Entre dois Mundos - I
Elena caminhou mancando até a área onde estavam os prisioneiros. Apesar da ferida já parecer cicatrizada superficialmente, demoraria algum tempo até que o músculo se recuperasse totalmente, por hora, teria de aprender a lidar com aquela situação.
Quando chegou ao tronco onde os prisioneiros estavam amarrados, não viu nada além do cizal que os prendia e sentiu o peito acelerar. O mais depressa que pode, seguiu pelo acampamento dos homens de Navalha, sendo observada de forma curiosa pelos nativos que ali permaneciam.
一 Tenho de admitir ou você é muito corajosa, ou louca. 一 Uma voz chamou-lhe a atenção, quando virou viu o índio que levou sua aliança dias atrás.
一 Sabe onde estão os prisioneiros?一 Questionou sem rodeios.
一 Estão se banhando no rio, ninguém mais aguentava o fedor deles.
一 Não devia estar aqui, Navalha não ficou satisfeito com sua punição.
一 O problema é dele, estamos quites perante os Mandan. Mas já estou indo embora 一 Falou passando por ele apressada.
一 Hey, mulher branca 一chamou-a e retirou algo da bolsa presa a cintura e estendeu a ela a sua aliança. 一 Sua jóia. Foi corajosa enfrentando Navalha, tem o meu respeito. Meu nome é Shilah, da nação Navajo.
一 Sou Elena Nor...一 ela hesitou em dizer o sobrenome do marido 一 da Inglaterra. 一Ela falou pegando a aliança. 一 Obrigada por devolvê-la. 一 Disse e o índio assentiu com a cabeça.
Caminhou agora lentamente olhando para o anel brilhante na palma da sua mão, por mais que lutasse constantemente para não esquecer da vida de antes, do seu lugar em Bennington, como esposa de um capitão e filha de um general, em seu íntimo, tudo parecia tão longínquo.
Mesmo cativa no vale, sentia-se mais livre do que nunca. Seu corpo não precisava ser moldado e apertado todos os dias c espartilhos e camadas de roupas desconfortáveis, não precisava se preocupar se o sol iria escurecer-lhe a pele de modo com que parecesse uma camponesa qualquer, ou pensar em como uma dama devia se portar, falar e até mesmo pensar. Desde que não saísse do vale, cumprisse suas tarefas e não faltasse com respeito aos outros membros da tribo poderia fazer o que quisesse. Cavalgar na imensa clareia onde os cavalos pastavam com Condessa, brincar de pés descalços com as criancinhas que teimava em persegui-la, banhar-se no rio sem preocupações ou julgamentos e até mesmo, corresponder aos desejos de Tokalah se assim quisesse.
Por mais preocupada que estivesse com Andrew, Já não tinha certeza se queria voltar a ser a Senhora Norton. Mas havia Edward e ele necessitava de sua ajuda, o futuro dele era incerto mas mãos de homens como Navalha.
Respirou fundo e continuou caminhando em direção a parte baixa do rio, onde todos ali costumavam banhar-se a si e aos seus cavalos.
Viu Edward praguejar quando lhe foi oferecida uma túnica de couro para vestir e levar uma bofetada que o fez cair contra o chão. Por mais que quisesse intervir pelo irmão, ao ver Navalha próximo a eles, já praticamente recuperado, decidiu manter distância. Não era sábio arranjar mais problemas com aquele homem, as feridas que carregava eram ainda maiores do que o corte que lhe desfigurada parte do rosto.
Quando deu meia volta deparou-se com o peitoral rijo e firme de Tokalah a observa-la com o rosto duro.
一 Eu, ia pegar água, mas acho melhor voltar em outro momento. 一 Disse ao índio que imediatamente voltou o olhar para Edward praticamente nu enquanto recebia pontapés e tapas toda vez que empurrava a túnica para longe e gritava que não usaria peles como um selvagem.
一 Ia pegar água, sem uma vasilha? Ele questionou a olhando dos pés a cabeça e Elena estremeceu. Havia algo diferente nele, apesar da sua seriedade ser algo normal, hoje parecia nervoso, talvez até enraivecido.
Tokalah ofereceu as rédeas de Omaha para Elena e seguiu a frente, abrindo caminho entre os homens que riam da reação do waikiki. Tomou o amontoado de roupas fétidas do soldados e ateou sobre a fogueira na qual os homens se aqueciam depois do banho nas águas geladas pela estação, jogando novamente a túnica contra Edward que o encarou, porém agora sem escolha, se pôs a vestir a roupa.
Regressou a Elena e montou novamente no mustang assilverado, estendendo a mão a Elena que foi trazida a sua garupa, num movimento rápido.
A levou até a área dos cavalos onde Tokalah tomou um poncho colorido e vestiu-o e ofereceu outro a Elena, embaixo deles ao chão haviam dois sacos de couro semelhantes a uma mala de garupa que tolala ajustou ao lombo de Omaha e depois pós um pequeno pelego sobre o lombo da égua branca a qual ajudou Elena a montar.
一 Pra onde estamos indo? 一Questionou Helena depois de se afastarem cada vez mais das tendas descendo o rio, deixando as plantações para trás até finalmente deixarem o vale. Tokalah virou-se para ela e disse que cavalgariam até a memória de sua tribo, que a viagem duraria um ou dois os dias e novamente voltou-se ao caminho a sua frente.
Enepay já havia lhe falado sobre o lugar que foi um dos primeiros assentamentos dos Mandan e que agora pela proximidade da ferrovia jazia apenas em ruínas, onde eles regressavam para enterrar os ossos de seus entes queridos e honravam os seus antepassados sempre que fosse possível e seguro.
一 Não é perigoso ir até lá? Depois do que houve 一Elena hesitou. Tokalah jamais falou nada sobre o ataque a comitiva do governador, mesmo este parecendo ser o assunto preferido na aldeia. 一Os soldados, devem estar fazendo rondas na região. 一Ela disse.
一 Não perigoso, Elena. 一Ele disse ainda naquele tom estranhamente sério.
Cavalgaram o resto do dia trocando poucas palavras, Elena sentia uma ansiedade crescer em seu peito conforme a noite caia e avancavam em direção a ferrovia. Por mais que seu senso geográfico fosse pessimo, sabia que seguir a ferrovia, mesmo que no sentido contrário, cedo ou tarde a levaria a uma estação fosse em Charlottetonw ou Riverside. Seria essa a intenção dele? A levar até lá pra que ela seguisse seu caminho de volta para o mundo dos brancos? A ideia não causou-lhe excitação e sim medo, primeiro pela aquela imensidão recheada de perigos, que agora não pareciam tão estimulantes como quando deixou Charlotte em busca de aventura. Haveriam bandoleiros? Mais Crows pelo caminho? Achava que vinha sendo forte, já conseguia dormir tranquilamente na aldeia, sem lembrar do rosto pintado daquele crow sobre ela, mas ali sentia-se tão vulnerável quanto naquele dia e a ideia de seguir sozinha até a civilização só não era mais assutadora do que ter de encarar, enfrentar e explicar tudo que lhe aconteceu a Andrew e a seu pai, que certamente não descansaria até que ela desse detalhes sobre o vale.
Ela puxou as rédeas da égua e pausou, Tokalah levou alguns passos até perceber que ela não o seguia, virar-se e contemplar o rosto apavorada de Elena logo atrás dele. Deu meia volta e troteou lentamente até ela perguntando-lhe se estava bem.
一Porquê está me levando até lá? É um local sagrado pra vocês, não é? Por que levaria uma mulher branca até lá? 一Ela questionou e ele desmontou.
一Acampar aqui, cavalos cansados 一 falou tomando as rédeas da égua da mão dela a ajudando a descer.
Elena viu-o acender uma folgeira em pouquíssimos minutos, e depois forrou o chão próximo a ela com dois tapetes grandes e de uma bolsa de couro tirou pedaços de carne seca a qual ofereceu a ela.
一 Ainda não me disse o que viemos fazer aqui no meio do nada? 一 Ela disse ao tirar o pelego do lombo da égua e acariciar- lhe o pescoço. Ela e ele tirou um outro pacote de dentro das malas de couro e jogou ao a seus pés.
Elena tomou em mãos e sentiu seu corpo estremecer, seus pacotinhos de palha e pólvora estavam todos ali. Quando levantou o olhar, ele estava diante dela de uma forma inquisidora.
一 Tokalah significa raposa, meu pai me chamava assim quando menino. Eu rápido e curioso como uma pequena raposa. Elena, deixa Tokalah curioso e confuso, um manto não pode estar confuso. Estive com você na tenda, contei sobre nosso povo, Elena era amiga Tokalah, amiga de Enepay, Wewomi, Kimimela, amiga dos Mandan. O homem santo admira a mulher branca, acha que os deuses trouxeram alma antiga de volta ao nosso povo. Mas amigos não roubam o pó de fogo, amigos não mentem, Elena.
一 Eu .. eu tenho outro irmão, se chama Edward é um dos prisioneiros de Navalha, ele me pediu pra fazer isso, queria causar uma confusão para tentar fugir eu só queria ajudá-lo. O que não faria por seus irmãos?
一 O que Elena faria com o pó de fogo? Queimaria a grande tenda? A aldeia? não minta eu vou saber se mentir e não poderei perdoa-la.
一 Eu não pretendo mentir, Edward disse que eu deveria espalhar pelas tendas e causar um incêndio, mas eu jamais faria isso, disse a ele que não faria. Então Herman o outro prisoneiro, disse que deveríamos queimar o milho, eu não vou mentir, pensei que era uma boa ideia que ninguém se machucaria e por isso roubei a pólvora. Mas depois que ouvi sobre os invernos, soube a importância do milho e por isso eu não peguei mais, estava tentando encontrar outra solução. Eu, não queria que todos passassem fome, não conseguiria viver sabendo que tinha feito algo tão terrível. Então, eu não sabia o que ia fazer ou se ia fazer, mas eu só queria ajudar o meu irmão e sim e ainda quero. 一 disse sentindo os olhos arderem.
一 Eu devia cortar sua garganta. 一 Ele disse num tom de desdém.
一 Talvez devesse. Eu não pertenço a esse lugar, mas também não pertenço a Bennington ou a Inglaterra. Eu não tenho lugar nesse mundo, então talvez, seja melhor não estar nele. 一Ela pegou a faca que ele lhe deu de presente e entregou a ele. 一Vai em frente, faça, eu não vou resistir. 一 Disse com confiança, aliás confiança era uma das principais características a qual ele passou a atribuir a Elena, mesmo sem a entender por completo. E odiava o fato dela não ser tão previsível quando Hana, mas odiava mais ainda o modo que a imprevisibilidade dela o deixava. Atiçado, curioso, excitado, não havia nada que ele desajasse mais naquele momento do que ela, mesmo sentindo o peito ansioso e a garganta apertada por descobrir tal traição praticada por ela.
Num movimento rápido agarrou seus cabelos e puxou-a para si, forçando-a a exibir o pescoço que com a outra mão prensou levemente com a lâmina enquanto encarava os olhos claros da mulher que não ofereceu resistência nenhuma.
一 Eu devia mata-la. 一 Repetiu junto ao rosto dela com a voz sussurada 一 Antes de puxa-la para mais perto e beijar-lhe a boca com ansiedade. Jogou a faca para o lado e usou sua mão para deslizar por suas costas até aninhar-se nos quadris. Sentiu-a retribuir o beijo enredando os braços em seu pescoço e ficando na ponta dos pés.
Por vezes seus lábios se apossaram dos dela, oscilando entre beijos suaves e famintos, curvou-se o máximo que pode para ficar próximo a sua altura e ofegante deslisou os lábios pela sua face até pararem junto a orelha.
一 Eu amo você, Elena 一 falou com a respiração quente e exitante. Elena o encarou por um tempo aturdida com a declaração, sentindo o peito disparar como nunca.
一Eu devo estar louca, mas também creio sentir o mesmo 一 Afirmou receosa.
Tokalah estreitou o espaço entre eles e voltou a beija-la, ele amava a doçura de seus lábios e temia que o desejo violento que ela lhe despertava e esforcando-se conte-lo com medo de assusta-la.
Queria toca-la por inteiro e sentir aquela pele macia junto a sua. Buscou-a por baixo do poncho e sentiu-a irrigecer o corpo e se afastar rapidamente ficando de costas para ele.
O nativo se aproximou por trás e abracou-a, enredando-a carinhosamente aconchegada em seu poncho.
一 Eu disse que era livre pra escolher a mim, e ainda mantenho minha promessa. Mas como pode ser livre pra me escolher se a mantenho como minha prisioneira? Amanhã estaremos junto a memória de meus antepassados e perto da cidade dos waikiki. Você poderá voltar pra casa se quiser. Por hora, melhor descansar farei a primeira vigia. 一Disse a soltando e se afastando para junto dos cavalos.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro