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Capítulo 14 | À procura de Airyn

No início, Nímie havia tentado convencer a si mesma de que não havia nenhum problema. Era apenas lógico. Por que Airyn desapareceria? Que motivos teria para desaparecer? Desde que entrara em sua vida, há três anos, sempre a tinha ao seu lado, zumbindo irritante como um cúlico perdido, perturbando a sua paz. Isso havia mudado um pouco desde o início do aprendizado das duas, mas ainda assim não passava um dia sem que deixassem de se ver. Afinal, eram colegas de quarto.

Já faziam três dias, mas qual era o problema? Aquela desenraizada devia estar por aí, em algum lugar. Fazendo sabe-se lá o que, mas devia estar. Voltaria, uma hora ou outra.

Quem parecia achar que havia de fato um problema era a diretora Lugh. Na parte do tempo que passava no orfanato, Nímie a via vagando pelos corredores, aflita, conversando com os monitores ou com agentes da Guarda Distrital que chamava para agilizar a investigação. Até deixara de manter a própria sala impecavelmente limpa e organizada: numa tarde a garota entrou, e tomou um susto ao se perceber no meio de pilhas de papéis, poeira e cacos de cerâmica (as xícaras haviam sido vítimas) ao longo do carpete.

No quarto dia, Nímie começou a achar que talvez a situação não fosse tão simples como imaginava.

– Deixe-me ver se entendi – disse o jovem agente da Guarda Distrital, observando-a com seriedade. – No dia do desaparecimento, a senhorita a viu apenas pela manhã, como de costume, e então não tornou a vê-la no resto do dia. Findado o seu turno de trabalho, retornou não ao orfanato, mas à Casa Anelar D13. Posso saber o motivo disso? – Naquela manhã, enquanto se arrumava para sair de encontro à sra. Vinders, a garota viu-se surpreendida pela entrada abrupta de Firth ao seu quarto, acompanhada de dois estranhos. Agentes da Guarda, pelos uniformes azuis e brancos. Sem parecer se importar com o seu desconforto evidente, eles haviam começado a fazer perguntas.

– Eu tenho amigos lá, senhor – respondeu Nímie, com naturalidade.

– Amigos? – O agente pareceu confuso durante um segundo, como se ponderasse o motivo de uma garota de quinze anos frequentar uma casa anelar, mas disfarçou bem. – Certo... – Pigarreou. – Bem... Após isso, a senhorita voltou para cá, no que a outra senhorita em questão não se encontrava. Com que frequência isso ocorre? Quero dizer, esses desencontros.

– Nunca. Airyn sempre está aqui, quando chego.

O agente se voltou para sussurrar algo ao seu parceiro, que apenas assentiu. Nímie só podia imaginar sobre o que estavam falando.

– Certo, certo – retomou o jovem agente, em seguida. – A senhora Lugh, por acaso, revelou-me acerca da existência de algumas cartas, que podem ou não estar envolvidas no caso. A senhorita poderia nos mostrá-las?

Nímie passou do desconcerto à indignação em uma fração de segundo. Talvez houvesse mesmo um problema, e talvez Airyn estivesse mesmo desaparecida, mas as cartas eram privadas. É claro que não podia mostrá-las a dois completos desconhecidos!

Antes que desse uma resposta deselegante, ouviu Firth comentar:

– Senhores, queiram me perdoar, mas acredito que não haja qualquer correlação entre as duas coisas. As cartas são meramente líricas; não há nelas qualquer fato concreto, qualquer vestígio que possa levar à resolução dos mistérios. Digo isso porque as li.

– Ainda assim, senhorita, o procedimento...

– Acreditem no que digo – constatou Firth, com firmeza –, se houvesse nessas cartas qualquer pista, se eu acreditasse que ao mostrá-las estaria ajudando com a investigação, não hesitaria em fazê-lo. Mas não há nada. Fui obrigada a lê-las, relê-las, muitas vezes nas últimas semanas. São apenas cartas de amor. Não desejam invadir a privacidade de uma mulher, desejam?

Os dois agentes não pareceram muito felizes com a resposta, mas não insistiram. Quando saíram, dizendo que talvez voltassem num outro momento para completar o questionário, Nímie permaneceu sentada à beira da cama. No exato estado em que havia sido interrompida pela chegada deles: à exceção das meias e do laço no nó da blusa, quase pronta para sair. Permaneceu sentada, sabendo que Firth a estava observando, mas sem vontade de retribuir o olhar. Não parecia haver nada adequado para dizer.

Foi pelo ruído da porta abrindo, algum tempo depois, que a garota soube que a monitora estava de saída.

– Você deveria agradecer um pouco, às vezes – ouviu-a comentar, num tom consternado. – De qualquer forma, precisamos conversar mais tarde. Apenas nós duas.

A porta se fechou em seguida.


Durante aquele dia, Nímie não viu surgir nenhuma vontade de conversar com Firth. Na verdade, de conversar com qualquer um. Somada à confusão e impotência dos últimos acontecimentos, estava a cidade: Desterro e os outros distritos adjacentes borbulhavam de agitação política; nas esquinas, ouviam-se oradores cisionistas ou Laranjas declamando suas respectivas ideologias. Anunciando uma era de mudança. Exigindo um segundo Concílio Aberto.

O mais provável é que o resto de Kalori também estivesse assim.

A sra. Vinders também não pareceu se esforçar muito em fazê-la falar. A garota a agradeceu por isso. Não havia nada para falar, afinal. A questão da diretora com as cartas vinha se tornando uma irritação constante nas últimas semanas, mas esse incidente de quatro dias atrás havia sido dos mais inesperados. Nímie não sabia exatamente o que fazer, e algo lhe dizia que ninguém mais sabia. As crianças do orfanato pareciam desanimadas. A diretora dizia que a Guarda a encontraria, mas parecia mais estar tentando convencer a si mesma, percebia a garota. Por que ela própria se importava tanto com uma colega de quarto?

Numa manhã, uma menina de ar ingênuo havia chegado ao Orfanato Público nº21. Nímie lembrava daquele evento com o incômodo de ser acordada por Firth e por outra monitora, avisando-lhe que teria que dividir o quarto de agora em diante. Nímie, que à época ainda carregava frescas as lembranças dos olhares tortos do ex-diretor, dos adultos que vinham para potencialmente adotar uma criança, não estava com muito ânimo de conhecer novas pessoas. Apesar daquela menina parecer inofensiva.

– A senhora Lu disse que... Disse que o seu nome é Nímie. É verdade?

– É Lugh.

– Seu nome é Lugh? – A outra parecera surpresa.

– O nome da velha é Lugh, não "Lu" – corrigiu Nímie, sem se voltar para ela. – Nímie é o meu nome, sim.

Depois de voltarem dos canais de lavagem, com as outras crianças, Airyn havia sentado ao seu lado no refeitório. Nímie respondera com um olhar de repreensão.

– Agora vai ficar me seguindo?

– Por que você sempre anda sozinha? – perguntara a outra.

– Não é da sua conta.

Depois, nos canteiros floridos do pátio interior, Airyn comentara:

– Seu cabelo assim... Eu queria ter um cabelo igual ao seu. É bonito.

Agora que pensava, Airyn nunca tivera culpa dos seus pais terem morrido. De ter sido levada à força de casa, levada a um orfanato. De ter sofrido nas mãos de um diretor sádico. De ter perdido seus únicos dois amigos. Não podia culpá-la por nada disso. Podia, sim, culpar a si mesma por ser rude com ela e tratá-la um pouco mal às vezes, quando não merecia nada disso. Airyn sempre havia sido uma companhia alegre e radiante, ainda que um tanto avoada. Mas talvez até ela tivesse se cansado de ser desdenhada.

O peso da culpa era uma pedra fria no seu estômago.

Era por isso que Nímie não tinha vontade de conversar com Firth, ou com ninguém mais. Se Airyn tivesse fugido por sua causa, seria mais do que conseguiria suportar. Se tivesse fugido, e algo de ruim tivesse acontecido a ela por causa disso, então, então...

Ainda que não quisesse conversar com a monitora, não se importou tanto em encontrá-la no seu quarto ao final da tarde, logo que voltou para casa.

– Achei que fosse visitar os seus amigos lenkinistas antes de vir.

Nímie passou ao lado dela. Parou à frente do armário, abriu uma das gavetas e tirou uma toalha.

– Volte depois de se lavar – disse Firth, sentada numa cadeira ao lado da janela. – Falo sério quando digo que temos que conversar – O rosto dela, os olhos azuis pragmáticos por baixo de finas sobrancelhas loiro-avermelhadas, parecia mais abatido do que o usual.

A garota suspirou. Ao voltar do canal de lavagem, já usando as roupas genéricas do orfanato, encontrou a monitora na mesma cadeira, bebericando uma xícara de chá. De pernas cruzadas, tinha os olhos voltados para algum lugar no infinito. Na janela atrás dela, o sol da tarde parecia ter ficado um pouco mais alaranjado. Talvez. Com os óculos escuros, não se podia ter muita certeza dessas irrelevantes variações.

A garota sentou na cama.

– Já faz algum tempo, não é? – comentou Firth, com ar pensativo. – Nesses anos, acredito que não tenhamos tido muitas chances para conversar sobre os nossos problemas.

– É sério que você me chamou para falar sobre os meus problemas?

Nossos problemas – pontuou a monitora. – Vamos, fale a verdade para mim. Há quanto tempo nos conhecemos, Hom Tem zo Nímie? Mesmo depois de tudo, ainda acha que eu sou sua inimiga?

Nímie desviou o olhar, resmungando qualquer coisa.

– Seria prepotência da minha parte dizer que a conheço, Ním – Firth deu de ombros. – Mas isso vale para qualquer um. Quem é capaz de conhecer totalmente outra pessoa? Arrisco dizer que ninguém. Ainda assim, se há algo que posso dizer a seu respeito, é que Airyn é alguém importante para você.

– Ela é só minha colega de quarto – mentiu Nímie.

– Você não engana nem a si mesma dizendo isso – A garota a encarou com indignação. – Pode me olhar assim o quanto quiser, mas não muda o fato. O fato é que Airyn está desaparecida. E que você se importa com ela a ponto de se preocupar. Nós nos importamos. E é o natural.

– Não faz sentido ela só ter sumido de repente...

– Talvez não faça.

– Por quê? Como? – murmurou a garota, confusa. – Já são quatro dias. O que vocês descobriram em quatro dias? Estou cansada de ver esse pessoal da Guarda entrando e saindo, sem trazer nenhuma resposta. Eles me irritam. Eles me irritam porque não trazem nenhuma resposta. Como pode alguém sumir assim, do nada? – Agora que aceitara a complexidade da situação, não conseguia acreditar no que havia acontecido. Era absurdo. Devia haver uma pista, um sinal. Era apenas lógico. Pensando bem, Airyn não era do tipo que simplesmente fugiria por um capricho qualquer. Algo de anormal devia ter acontecido. Talvez fosse algo ruim, e haviam mil coisas ruins que poderiam ter acontecido. Não queria pensar em nenhuma delas.

– Ceanna diz que estou me preocupando à toa – confessou Firth. – Que a menina logo será encontrada pela Guarda, e trazida de volta. No fundo, ela diz isso para convencer a si mesma, você deve ter notado.

– O que podemos fazer?

Ouviu-se o tinir da xícara largada de repente no umbral da janela. Nímie viu Firth se levantar, vindo em sua direção com um olhar determinado.

– Você é a nossa esperança – disse a monitora, tocando-lhe o ombro com gentileza. – Diga o que quiser, que Airyn era apenas sua colega de quarto e que você não sabe nada. Mas ela dizia o contrário. Vivia dizendo coisas boas a seu respeito, e sobre o quanto você era uma amiga importante para ela. Deve haver algo que deixamos passar. Talvez você saiba.

Nímie sentiu a garganta apertar. Quis chorar. Queria dizer que não sabia mesmo de nada, que Airyn e ela nunca haviam tido muitas conversas íntimas assim, que ela também estava tão desnorteada quanto todos. Mas, se ela não sabia, quem saberia?

– Talvez... – murmurou, finalmente. De repente, pensou em algo que talvez fosse importante, mas por algum motivo nunca chegara a perguntar diretamente à outra garota. – Airyn não tem família?

– Pelo pouco que sei, a mãe era uma trabalhadora dos hidrotanques, que um dia morreu intoxicada com os gases. O pai não sei o que fazia, mas batia nela com tanta frequência e intensidade que, quando chegou aqui, ela provavelmente tinha mais ossos quebrados do que ossos bons. Demorou um tempo em se recuperar. Você não lembra das faixas?

– Eu lembro – disse a garota, incomodada. À época, havia achado que fosse uma mania dela, que devia gostar de se enfaixar toda. Lembrava de tê-la achado infantil por isso. Agora se arrependia. – Então com a família não...

– Não – negou Firth. Pareceu hesitar um pouco ao perguntar: – Ním, por acaso você poderia me mostrar essas cartas? Airyn havia me falado delas algumas vezes, mas, por mim mesma, nunca cheguei a lê-las. Sempre achei que não fossem mais do que uma brincadeira inocente, e a verdade é que continuo achando. Mas não perdemos nada por investigá-las um pouco.

Nímie sentiu vontade de perguntar por que, então, ela não as mostrara aos agentes de mais cedo, mas ao invés disso guardou silêncio. Ergueu-se para procurar nas gavetas, entre as mudas de roupa limpa. Voltou com um envelope nas mãos.

– Obrigada – agradeceu a monitora, recebendo o envelope.

O sol ia se pondo, no horizonte, muito mais além do marco da janela.


Minha cara,

O tempo é um absurdo lógico, não concorda?

Quanto tempo tem passado... Por quanto tempo anseio a sua companhia...

Não há dia que não pense que, juntos, poderíamos converter este num lugar mais bonito. Um lugar melhor. Para você, para mim, para todos nós. Os seus olhos me cativam, me induzem a pensamentos controversos sobre paixão e loucura.

Não estou mentindo! Desde que a vi, não há dia que não pense quanto regozijo eu não teria por estar ao seu lado!

Ainda assim, dada a situação em que nos encontramos, infelizmente tal fato não se pode concretizar. Isto me deprime. Me deprime muito. Mas, quando alumiar o orvalho um novo dia, quando os ventos da mudança soprarem, então, só então, tenho certeza de que poderemos ficar juntos.

Atenciosamente,

Um coração apaixonado.


Nímie demorou um tempo em perceber que o estremecimento que atravessava o seu corpo eram, na verdade, risadas. Não conseguia parar. Sua barriga havia começado a doer. Qualquer um que a visse, caída para trás no colchão, pensaria que ela estava delirando. Isso, ou uma overdose conjunta de gomabrava e raiz-de-ekghiraal – logo após, desmaiaria num estado de quase-morte. Fazia um bom tempo desde que não ria tanto, e não conseguia parar.

– Ahhh! – gemeu, ao ver que Firth a observava com evidente preocupação. Mas não conseguia mesmo parar. O teto dava voltas. O mundo dava voltas, e era absurdo, e era engraçado. Os chiados da infestação de denteplanadores no teto do quarto eram engraçados.

Firth não disse nada; paciente, manteve-se impassível até que tudo se acalmasse.


– Já está tudo bem agora?

Nímie assentiu, sorvendo um gole do chá que a monitora havia lhe oferecido, assim que as risadas terminaram. Morno, um tanto azedo. A verdade é que agora, de volta ao seu estado natural, a garota se sentia um pouco envergonhada. Um pouco, não muito. A situação toda – agora que lembrava da primeira carta com mais clareza – ainda parecia absurda, mas não a ponto de desencadear dez minutos de risos consecutivos. Ou teriam sido mais? Já não havia sol nenhum no céu.

– Imagino que isso seja um sim – concordou Firth. – Agora, se você não se importa, poderia me explicar o motivo da graça? Veja bem, não é uma reprimenda. Estou sinceramente curiosa.

Nímie se sentiu um pouco mais envergonhada com o pedido, mas explicou. Não era algo inerentemente engraçado, talvez. Poderia até dizer que era um pouco bobo. Mas, ainda assim, era algo.

O mais provável é que o destinatário da carta não fosse especificamente Airyn. Nem que fosse, exatamente, uma carta de amor. Cabia mais considerá-lo um panfleto ruim.

Tudo começara no fim do ano passado. Numa manhã a meados do Dah Colit, Nímie encontrara um envelope misterioso no quarto que dividia com Airyn, logo à entrada. Obviamente, havia sido largado por baixo da porta. Mais tarde, teorizariam ambas que o mais provável era alguém ter pagado um dos monitores para que fizesse isso, já que estranhos não andavam pelo orfanato. No verso, lia-se "à bela senhorita de cabelos ondulados como raízes de Kell Vani". Uma comparação idiota, pensara (ainda pensava), já que não haviam essas plantas em Kalori, de modo que ninguém sabia como eram as raízes dela.

Mas aquela "carta", aquelas palavras floreadas, haviam sido apenas a primeira de uma sequência, que Airyn continuou recebendo nos meses seguintes. Como a própria não sabia ler, Nímie via-se sempre obrigada a isso. Dessa forma, ficava sabendo do conteúdo delas nas suas minúcias. Para ser sincera, pouco mudava entre uma e outra.

O mais preocupante, na verdade, é que não tivesse estranhado o fato do nome de Airyn nunca aparecer diretamente nelas. Quase como se o remetente não a conhecesse. Não, até estranhara: devia ter pensado, no entanto, que um admirador provavelmente não tinha como saber o nome dela, se apenas a via de longe. Talvez. Mas, agora que percebia, as descrições eram muito vagas. A "bela senhorita de cabelos ondulados" podia facilmente se referir a metade da população feminina de Kalori. Agora que percebia, "ventos de mudança" soava muito cisionista.

Era tudo muito engraçado.

– Ah, você acha isso engraçado? – questionou Firth, cruzando os braços. – Eu não acho nada engraçado. Posso achar tudo, menos engraçado. Vocês estavam a um passo de serem envolvidas nessa bagunça!

– Foi muito estúpido da minha parte não ter percebido... – murmurou Nímie, com os restos de um sorriso nos lábios.

– Não seja boba, Ním. Elas claramente não foram elaboradas para que duas jovens de quinze anos anos percebam. É claro que não! E tudo por baixo do meu nariz... – Firth se lamentou. – Agora não me resta escolha a não ser dar razão às palavras de Ceanna.

– Você está exagerando.

– Não estou.

A garota encolheu os ombros, indiferente. No fundo, talvez tivesse sido essa troca de confidências, de segredos compartilhados (das supostas cartas de amor), a origem do seu vínculo com a colega de quarto. Talvez houvesse mesmo um vínculo – talvez –, mas não se podia negar que a situação toda era engraçada por ser absurda.

Nímie queria que Airyn estivesse ali, para rir com ela.

***

O restante da conversa soou mais como um encontro de velhas amigas, do que uma reunião importante.

O que, por si só, era bem estranho. Nímie lembrava de ter conhecido Firth desde que chegara ao orfanato, aos seis anos de idade, mas nunca a considerara uma amiga. A monitora agia mais como uma irmã ou mãe com as crianças, sempre ajudando-as a se vestir, cuidando para que não se machucassem, ou censurando comportamentos errados. Ao menos, também nunca a considerara uma inimiga; diferente dos outros monitores e diretor da época, não era uma sádica que se divertia com os castigos.

Não havia como negar que Firth estava certa. A Guarda Distrital parecia estar disposta a ajudar na procura, é verdade, mas isso provavelmente era temporário. Era apenas uma garota órfã pobre, afinal. Quem se importaria? As tensões estavam crescendo a cada dia, e logo mais não haveriam destacamentos disponíveis para nada que não envolvesse as sessões de Concílio Aberto, a Cisão de Kalori e as reuniões de sindicalistas. Até mesmo os temas das brincadeiras das crianças haviam passado a gravitar em torno disso. "Libertem os líderes, libertem os líderes!", via Wedryn gritar dos canteiros do pátio interior, enquanto balançava um graveto. Os monitores pareciam preocupados.

Sim, provavelmente Firth estava certa. Logo Airyn seria dada como desaparecida, e tudo terminaria assim. Sem resolução nenhuma.

– O melhor para você seria dormir, por agora. É uma situação de urgência, eu sei, mas não conseguiremos resolver nada essa noite. Até amanhã, Nímie.

Pareceu a sugestão mais ilógica possível, dadas as conclusões que haviam chegado previamente. Mas, por algum motivo, Nímie obedeceu. Vestiu o pijama, deitou a cabeça na almofada, e relaxou. O sono não veio. Será que viria? Depois de tudo, sua amiga estava desaparecida. A Guarda não a havia encontrado em quatro dias. O que teria acontecido? Como teria acontecido? Airyn tinha ido trabalhar normalmente naquele dia. Teria sido entre o caminho da clínica clandestina e o Orfanato? Ou ela teria passado por algum outro lugar diferente? Não tinha como saber. Talvez alguém a tivesse visto andando por aí. "Ei, senhor, será que uma menina dessa altura, vestido cinzento, não passou por aqui há quatro dias? Devia ser lá pelo meio da tarde...", poderia perguntar para todos os vizinhos. Mas, se os agentes não conseguiram...

Nímie não dormiu bem naquela noite.

***

– E é isso, desgraçado – resmungava a garota na tarde seguinte, enquanto terminava de explicar toda a situação para Tinn e os outros. Sob o enorme teto do armazém abandonado, pensava em que eles deviam saber mais a respeito desse assunto do que ela. Encontrar coisas/pessoas perdidas; coisas que as pessoas queriam manter escondidas. Ladrões, afinal. Sua vergonha em expor um problema pessoal diante de um bando de moleques era um mal menor.

Tinn ladeou a cabeça.

– Tudo por causa de uns pobres poemas? É muito azar.

– Você me ouviu mesmo? – questionou Nímie, em tom irritado. – Eu disse que as cartas não tem nada a ver...

– Sim. Você disse.

Nímie sentiu-se contrariada, mas se conteve de dar uma resposta grossa. Tinn era assim mesmo; sempre fora, na verdade. Era só que... talvez não estivesse a fim de ouvir as piadas dele, naquele momento. Queria apenas ajuda, simples e direta. O olhar de tantas pessoas em sua direção estava começando a deixá-la nervosa.

– Tudo bem, Ním – disse o jovem ladrão, batendo levemente a ponta do dedo no nariz, depois de intermináveis instantes. – Vamos emprestar as habilidades do bando Lintoy para você. Pode nos usar o quanto for necessário – Nímie sabia que ele estava apenas mantendo a pose de líder, mas estremeceu quando, bem perto dos seus ouvidos, o ouviu dizer: – Obrigado por confiar em mim.

Por algum motivo, os moleques em volta ficaram sorridentes.

– Quando saímos? – perguntou um rapaz alto e magro que usava óculos.

– Quando, Varil? Agora, saímos agora! – Tinn virou-se para alguém na multidão, e perguntou num tom mais ameno: – Pode cuidar das coisas por aqui, Brett?

Ouviu-se um resmungo, no meio da multidão. Nímie saiu em companhia de Tinn, Varil e Célinn, ainda em dúvida do quanto a ajuda deles iria realmente servir.

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