Decisoes Perigosas - II
Aviso de gatilho : Tortura e Violência física extrema. Os próximos dois capítulos possuem cenas de tortura e violência extrema, caso não se sinta confortável há um pequeno resumo no fim de cada capítulo com os acontecimentos narrados de forma mais branda.
Tokalah ficou um tempo admirando Elena e a pequena Wewomi adormecidas entre as peles, não havia nada que amasse mais do que as duas e ainda havia seu filho, perdido entre a cidade dos Waikiki e por mais esperança que tivesse, tão tinha certeza que conseguiria cumprir a promessa que fez a Elena, ou mesmo alguma ideia de onde Andrew havia escondido o bebê, nem sequer, se ainda estava vivo. Um filhote sozinho, sem sua mãe ou pai para protegê-lo dificilmente sobrevivia por muito tempo, ainda amais este entregue na mão de um inimigo.
Levantou-se com cuidado e deixou a tepe, no lado de fora, cinco de seu grupo de guerreiros e três Arikaras de sua confiança o aguardavam já com Omaha pronto pra partir. Por mais que não imaginasse que haveria oposição a tal missão, decidiu envolver o mínimo de homens possível, teriam de ser rápidos e precisos, fazer o que precisava ser feito sem deixar o vale desprotegido e sem perder mais ninguém.
一 Parece preocupado, Lua Negra. Não é a primeira vez que invadiremos uma fazenda 一 Kewanne o líder dos dos arikara se aproximou dele durante a cavalgada.
一 Não é isto, é o menino. Algo no vento me diz que tem algo errado.
一 Bom ele é um mestiço, filho de um grande chefe e pelo que ouvi, neto de um general Waikiki. Com todo o respeito não há lado em que isso pareça certo.
Ter uma mulher branca em seus tapetes é uma coisa, mas um garoto branco correndo pela aldeia e testando os seus limites quando pensar que já é um homem é muito diferente.
一 Ele é Mandan e meu filho, já chega dessa conversa.
Seguiram em um trote rapido por cerca de dois dias, fazendo poucas paradas para descanso até alcançarem a zona rural de Charlotte. Ali, o cuidado devia ser redobrado, os fazendeiros haviam criado uma pequena milícia para defender suas fazendas e gado, haviam rondas feitas pela cavalaria de Bennigton, pois desde que a fome que se alastrou pelas aldeias, moveu ataques e roubos as propriedades da região. E embora não fosse a primeira vez que invadiram uma fazenda, Tokalah tinha um misto de ansiedade, incerteza e medo apertando-lhe o peito. Cresceu ouvindo que a vingança não era um sentimento a ser alimentado, sabia que o ódio que sentia e que por um tempo Elena o fez ponderar e questionar, ardia novamente dentro dele, consumindo sua alma. E por mais que tentasse não alimentar o lobo ferido, faminto e vingativo que vivia dentro dele, ele tornava-se mais forte a cada perda a cada decisão que foi obrigado a tomar. Lytonia estava errada Kinauhauk por mais ambicioso que fosse, não era o culpado pela morte dos meninos, os brancos eram, sem a perseguição deles ao seu povo, ainda viveria em paz como a grande mãe os ensinou. Os brancos traziam a fome, guerra, doenças, formentavam a rivalidade das tribos, de irmãos de clã, dizimavam seu povo, os animais a própria terra. Não havia lugar longe o suficiente que os manteve seguros, não havia acordo que pudesse ser feito. O homem branco não tinha palavra, nem respeito por nada além deles mesmos e eram muitos. O tempo dos homens da terra havia acabado e em seu íntimo sabia que não veria a filha se tornar mulher, talvez nem pudesse ensinar aquele menino a cavalgar, talvez nem mesmo a próxima colheita, tudo que havia era incertezas, mas de uma coisa não duvidava, se aquela criança ainda estivesse viva, devolveria aos braços de Elena, independente do preço.
***
Naquela noite na fazenda, Marilla servia o bolo de milho com um café recém passado aos convidados. A família Alberth havia vindo para jantar onde tratariam dos últimos acertos do casamento, por sorte Roger, seu marido não ficou tão bêbado a ponto de envergonha-la na frente dos convidados e seu pai nem sequer ousou pedir para juntar-se a eles a mesa. Era um verdadeiro constrangimento a deformidade dele em frente a convidados.
一 Aqui como mais um pedaço senhora Alberth, foi Sarah quem fez, ela é uma excelente cozinheira seu filho estará em boas mãos. 一 Disse olhando pra Sarah e seu noivo sorridentes do outro lado da mesa.
一Ah espero que sim, meu filho tem um paladar exigente.
一 Nem tanto mamãe 一 respondeu o rapaz ruborizado. 一 Mas o bolo está realmente uma delícia, aceitarei mais um pedaço senhora Marilla. 一 Disse e Sarah sorriu adiantando-se para cortar mais um pedaço ao noivo. Desde que conheceu seu prometido, estava fazendo um esforço enorme para manter o silêncio, principalmente na presença dos sogros, não via a hora de estarem finalmente casados para que pudessem se conhecer melhor. Nicolas, era gentil e educado com ela, também era jovem e embora não fosse o homem mais bonito do mundo, certamente era um pretendente invejável a qualquer jovem de Charlotte.
一 Soubemos que estão com um bebê em casa? Não se fala em outra coisa na igreja.一 Falou a senhora Alberth recebendo um olhar firme do marido 一 Ora querido em alguns dias seremos uma única família, não é senhora Marilla? Além do mais, estou curiosa nunca vi um pele vermelha tão pequeno, dizem que nascem mais peludos que as nossas crianças, é verdade?
一 Não seja indiscreta mulher. 一 Ralhou o marido.
一 Ele não é um pele vermelha 一 Sarah intrometeu-se 一 É um bebê como qualquer outro, a mãe dele é uma mulher branca e ele foi batizado como cristão. Seu nome é William Bernard Norton.
一 Sarah.... não é de bom tom falar dessa maneira com sua sogra! Mas bem senhora Alberth, como sabem somos uma família cristã e meu filho como um bom seguidor de jesus Cristo, mesmo depois de tanto sofrimento que aquela.... que a desmiolada da sua ex mulher lhe causou eles foi incapaz de abandonar um inocente a própria sorte. E bem um forte não é lugar para um bebê, então ele está conosco.
一 E onde está? Adoraria conhecê-lo.
一 Ele está lá em cima, minhas meninas mais novas estão cuidando dele, está com a febre 一 disse voltando o olhar ao marido que bebia uma taça de vinho na ponta da mesa. 一 Estamos orando para que Deus faça o melhor para ele.
一 Bom, eu vou dar uma olhada nele, com licença eu volto em um minuto 一 disse Sarah se levantando incomodada.
Por mais que estivesse adorando o jantar a preocupação com Willian vinha lhe corroendo a alma. A ferida já estava dando sinais de melhora, mas a criança continuava febril, não vinha mamando como devia e seu choro cada vez mais fraco. Havia comprado ataduras, pomada e até um frasco de remédio com o dinheiro que Andrew finalmente havia mandado, mas a criança parecia estar definhando a cada dia e a mãe lhe proibiu de leva-lo a um médico.
No lado de fora os cães começaram a latir chamando a atenção de um dos capatazes que fazia a guarda. O home ralhou irritado parando de enrolar o fumo e ao levantar-se da cadeira sentiu uma dor lascerante rasgar-lle o peito. Ao olhar para baixo tudo que viu foi uma flecha de penas cinzentas enterrada em sua carne e o vermelho espalhando-se pela camisa, antes que sua boca se preenchesse com o gosto da morte e seus pulmões fossem incapazes de colocar ar pra dentro do corpo.
Kewanne sinalizou a Tokala que o primeiro capataz já havia sido abatido, ainda havia um homem no celeiro e um cocheiro cochilando sob o banco de uma carroça. Na casa sabiam que haviam pelo menos três homens, três mulheres e duas meninas mais jovens. Não ter ideia de quantas armas e munição poderiam haver na fazenda era preocupante, já que os poucos rifles que possuía não dispunham de muita pólvora para serem recarregados. Não havia espaço para falhas ou todo o plano poderia se tornar um desastre Tokala tomou afrente do grupo assim que percebeu o sinal, avançando rapida mas silenciosamente em direção as casa principal enquanto ouvia o ladrar feroz dos cães.
Sarah viu o pequeno Willian remexer-se no cesto perturbado pelo barulho dos animais e tentou conforta-lo com algumas batidinhas leves em suas costas. As irmãs dormiam amontoadas em uma das camas ao lado de uma lamparina já quase apagando. Mesmo na penumbra do quarto o bebê mal lembrava a criança robusta que Andrew havia lhe entregado há poucos dias e apesar de seus esforços ele parecia cada dia mais fraco e doente. Já perderá as esperanças de convencer os pais em levá-lo a um médico e Andrew não havia vindo visitar o bebê como havia prometido.
一 Vai ficar aí quanto tempo? 一 Ouviu a voz e os passos da mãe surgirem atrás dela一 daqui a pouco a família e seu noivo vão embora.
一 Ele está piorando mamãe, por favor vamos leva-lo a um doutor amanhã. Andrew não precisa saber, mas ele precisa de um médico. Está muito fraco nem a mamadeira tem aceitado. Estou ficando muito preocupada.
一 Já disse, se Deus quiser que ele sobreviva, ele vai sobreviver. E sabe como essa cidade eh, se levar ao médico todos saberão do que o bêbado do seu pai fez e eu duvido que Andrew aceite pagar seu dote e assim você vai perder seu noivo. É isso que quer? Ser recusada por um casamento marcado já igreja? Todos vão comentar e homem nenhum mais vai te querer, vai ser uma solteirona! É isso que quer?
一 Não mamãe . Mas....
一 Mas nada Sarah, por Deus eu tenho feito de tudo por essa família, sabe o quanto lutei pra encontrar um bom casamento para você e.... 一 um estrondo de um disparo interrompeu as palavras de Marilla e chamou a atenção das duas meninas mais jovens que acordaram confusas.
一 Fiquem aqui, vou ver o que houve.... disse Marilla vendo o rosto apavorado das jovens.
A matriarca desceu as escadas aflita, certamente o marido havia atirado na cabeça de um dos cães como sempre fazia quando este latia demais. No entanto assim que entrou na sala ouviu outro disparo e os estilhaços de madeira voaram em sua direção.
一 Abaixe-se sua imbecil! 一Ouviu a voz do marido que estava agaixado sob a janela cujo o vidro já havia sido estilhaçado. Marilla se jogou ao chão imediatamente e correu o olhar pela sala, em meio ao tapete o corpo do futuro sobro de Sarah jazia com o peito do paletó manchado de sangue enquanto sua esposa e seu filho tentavam se proteger atrás de um imponente armário de madeira... 一 Pegue um rifle seus inúteis! Se eles invadirem estamos todos mortos!
Sarah tentou fazer com que suas irmãs s respondessem embaixo da cama, mas apenas a mais jovem a obedeceu. Quando o som atordoante do grito de guerra indígena foi ouvido e as jovens perceberam o que se passava, Rute saiu apressada do quarto em direção ao quarto dos pais, onde havia uma pistola e munição. Embora nunca tivesse sido ensinada a usar, já havia visto o pai recarega-la tantas vezes que não foi difícil realizar o procedimento. Com as mãos trêmulas segurou a arma junto ao peito, tomada pelo pavo. Já tinha ouvido histórias suficientes para saber que não deixaria que nenhum daqueles demônios pagãos a pegassem com vida.
No andar debaixo, enquanto kewanne e seus homens faziam disparos e teoteavam com seus cavalos de um lado para o outro arrastando o corpo do cocheiro dos Alberth . Tokalah e seus homens adentravam a casa pelos fundos silenciosamente, atravessando a cozinha e depois a sala de jantar, onde ainda havia pedaços de bolo sob os pratos. Na próxima sala, avistou duas mulheres abraçadas e chorosas tentando se proteger atrás de um móvel, mais a frente o corpo de um homem e mais dois trocavam disparos com os Arikara do lado de fora.
Marilla soltou um grito de pavor quando percebeu os homens a sua frente chamando a atenção do marido e genro que voltaram-se armados para o outro lado. Enquanto Macawi e outro indígena separavam e arrastava as duas mulheres que gritavam histericamente.
一 Solte-as ou eu estouro seus miolos seu maldito pele vermelha 一 gritou o senhor Norton engatilhando o rifle, no mesmo instante o jovem noivo que tentava recarregar seu rifle tombou aos seus pés com uma flecha certeira que cruzou a janela e acessou seu crânio. Norton fez um disparo que devido a sua embriaguez passou longe do indígena que deu um leve sorriso firmando os dedos contra o cabo de sua machadinha de guerra porém antes que pudesse avançar sobre o homem, Kewanne invadiu pela porta da frente o colocando sobre sua mira.
一 Melhor largar isso. 一 Disse Kewanne.
一 Vocês vão morrer seus infelizes, os vizinhos já devem ter ouvido, vão vir pra cá e matar todos vocês seus filhos da puta! 一 Berrou o homem.
Tokalah se aproximou dele tomando o rifle da sua mão e entregando a Macawi, encarou com firmeza os olhos do homem que parecia uma versão envelhecida e magra de Andrew e acertou-lhe um soco no rosto que o fez tombar para o lado aturdido. O indígena, correu o olhar sobre a sala e algumas fotos de família chamou sua atenção, tomando um dos pequenos quadros em preto e branco na mão, que ostentava a imagem de Andrew imponente em seu uniforme da cavalaria e um rifle em punho.
一 Peguem todas armas e pólvora que encontrarem 一 Disse a seus homens 一 amarrem eles, levaremos os pais dele conosco. 一 falou apontando para Marilla que aumentou o choro gritando apavorada.
O líder voltou o olhar a escada e sinalizou com a cabeça pra Kewanne que o seguiu pelos degraus, assim que empurraram primeira porta um disparo atravessou a madeira raspando no braço de Kewanne o fazendo recuar apertando o ferimento com a mão.
一 Tudo bem, foi só um aranhão 一 disse o Arikara a Lua Negra que assentiu com a cabeça quando ouviu outro disparo e o som surdo de algo chocando-se contra o chão. Quando empurrou a porta novamente, viu o corpo de uma jovem ao chao com uma pequena pistola na mão e parte do rosto desfigurado. 一 Os brancos são estranhos. 一 Kewanne falou se abaixando junto a garota e pegando a pistola de sua mão. 一 Se matam por medo de morrer.
一 Não era da morte que ela tinha medo. 一 procure por armas e munição, vou olhar o resto. 一 Disse Tokalah e Kewanne assentiu com a cabeça.
Resumo do Capítulo:
Tokalah e seus homens coordenam um ataque a fazenda dos Norton. Na fazenda, um jantar é servido a família do noivo de Sarah. A família Alberth se mostra curiosa diante dos últimos acontecimentos envolvendo o filho mais velho dos Norton. Sara está preocupada com o estado de saúde do bebê porém não vê nenhuma solução a seu alcance. Durante o embate entre indígenas e os fazendeiros o noivo e o sogro de Sarah são assassinados, assim como dois do grupo dos indígenas. Tokalah, se prepara pra levar Marilla e George ( pais se Andrew) como seus reféns.
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