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Não precisara passar muito para que Mize descobrisse que bastava um par de óculos escurecidos para remediar a sua inadequação física ao Du Harimi. Agora, durante o dia, levava-as no rosto aonde quer que fosse.

Uma descoberta imprescindível, já que, com a visão turva pelo desnorteio diurno, via ainda menos do que com o par de lentes.

O que não gostava, por outro lado, eram essas pessoas do Du Harimi. Elas... simplesmente não tinham qualquer vestígio da lealdade e da honra do Código Ni'Dan. Trocavam de mestre como se estivessem trocando de roupa, não se preocupando com nada que não fosse o próprio nariz. Vestiam-se e agiam de forma extravagante, vaidosa, preocupando-se com banalidades ao invés de dar atenção ao que realmente importava. Ainda pior era ter que agir como eles; sorrir para eles.

Se isso levasse ao seu objetivo, todavia, seria um preço pequeno a se pagar.

– Está gostando do chá, senhorita Heyt? – ouviu a voz do anfitrião daquele dia, incômoda e já conhecida, perguntar. – É de uma planta que cresce um terço do ano, nas Grandes Planícies de Bak. Cuidei para que fosse acondicionada, trazida, e...

– Está bastante... agradável, sim – Mize interrompeu-o com sutileza, sorrindo. – Creio ser uma mistura de sabores inegavelmente... efusiva. E o aroma, delicioso – Sentada no terraço envidraçado, ao lado de um seleto grupo de aristocratas e magnatas de Kalori, observava a assembleia popular do Concílio Aberto desde uma posição privilegiada. Atrás de si, ouvia o tinir de xícaras e bandejas dos criados em trânsito.

Era mentira, obviamente. Ela, uma énil, não tinha a capacidade para distinguir as "mil variações de sabor em um cubo de carne com vegetais", nem a "imensa concentração de odores em um centímetro cúbico de ar", como tinham os vanier. Os seus ancestrais não a haviam dotado dessa habilidade.

Uma mentira, porém, que pareceu satisfazer o pomposo anfitrião, que assentiu e foi procurar outras mulheres a quem paparicar.

O notável ruído da multidão reunida nas bancadas do anfiteatro da Praça dos Arcos, muito abaixo do terraço, continuava a chegar aos ouvidos de Mize. Fazia-a imaginar qual o sentido de reunir tantas pessoas assim, se, no Ni Harimi, apenas uma – a Rainha de Todas as Nações – sempre dera conta de todas as decisões e medidas. Conselheiras, funcionárias, sim; mas apenas uma Rainha. Isso fora antes da degradação dela, é claro.

De repente, o grupo de mulheres à sua esquerda irrompeu em risadas.

– ... é porque essa nova criada é uma terba quase pura, sabem? Eles não veem direito – dizia uma delas, fazendo gestos de chacota com os dedos e fechando os olhos. – Então, sabem? Ela apenas disse que não viu o menino.

– E deixou ficar por isso mesmo?

– Meu marido não quis castigá-la. Eu não tive opção...

Ou talvez, pensou Mize, com irritação, o que eu não goste sejam apenas esses tolos vanier.

Tentando ignorá-las, a mulher énil voltou o olhar para baixo. Embora com a Praça dos Arcos mais cheia a cada instante, esse tal Concílio não parecia ter começado. As pessoas que iam chegando – operários, estivadores, lavandeiras e limpadores de ruas, mestiços das três raças do Du Harimi – espremiam-se nas bancadas do anfiteatro, compondo uma massa cada vez maior. Outros, indivíduos do Povo dos Mares, ocupavam anéis mais externos da multidão; suas cabeças, azul-esverdeadas e alaranjadas, reluziam ao sol como gemas úmidas talhadas. O palco central continuava vazio.

– Estão demorando muito em chegar – comentou, à sua direita, um vanier de meia-idade e ar circunspecto. Os olhos claros se voltaram parcialmente para ela. – Como estrangeira, como vê essa assembleia? – Era um tom direto, mas repleto de significado. O fato de a terem recebido em seu meio, nas últimas semanas, não significava que vissem nela outra coisa que não fosse um meio temporário de saciar suas curiosidades e diversões, quase como um espetáculo de feira. Ainda que tivesse progredido um pouco na procura do chissei (não tanto quanto gostaria), sentia como se ainda a estivessem deixando de fora nas coisas mais importantes. Essa podia ser uma mudança.

– São grupos diferentes, sem coesão aparente – respondeu Mize, com cautela. Sabia, por todas as informações que conseguira reunir, do posicionamento dessa classe dominante em relação ao Concílio Aberto. – Não os imagino chegando a uma concordância; pelo menos, não em todas as petições.

O homem meneou a cabeça em negativa.

– Não sobre isso. Perguntava sobre a assembleia em si. Como vocês veem a congregação de grupos tão grandes e heterogêneos, visando a tomada de uma decisão?

– Ah... – O cenho de Mize se franziu levemente. – Para ser sincera, é um pouco... inusual. Talvez, estranho. De onde venho, há algumas Rainhas menores, certo, mas a decisão final sempre termina recaindo sobre a Rainha de Todas as Nações, aquela da linhagem "zo". Ou... terminava. Desde sempre, é assim que tem acontecido.

– Parece apenas lógico, não parece? – murmurou o vanier, num tom baixo e com certa amargura. – Nós também. Desde os tempos das cidades pioneiras, sempre confiamos nossas vidas e nosso futuro aos Arquiduques do Estigma. E agora, o quê? A sede pelo poder nos levou a matá-lo. "Nos", porque me incluo nesse grupo maldito. Deixamos as coisas como estão agora...

Mize preparava-se para tentar sutilmente coletar mais informações, aproveitando a deixa que se estabelecera, quando foi interrompida pela chegada de um estranho ao recinto. Em meio aos trajes exuberantes e ornamentados dos aristocratas, o sujeito com uniforme azul-escuro, cinto e uma boina na cabeça destoava como uma mancha na parede. Observou-o vir em direção ao vanier de meia-idade, curvando-se ao lado dele.

– ... causando caos nas linhas de teleférico – ouviu-o dizer, quase entre sussurros. – Temo dizer que possa ser uma manobra planejada. Pelos depoimentos, também deixaram uma mensagem clara – E baixou a voz ainda mais, enquanto sussurrava algo que a mulher não conseguiu ouvir.

As sobrancelhas loiras do vanier se arquearam.

– Está certo disso, Maddet? Seria algo demasiado... desvelado.

– Completamente, senhor. Houveram muitas testemunhas para que pudéssemos ter qualquer dúvida do teor da mensagem.

Mize observou o vanier de ar circunspecto levantar-se da poltrona e arrumar a gola do longo casaco vermelho, antes de fazer uma breve mesura de despedida em sua direção. Passaram ao lado dos criados, que iam e vinham com bandejas nas mãos, e desapareceram além da porta.

– O Marquês Firlainn não consegue deixar o trabalho de lado... – comentou o anfitrião, em tom ligeiramente desdenhoso.

No meio tempo, uma criada surgira ao seu lado.

– Posso lhe oferecer mais chá, minha graciosa pétala?

Mize assentiu, mais por educação do que por sentir propriamente vontade. Enquanto a criada vertia com cuidado a bebida fumegante do bule para a xícara, observou a poltrona à sua direita, agora vazia. Olhou em volta, para todos aqueles homens e mulheres rindo e falando de superficialidades. Seus lábios se torceram sutilmente.

– Deseja que traga um biscoito com geleia, também? – No semblante da garota, via-se indícios de uma aflição não tão velada.

– Não, apenas o chá já está suficiente – dispensou-a, com um gesto amigável. Talvez seja a primeira vez dela, pensou.

A criada fez uma mesura rápida, e partiu com o bule em direção a outro grupo que a chamava. Vendo-a, Mize pensou que já passara da hora de dar um tempo daquela poltrona enfadonha. Mal se pôs de pé, ouviu o anfitrião dizer:

– Mas já está indo embora, senhorita Heyt?

– Ainda não, meu senhor – respondeu, controlando a onda de repulsa o máximo que pôde. – Estou indo... esticar um pouco as pernas, na verdade. Muito tempo sentada não me faz bem – O homem, e o grupo de vaidosas mulheres com quem conversava, a observavam com curiosidade invasiva.

– Ah... certo, certo. Mas não se esqueça de voltar – O inconveniente sujeito apontou para uma das mulheres, uma mestiça com mais sangue saik do que vanier. – Brinny não pôde vir ao baile de dois dias atrás, sabe? Ela está curiosa sobre as histórias desse lugar tétrico e horrendo de onde a senhorita veio.

Contra todo o seu ser e todas as justificativas do duelo por desonra do Código Ni'Dan, Mizaní'hayt se controlou, respondendo com um aceno e um sorriso educado. Atravessou o salão, resplandecente com o sol que atravessava as paredes de vidro e metal, passando ao lado de criados com bules de chá, biscoitos, torradas e frutas exóticas para chegar à saída o mais rápido possível. Nos degraus do lado de fora, vazios, pôde enfim respirar.

Poderia ter sido mais um dia inútil, pensou, tirando os óculos escurecidos por um breve instante. Hoje, pelo menos, conhecera esse que poderia vir a ter alguma utilidade.

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