⊰ CAPÍTULO 1 ⊱
A brisa fresca do fim de tarde convida meu longo e fino cabelo ruivo para uma dança, juntamente as folhas recém caídas das árvores do parque. Me deixo levar pela sensação de leveza que a brisa traz, com os olhos fechados puxo o ar com calma e o prendo por um instante, volto a observar o parque enquanto solto o ar sem pressa. Aos poucos o sol vai perdendo seu lugar, mas em grande estilo, pintando o céu em um laranja escuro e rajadas rosadas do claro ao escuro até se misturar ao azul da noite que vem chegando.
Muitas famílias começam a se recolher, alguns continuam a maratona suas corridas diárias, enquanto poucos, assim como eu, apreciam a lenta chegada da lua e suas fiéis companheiras cintilantes.
Diferente da última brisa convidativa, essa veio mais fria e um pouco mais forte, pude até mesmo escutar ela cantar enquanto arrastava as folhas pelo chão. Cada fio sobre minha pele se arrepiou e então percebo que já está na hora de ir. Seguro firme no banco de madeira e respiro fundo uma última vez, a vontade de continuar aqui e desfrutar de um belo cenário estrelado é bem maior que a de voltar para o conforto de minha casa.
Mesmo indo contra todas as minhas mais profundas vontades me levanto e aprecio de forma breve o céu que se escurece cada vez mais, ao me direcionar rumo a minha casa já sinto meus ombros pesarem e a sensação de desconforto vem como bônus, o qual já estou mais que familiarizada. Em passos curtos e receosos tento tornar minha chegada a mais demorada possível, prestando atenção em cada detalhe do caminho, mesmo já sabendo de todos eles de cór e salteado.
As ruas nesse horário são calmas, vazias praticamente, então não é necessário parar e olhar para os lados para fazer sua travessia, mas mesmo assim faço. Deixo meus dedos seguirem toda extensão de arbustos que deixam claro o limite residencial da família Tompson. Paro em frente ao semáforo, já que ele está vermelho para os pedestres, em minha espera paciente um corvo de penas pretas reluzentes pousa sobre o semáforo. De lá, seus olhos vermelhos como um safira me observam atentamente, sua cabeça se inclina um pouco para um lado e logo depois para o outro, suas asas se abrem um pouco, como se fosse voar e como resposta meu coração dispara.
Com a mudança de cor do sinal saio daquele breve transe e atravesso a rua. Comprimento com um singelo sorriso a senhorita Andrews, já que a mesma estava dentro do seu estabelecimento virando a placa de "fechado" para "aberto". Falta apenas algumas casas até chegar na minha e o peso nos meus ombros aumentam, as costas se curvam um pouco mais e meus ombros se encolhem, acabo por cruzar os braços involuntariamente. Atravesso uma última rua a minha esquerda, caminho um pouco pelo gramado do vizinho até chegar no meu, paro bem em frente a porta, questão de poucos centímetros de distância.
A discussão que aparenta não ter mais fim aumenta o tom, tanto que posso escutar daqui de fora. Pouso a mão na maçaneta gélida e a deixo ali por um longo tempo, imóvel, sem coragem alguma de abrir. Fecho os olhos fortemente e enfim abro a porta de madeira branca, da forma mais silenciosa possível. A discussão se cessa ao me ouvirem chegar, mas o silêncio não dura por muito tempo, a estrutura alta e magra da senhora Hildgard já estava no hall de entrada para me encher dos seus mais severos xingamentos.
— Onde você estava, garota?! — em seu tom notasse seu desprezo e sua indignação pela demora da minha chegada.
Seus olhos azuis, mais agressivo que a pior das tempestades oceânicas, me estremece por inteira, mas tento tornar imperceptível minha vulnerabilidade diante dela. Suas linhas de expressão deixam bem claro seu desapontamento e raiva sobre mim.
— Estava no parque. — respondo rápida, torcendo para que ela me deixe subir logo para o meu quarto.
— Está de castigo, seu lugar é no quarto e não na merda de um parque! — rosna no fim.
Meu sangue fervilha e a vontade de falar qualquer tipo de ofensa para cima dela vem com força total, mas me seguro e mantenho-me calma. Não devo perder a cabeça, apenas pioraria as coisas para o meu lado e não estou com saco para lidar com esse tipo de situação agora.
— Vive me dizendo que não sou sua filha, o que te faz pensar que tem o direito de me castigar? — lanço-lhe uma pergunta que está presa na garganta há séculos, mas nunca tive coragem o suficiente para fazer.
Sua expressão muda para uma certa surpresa, mas logo torna a demonstrar todo seu ódio. Ela se aproxima de mim bruscamente, com os dentes num leve tom amarelado cerrados, pronta para abater quem estiver na sua frente. Uma silhueta alta e volumosa surge atrás dela e uma mão é posta em seu ombro, a parando na hora.
— Já chega às duas. — diz meu pai ríspido, tão sem paciência quando ela. — Suba para o seu quarto, Samantha. — ordena rouco, direcionando seu olhar sereno para mim, as vezes me perco no seu tom caramelado hipnotizante.
Assim faço, sem questionar ou olhar torto. Subo cada degrau a minha frente correndo, mesmo com o receio de tropeçar. No topo dobro a direita e vou em passos longos até o fim do corredor, entro no quarto e fecho a porta atrás de mim. Deixo minhas costas irem de encontro com a porta, um suporte para que eu deslize até o chão e ali permaneço inerte por um longo tempo.
Acho engraçado a forma como meu quarto reflete minha cabeça completamente bagunçada e querendo ou não, me sinto acolhida por ele por ser desse jeito, todo revirado. Roupas por toda parte, a cama desfeita, meus livros abertos e espalhados entre a cama e a escrivaninha, o espelho trincado, os sapatos sem seus devidos pares juntos. Um completo caos, sem dúvidas. As cortinas brancas, tão finas que chegam a ser quase transparentes, voam no ritmo do vento gelado. Suspiro desanimada, ao levantar meu corpo demonstra fraqueza, mas não dou muita importância e vou direto para cama, me aproximo da janela, antes de fecha-la contemplo o céu estrelado com um sorriso tímido estampado.
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Continua...
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Esse foi o primeiro de muitos capítulos que estão por vir, espero que goste e que te cative o suficiente para acompanhar toda a história <3
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Obrigada por ler até aqui <<33
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