Decisões Perigosas - III
Aviso de gatilho : Tortura e Violência física extrema. O capítulo possui cenas de tortura e violência extrema, caso não se sinta confortável há um pequeno resumo no fim de cada capítulo com os acontecimentos narrados de forma mais branda.
Elena andou com passos apressados, não conseguia parar de pensar no que estava acontcendo a algumas milhas dali. Pelo tempo, Tokalah já devia estar a espreita da fazenda e se tudo esse certo, voltaria com os Norton como seus reféns, em alguns dias fariam uma troca e ela teria seu bebê de volta. Mas por mais otimista que fosse, sabia que as chances daquele plano dar errado eram muito maiores do que qualquer outra coisa.
Lembrou do gosto que a família de Andrew tinha por armas e por mais quesoubesse que o patriarca da família vivia bêbado na maior parte do tempo, poderiam haver capatazes, empregados, sem falar na tal armada civil que fazia patrulhas pelo interior de Charlotte. Certamente mortes seriam inevitáveis e na melhor das hipóteses seriam membros da fazenda Norton, o que a deixava com um sentimento avassalador de culpa. Por mais que nutrisse uma antipatia pela sogra e mal conhecesse o sogro não desejava-lhes o mal, muito menos as jovens garotas que tiveram a infelicidade de nascer naquela família. Mas assim como Andrew assumiu os riscos o dia que mandou aqueles bandidos atrás dela e agora, ela havia feito o mesmo quando pediu a Tokalah que lhe devolvesse a sua criança. Afinal por mais que ela não conseguisse ver o indígena como uma ameaça cruel, na fazenda dos Burt e depois quando Andrew lhe mostrou aquelas fotos , havia ficado claro que empatia dele por pessoas brancas parecia limitar-se a ela.
Respirou profundamente e tentou não pensar mais sobre aquilo, voltando o foco a seu caminho até a tenda de Enepay.
Assim como no dia anterior o jovem ardia em febre, as dores de cabeça e estômago o impediam de manter qualquer coisa no estômago por mais de alguns minutos e a desidratação avançava a cada hora.
Elena trocou a compressa de água fria de sua testa e o forçou a acordar para beber um gole de água.
一 Não.... já chega, se beber demais você vomita e vai piorar a desidratação, melhor ir aos poucos. 一 Ela disse ajudando o rapaz a se recostar sobre os tapetes 一 Precisa parar com isso, Witshaswakan não me disse, mas tenho certeza que ele deve saber de algo que ajude a limpar seu organismo deste veneno. Desista disso Enepay eu lhe imploro.
一 Se eu morrer sem... 一 ele fez uma pausa forçando o ar para os pulmões. 一Sem minha visão, foi porque o grande espírito não me achava digno dela, não mereço... Pertencer a este clã. 一 Falou com a voz fraca.
一 Isso é loucura! Não me peça pra ver você morrer Enepay. Por favor, não faça isso comigo.一 Falou pegando a mão do jovem e beijando carinhosamente. 一 Sabe do amor que tenho por você, é como um irmãozinho. Por favor... Eu lhe imploro, pare com isso.
一 Eu não posso... Seria um covarde se fizesse e a grande mãe não tolera aqueles que não tem coragem. 一 Ele falou entre suspiros e Elena concordou com a cabeça, apertando com mais força a mão dele. Entendia que Enepay não mudaria de ideia , mas era impossível ficar de braços cruzados o vendo definhar.
***
O corredor estreito e escuro trazia ao indígena uma sensação claustrofóbica aterradora. Forçou a primeira porta e do outro lado viu um pequeno quarto que parecia servir de depósito, atulhado de móveis e sacos. Correu o olhar rapidamente e seguiu a diante, a segunda porta teve de ser arrombada e outro cômodo com duas camas, uma mesinha e um armário grande de madeira surgiu sob a penumbra. O silêncio absoluto só era quebrado pelo rangido da madeira a seus pés e o barulho que kewanne fazia enquanto revirava o outro quarto. Se não possui - se um ouvido atento de um caçador experiente, o resmungou da garota que tentava segurar o choro embaixo da cama teria passado despercebido. Ele parou por instantes se abaixando e vendo de relance os cabelos loiros de Elisabeth caindo sobe o rosto apavorado, enquanto a jovenzinha tentava rastejar para o mais fundo que conseguia. Tokalah colocou o dedo indicador a frente dos lábios ordenado que ficasse quieta e voltou a se levantar. O pai e a mãe do maldito Waikiki já estavam de bom tamanho, não havia motivos para levar mais alguém, quanto mais uma menina apavorada que só causaria problemas na viagem. Quando já deixava o ambiente, o som abafado de um choro infantil fez com que parasse e prestasse a atenção por mais um instante, nada além de silêncio, mas quase que instintivamente seus olhos se voltaram ao armário de madeira. Tomou o rifle em punhos e abriu a porta lentamente forçando a mira sobre a mulher debruçada aos próprios joelhos que se escondia ali.
一 Yle.... saia! Vamos! 一 Gritou apontando na direção dela e o choro se tornou mais forte quando Sarah deixou o esconderijo tremendo de medo.
一 Por favor, não nos machuque ... por favor... 一 ela implorou. Sem paciência, Tokalah puxou-a com força jogando-a ao chão mais a frente, voltando a atenção ao interior do armário onde vislumbrou a silhueta de um bebê esperneando irritado balançando braços e pernas. Abaixou-se pegando o pequenino nos braços, trazendo-o para mais perto da lamparina enquanto o colocava com cuidado sobre a cama.
一 Shiiiii... 一 disse baixinho ao menino retirando sem muita habilidade a touca que lhe cobria a cabeça revelando os grossos fios negros. 一 Este é o filho de Elena? Perguntou a Sara sem conseguir tirar os olhos da criança chorosa a sua frente.
Era ele, só poderia ser ele 一 pensou enquanto examinava o menino.
一 Si... sim... 一 respondeu Sarah gaguejando e viu o indígena abrir um leve sorriso, acariciando o rosto da criança.
一 Tudo bem, tudo bem ... 一 falou em sua língua mãe, tentando acalentar o choro do menino 一 eu vou levar você a sua mãe, 一 murmurou ao filho totalmente encantando como da primeira vez que viu Wewomi... 一 meu filho.
一 O nome dele é Willian 一 disse Sarah acertando a cabeça do indígena o mais forte que pode com um candelabro, no entanto, não foi suficiente sequer para atordoar o invasor, que virou-ae a ela irritado arrancando o candelabro de sua mão. Ao tentar sair correndo a loura chocou-se com outro homem, desta vez um pouco mais baixo que o primeiro,mas igualmente forte que a agarrou pela cintura e a lançou contra a parede fazendo-a cair atordoada.
Kewanne voltou sua atenção ao menino chorando sobre os lençóis e depois a Tokalah que ainda admirava a criança com curiosidade.
一 É o seu menino? 一 Disse se aproximando e dando uma boa olhada na criança. 一 É parece que é seu sim, achei que ele não estaria aqui.
一 Elena achava que não, mas ela estava enganada. De-me sua pele preciso protegê-lo. 一 Disse a Kewanne que retirou a pele de lobo que usava sobre as costas, entregando ao líder que se pôs a tirar a roupa da criança. 一 Ele não vai chegar a aldeia vestido com roupas de homem branco. 一 Falou esgorcando-se para lidar com os botões do macacão.
一 Ele não parece bem 一 observou Kewanne ao observar a criança com mais cuidado.
一 Ele vai ficar bem 一 Tokalah respondeu de forma apreensiva, realmente o bebê parecia doente e enfraquecido, mas estava feliz demais por te-lo encontrado com vida, para se ater a esse detalhe. 一 Ele só precisa do leite de sua mãe. 一 Falou recuando ao ver o enorme curativo que a criança ostentava no peito. Retirou com cuidado as amarras da atadura e quando finalmente terminou de desembrulhar a alegria que sentia transformou-se quase que instantaneamente em raiva. Seu peito ardia de ódio assim como a marca ainda cicatrizando que tomava praticamente todo o dorso do bebê.
一 Marcaram ele, marcarem seu filho como os brancos marcam seus animais, o gado deles. 一Disse Kewanne com desprezo.
Tokalah respirou profundamente encarando o bebê ferido a sua frente, acariciou novamente o rostinho do bebê e debruçou- se sobre ele por instantes cantarolando baixinho uma canção de guerra e coragem em sua língua mãe.
一 Você teve de nascer lutando, me perdoe por não protegê-lo, mas eu vingarei o sangue que derramaram de você e de todos os nossos irmãos. Embrulhe ele . 一 Disse a Kewanne e voltou-se a abaixou-se ao chão agarrando a perna da garota sob a cama, arrancando ela de lá com força. A menina tentou arrrastar-se pélo chão, mas ele a puxou-a pelos cabelos a lançando pela porta em direção ao corredor e em seguida fez o mesmo com Sara ainda tonta.
Pelo corredor, Elisabeth tentava amparar a irmã mais velha, enquanto o índio as escoltava até empurrar-las pela escada, fazendo as duas caírem aos pés da sua mãe. Sarah tentou recompor-se correndo o olhar pela cena, havia pelo menos mais três indígenas na sala e um grito de horror escapou pela sua garganta aos ver o sogro e o noivo em poças de sangue ao chão.
Tokalah desceu os degraus a passos firmes e pousou o olhar sobre a família que foi enfileiradas de joelhos diante dele. A lenha ainda ardia na lareira e ele tomou o atiçador de dessas e pousou lentamente sobre as brasas ardentes enquanto ouvia o ranger da escada enquanto kewanne desvia com seu filho já devidamente embrulhado na pele felpuda.
一 Quem, qual de vocês marcou o meu filho! 一 Questionou correndo olhar pelos rostos chorosos das mulheres até pousar sobre o homem que levantou a cabeça o encarando.
一 Fui eu, e me arrependo de não tê-lo jogado inteiro no braseiro. Devia tê-lo queimado vivo, igual eu fiz quando jovem com um acampamento de peles vermelhas nojentos como você.
一Cale a boca George! 一 Marilla o interrompeu com um grito. 一 Por favor, tenha piedade, minhas filhas e eu não fizemos nada, eu juro, somos cristãos temente a Deus, por favor... Tenha piedade... Implorou Marilla de joelhos Tokalah que a encarou por instantes e depois voltou-se a lareira.
一 Permitiu que ele fizesse como aquela mulher no rio Big Horn. Ela fechava os olhos e orava pra seu Deus branco, enquanto seu marido e filhos sangravam a minha gente 一 disse voltando - se novamente a ao senhor Norton que havia sido posto de joelhos por Macawi.
O líder mandan tomou o homem com violência pela parte de trás do pescoço e este tentou relutar em vão enquanto o braço forte de Lua Negra o arrastava pelo assoalho. Ao chegar perto da lareira George usou todas as suas forças para golpear as pernas do indígena, mas em menos de segundos sentiu um chute no meio de suas costas que o fez urrar de dor.
一Filho da puta! Vocês vão queimar, todos vocês vão queimar seus peles vermelhas malditos! 一 Berrava George enquanto Tokalah e Macawi o arrastavam a beira a lareira. O atiçador de fumaça ardia no mesmo tom das brasas abaixo dele, o indígena ponderou por instantes e agarrou com força a nuca do homem, que resistiu por alguns segundos antes de finalmente seu rosto se chocar com as brasas. Tokalah firmava a cabeça de George que esperneava enquanto as mulheres da família choravam agarradas umas as outras .
Quando o homem finalmente parou de espernear Tokalah o puxou do braseiro o lançando a sua frente. George ainda vivo contorcia-se de dor tentando levar as mãos desordenadamente ao rosto. As chamas vingativas haviam dançado impiedosamente sobre a pele, deixando para trás um quadro de sofrimento indescritível que fez a sua esposa rastejar aos prantos até ele.
一 Demônio! 一 gritou ela 一 Monstro, maldito! George... George.... Fale comigo meu amor 一 falou tentando acomodar a cabeça do homem em seu colo.
Kewanne desceu as escadas correndo o olhar pela cena com um leve sorriso, enquanto o bebê já devidamente protegido entre a pele de lobo cinzento continuava a chorar inconsolavelmente. O indígena caminhou a passos lentos entregando o embrulho a Tokalah que instintivamente embalou a criança se afastando dos gritos incessantes de Marilla.
一 Precisamos ir grande chefe, já chamamos muita atenção. O que quer que faça?
一 Solte a mais jovem 一 falou voltando o olhar a Elisabeth 一 pendurem os outros na entrada da fazenda, como o Waikiki fez com nossos amigos no seu forte.
一 Espere 一 Kewanne se aproximou 一 perdi um dos meus homens, quero a garota de cabelos de sol, posso conseguir dois bons cavalos por ela.
一 Ela é sua. 一 sentenciou o líder 一 queimem tudo.一 disse já se afastando.
***
Elisa deu um sorriso preocupado ao avistar o pai se aproximando em um galope rápido. O carroção, já estava quase pronto e embora a tarefa de organizar aquela mudança sozinha estivess sendo um desafio, estava satisfeita com o que havia preparado.
一 Pai ... 一 ela murmurou se aproximando dele enquanto ele desmontava.
Nathan envolveu a filha num abraço apertado e voltou o olhar as duas carroças abarrotadas de mantimentos e itens essenciais para a longa viagem.
一 Segui suas instruções, apenas o indispensável, comida, remédios, cobertores, algumas panelas, sementes e alguns itens de valor sentimental. Mas talvez devêssemos partir na próxima comitiva, a febre de Topanga tem se mantido alta.
一 Ele vai ficar bem, se esperar ele melhorar ele não vai ir, sabe disso.
一 E se ele achar que...
一 Que você me pediu para esfaquea-lo? 一 perguntou Nathan com um sorriso no canto dos lábios 一 ele é um homem inteligente, e quando sua barriga estiver grande o suficiente pra ele entender que o mundo dele cabe nas próprias mãos, ele vai me agradecer por isso...
一 Então porque não segue o próprio conselho e vem conosco pai, quando os geórgianos invadirem será uma carnificina. Eu já sou uma mulher casada, mas e meus irmãos? O que será deles?
一 Eles estão a caminho de um internato em New Hampshire, ficaram sob a guarda de um amigo de minha extrema confiança se eu vier a lhes falar. 一 ele soltou um longo suspiro 一 Eu preciso ficar, eu fiz tudo que pode por você e seus irmãos, tenho certeza que ficaram bem. Mas New achota é...
一 Sua filha mais velha e ela precisa de você . 一 Completou Elise com lágrimas nos olhos.一 Obrigada pai.
****
Resumo do capítulo: Elena pondera sobre tomar uma atitude sobre o ritual iniciado por Enepay. Tokalah encontra seu filho e descobre que ele foi marcado, tomado pela furia o indígena assassina os pais de Andrew e queima a fazenda inteira. Sarah é levada por Kewanne como um premio e Elisabeth (irmã mais nova) é libertada com a missão de contar ao irmão o que aconteceu. Em New Achota, Elise se despede do pai e inicia sua viagem rumo as novas reservas.
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