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Caminhos Tortuosos - V


Cheveyo caminhava com dificuldade, cada passo era uma batalha. O sangue escorria de uma ferida aberta em sua lateral, tingindo suas vestes de escarlate. O vento cortante do vale uivava em seus ouvidos, ecoando as vozes dos espíritos ancestrais que sempre o guiavam, mas que agora pareciam distantes. Ele estava sozinho, ferido e desarmado, tentando desesperadamente voltar ao forte.

A missão havia começado de forma simples: uma carroça de mantimentos deveria ser deixada de forma despercebida próxima a aldeia dos Mandan, sem levantar suspeitas de que fora enviada pela cavalaria americana. Cheveyo e seu parceiro, disfarçados de viajantes comuns, seguiram o plano à risca.Mas, assim que atravessaram as primeiras colinas rochosas, o ataque veio rápido, sem aviso.
Seis guerreiros surgiram das sombras como predadores, movendo-se com a precisão e a fúria de quem protege seu lar. Flechas e lanças cortaram o ar ao redor de Cheveyo e seu parceiro. O combate foi breve, brutal. Em meio ao caos, ele conseguiu escapar, mas ao custo de abandonar o companheiro de viagem, que lutou bravamente enquanto o inimigo o cercava.

Cheveyo sabia que estava longe de ser um covarde, mas o instinto de sobrevivência falou mais alto. A cada passo, sentia a dor aguda do ferimento abrir um pouco mais. O sangue quente fazia contraste com o frio que lhe gelava a pele. Seus pensamentos oscilavam entre a lembrança da missão fracassada e a esperança de alcançar o forte e ver novamente sua esposa, quem sabe ter seus filhos devolvidos.
A cada passo, ele sussurrava para si mesmo, um mantra que aprendeu com os mais velhos: 一 Eu sou um Crow, um corvo, eu sou o vento que se perde na escuridão. Nenhuma terra é inóspita para mim. Nenhum desafio insuperável. Eu sou o corvo da noite.

Quando Cheveyo finalmente avistou os muros do forte ao longe, suas pernas vacilaram. Ele tinha percorrido léguas, lutando contra o cansaço e a dor. Com passos lentos, ele se aproximou da entrada. Dois soldados montavam guarda. Ao avistarem a figura ensanguentada e cambaleante, suas expressões mudaram instantaneamente de indiferença a preocupação. Um deles correu na direção de Cheveyo, segurando-o antes que ele desabasse no chão e em poucos instantes, mais homens vieram, carregando o batedor para dentro do forte.
Ele foi levado diretamente ao posto médico. O cheiro forte de álcool e remédios dominava o ambiente, enquanto o médico, um homem de meia-idade com óculos, avaliava rapidamente o estado do índio.

一 Coloquem-no na mesa, 一 ordenou, enquanto os soldados obedeciam.O médico e seus assistentes começaram a trabalhar rapidamente, limpando o ferimento, retirando fragmentos de metal que haviam penetrado em sua pele e suturando a carne aberta com precisão.

Enquanto estava deitado, ouvindo o som das agulhas e das ordens murmuradas ao seu redor, Cheveyo percebeu a presença de uma figura entrando na tenda médica. Era o capitão Norton, com sua postura ereta, olhar firme e uniforme impecável, contrastando com as roupas desgastadas e olhares cansados dos soldados rasos.

一 Cheveyo 一 começou o capitão, aproximando-se da mesa. 一Soube que você retornou sozinho. 一 Ele observou o estado do batedor por um momento, em silêncio, antes de continuar.一 O pacote chegou ao seu destino?

一Creio que sim...ah 一gemeu ao sentir a agulha transpassar sua pele. 一 Mas acredita mesmo que comita envenenada é um bom plano? Seinonque pensam sobre nos, peles vermelhas, mas não somos burros a esse ponto.

一 A comida não está envenenada. 一 responde Norton secamente.

一 Então, decidiram alimentar seus inimigos? Para que estejam fortes pro combate? Uma excelente estratégia.一 Zombou Cheveyo que sentindo outra fisgada da agulha que o fez se contorcer.

一 Pode nos deixar a sós doutor? 一Pediu o capitão.

一 Sim já estou acabando Senhor Norton, apenas mais um minuto por favor, 一disse o médico continuando a dar os últimos pontos.

一 Vocês também, fora! 一 Exclamou Norton aos outros soldados que abaixaram as cabeças e saíram logo depois do médico.

一 O que havia na carroça?  一 insistiu Cheveyo.

一 Com sorte, varíola. 一 responde Andrew. Há um surto em riverside, As sacas foram contaminadas com pertences daqueles que pereceram a doença.

一 A doença das bolhas? 一 Questionou Cheveyo arregalando o olhar.

一É assim que chamam? 一 Andrew perguntou setando-se ao lado da cama, 一 Se não foi bisbilhotar o conteúdo você deve ficar bem, mas sugiro que aguarde uns dias até se aproximar das outras pessoas. 一 Falou calmamente.

一 E você não tem medo? 一Disse Cheveyo segurando o braço do capitão com certa fúria.

一 Eu já estou morto. 一 Respondeu Andrew puxando o braço e se levantando da cama.

一 Isso vai dizimar a aldeia toda, principalmente os mais fracos. 一 Disse Cheveyo baixando o olhar 一  e vai sobrar homens fortes e furiosos com nenhum motivo pra viver além de vingança pelos filhos que enterraram.

一 Sim, e quando estiverem furiosos, estaremos do lado  fora pra aplacar a ira deles até que reste tão poucos deles que sejam obrigados a baixar as seus machados e  arcos e quem sabe até  servir ao nosso país, como você. Agora descanse, serviu bem a cavalaria. Vou ver o que posso fazer a respeito de seus filhos, mas não tenha muitas esperanças. As crianças recebem novos nomes quando chegam as escolas, e quase não há registros sobre quem eram e de o de vieram, mas farei o possível.

***

Após quase duas horas de espera, Armand finalmente apareceu no corredor, enxugando as mãos em um pano. Atrás dele, vinha Marrie, com um olhar tenso. Topanga se levantou rapidamente, encarando o médico com ansiedade. Ele trocou olhares por um momento antes de começar a falar.

一 Sua esposa está bem. O que aconteceu foi que o colo do útero dilatou antes do esperado, mas, felizmente, agimos a tempo. Não houve comprometimento da placenta, e o bebê está se desenvolvendo normalmente.

一 E isso é grave doutor? perguntou Topanga, aflito.

一Nesta fase da gestação, sim. Ela corria o risco de um parto prematuro, e o bebê provavelmente não sobreviveria. Realizei um procedimento chamado cerclagem. É relativamente novo, mas tem mostrado bons resultados. Basicamente, fiz uma sutura no colo do útero. Claro, há riscos, mas sem isso ela perderia o bebê

一 Eles vão ficar bem? 一 Questionou Topanga.

一 Como eu disse, há riscos de infecções, apesar de eu ter tomado todas as precauções. Agora, o mais importante é que sua esposa tenha repouso absoluto e tome antibióticos pelos próximos dias. Tenho algumas doses sobrando do tratamento da minha sobrinha, mas vocês vão precisar de mais.

一 Eu posso pagar por eles.

一 Eu sei que pode. Vou falar com o médico da cidade para ver se ele tem mais frascos disponíveis. Infelizmente, como minha licença médica ainda não está ativa, não posso requisitar o medicamento formalmente.

一 Melhor não dizer a quem pretende entregar os remedios, pois duvido que eles o ceda se souber. E doutor, estamos na caravana, rumo as novas reservas, não teremos muito tempo para repouso.

一Sugiro que arrange tempo, sua esposa foi muito corajosa hoje, eu não tinha sequer uma anestesia descente e ela foi muito forte. 一 disse Armand com un sorriso afavel 一  ela vai precisar de um médico na hora do parto, os pontos precisan ser retirados a partir da 37 semana. Para que o bebê  possa nascer Então, porque não resolve os seus assuntos e deixe ela aqui essa noite, ela esta exausta precisa dormir, descansar. Ficará em boas mãos. 一 Falou Armand com um sorriso afável.

Topanga hesitou por um momento, mas sabia que o médico estava certo. Além disso, seria bom para Elise dormir em uma cama confortável, sem o desconforto da viagem.

一 Eu posso ver minha esposa agora? 一perguntou ele, um pouco mais tranquilo.

一Claro, por aqui 一 Armand respondeu, indicando o caminho enquanto eram observando por Augustine em silêncio.

Topanga entrou no quarto e se aproximou da cama, onde Elise estava deitada. Armand assentiu com a cabeça e deixou o jovem casal a sós. Com um suspiro de alívio, ele segurou suas mãos com carinho.

一Como você está?一 perguntou suavemente.

一 Um pouco dolorida 一 respondeu Elise, com um sorriso fraco 一 mas estou bem. Ele disse que, com os cuidados certos, podemos levar a gravidez até o final. O bebê vai ficar bem.一 Disse Elise que esmoreceu o sorriso ao ver a tensão no rosto do marido. 一 O que houve.

一 Ele disse que vai precisar de um médico para o parto, 一 começou Topanga, com um tom grave 一 que o bebê não conseguirá nascer se os pontos que ele deu, não forem retirados. Vamos estar na estrada, e mesmo que por um milagre chegássemos tão rápido, não haverá nada nas reservas. Não posso levá-la comigo Elise.

一 O que? 一 Ela olhou para ele, chocada

一 Não vão permitir que nossa comitiva acampe por  tanto tempo, e mesmo que fosse possível ninguém concordaria. E depois do que eu disse para nosso povo, tenho de estar com eles.

一 E sua família? 一 perguntou Elise, a voz embargada.

一 Você é filha de Nathan Green, tem um passe, encontrarei um lugar para acomodá-la e te deixarei dinheiro o suficiente para que sobreviva até que eu possa retornar pra buscar você e a criança.

一 Não, eu vou com você,  一 protestou Elise, com firmeza.

一 Se ir comigo você e esse bebê vão morrer no meio da estrada, sabe disso.

一 Então fique, sabe que pode conseguir um passe, é um homem civilizado.一 Implorou Elise, segurando sua mão com força 一  Topanga, não me abandone por favor, não faca isso.. comigo... com seu filho. Fique com sua família, eu imploro.

Topanga desviou o olhar, o peso da decisão esmagando-o.

一 Me desculpe Elise, encontrarei um bom lugar para você ficar, apra que possa ter o nosso filho em segurança. Talvez o doutor possa ajudar e Marrie ficará com você. Eu disse que cuidaria de você e vou fazer isso. Leva-lá comigo nesse estado, seria o mesmo que enfiar uma adaga no seu pescoço. E eu não suportaria Elise, não suportaria ver você morrer por minha causa.一 Ele disse segurando o rosto dela entre as mãos. 一 Eu te amo, então, confie em mim. Eu prometo que voltarei pra buscá-los.

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