⊰ CAPÍTULO 2 ⊱
Uma forte dor no peito me faz acordar, o vazio mais uma vez tomou forma para me torturar. Um pouco ofegante me sento na cama e levo a mão direita ao peito. O vazio sem fim parece gritar dentro de mim para me fazer lembrar de que ele está ali, na verdade sempre esteve. De uma hora para a outra é como se faltasse algo ou alguém, mas é incoerente tal sensação se tudo está do mesmo jeito. Não é a primeira vez que acordo dessa forma, com um rombo na alma, um rombo volumoso e estranhamente doloroso.
Pego meu celular de baixo do travesseiro, desbloqueio para ver as notificações e nada me chama atenção. Entro em um aplicativo de comunicação e mando uma breve mensagem para o Benjamin.
- Cara, senti aquela parada de novo...
04:45 am
Espero um pouco, pois sei que ele está acordado uma hora dessas. Sem demora ele responde, trato logo de visualizar.
- Caralho Sam, eu também...
04:47 am
- Agora pouco fui mandar mensagem para alguém e me esqueci completamente e logo a sensação veio, essa coisa é muito estranha.
04:47am
- Essa foi a mais forte, meu peito tá doendo muito e minha cabeça tá meio sla.
04:48 am
- Sam, vou ir dormir.
04:48 am
- Boa noite gatinha
04:48 am
- Não se preocupe, a sensação sempre passa...
04:48 am
- Boa noite
04:48 am
Desligo o celular e o jogo na cama, esfrego meus olhos com as costas da mão e solto um longo bocejo. Aproveito que já acordei para me arrumar, sei que está um pouco longe do horário, mas prefiro utilizar cada segundo antes de ir para dormir ao invez de me arrumar. Me levanto e vou me despindo pelo caminho até chegar no banheiro, fecho o box e ligo o chuveiro. A água morna parece me convidar para um cochilo alí mesmo, tão gostosa e acolhedora. Não demoro, sei que dormiria se continuasse enrolando, assim que saio me seco e volto ao quarto para me trocar.
Entre a bagunça de roupas espelhadas pelo quarto todo tento achar uma roupa decente e limpa, uma tentativa falha então tento no closet. Pego uma regata simples cinza e uma calça jogger sarja preta com bolsos nas laterais da perna. Visto as peças de roupas sem muita pressa, me olho no espelho sem nem mesmo acender a luz, só para ter uma base de como estava. Dou de ombros e me jogo na cama de qualquer jeito para tentar tirar um cochilo.
⊰ • ⊱
O despertador rompe o silêncio glorioso que costuma reinar nesse horário, enquanto o restante do dia será tomado por uma gritaria incessante e enlouquecedora. Solto um longo suspiro ao me lembrar que devo me levantar para ir a escola, fora da cama pego uma jaqueta jeans que estava pendurada no cabideiro e já visto. Vou até o espelho, ajeito a barra da regata dentro da calça e aproveito para dar um jeito no cabelo, prendendo-o em um rabo de cavalo meio mal feito. Calço o par de tênis All Star preto, puxo um pouco a barra da calça para cima e pego minha mochila do chão.
Saio de casa sem disposição alguma para a escola, um leve sereno ainda toma conta da cidade deixando o ar gélido e um pouco úmido. As ruas estão silenciosas, não há ninguém andando pelas calçadas, nem mesmo as senhorinhas estão a cuidar de seus jardins, não escuto nem um único pássaro cantar. É como se o mundo entrasse em um luto coletivo de tão angustiante que esta essa cena.
Antes de virar a esquerda para continuar o caminho da escola paro na esquina que fica poucos metros de distância do extenso paredão rochoso esverdeado por conta do musgo, enfrente ao bar da senhorita Andrews. Olhando daqui, a floresta aparenta ser sombria e escura, sem nenhum facho de luz para trazer um pouco de vida para o ambiente. Por cima do muro da para notar o intenso nevoeiro que toma conta dela diariamente nesse horário do dia.
Em meio aquelas árvores tomadas pelo manto cinzento da névoa sai um pássaro negro — um corvo talvez? —, ele pousa em uma rocha e fica por um breve momento admirando o cenário deprimente da cidade silenciosa antes de começar a voar na minha direção, pousando seguidamente no semáforo à minha frente. Ele inclina levemente sua cabeça para esquerda e fica me observando com seus olhinhos demoníacos.
Suas penas negras são tão bonitas e brilhantes, me lembra muito o corvo que vi ontem. É estranho pensar que um corvo tão bem cuidado quanto esse veio da floresta. Logo um calafrio percorre minha espinha, me deixando arrepiada. Balanço a cabeça para tirar essa ideia absurda e tomo rumo a escola novamente, já devo estar atrasada, não tenho tempo para ficar me distraindo com um corvo esquisito.
Chegando próximo a escola já consigo avistar diversos adolescentes, sem ânimo. Normalmente estão correndo e brincando pelo caminho feito crianças, sempre questiono o pique deles logo pela manhã, mas dessa vez esta diferente, como se todos se sentissem como eu. Vazios. Logo na entrada notasse o quanto escola está barulhenta, mais que o habitual, cochichos altos correndo por todos os corredores e os olhares mortíferos parece caírem sobre mim. Quanto mais eu entro, mais cochichos são soltos, mais olhares, mais me sinto como um bicho de sete cabeças sufocado dentro de sua própria prisão interor.
Procuro pelo Benjamin apenas com o olhar, o mesmo está encostado no meu armário com a Bonnie ao seu lado. Não foi necessário estar muito perto para ver o desconforto estampado na cara de cada um.
— Vocês estão bem? — pergunto um pouco baixo ao me aproximar.
Benjamin me olha rapidamente, seus olhos avermelhados me avisam que esteve chorando.
— Vocês sentiram... — digo ainda mais baixo, sabia que uma resposta positiva da minha pergunta anterior não viria.
Nenhuma palavra foi trocada entre a gente, não tínhamos o que conversar e não queríamos forçar a barra. Benjamin raramente chora, diferentemente da Bonnie, que chora até mesmo se uma mosca morrer diante dela. Seguimos nossos caminhos separados, cada um para suas respectivas salas.
O horário passou rápido, não consegui prestar atenção em nenhuma aula, minha cabeça se enche de pensamentos conturbados sobre minha família, amigos e a razão por estar com esse sentimento esmagador. O cinza do céu foi perdendo seu espaço para os fachos insistentes do sol, tornando tudo bem claro e azul.
O sinal toca para anunciar que o intervalo foi iniciado, estamos livres por algumas horas. Saio da sala assim que todos saem, não gosto de toda essa agitação de um empurrar o outro para saírem da sala, pessoas desesperadas por liberdade momentânea me irritam. Vou direito para o portão de entrada, sei que o pessoal estará lá, Benjamin sempre vai e eventualmente Bonnie também.
— Bora fazer uma loucura? — Sugere Benjamin com um sorriso estranho desenhado nos lábios, confesso que fico com pé para trás e ele logo percebe — Espantar essa coisa estranhar, voltar pra vibe gostosinha — diz pousando uma das suas mãos no meu ombro e a outra no da Bonnie.
— O que você sugere? — pergunta Bonnie ajeitando uma mecha de seu cabelo curto e enrolado, pigmentado em um amarelos vivo atrás de sua orelha. Ela cruza os braços e arqueia as sobrancelhas aguardando a infame ideia.
— O muro. — responde apenas, seu sorriso se torna largo, chego até mesmo pensar que tem chances de cada ponta chegar nas suas orelhas. Seu olhar brilha, tornando ainda mais bonito o tom acobreado de seus olhos. — Ninguém nunca vai lá, nem mesmo pularam aquela coisa, que tal sermos os pioneiros?
Olho para ele confusa e logo após olho para Bonnie para saber se ela aprova essa ideia louca, mas claro que ela apoia, sempre apoia Benjamin com suas maluquices. Apenas solto um suspiro e esboço um sorriso de lado, ambos entendem o recado e comemoram com um toque de mãos.
— Vocês ainda me deixarão louca.
Benjamin não diz mais nada, nos dá as costas e começa a correr na frente, Bonnie em meio a suas risadas altas de total divertimento o segue e com essa deixa não me resta escolhas a não ser fazer o mesmo. Corro o mais rápido que posso para alcança-los, mesmo sem ver necessidade numa corrida para chegar no muro. Em menos de cinco minutos já estávamos lá, de frente para parede rochosa cheia de assinaturas em suas partes ainda cinza, os três sem fôlego algum para fazer um comentário divertido ou de protesto vindo da minha parte.
Os três se entre olham e uma risada uníssona ecoa entre nós. Benjamin sem muito esforço escala as pedras e permanece ali sentado.
— Subam, a visão daqui é maravilhosa — diz olhando para cidade, ele vira a cabeça para conseguir olhar para floresta por cima dos ombros — maravilhosa... — diz tão baixo que mal pude escuta-lo.
O vento sobra com calma, o cabelo ondulado que vai até a altura das orelhas de Benjamin dançam no ar. Ele fecha os olhos e forma um leve sorriso, apreciando o momento. De um segundo para o outro ele se põe em pé no muro, abre os braços e grita o mais alto possível, seguindo de uma gargalhada gostosa.
— Se sente libertado agora? — pergunta Bonnie rindo, ela se senta no gramado deixando seu corpo jogado para trás, sustentado pelos braços finos.
Ele concorda com a cabeça e grita mais uma vez para o céu azul, encurvando seu corpo para trás. Não evito a risada, amo o jeito espontâneo dele, mas a risada logo se desfaz quando um pássaro negro ataca o rosto do Benjamin, os dois aparentam lutar para disputar o lugar, mas Benjamin acaba por perder o equilíbrio.
— BEN! — grito indo de encontro ao muro quando ele cai, uma onda estranha me bate e o vazio me soca com o máximo de sua força — Quem é Ben? — me pergunto num sussurro ao perceber por quem eu chamava sem motivo algum, levo as mão ao peito e desmorono no chão com lágrimas aos montes escorrendo, sem entender nada do que esta acontecendo comigo.
Encosto a testa no muro, levo uma das mãos até ele e fecho os olhos tomados pelas lágrimas incessantes. Uma brisa bate e me arrepio por completa, sinto como se alguém tivesse partido sem nem ao menos se despedir. Não entendo. Escuto os gritos da Bonnie, tão dolorosos quanto minhas lágrimas inexplicáveis. Vou até ela e a envolvo em um abraço apertado. Não sei o que está acontecendo, não suporto mais essa sensação esmagadora que parece sempre arrancar um pedaço de mim. Me solto dela, olho no fundo dos seus olhos azuis que estão avermelhados, seu rosto de traços finos está todo vermelho e inchado. Tento limpar suas lágrimas com meus polegares.
— Vamos voltar, está na hora — digo me levantando, estendo a mão para que ela possa pegar e se levantar.
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|CAPÍTULO NÃO REVISADO|
Assim fecho o segundo capítulo, espero que vocês gostem <3
Deixe aqui sua teoria, o que você espera e o que você está achando da história, vou adorar ler seu comentário ^-^
Não se esqueça de deixar sua estrelinha, ela me ajuda muito.
Obrigada por ler até aqui <<33
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