas que cobrem quase toda a parede. Uma garoa se inicia e no vidro deixa seu rastro.

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| CAPÍTULO NÃO REVISADO |

Um capítulo bem curtinho, queria trabalhar um pouco mais esse sentimento absurdo de vazio e como ele afeta mais pessoas.

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