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Capítulo IX

"O mal só entra através do mal que você cultiva. O bem também."

- Luiz Gasparetto



Os olhos azuis de Harrisson analisavam sua parceira de trabalho, os cotovelos dele apoiados na mesa e as mãos abaixo do rosto. Alexandra terminava o relatório de um inquérito sentindo-se incomodada com tanta atenção. Às vezes, encarava o empresário de forma nada amigável para intimidá-lo, mas ele fazia pouco caso da ameaça silenciosa.

— Certo. — dizia impaciente parando de digitar. — O que você quer?

— Eu quero aprender mais sobre você.

— Encarando-me como um idiota?

— É assim que parece? — pergunta surpreso. — Eu pensei ter ativado o modo sedutor.

Ela revira os olhos, ajeitando-se na sua cadeira e voltando a digitar.

— Procure algo para fazer, Harrisson.

— Não há nenhum caso, que chato.

— A delegacia não se resume a um homicídio novo a todo dia.

— Mas seria divertido.

— Ver pessoas mortas? — questiona arqueando a sobrancelha. — Você é estranho.

— Prefiro o termo excêntrico.

— E, ainda assim, estranho combina mais com você.

Harrisson resmungava baixinho, pensando voltar para a empresa até ter uma ideia. Então, de forma rápida ficava de pé e segurava a mão da detetive, puxando-a para sair da sua cadeira.

— Mas o que diabos...

O homem sentava-se na cadeira dela e, ainda segurando seu pulso, a trazia delicadamente para o seu colo. Instantaneamente, o rosto de Alexandra ficou em um tom rosado e ela o encarou incrédula.

— Você está maluco, por acaso?!

— Assim eu posso ver o que você está fazendo e não te atrapalho.

— Aconselho sair dessa cadeira se não quiser ficar sem dentes. — dizia tentando sair do seu colo mas ele a apertava firmemente, envolvendo um braço entorno da cintura dela. — Sério! Eu vou quebrar a sua cara se ous-...

A porta era aberta e o delegado entrava na sala com outro inquérito em mãos. Ele cumprimentava alegremente, erguendo o olhar e o seu sorriso some dando espaço para uma expressão de espanto.

— Eu não quis atrapalhar nada e...

— Não há o que atrapalhar! — exclama Alexandra ficando de pé e chutando a barriga de Harrisson. Automaticamente, ele era jogado para trás junto a cadeira e depois ficava girando sentado. — Um caso novo?

Enquanto o empresário girava na cadeira rotatória, a detetive apoiava-se na mesa analisando o novo inquérito entregue. Anthony olhava o homem na sala com completa apatia, aproximando-se mais de Alexandra como uma forma de "demarcar território". Quando ela erguia o olhar, encontrava-se cara à cara com o delegado e engolia seco. Ele sorriu fraco voltando à postura de antes.

— Então, o que você acha?

Ela demora alguns segundos para recobrar os sentidos.

— Há um maníaco na cidade.

— É o que eu suspeitava, nunca vi tantas mortes assim.

— Maníaco? Mortes? — questiona Harrisson parando de girar e erguendo-se da cadeira. — Como assim?

— Nós recebemos uma ligação dizendo que havia ocorrido um massacre na igreja.

— Na igreja?

— Sim, então a nossa equipe foi primeiro e acabaram de reportar que há 33 mortos.

— 33 mortos? — volta a perguntar o empresário.

— Sim. — responde Anthony impaciente. — Todos degolados de forma cruel e...

— Degolados?

— Senhor Thomas, se você perguntar novamente eu mesmo irei te degolar.

Alexandra continha uma risada tentando permanecer com o semblante sério.

— Então, Anthony, encontraram um suspeito?

— Não só o encontramos, como temos 99% de certeza de que ele é o culpado.

— Por que?

— Nós o encontramos chorando dentro da igreja com o corpo coberto por sangue e as digitais deles estavam presentes na arma do crime, uma faca de cozinha.

Estranhamente, a detetive sentia um calafrio percorrer o corpo mas guardou para si a sensação.

— É melhor ir logo, eu nunca vi algo assim na vida e devo admitir que estou curiosa.

Os três dirigiram-se para a pequena capela afastada da cidade, onde enfrentaram uma multidão de curiosos. Por sorte, a polícia serviu como uma barreira humana impedindo que curiosos vissem a cena arrepiante no interior do local sagrado. Alexandra foi a primeira a entrar, sentindo um calafrio pelo corpo com aquela cena.

Havia pessoas mortas nos bancos e o caminho do altar foi delineado por um rastro vermelho de sangue. No grande crucifixo, o pároco estava preso em uma representação profana de Jesus Cristo. Uma parte das vítimas estava sem os olhos, as larvas saíam das cavidades oculares vazias; outra parte com pedaços da pele rasgada. Em alguns cantos da igreja, membros humanos estavam espalhados.

O silêncio assustador foi interrompido por um grito exagerado de Anthony. O delegado não conseguiu passar cinco segundos fitando o cenário, pois já saiu dali para tomar um ar ou vomitaria na própria cena do crime. Harrisson não esboçou nada mais do que uma expressão preocupada, puxando a detetive pelo braço até estar com as costas coladas ao seu peitoral.

— O que é dessa vez, Harrisson?

— Não pode pegar outro caso, detetive?

— Ora, por que? Não me diga que está com medinho como o Anthony?!

— Longe disso. — olhava para os lados desconfiado. — Eu só não gosto da energia desse local.

Alexandra o encarou de canto, deduzindo que realmente Harrisson fosse um vampiro porque lembrou do comentário de Natália sobre a aversão dessas criaturas com objetos sagrados. Mas ele está dentro da igreja, o que descarta essa possiblidade.

— Como assim?

— Eu acho que ele quis se referir ao ato cometido nesse local. — a perita comenta após sair da pequena cabine da sacristia e caminhar em direção aos dois. — Olá!

— Olá, Diana. — cumprimenta a detetive sorrindo e o empresário acena com a cabeça para a morena. — O que temos aqui?

— Todos foram degolados com essa arma encontrada dentro da sacristia. — dizia erguendo a faca dentro do coletor de provas. — Onde também a polícia encontrou o suspeito assassino e depois o levaram para o interrogatório. Com base na minha análise superficial, essa única faca foi capaz de causar esse caos aqui. — simbolizava com o dedo toda a igreja. — A hora da morte dessas pessoas ocorreu entre às oito e onze da manhã.

Alexandra conferia em seu relógio que marcava quase três da tarde.

— Não tem muito tempo.

— Não mesmo, o que me surpreende é que o assassino teria tempo o suficiente para fugir.

— Mas optou por ficar.

— Não optou, ele não conseguiu sair. — Anthony dizia aparecendo entre as mulheres como um vulto. Ele parecia mais controlado do que há minutos atrás. — A nossa polícia o encontrou dentro da sacristia segurando a arma do crime e chorando, dizendo que não havia sido ele.

— Há alguma prova que o incrimine fora a cena do crime, é claro?

— Um dos policiais conseguiu essa filmagem da câmera de segurança da loja de conveniências do outro lado da rua. — comenta mostrando o celular para Diana e Alexandra. Mesmo à contragosto do dono do aparelho, Harrisson observava a imagem aproximando-se da detetive. — Vejam...

Na filmagem, um homem de calça jeans e camisa xadrez azul com branca aparecida, andando de forma rígida até adentrar na igreja. Além dessa característica peculiar, outro fator que chamou a atenção foi a faca em suas mãos. Minutos depois, era perceptível pela filmagem as portas do local tentarem ser abertas mas, por estarem trancadas, apenas se moviam freneticamente.

— Ele não está andando meio como um robô? — dizia Harrisson diante do longo silêncio dos demais. — Isso é uma prova de que não está agindo por vontade própria.

— De fato, esse padrão é sinal de algum bloqueio cerebral. — deduz Diana. — Eu pedi para meu assistente se responsabilizar com os exames no suspeito, assim poderemos identificar alguma anomalia cerebral ou uso de remédios psicoativos.

— Se ele for esquizofrênico, isso nos poupa uma boa parte da investigação. — comenta Anthony. — Afinal, esses malucos sempre agem sem motivo algum.

Harrisson engolia seco, abaixando o olhar para Alexandra que parecia indiferente ao caso, mesmo quando a palavra "esquizofrênica" remetia à lembranças nada agradáveis. De qualquer forma, ela agia com extrema indiferença. O empresário sabia que a mulher escondia, dentro de uma casca dura de frieza, seu lado frágil e sentimental. Sem ao menos entender o porquê, ele queria se aproximar desse lado oculto dela.

— Mais alguma pista?

— Sim, Alexandra. Alguns corpos possuem letras gravadas, já encaminhei as fotos para o laboratório para examiná-las depois.

— Muito curioso. Isso significa que o assassino não é o homem capturado.

— Por que? — questiona Anthony confuso.

— Se há algo gravado nesses corpos é porque o assassino quis deixar uma mensagem, quem deixaria uma mensagem quando se pode ser capturado tão facilmente?

— Então, o rapaz que capturamos é apenas uma distração?

— Sim. De qualquer forma, devemos interrogá-lo e depois analisar as provas coletadas por Diana.

O empresário permanecia em silêncio, observando a cena de puro caos e puxando Alexandra para fora da igreja o mais rápido possível. Mesmo sob os protestos, ele somente soltou a mão da mulher quando estavam longo daquele local manchado por sangue e dor.

xxx

Após a colheita dos dados pessoais, Jefferson Davis batia inquieto o pé no chão enquanto as algemas machucavam suas mãos. A forte luz da sala de interrogatório o incomodava através das lentes espessas dos óculos. O rosto marcado por algumas sardas e o cabelo preto levemente encaracolado. Ele ainda estava com a roupa do crime, por isso a sua camisa xadrez possuía sangue por toda a parte.

Os olhos inquisitivos de Alexandra o fizeram se encolher na cadeira. Diante do clima tenso, o delegado decide se pronunciar:

— Senhor Davis, relate sobre os acontecimentos.

— Eu não sei.

— Como assim "não sabe"?

— Eu lembro de estar terminando o meu trabalho, mas alguém segurou meu ombro antes de sair e depois...

— Depois?

— Não lembro de nada.

— Não vai me dizer que teve uma crise de amnésia de quase doze horas? — questiona Anthony impaciente.

— Mas é verdade! Eu...

— Você tem feito algo errado ultimamente? — pergunta Harrisson ao se aproximar da mesa. — Você bebe muito?

— Só refrigerante, senhor.

— Já frequentou alguma boate de stripper's?

Alexandra e Anthony se entreolham confusos com as perguntas do rapaz.

— N-Não, mas o que...

— Já desistiu de viver?

— Não!

— Você é casado? Namora?

— Nada disso, senhor. — Jefferson engolia seco, recuando a cabeça quando Harrisson aproxima o rosto para fitá-lo melhor. — S-Senhor?

— Você se masturba com que frequência?

— Chega, senhor Thomas! — exclama Anthony batendo na mesa. — Eu exijo respeito nesse interrogatório. Esse é um procedimento solene no inquérito e não permito uma "baixaria" dessas aqui.

— Não é nenhuma baixaria, isso é um procedimento necessário para saber a pureza da alma dele.

— Da minha alma?

— Você só pode estar louco! — grita o delegado. — Eu quero que saía dessa sala, agora!

— Eu não posso. — cruza os braços o encarando desafiadoramente. — Uma pessoa normal não faria isso, esse homem está possuído! Nós precisamos extrair o mal da sua alma.

— Por favor, eu aceito ir pra cadeia, não sejam tão radicais.

— Você andou vendo filmes de terror demais, senhor Thomas. Daqui à pouco vai querer chamar um exorcista.

— Ótima ideia, delegado! É a primeira vez que te vejo raciocinar corretamente. — Harrisson diz animado, puxando o celular do bolso e discando o número de um velho amigo. — Alô? Há quanto tempo, padre! Eu preciso de um favorzinho seu.

— O que?! Você não vai exorcizar o suspeito em pleno interrogatório!

— Sim, sim. É um caso de demônio nível A. — o empresário continua a falar ao telefone ignorando o delegado. — Em meia hora? Perfeito!

Alexandra puxa Anthony pelo braço antes que ele avance contra Harrisson, a fim de iniciar uma briga física ali mesmo.

— Anthony, acalma-se. O Harrisson tem um jeito "excêntrico" de resolver os casos, mas precisa confiar nele.

— Ele acabou de chamar um padre para ajudar um psicopata que matou fiéis em plena igreja, Alexandra! Isso é o cúmulo!

— Eu aconselho tomar um pouco de água e, quando estiver mais calmo, retomaremos o inquérito.

— E o senhor Davis?

— Eu ficarei aqui com ele, tentando acalmá-lo o suficiente para contar toda a verdade para a gente.

— Certo!

Antes do delegado sair, ele lançava um olhar mortal para o outro homem e fechava a porta com força. Após longos segundos de silêncio, Alexandra vira-se para Harrisson com as mãos na cintura.

— Demônios? Exorcismo? Purificar a alma? Harrisson, o trabalho de todos aqui é sério, ninguém tem tempo para suas brincadeirinhas com o misticismo.

— Olha, no nosso último caso você duvidou de um vampiro e agora quer fingir ser cética? Não me diga que só porque é um demônio?

— E qual seria o meu problema pessoal com isso?

— Porque à partir do momento em que você acreditar que há o mal, automaticamente aceitará a energia do bem, ou seja, Deus.

O corpo de Alexandra se retraí massageando as têmporas e voltando a se sentar na cadeira. Seus olhos focam-se em um ponto qualquer, pensando nas palavras do empresário. De fato, ele estava certo. Para a detetive, era mais doloroso acreditar em algo divino do que profano. Afinal, quando morresse, Deus rejeitaria a sua alma de acordo com os ensinamentos do convento.

— Detetive, eu sei que parece loucura tudo o que estou fazendo. — ele dizia sentando-se ao seu lado, segurando firme a mão dela conseguindo ser o foco da sua atenção. — Mas acredite em mim, uma única vez. Se eu falhar, nunca mais piso na delegacia.

— Isso não é momento para promessas, Harrisson.

Ela tentava puxar a mão de volta mas o rapaz a impedia, depositando um breve beijo na palma da sua mão a encarando intensamente.

— Eu sou um homem de promessas.

Alexandra olhou no fundo dos seus olhos, retribuindo por uma fração de segundos o aperto de mão até voltar à postura anterior.

— Você tem cinco minutos para interrogá-lo antes que o delegado volte. — dizia apontando para a câmera no canto da sala. — A luz está vermelha, então a equipe desligou. Ninguém pode ver ou ouvir o que fazemos aqui, seja breve.

— Obrigado! — sorria abertamente, virando-se para Jefferson Davis que ainda os encarava confuso. — Frequenta a igreja?

— A última vez que frequentei foi no casamento de uma amiga.

— Quanto tempo?

— Uns doze anos.

— Não é um homem temente à Deus?

— Bem, eu já frequentei a igreja quando era criança mas aquelas coisas eram chatas demais para mim. — acomodava-se melhor na cadeira apesar de estar algemado. — Então, preferi gastar meu tempo estudando e consegui me tornar funcionário da melhor corretora de imóveis da região.

— Parabéns. — Alexandra dizia ironicamente. — E agora está prestes a ser a namoradinha de duzentos detentos.

Ele trava abaixando o olhar nervoso.

— Você cometeu algum pecado capital?

— Não sei onde quer chegar, Harrisson.

— Seja paciente, Alexandra.

— Pelo pouco que sei sobre pecados capitais... — murmura Jefferson pensativo. — Desviar o dinheiro da empresa é um pecado?

Os outros dois se entreolham como se obtivessem a resposta e dizem em uníssono:

— O pecado da ganância.

— Fodeu. Eu não sabia, eu juro.

— Conte-me mais essa história.

— De jeito nenhum! Estão aqui para investigar o massacre, algo que não sei como aconteceu, então não devem se envolver em nada mais.

— Olha, você precisa contribuir se quiser...

A fala de Alexandra é interrompida por um longo suspiro de Harrisson. Ele apoiava a mão na nuca de Jefferson, batendo com força a testa do suspeito contra a mesa de aço. O estrondo fez todas as estruturas do objeto tremerem junto com um grito de dor. Quando o alvo ergue a cabeça, havia sangue escorrendo pelo seu nariz e um dente quebrado. A detetive exclama surpresa, optando por ficar em silêncio.

— A detetive fez uma pergunta. — Harrisson dizia abrindo um sorriso amigável. — Seria uma falta de educação não respondê-la.

— C-Certo, d-desculpa. — engolia seco com medo. — O antigo dono da empresa saiu por minha causa. Eu odiei com todas as minhas forças o fato de ter ralado demais na vida para não ganhar nem metade do que o desgraçado. Então, comecei a desviar o dinheiro da empresa e, certo dia, eles descobriram.

— Você foi pego?

— Não, eles desconfiaram do dono porque fiz as transações em sua conta. O que posso fazer? Sou o melhor hacker de todos. — dava nos ombros. — Mas eu juro que parei de fazer isso com a chegada do novo diretor, esse cara me dá calafrios.

— O pecado da ganância é capaz de corromper a alma de qualquer um. — murmura Harrisson pensativo. — Um demônio pode ter te possuído para cometer essa atrocidade.

— Que diabos é isso?

— "Diabos" não, diabo especificamente.

Quanto mais Jefferson ouvia a conversa, mais confuso ficava. Nesse momento, Anthony voltava à sala e as câmeras eram ligadas. Então, Harrisson saía sem antes lançar um olhar para a detetive. Ela entendeu que ele pediu sigilo sobre a conversa, o que não era muito difícil levando-se em conta a banalidade do assunto.

— Quem bateu no meu interrogado?! — exclama Anthony. — Harrisson Thomas, seu filho da...!

xxx

De forma a não levantar suspeitas, Harrisson trouxe o padre para dentro da cela onde se encontravam outros presos provisórios. Alexandra acompanhou tudo com uma mão apoiada sobre a arma, caso fosse necessário. Como não podiam chamar atenção, o ritual de exorcismo teve que ser feito entre os demais. As mãos de Jefferson foram acorrentadas mais uma vez enquanto a detetive o colocou de joelhos, segurando firmemente seus ombros.

O suspeito alternava o olhar entre o padre e o empresário, tentando entender o porquê daquilo. Os outros presos, mesmo com a aparência de brutamontes, estavam agarrados uns aos outros no cantinho da cela, temendo o que poderia vir à seguir.

Infelizmente ou felizmente, nada aconteceu exceto por um surto de vômitos por parte de Jefferson, além de uma leve falta de ar. Os policiais de plantão apareceram desesperados, levando-o para a enfermaria. Enquanto isso, o padre saía da cela retirando a batina.

O homem de cinquenta e cinco anos coçava a barba rala e branca. Seus olhos castanhos focaram em seu velho amigo, Harrisson, e esboçou uma singelo sorriso.

— Ele está limpo. Pelo menos, cem por cento limpo depois da minha oração.

— Espera, um demônio realmente entrou no corpo dele? — questiona Alexandra incrédula. — Isso é impossível...

— Só é impossível para quem não crê, minha filha. Esse homem se perdeu nas tentações mundanas, uma alma fácil para a possessão.

— Que loucura...

— A última lembrança dele foi na própria empresa quando alguém o tocou.

— Uma possessão através do simples toque, Harrisson? — o padre demonstra medo em sua voz. — Só há um demônio capaz de fazer isso.

— Droga!

— Vocês dois estão loucos. — dizia a detetive. — Ele deve ter tido algum surto, os exames psicológicos indicarão isso.

— Se continuar descrente assim, minha jovem, irá trilhar o caminho mais doloroso.

— E o que o senhor espera, padre? Que eu acredite em seres voadores que saem do inferno para sugar a alma humana?

— Nós tendemos a fechar nossos olhos para o oculto, porque é mais fácil viver com a ideia de que estamos bem do que com o iminente caos.

— Caos?

— Se quem eu estou pensando possuiu esse homem, nada de bom virá daqui para frente.

— E quem seria?

— Não irá acreditar em mim. — o senhor dizia colocando seu chapéu preto. — Tomem cuidado, será uma guerra e tanto.

Harrisson acenava para o velho amigo até ser interrompido por alguém esbarrando em seu corpo. Institivamente, ele a segurava pela cintura e ficava surpreso ao ver que se tratava de Diana. A mulher ajeitava o cabelo levemente corada e voltava-se para a detetive quando o homem solta sua cintura.

— Eu estou tentando formular alguma palavra ou frase com as letras nos corpos das vítimas, mas creio que não seja inglês.

— Já tentou latim? — pergunta Harrisson.

— Latim?

— Sim, é a língua dos demônios.

Ela solta uma alta risada que some após ver o semblante sério dos dois. Então, um calafrio percorre seu corpo e a jovem aponta para a sua sala.

— Acho melhor você analisar, pelo visto.

— Tudo bem.

Os três seguem para o laboratório onde Diana fazia suas pesquisas. As paredes eram de vidro e havia vários compartimentos com substâncias químicas ou algumas pistas deterioráveis. No centro, uma mesa destacava-se por causa do seu intenso brilho branco na superfície. Em cima, havia as fotos dos corpos das vítimas. Harrisson queria admirar mais aquele ambiente mágico, segundo sua concepção, mas precisou focar em desvendar o enigma. Enquanto isso, ela e Alexandra conversavam.

— Que história é essa de língua dos demônios?

— O Harrisson está tendo alguns devaneios, mas é coisa dele. Não se preocupe.

— O Anthony já lidou com um devaneio dele?

A detetive contém a risada ao lembrar da cena do inquérito.

— Digamos que sim.

— Ah, não! — exclama Harrisson apoiando ambas as mãos na cintura. — Tudo menos isso...

— O que? — questiona Alexandra aproximando-se do anagrama completo. — Ordo ab chao. O que é isso?

— "A ordem vinda do caos."

— É um lema comum entre sociedades secretas, não é?

— Sim, Diana. Os humanos copiaram de uma das raças mais antigas do mundo.

— Hã? Como assim?

Porém, os questionamentos da perita não foram capazes de atravessar os ouvidos de Harrisson. Ele não parava de pensar em como seria difícil proteger Londres e, principalmente, a detetive quando a Ordem da Lua Negra acabara de decretar a sua estadia no mundo dos humanos. 

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