Instinto Selvagem - III
Elena apertava os dedos enquanto aguardava ansiosa a reunião que acontecia dentro da grande tenda.
A noite anterior havia sido tensa, demorou mais do que imaginava para conter o sangramento de Navalha e mesmo fora de risco, levaria dias para se recuperar da perda de sangue. E o resultado do ataque a Navalha foi ainda mais desastroso, senão fosse a intervenção de Tokalah, teria sido morta alí, pelos homens de Cavalo Louco. E mesmo depois de tê-la tirado do perigo eminente, não sentia que estava plenamente segura, tamanha a ofensa que ela parecia ter causado.
Segundo Enepay, Navalha havia pedido a lei sangue como punição para sua afronta e agora Witchashawakan e Tokalah decidiam sobre a legitimidade de seu pedido.
Elena já ouvira Andrew falar na chamada lei do sangue. Sempre que sangue fosse derramado de forma injusta ou banal, segundo a lei indígena, a vítima tinha direito de infligir a mesma dor ao seu agressor. Ela sabia que as chances de Navalha mata-la ou feri-la gravemente eram enormes caso a decisão de Witchashawakan fosse favorável a ele.
Depois de horas de espera finalmente foi chamada ao interior da cabana. O velho índio estava sentado na sua lateral Tokalah com uma expressão enigmática e Navalha recostado a um monte de peles mais afastado, ainda muito debilitado e febril. Elena se sentou sobre os joelhos diante deles e Kimimela tomou seu lado.
一 Quando lhe trouxeram foi informada sobre como agir dentro da aldeia? Seus deveres e direitos? 一 Witchashawakan perguntou e Kimimela traduziu a ela.
一Wayo* 一Elena respondeu positivamente com uma das palavras que aprendeu nos últimos tempos.
一 Então sabe que o que fez é uma ofensa grave ao nosso convidado, algo que atinge não só ele, mas a honra dos Mandan e dos espíritos anciãos.一 Continuou Witchashawakan fumando cachimbo enquanto Kimimela explicava a ela.
一Eu sei, mas ele me agrediu mais de uma vez e roubou meus cobertores, tenho direito de defender a mim e o que é meu, segundo os ensinamentos de seu povo, não tenho? 一 Ela questinou e encarou os dois homens 一 Quando Tokalah me deu a faca, disse que era pra que me defendesse e a usasse com sabedoria e foi o que eu fiz. Eu nunca pretendi matar Navalha, ele jamais correu perigo de vida, eu só queria que ele parasse de me importunar e eu sabia o que estava fazendo, se eu quisesse mata-lo, bastaria tê-lo deixado sangrar 一 Disse tentando parecer confiante nas palavras e esperava que Kimimela mostrasse o mesmo em sua tradução ao velho.
一 Sua puta branca! 一Protestou Navalha antes menso que Kimimela pudesse traduzir todas as palavras dela ao homem santo. 一 Eu quero a lei do sangue, eu exijo!一 Disse navalha com a voz cansada.
一 O que ela disse é verdade? Voltou a machuca-la? 一 Tokalah perguntou em sua língua mãe a Navalha que pode sentir a ira na voz dele.
一Ela não mente, tomei seus cobertores e sim posso ter batido nela uma ou duas vezes, mas ela é uma serva não uma Mandan, é uma mulher branca com sangue de nossos inimigos correndo mas veias, não é digna do mesmo tratamento.一 Ele disse tomando fôlego 一 Mesmo assim, meu ato não justifica o dela, ela tentou me sangrou e a lei do sangue é meu direito. Direito dado pelos nossos ancestrais. Mesmo nascendo em nações diferentes a lei do sangue impera no nosso território.
一 Ele está certo, Tokalah 一 disse Witchashawakan 一 Que seja feita a lei do sangue e que issa falta de respeito entre vocês termine com ela 一 sentenciou o sábio e quase que no mesmo instante Tokalah arrancou sua faca da cintura e cravou na perna de Elena que soltou um urro de dor.
一Está feito. Não há mais o que ser discutido 一 disse enquanto via a mulher se curvar sobre o ferimento apertando a coxa enquanto o couro era manchado de sangue
一 Tire-a daqui 一 Disse a Kimimela que apoiou o braço dela sobre seus ombros a levantando.
一 Venha menina, eu vou te levar para minha tenda e vamos cuidar disso.
Já na tenda da mulher, Elena tentava não se entregar ao pranto. A faca atravessava a lateral da sua perna, unindo o couro do vestido a sua pele. E o sangue escorria lentamente manchando - a pouco a pouco com o líquido viscoso enquanto ela tremia e arfava de dor.
Kimimela trouxe uma pequena faça rasgando o couro do vestido para ver a extensão do ferimento.
一 Seu filho é um sádico maluco 一 disse Elena lembrando do beijo apaixonado que ele lhe deu no dia anterior e agora havia atravessado seu corpo com uma faca sem pestanejar.
一 Você seria punida de qualquer forma, ele agiu rápido se Navalha ou um dos homens dele reclamassem o direito de fazer isso, você acabaria sem uma perna na melhor das hipóteses. Morda isso. 一 Disse Kimimela enfiando um pedaço de pano enrrolado na boca de Elena. 一Está pronta? Disse a mulher segurando firme no cabo da faca e antes que Elena respondesse ela puxou a lâmina.
Elena gritou de dor e rapidamente Kimimela colocou um pano e apertou a fim de estancar o ferimento. Quando o sangue diminuiu e Kimimela lavou o corte com água limpa, Elena conferiu o corte.
一 Acho que vou precisar de pontos 一 observou a garota com os lábios pálidos.
一 Não, farei um curativo bem apertado, com um unguento forte, desde que não force a perna vai ficar bem, foi profundo mas não atingiu nada importante 一 Disse a índia e Elena concordou com a cabeça. 一Você foi corajosa enfrentando Navalha daquele jeito, mas muito burra. Ele poderia ter te matado, se tivesse errado o golpe a ponto dele não precisar da sua ajuda. Estaria queimando o seu corpo agora, precisa ser mais prudente.
一 Eu não pretendia errar. 一Falou tomando o chá cedido por Kimimela 一 mas talvez não tenha sido a melhor decisão 一 Disse torcendo o rosto de dor enquanto a índia apertava o curativo. 一 Eu posso acabar pegando uma infeção, será uma morte lenta e dolorosa.
一 Não seja dramática, estamos acostumados a lidar com ferimentos bem piores que este. Fique deitada eu vou pegar um chá de raiz forte, vai aliviar a dor 一Falou se afastando.
Tokalah se conteve o máximo que pode em sua tenda, sabia que a decisão de Witchashawakan era justa e que a imprudência de Elena devia ser punida. Mas não conseguia parar de pensar em como aquilo a afetaria, o ferimento cicatrizaria em alguns dias, talvez ela mancasse por um uma lua, mas e se ela jamais entendesse suas motivações? Ele temia a ideia de que ela não o quisesse por perto novamente.
Cobriu a pequena Wewomi com mais um cobertor e saiu de sua tenda jogando uma pele de coiote sobre as costas nuas. O inverno ainda não havia chegado, mas a noite o frio já anunciava que seria uma estação rigorosa. Caminhou em silêncio até a tenda de Kimimela que levou um susto quando viu o filho abrir o tecido que cobria a entrada. Ele fez um sinal de silêncio para ela e peguntou em tom baixo como estava a mulher.
一 Com dor, mas deve melhorar pela manhã.
一 Me deixe sozinho com ela.
一 Filho... Tokalah...se quer um conselho, se gosta dela, permita que ela volte pra casa dela, vocês são como a lua e o sol, não pertencem ao mesmo lugar. 一 Disse Kimimela deixando-os a sós com aquela sensação de desconforto que sempre tinha quando os via juntos.
O índio se aproximou da garota ainda desacordado e sentou-se ao lado dela. Levantou o cobertor com cuidado e tocou levemente o curativo firme em sua perna que estava avermelhada e inchada.
Voltou-se ao seu rosto e percebeu que seus lábios outrora rosados agora estavam tão brancos quanto sua pele. Removeu os cachos que caiam sobre o rosto e acaricio-a com a ponta dos dedos e a ela despertou assustada sentando- se rapidamente e se recostando contra a lateral da tenda
一 Tokalah Nsi... Não machucar Elena.
一 Eu sei, sei que tinha que fazer. Mas se um dia tiver que fazer isso de novo, usa uma faca menor. 一 ela ralhou e ele sorriu preocupado.
一 Navalha longe, alguns dias . Disse com dificuldade e Elena só conseguiu pensar em Edward e no que teria de fazer para salvar a vida do irmão. 一 Tokalah falar mau.
一 Você está indo bem, muito melhor que eu.
一 Mandan difícil, Elena.
Como no outro dia, Tokalah aproximou o rosto do dela desta vez não tão abruptamente, lhe dando tempo para girar a cabeça esquivando-se do beijo. Porém se tornou impossível resistir ao persistente deslizar dos lábios quentes junto a pele do pescoço, face até tocarem o canto de seus lábios.
一 Elêna 一 ele murmurou com aquela pronúncia que só ele tinha ao pronunciar seu nome.
Sentiu-o afundar-se em seus lábios com a mesma voracidade do primeiro beijo, desta vez ainda mais ancioso e envolvente cingindo seus braços no entorno da cintura dela. E enquanto ele a beijava, mordiscava, murmurando seu nome e explorando a lateral de seu corpo com sua mão forte. Elena teve de esforçar-se para não se perder naquele momento de luxúria afastando-o e empurrando seu peito com as mãos.
一 Eu não... 一 Disse tentando recuperar o fôlego 一 eu não posso 一 falou encarando o olhar firme dele 一 Eu sou casada, sou Elena Norton , esposa de Andrew Norton, primeiro capitão do forte Bennington. 一 Disse a ele tentando convencer a si mesma a quem seus sentimentos e entrega deviam pertencer.
Tokalah permaneceu em silêncio com profundamente em seus olhos, odiava quando ele fazia aquilo, era como se despisse sua alma e visse atravéz de seus olhos, quando pensou não suportar mais ele quebrou o silêncio.
一 Você, Elena casada antiga vida, aqui vida nova Elena livre, livre para escolher Tokalah. 一 Ele disse buscando as palavras certas no idioma dela.
一 Eu... Eu não, não podemos. 一 Ela insistiu baixando o olhar.
一 Sua língua diz coisa que olhos não com.. querer, Elena一 Falou acariciando a lateral do rosto dela e em seguida buscou outro beijo roçando com leveza as curvas sensíveis de seus lábios, fazendo-a arrepiar até que se moveu-se em direção aos dele.
Enquanto a boca de Tokalah moveu-se contra a sua, ela podia sentir o desejo avido e urgente que o pele vermelha emanava a permitindo saborear uma paixão selvagem e possessiva que jamais sentiu com Andrew.
Aquilo não poderia ser certo, ecoou em sua mente. Lembrou dos conselhos de Davina sobre quais sentimentos uma mulher devia saber se guardar e pela primeira vez entendeu sobre o que sua ama falava.
Depois da fatídica noite com aqueles Crows, temia a forma como se sentiria no dia que tivesse de cumprir seus deveres de esposa novamente. Porém nos braços de Tokalah as sensações que o beijo, o calor e até mesmo o gosto que seus lábios despertavam em seu corpo eram incontrolavelmente agradáveis, cada centímetro de seu ser parecia deseja-lo, tanto quanto ele parecia querê-la.
Sentiu Tokalah a acariciando e beijando mais e mais, a recostando nas peles e firmando seu corpo contra o dela. Elena se viu percorrendo seu abdômen liso e firme, e naquele instante novamente pensou em Andrew. Afastou-o novamente quando suas carícias tornaram-se mais atrevidas buscando sua pele embaixo do vestido.
一 Não. Eu.. eu não posso, ainda não 一 Disse e Tokalah se afastou permanecendo ao seu lado porém de costas respirando profundamente a fim de controlar o próprio desejo.
一 Vou pedir para Witchashawakan olhar perna, amanhã. 一Falou se levantando ao deixar a tenda rapidamente.
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