
A promessa III
Elena caminhou a passos largos com uma tigela com carne e um purê de batata doce. Encontrou o irmão deitado sobre um tapete, com as mãos e pés amarrados a uma estaca fincada ao chão. Por mais que lhe partisse o coração, toda vez que tentaram dar mais liberdade a Edward ele tentava escapar ou ficava agressivo, tornando-se um perigo a todos.
一 Irmão, trouxe -lhe o jantar 一 falou chamando a atenção 一 está uma delícia. Vou soltar suas mãos para que possa comer.一 Disse coçando a tigela ao lado e desamarrando a tira de couro que prendia seus punhos.一 Eu não gosto disso, se se postasse um pouco melhor, viveria em melhores condições.
一 E o que tenho que fazer para isso? Ir para cama com chefe deles?一 Questionou com desdém.一 Receio que não faça seu gosto.
一 Não é o que pensa. Tokah e eu ... Nós .. nós... Há amor entre nós.一 Ela gaguejou.一 E Edward balançou a cabeça com um sorriso sarcástico.
一 E quanto a Andrew? O seu marido, lembra-se dele? Aquele com quem se casou diante de Deus e dos homens?
一 Não foi escolha minha e por mais que talvez Andrew tenha algum carinho por mim, sei não passo de um acordo comercial para meu marido.
一 E este índio fez você pensar que ele foi? Uma escolha sua? Depois dele a sequestrar, retirar tudo que conhecia e amava, seus costumes, roupas, a própria língua? Força-la a viver uma vida que não é sua?
一 Ele me ama e valoriza não só a minha companhia, como minhas opiniões e habilidades. Esta vida é mais minha do que qualquer outra que já tive.
一 O valor de uma mulher aqui, em Charlotetonw ou no mundo, está sempre ligado a quanto prestígio ela pode trazer pra vida ou pro pênis de um homem. A diferença é que o Capitão Norton não vai poder troca-la por dois cavalos e uma pele de búfalo, quando não for mais do interesse dele.
一 Eu sinto que nunca tenha experimentado um amor verdadeiro, meu irmão.
一 Paixões só duram o suficiente pra se tornarem tragédias, minha doce irmã. E digo mais, pode um lobo amar um cordeiro?
一 Eu não sou um cordeiro, não mais. Vou deixar suas mãos soltas, sinceramente eu espero que não faça nenhuma bobagem. 一 Falou se levantando sob o olhar atento do irmão.
Assim que saiu deparou-se com Tokalah ao lado de fora.
一 Está me vigiando?
一 Guardando...一 Ele sorriu entrelaçando seus dedos aos dela puxando-a para ele. 一 Não confio nele e você está errada, você não deixou de ser um cordeiro, você nunca foi um. 一 falou arrancando um sorriso dela 一 Mesmo tendo esse corpo franzino e esses braços finos 一 disse em tom zombeteiro一 pensei que fosse um espírito da noite quando a conheci 一 Ele falou curvando-se para encostar sua testa a dela... 一braços finos, seria um bom nome pra você.
一 Você nao é louco. 一Ela acariciou o rosto dele e ficou na ponta dos pés para beija-lo.
Hora mais tarde estavam os dois na tenda nus sob os cobertores, deitada com a cabeça em seu peito, Elena tinha os cabelos acariciados pelo nativo que refletia sobre as próximas decisões que deveria tomar. Em três dias se encontraria com o líder dos Hidatsa para uma conversa preliminar sobre os rumos que as nações da planície deveriam seguir de agora adiante.
一 Está preocupado? 一A voz de Elena cortou o silêncio enquanto sentia o dedos dela dedilhar seu peito.
一 Terei que sair por alguns dias. Decisões devem ser tomadas, levarei Enepay comigo. 一Seria bom se dormisse na tenda de Lytonia ou de Witchashawakan esses dias.
一 Porque?
一 Kinaukauk, elnão está contente com minha decisão sobre o futuro manto. Ele acredita que humilhei seus filhos entregando a Enepay está honra e pode tentar retaliar de alguma forma.
一 Kinaukauk fala demais, mas não creio que tenha coragem de agir.一 Ela respondeu e Tokalah soltou um suspiro. 一Acha que estou errada?
一 Uma jovem mãe foi morta no clã de Maralah, um waikiki foi culpado pelo crime, meu ódio por eles selou meus olhos para a verdade. Deixei que o homem fosse morto e isso causou toda aquela destruição.
一 Foi Kinauhauk? Quem matou a mulher?
一 Não tenho provas, mas sei que foi ele. Ele é ganancioso e mesquinho, no entanto isso não é um motivo forte o bastante para que eu possa atravessar meu machado em sua cabeça e temo que eu ainda não tenha pago pela injustiça que permiti acontecer. 一Ele disse com sinceridade e Elena permaneceu imóvel. 一 Está decepcionada?
一 Eu não sei o que pensar 一 ela disse e ele beijou sua testa carinhosamente. Se não tem provas não há como ter certeza, não pode julgar um homem baseado na sua intuição. Principalmente quando pensa que atravessar a cabeça dele com um machado, é uma boa ideia E haviam provas contra aquele soldado, não haviam? Nada que pudesse fazer mudariam as coisas. Mas enfim eu poderia ir com você, poso ajudar com as negociações, salvar sua vida de malfeitores e lhe fazer companhia 一 falou encaixando deu rosto na curva do pescoço dele.
一 Não tenho dúvidas disso, mas embora me agrade a ideia, dessa vez não. Não sei se já é do conhecimento dos waikikis que você está aqui, se não for, melhor que permaneça assim. Mas chega de conversa 一 falou empurrando gentilmente ela para o lado e se postando sobre ela,一 ainda temos tempo até o dia amanhecer.
***
Andrew cavalgou até o forte onde se encaminhou até o casarão Bennington. O general Krigher o aguardava em seu escritório e assim que chegou, lhe ofereceu um charuto que foi aceito junto com a dose de uísque.
一 Creio que não tenha me chamado aqui parar beber e fumar? 一 dele decidiu cortar o estranho silêncio da sala.
一 Infelizmente não, porquê confesso que estava com uma certa saudade de fazermos isso juntos.
一 É já faz um tempo. 一 Andrew concordou com um sorriso.
一 Preciso que me entregue sua identificação. 一 Ele falou e Andrew franziu o cenho. 一 Há uma investigação em andamento e o felizmente sou obrigado a afasta-lo de suas funções temporiamente.
一 Imagino que o motivo da investigação seja, Nathan Green. Soube que ele voltou a cidade.
一 Ele mesmo. 一 o General acenou convidativo.
一 Eu estava cumprindo ordens do meu superior, porque estou sendo investigado?
一 Porque não cumpriu a ordem corretamente, Nathan Green deveria ter morrido naquela batalha, sabe disso. Se tivesse cumprido suas ordens, não estaríamos nessa situação.
一 O quer que eu faça?一 Andrew indagou 一 Imagino que queira que eu assuma que tentei mata-lo, mas que eu deva omitir que foi uma ordem dada pelo senhor a mando dos georgianos certo?
一 É claro que não, isso te levaria a corte marcial, enlouqueceu? Nathan Green é um homem rico e influente, se fosse menos índio certamente seria uma das grandes cabeças do congresso. Mas ainda é a sua palavra e a de seus homens, contra a dele, essa investigação não prosseguirá, mas eu devo seguir com o protocolo e até segunda ordem você está dispensado de suas atividades.
Andrew pegou algumas mudas de roupa em sua casa no forte. Havia uma espessa camada de poeira sobre os móveis, silêncio e escuridão. Mesmo que a pensão não lhe desse muita privacidade, ainda assim era muito melhor do que ter de encarar aquela casa vazia. No armário sorriu ao ver os vestidos de Elena ainda estavam pendurados. Ao chão, os pares incontáveis de botas e sapatilhas empilhados ao lado das duas botas do exército e um sapato social que possuía. Respirou profundamente e tentou acalmar a mente, tudo estava se encaminhando e com a graça de Deus, teria sua esposa de volta.
No dia seguinte retornou a pousada em Charlotetonw, viu Edgar sair na companhia de Nathan Green. O mestiço agora de volta ao seu terno bem talhado, sapato lustroso, uma maleta de couro e cabelos amarrados em uma trança longa, parecia-lhe bem disposto e pronto para tornar seus dias mais difíceis.
Esperou que se afastassem para enfim adentrar o salão da pousada, tentou passar despercebido por Armand e Augustine, mas o Inglês acenou para ele com um sorriso chamando-o para junto deles.
Augustine sentiu o rosto corar instantaneamente ao ver o capitão se aproximando, desta vez despido de seu uniforme, usava uma calça caqui já um pouco surrada e uma camisa de algodão, simples com um decote em v sobre o peito, mangas levemente bufantes e um colete marrom escuro.
"Ótimo, agora parece um camponês maltrapilho"一 pensou a francesa tentando desviar o olhar dele.
一 Sente-se Capitão, temos boas novas. 一 disse Armand com um sorriso empolgado no rosto. Augustine no entanto não parecia dispor da mesma energia do marido que fez Andrew refletir por um instante se as notícias eram boas mesmo ou o desgosto da francesa era pelo retorno dele a pousada.
一 Tivemos uma rápida conversa com senhor Green, como sabe ele estava entre os Mandam e bem, ele conheceu nossa sobrinha, Elena. A curandeira branca que falam estar entre os índios, é realmente ela! Isso não é magnífico?! 一Falou entusiasmado e Andrew levou um tempo para processar a palavras. 一 Disse que na última vez que a viu, ela estava bem e gozava de perfeita saúde, que os nativos a tratam com respeito.
一 Sem dúvidas isso trás um pouco de alívio a minha alma.
一 Também trouxe a nós 一 disse Augustine 一 porém há algumas preocupações quanto...
一Augustine.... 一 o marido a interrompeu.
一 Você mesmo não teima em me lembrar que Elena é uma mulher casada e não mais a minha criança? Então, é direito do senhor Norton saber o que se passa.
一 O que aconteceu?
一 Bem... 一 pigarreteou Armand 一 Segundo o senhor Green, Elena se sente feliz entre os Mandan e não tem interesse em voltar para a vida civilizada.
一 E vocês acreditaram nisso?一 Andrew riu sem humor 一 O senhor Green está me processando, graças a ele estou afastado de minhas funções. Mas ele sabe que suas acusações são infundadas, por isso vai usar o que tiver em mãos para depor contra a minha honra. Acham mesmo que Elena preferiria viver entre selvagens?
一 Não, é claro que não. Mas... Bom como sabe eu sou um médico, tenho muitos amigos alienistas* e já ouvi comentários sobre casos assim, onde a vítima acaba de alguma maneira se afeiçoado a sua vida em cativeiros ou ao seu algoz. Já faz tempo que ela está longe, temos de estar preparados para lidar com todo o tipo de situação.
一 E imagino que você ache uma boa ideia levá-la de volta a Inglaterra, por conta de uma mentira descabida de um mestiço qualquer? 一 disse Andrew voltando o olhar a Augustine. 一 Eu agradeço toda ajuda e apoio que me deram, mas Elena é minha esposa, minha responsabilidade e eu saberei cuidar bem dela, seja qual for a situação.
*Alienista: psiquiatra
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