Capítulo VI
Temos o destino que merecemos.
O nosso destino está de acordo com os nossos méritos.
- Albert Einstein
O olhar vazio da mulher refletia-se na sua imagem distorcida no café. Ela fitava o líquido com tamanha intensidade que as pessoas ao redor pensavam se tratar de uma louca, conversando mentalmente com um ser inanimado. Ao contrário do julgamento alheio, Alexandra lembrava de todos os fatos misteriosos ocorrendo em Londres. Às vezes, um corpo sem vida era encontrado no relento, perfurado e com uma considerável quantidade de sangue em falta. Para muitos, se tratava de outro assassino em série se inspirando nas atitudes de George Matt, mas a detetive sabia que essa não era a verdade.
Alexandra bebeu calmamente o líquido, ignorando os olhares confusos das pessoas na cafeteria. Ela sabia que iriam interpretá-la equivocadamente, por estar marcada com uma energia negativa evidente. Em toda a sua vida, essa energia a circulava e era a causa de todos os desastres que sucederam a perda de sua mãe.
Após pagar o café da manhã em uma das cafeterias mais movimentadas da cidade, a mulher seguiu seu caminho em direção ao local de trabalho. Como sempre, a delegacia encontrava-se movimentada tanto na parte do atendimento quanto nos setores administrativos.
— Bom dia, Alexandra.
— Bom dia, Anthony.
Os dois possuíam uma relação cordial de trabalho, apesar de Alexandra notar olhares suspeitos do delegado em sua direção. Contudo, estava mais preocupada em resolver o mistério da cidade do que se preocupar com sua vida amorosa. Depois de uma breve discussão do último caso em que trabalharam, o assassinato de Teodoro William, terminaram os devidos relatórios para se encerrar o inquérito.
— Outro caso, delegado. — avista um policial após bater na porta e entrar com a posterior permissão. — Encontraram o corpo de uma criança à deriva, no rio.
— Certo, nós iremos agora até o local do crime. — disse firmemente, ficando de pé pegando a chave e saindo da sala seguido pela detetive. — Odeio quando envolvem crianças, como pode haver pessoas tão ruins no mundo?
Alexandra apenas se manteve em silêncio com as mãos dentro dos bolsos do sobretudo – agora, bege – refletindo sobre o caso. Ela tinha a mesma aversão do delegado por homicídios envolvendo crianças, não por um motivo sentimental; mas sim porque todas as provas seriam manipuladas por emoções e a razão seria colocada em segundo plano.
— O que ele faz aqui, Alexandra?
A atenção da mulher alternou entre a expressão confusa do delegado e um homem apoiado no balcão, conversando com a atendente. Harrison estava com seu típico sobretudo preto, cabelo bagunçado propositalmente e os olhos azuis mais vivos do que antes. O empresário muda seu foco para os dois, abrindo um sorriso cortês e despedindo-se da atendente que suspirava boba após a breve conversa.
— É meu... Assistente... — ela diz com pesar na voz.
— O seu o que?!
— Bom dia, Alexandra! E...
— Anthony Roberts.
— Pelo visto, a Alexandra já lhe informou sobre minha contribuição para os casos.
Antes mesmo do delegado questionar, Harrisson tratou de explicar sua qualificação e trouxe a documentação necessária para provar suas habilidades. Além de trabalhar na polícia, ele também cursou psicologia e auxiliou muitos pacientes em um manicômio nos Estados Unidos. Enquanto explicava seus objetivos relacionados à obter conhecimento, Anthony lança um olhar de canto para Alexandra que apenas dá nos ombros, seguindo seu caminho em direção ao carro.
— Oh! Teremos um caso? Estou ansioso.
— Espera, você irá com a gente?!
— E por que não, senhor Roberts? Nós seremos uma equipe.
Era perceptível a repugnância de Anthony por "dividir" sua parceira com alguém, mas bater de frente com um empresário cheio de dinheiro e influência é como andar em círculos. Como sempre, o delegado dirigiu o carro em direção ao local do crime enquanto Alexandra rabiscava alguma coisa em seu bloco de notas. Harrisson continuava com uma expressão indecifrável no banco de trás, cruzando os braços sobre o peito admirando a paisagem de Londres.
O silêncio era sufocante, por um motivo muito óbvio: o clima estava pesado entre os dois homens. Ou, tão somente, para o delegado pois Harrisson não demostrava preocupação com a presença de outrem junto com sua parceira.
Ao pararem na beira da estrada, seguiram o caminho andando pela floresta de aspecto macabro. As árvores altas, galhos atrofiados e folhas secas. A cada passo dado, o som dos galhos secos ecoavam pelo ambiente. O silêncio não perdura por muito tempo, pois as vozes ao fim da floresta misturavam-se com o som da água corrente.
— A perícia irá iniciar o trabalho o mais rápido possível, mas consegui fazer algumas anotações.
Diana, a perita, conduzia os três indivíduos até a beira do rio onde encontrava-se o corpo. O pequeno corpo deitado sobre a areia, o vestido rosa sujo pela lama e com algumas folhas. Em passos lentos, Alexandra analisava cuidadosamente a criança morta vendo as marcas de mãos em seu pescoço, as manchas vermelhas em sua pele pálida.
— Causa da morte? — questiona a detetive.
— Asfixia. — responde Diana com um sorriso descontraído. — Estipula-se que a morte ocorreu entre seis e oito da noite, há dois dias atrás. Vejam essas marcas aqui. — ela apontava para a região avermelhada nos joelhos do cadáver. — Provavelmente, ela estava fugindo pela floresta e caiu. Deve ter sido o momento em que o assassino a asfixiou, jogando o corpo no rio em seguida.
— Os pais moram por perto?
— Sim, Anthony. Eles moram do outro lado da floresta.
— E demoraram dois dias para reportar a morte da filha? — quis saber Alexandra.
— A mãe reportou com quatro horas de desaparecimento mas ninguém ousou procurar na floresta porque, segundo ela, sua filha morria de medo de entrar nesse local.
— Não é para menos. — comenta Harrisson olhando as árvores secas. — Mas a criança entrou na floresta, mesmo assim.
Diana o encarava curiosa sobre sua presença e Alexandra gesticula para deixar tal questionamento para outro momento.
— Como assim, moço?
— Ela foi alvo de uma perseguição e o primeiro lugar que resolve fugir é para a floresta que mais teme ao invés da própria casa? — Harrison ergue a sobrancelha com uma expressão duvidosa, ainda mantendo a postura descontraída com as mãos nos bolsos. — Ela confiava inteiramente no assassino ao ponto de ser conduzida para a floresta...
— ... mas algo a fez desconfiar dessa pessoa, por isso saiu correndo desesperada. — completa Alexandra. — Isso só aponta para um dos pais.
— Eu irei procurar mais informações e se há testemunhas. Você pode interrogar a mãe da criança e você... — Anthony olhava o empresário com desdém. — Faça o que quiser, desde que não me atrapalhe.
Alexandra continuava a conversar com a perita sobre detalhes do caso, apesar de ter ouvido as palavras do delegado. Em seguida, ela e Harrisson sobem o caminho de volta para a estrada onde iriam se dirigir à casa da mãe da vítima, identificada posteriormente como Alice Myers. O empresário aproximava-se discretamente da jovem, encarando-a de canto e analisando com cuidado os seus traços. Ela não possuía um corpo tão escultural – ou se possuía, escondia muito bem pelo excesso de roupas – mas o seu cabelo era sedoso, o brilho dos fios refletia sobre a pouca luz solar daquele dia nublado.
— Eu acho que o delegado Roberts não gosta de mim.
— Você acha?
Alexandra lança um olhar inquisitivo, permanecendo com a expressão impassível.
— O que eu fiz de errado?
— Fora aparecer simplesmente do nada querendo trabalhar com a gente e nos atrapalhar em nossa investigação? Nada demais.
Ele revira os olhos, apesar de segurar a risada porque achava a mulher muito fofa brava, pois fazia um sutil biquinho em seus lábios.
— Precisam me conhecer melhor e não julgar um livro pela capa.
— Você já não tem fãs demais por aí? Por que quer nossa aprovação?
— Fãs?
— Sim, pessoas bonitas e ricas têm fãs.
Harrisson sorria de canto, girando o corpo e caminhando de costas para o caminho aproveitando-se para fitar a mulher.
— Quer dizer que me acha bonito, detetive?
Alexandra sente as maçãs do rosto esquentarem, pigarreando alto e apoiando a mão sobre o peito dele, empurrando-o para frente enquanto apressava os passos.
— Cala a boca e ande corretamente!
Quando os dois chegaram ao topo, um dos policiais tentava acalmar uma mulher que andava de um lado para outro. Os cabelos curtos dela bagunçados e os olhos inchados de tanto chorar. Ao avistar a detetive, corria em sua direção segurando-a pelos braços e a fitando com total desespero na face.
— A minha filha...! Ela...! Quem foi o monstro que fez isso com ela?! Quem? Quem?
— Calma, calma. Nós iremos encontrar o responsável.
— Eu quero ele morto! MORTO!
Harrisson desvia o olhar para os braços de Alexandra sendo apertados com força. Era perceptível os nós dos dedos da mulher ficarem brancos devido à pressão exercida. Então a puxava delicadamente para longe da detetive, apoiando a mão sobre seu queixo e erguendo-o para que encarasse seus olhos azuis.
— Nós estamos aqui para trazer a justiça, senhora Myers. Eu prometo e confie na capacidade da detetive Knight, seus casos sempre encontram um fim.
Alexandra estreitava os olhos, analisando a expressão da mulher que mudava drasticamente de humor. Ela respirava com mais calma, suavizando as marcas de sua face e sentando-se no banco de madeira na frente da sua casa.
— Como há alguém capaz de fazer isso com minha filha...?
— Há pessoas horríveis nesse mundo. — Harrisson dizia ajoelhando-se na sua frente e segurando suas mãos trêmulas. — Da mesma forma que há pessoas boas e algumas delas estão dispostas a encontrar o responsável.
— Qual o nome dela? — Alexandra pergunta aproximando-se do policial. — E do seu ex-marido?
— Elaine Myers, possui 33 anos e trabalha em uma farmácia não muito longe do centro da cidade. O seu ex-marido, Oliver Myers, mora em outra cidade e, pelo visto, já constituiu outra família.
Mesmo que o policial explicasse os detalhes sobre o caso, Alexandra estava com sua total atenção na estranha amabilidade de Harrison com a mãe da vítima. Elaine nem parecia a mesma pessoa eufórica de minutos atrás, como se estivesse hipnotizada pelos olhos do homem.
Esse cara é estranho, pensava,
Quando Elaine parecia mais calma, Alexandra aproxima-se cruzando os braços e fitando de canto Harrison. Ele entende o recado, afastando-se da mulher e permitindo que sua "colega" de trabalho iniciasse os questionamentos.
— Senhora Myers, quando foi a última vez que teve contato com sua filha?
— Eu levei a Alice para a escola pela manhã. Ela tem ensino integral e eu sempre a buscava no final da tarde. Porém, nesse dia, eu atrasei um pouco pois o meu patrão precisou sair e eu assumi a farmácia por mais tempo.
— Alguém sabia da sua rotina?
— Não, éramos somente eu e a Alice por quatro meses.
— E o seu ex-marido? — questiona Harrisson. — Ele não tinha conhecimento?
— Sim, mas vive em outra cidade. Não acho que se interessaria por minha rotina.
Elaine abaixava o olhar pensativa, secando as lágrimas e respirando fundo.
— Foram tempos difíceis sem ele, sabe? Mas estávamos nos reerguendo aos poucos, até que... — logo, voltava a chorar apoiando ambas as mãos no rosto enquanto soluçava baixinho. — Tiraram a minha filha de mim.
Alexandra permanecia com a expressão neutra e Harrisson não deixou de notar tal detalhe.
— Acalme-se, precisamos de suas informações para dar início à investigação. — pedia a detetive. — A senhora possui algum inimigo?
— Inimigo? Hum... O meu antigo vizinho teve alguns atritos comigo. Nós brigamos diversas vezes por causa do barulho que ele fazia e, uma vez, ele reclamou sobre o fato da Alice ter perdido a bola em seu quintal enquanto brincava.
Enquanto a detetive anotava as informações do suposto suspeito, Harrisson distraía-se com o pescoço de Alexandra coberto pelo cachecol vermelho. Quando a mulher se levanta, ele recua alguns passos com as mãos nos bolsos do sobretudo e, rapidamente, desvia o olhar para um ponto qualquer. Então, os seguem de volta para o carro e ela senta no banco do passageiro, tomando um leve susto ao vê-lo ocupar o banco do motorista.
— Esse é o lugar do Anthony!
— O delegado Roberts já teve o seu momento, eu também quero me sentir um policial dirigindo esse carro.
— A diferença é que o delegado é um policial, e você não!
Harrisson revira os olhos, bufando alto e continua no mesmo lugar.
— Por que usa sempre esse cachecol?
Alexandra franze o cenho confusa, encarando-o por uma breve fração de segundos antes de fitar a estrada, onde havia somente as folhas secas sobre o asfalto.
— É um presente da minha mãe. Ganhei quando ainda era uma menina, mas o carrego até hoje por causa do seu valor simbólico.
— E quem diria que você possui um lado sentimental.
— Eu, por acaso, sou um robô?
Ele contém a risada por causa da sua expressão sarcástica.
— Eu amo as suas respostas, detetive. Aliás, eu preciso te conhecer melhor se quisermos trabalhar em equipe.
É nesse momento que Alexandra revira os olhos.
— Eu te aconselho a desistir. O delegado não te suporta e... — ela pensa em dizer que também não queria conviver com Harrisson, mas lembra de forma como ele acalmou a mulher. — Bem, talvez você seja útil, mas ainda te aconselho a cair fora enquanto pode. O mundo da investigação não é tão fácil como pensa.
— Eu sei, mas é bem melhor que o mundo ao qual estou acostumado a lidar.
Alexandra pensou em perguntar algo sobre seu comentário, usado em um tom de voz suspeito. Porém, alguém abre a porta do motorista e, pela sua expressão, não parecia nada feliz por ter um certo empresário roubando seu lugar.
xxx
Após alguns minutos de reclamações do Anthony sobre ir no banco dos fundos, a detetive repousa sua xícara de café sobre a mesa de madeira. Alguns policiais foram encarregados de trazer o pai da criança ao interrogatório. Por se tratar de uma cidade vizinha, não demoraria muito para buscá-lo. Enquanto isso, o delegado desligava o telefone com um sorriso confiante.
— O vizinho que a senhora Myers comentou com você está à caminho.
— Que bom.
— O policial também conseguiu relatos de que ele não é muito "amigável" com as pessoas.
Alexandra nada disse, apenas pegou a ficha criminal de Garrett Patel. Um designer de games, 35 anos, solteiro e mora sozinho. Ele já respondeu um processo criminal por agressão. Quando o homem apareceu, era perceptível seus resmungos mesmo através das paredes de concreto da delegacia. A detetive e Anthony saíram da sala, indo em direção ao interrogatório e Harrisson, que estava bebendo um café na recepção, decidiu acompanhá-los.
Anthony ficou sentado ao lado de Alexandra enquanto Harrisson apoiou as costas na parede, cruzando os braços. Garrett Patel é um homem calvo, acima do peso e possui baixa estatura. Seus olhos escuros alternavam entre as duas pessoas sentadas e o empresário no canto.
Após fazer a qualificação necessária, deram início ao interrogatório.
— O senhor mora há quantos anos no bairro? — questiona o delegado.
— Há 10 anos.
— Como é o seu relacionamento com os vizinhos?
— Olha, eu não ligo para eles. Eu trabalho em casa e tenho muito o que fazer ao invés de socializar. — disse seco com um olhar de poucos amigos. — Eu não acredito que aquela mulher me acusou!
— É a consequência de não socializar, senhor Patel. — Alexandra diz ironicamente. — Criamos inimigos. Você a considerava um inimigo?
— Eu não! Ela só é uma mulher com péssimo gosto para maridos.
— Por que diz isso?
— A Elaine vivia brigando com seu marido, Oliver, por isso se separaram. Ele é um bruto, mas devo admitir que sempre cuidou bem da sua filha.
— Sobre a criança, Alice Myers, soube que você reclamou sobre...
Anthony começa a perguntar mas era interrompido.
— Sim, a pirralha jogou a bola no meu quintal e destruiu a cerca ao ir pegá-la.
— Quando isso ocorreu?
— Há dois dias atrás.
Alexandra anotava tudo em seu bloco de anotações enquanto Harrisson aproximava-se, apoiando ambas as mãos na mesa gélida de metal. Os olhos azuis dele fitava-o intensamente e Garrett recua assustado na cadeira.
— O que desejou fazer com a criança após a discussão?
— Eu desejei matá-la.
Como se saísse de um transe, Garrett olhava para todos na sala confuso e começou a suar frio. Harrison sorri satisfeito, voltando para o seu canto enquanto Anthony encara a cena surpreso. Alexandra permanecia com o semblante neutro, sem demonstrar nenhuma emoção.
— N-Não foi isso que eu quis dizer! Digo, eu desejei matá-la, estrangulá-la mas...
— Estrangular?
— Eu já gritei muito isso, sempre que a pirralha aprontava uma.
— Desejou estrangular uma garota de oito anos, senhor Patel? — Anthony questiona erguendo a sobrancelha. — Isso daria uma ótima confissão.
Antes mesmo de se defender, um policial aparece repentinamente na sala e cochicha algo no ouvido do delegado. Harrisson o fitava de canto, atento ao diálogo e desviando a atenção para Alexandra que retribuía a troca de olhares.
Havia uma conexão estranha entre ambos, algo que nenhum dos dois sabia explicar exatamente o que era. Harrisson abaixou o olhar, sentindo-se desconfortável de alguma forma e Alexandra fez o mesmo, por causa do sentimento de vulnerabilidade que tinha perto do misterioso homem.
— Tenho uma boa e má notícia, senhor Patel.
— Sim?
— A boa notícia é que seus pais enviaram um advogado para você, então não precisará falar nada agora. — ele esperou Garrett soltar um suspiro de alívio para prosseguir. — A má notícia é que seu DNA está no corpo da vítima.
O rosto de Garrett tornou-se tão pálido quanto a luz sobre os indivíduos ali presentes. Após guiarem o suspeito para a cela, onde aguardaria a chegada do advogado, Anthony chama Alexandra e Harrisson – esse último à contragosto – para seu escritório.
— Nunca estivemos tão perto de pegar o assassino! Na verdade, ele está diante dos nossos olhos.
— Talvez não seja o Garrett Patel. — dizia Alexandra. — Ainda é cedo para tirar conclusões precipitadas.
— Você está certa, vamos continuar cautelosos nessa investigação, mas falta pouco para conseguir incriminá-lo. Afinal, a justiça precisa ser feita por essa criança.
Alexandra optou por ficar em silêncio, como na maioria das vezes em que não concordava com algo e reconhecia a ineficácia de uma discussão. Quando entrou na sua própria sala, acompanhada do rapaz de olhos azuis, desabou na cadeira fitando os papéis em cima da mesa.
— Você não acha que foi ele, não é?
Harrisson sentava-se frente à frente com a mulher, olhando-a curioso com sua resposta.
— É só intuição, esquece.
— Você salvou uma inocente com base na sua intuição, lembra-se?
Referia-se ao último caso: Isabela Williams.
— A intuição pode falhar e eu sou a detetive, devo seguir a lógica.
— Não conheço ninguém que siga 100% a lógica. Olhe para o delegado Roberts, ele é objetivo com as provas mas muito sentimentalista com esse caso. É um homem contraditório e, mesmo assim, quer acreditar em sua dedução.
Ela o encarou levemente surpresa, admirando todo o seu "fervor" com esse caso. Alexandra pensava que ele iria recuar na primeira dificuldade, mas Harrisson mostrava-se mais animado do que a própria equipe. De forma involuntária, um sorriso surgiu em seus lábios e a mulher inclinou seu corpo sobre a mesa. Ele imitou seu movimento, ficando com o rosto próximo ao dela.
— Eu vou encontrar a solução para o caso.
— Você quis dizer "nós", detetive.
— Que seja. Vamos fazer uma investigação secundária em busca de outro suspeito.
— Isso!
No momento em que Alexandra pega o sobretudo, Diana aparece na porta e encara os dois desconfiada. Era estranho ver a detetive com alguém por mais do que dez minutos, já que ela adquiriu a fama de "loba solitária" na delegacia.
— O que houve, Diana?
— Eu descobri algo na perícia, pensei em contar ao delegado primeiro mas quero que você saiba.
— Pode me contar.
Ela olha Harrisson receosa mas Alexandra acena positivamente com a cabeça, um sinal de que podia contar na frente dele.
— Vocês dois precisam ir comigo ao necrotério.
Eles se entreolham confusos e seguem a perita até o andar no subsolo, onde adentram na sala gélida usada para analisar os corpos. Diana puxava o fino tecido branco até a altura dos ombros do cadáver, expondo a criança de cabelos desgrenhados e pele cinzenta. Os lábios roxos e as marcas em seu pescoço evidentes.
— Morte por asfixia, acabei de confirmar mas...
— Mas?
— Olhem isso.
Ao puxar um pouco o pano para o lado, mostrava o fino braço da menina junto e em sua pele havia a marca de duas presas. Naquele momento, o sangue de Alexandra gelou e ela apoia-se em Harrisson fitando a cena pensativa.
Vampiros?
"Aguardo vocês para mais um belo pesadelo."
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