A promessa - I
Andrew ajeitou suas roupas enquanto Augustine, ainda sobre a mesa, refletia sobre havia acontecido. Apesar de não ser a primeira vez que se entregou a um homem que não fosse seu marido, a situação era totalmente diferente e aquele momento a deixava completamente confusa. Na única vês que permitiu-se trair seus votos, ainda era a muito jovem, com seu casamento em crise, os abortos e a clínica que tomava todo o tempo do marido. Tudo parecia praticante a empurra-la para os braços de Louis, o homem que teria se casado se Armand não tivesse cruzado no caminho dos interesses de seu pai.
一 Você está bem? 一 perguntou Andrew vendo o rosto fantasmagórico e corpo petrificado da loura.
一Isso nunca aconteceu 一 ela disse ficando em pé ajeitando o vestido e em seguida se pôs a juntar as peças que ficaram pelo chão. 一 Você ouviu? Isso nunca aconteceu! 一 Afirmou a Andrew que estava de costas para ela.
一 Acredite, também não é de meu interesse que alguém saiba.
一Porquê fizemos isso? 一 Ela questionou- se confusa. 一 Eu .. eu amo meu marido e Elena...
一 Carência, desejo, luxúria... Mas seja lá o foi, não foi certo, faltamos com nossos votos e desrespeitamos as pessoas que amamos. 一 falou voltando-se a ela. 一 É melhor voltar para pousada. 一 Ele falou terminado de vestir o casaco.
Augustine se recompôs e ainda ruborizada deixou a sala a passos rápidos. Caminhou em direção a pousada ainda perdida em seus pensamentos. Fora um grande erro se deixar levar pela volúpia do momento, no entanto não conseguia sentir-se arrependida. A muito tempo não sentia-se daquela forma e o pouco tempo que partilhou com o capitão, pareceu-lhe mais recompensador do que os últimos anos dividindo o leito com o marido.
Assim que chegou a pousada, subiu rapidamente as escadas, com sorte o marido não teria retornado da casa do médico da cidade e teria tempo de tomar um banho e pensar em como agir, evitando qualquer desconfiança. No entanto, assim que abriu a porta, viu Armand sentado a mesinha junto a janela, com os olhos fixos no jornal local.
一 Meu bem, estava começando a ficar preocupado, não me disse que iria sair. Onde estava? 一 Ele questionou olhando por cima do jornal.
一 Fui ao gabinete do prefeito 一 ela respondeu retirando as luvas e viu o marido arquear as sobrancelhas grossas com curiosidade 一 Você disse que eu deveria pedir desculpas ao senhor Norton, não é mesmo?
一 Ora, meu bem. Não imaginava que faria, estou muito orgulhoso 一 Falou se levantando para enreda-la num abraço, porém ela se afastou. 一 o que houve?
一 Eu preciso de um bom banho, não bastava o calor agora essa umidade e logo de vir uma tempestade. Viu como venta na rua? Tem areia grudada em mim, com licença meu amor, vou descer e pedir água quente.
****
O vento soprava forte e a escuridão do céu anunciava uma tempestade, Enepay seguia Witchashawakan que escolhia um dos cavalos de Tokalah para ser sacrificado e alimentar a tribo naquela semana.
一 Este deve servir 一 Disse apontando para o animal mais velho.
一 Tokalah gosta dele 一 Enepay acariciou a cabeça do animal.
一 Tokalah tem sessenta cavalos e deu um nome a cada um, por isso mandou que eu escolhesse o animal. 一 Disse o homem velhoe o garoto passou uma corda sob a cabeça do cavalo separando-os dos outros e levando até o palanque onde costumavam carnear os búfalos.
一 Consegue fazer? 一 O velho arqueou as sobrancelhas.
一 Sim, mas precisarei de ajuda para sangra-lo. 一 Respondeu o garoto.
一Eu buscarei ajuda, aguarde eles chegarem para começar. 一 Disse o velho já se afastando.
O menino acariciou o animal e cantarolou uma música, por mais que a carne de cavalo fosse parte da alimentação dos Mandan, geralmente só era consumida quando o animal vinha a falecer ou ficava gravemente ferido. Ter que sacrifica-los com o propósito de alimentar a tribo, era algo muito triste pois este não era o proprosito a que foram criados pela grande mãe.
一 O que está fazendo aí parado mestiço? 一 Ouviu uma voz que ao se virar percebeu se tratar de Hauk o filho mais velho de kimimela e Kinauhauk e seu irmão Squanto.
一 Esperando um tolo perguntar o que estou fazendo 一 respondeu voltando a atenção ao animal.
一 Se acha muito engraçado, não é? Mestiço... Deve ter herdado isso do waikiki que enfiou você dentro da puta navajo que era a sua mãe. 一 Disse e Enepay respirou profundamente tentando aliviar a raiva que lhe subiu a cabeça.
一 É talvez eu tenha mesmo 一 respondeu fingindo não se importar com o comentário. Embora fosse jovem já tinha vivido o suficiente para entender que a sua raiva só fazia aumentar as provocações vindas de outros garotos.
一 É um mestiço covarde mesmo. 一 Respondeu Hauk.一 Vamos Squanto.
Depois de matar, sangrar e limpar o animal, toda a carne foi separada, como de costume as vísceras foram entregues ao garoto para que fossem limpas e organizadas. Não havia uma parte sequer do animal que fosse desperdiçada. A carne era consumida totalmente, o couro se transformava em vestimentas, tapetes ou tendas, cascos e ossos eram moldados se transformando em estacas, ferramentas, facas, pontas para flechas, enfeites de cabelo e até mesmo instrumentos musicais.
O garoto limpava as tripas com cuidado quando viu o grupo de crianças seguido por alguns meninos mais velhos que incluía Hauk e Squanto.De início pareciam se divertir brincando juntos as crianças menores mas logo Enepay percebeu que os meninos mais velhos zombavam dos pequenos, jogando um brinquedo de um para o outro fazendo as crianças correrem de um lado para o outro.
O garoto balançou a cabeça e voltou ao trabalho. Desde que os dois se uniram a tribo tinham comportamentos inadequados e ainda por cima eram incentivados pelo pai, sendo copiados por outros meninos. Enepay sempre manteve certa distância dos meninos da aldeia, preferia a companhia de Tokalah ou dos homens mais velhos, com a chegada dos garotos a distância ficou maior ainda.
Ouviu um trovão cortar o silêncio, a tempestade se aproximava e queria terminar aquilo o mais rápido possível e apressou o trabalho, porém poucos minutos o choro de Wewomi chamou sua atenção. Viu a garotinha olhar para o rio enquanto os meninos mais velhos e as outras duas criancinhas se afastavam dela, e em seguida ela retirar o vestido e mesmo gritando pra que parasse pois a correnteza estava forte demais, a menina pulou na água nadando em direção ao brinquedo que boiava descendo rio abaixo.
O jovem nativo largou as vísceras e correu na lateral do rio gritando pra que a menina voltasse para margem. Wewomi continuou nadando até alcançar o brinquedo porém mesmo sendo um excelente nadadora pra sua idade, foi incapaz de lutar contra a forte correnteza que começou a empurra-la para baixo.
一Wewomi!!!一 Enepay gritou e pulou na água em busca da criança que agora emergia e submergia sendo arrastada pela forte correnteza em direção as pedras.一 Wewomi! 一 Gritou mais uma vez tentando localizar a criança em meio a água porém não conseguia mais vê-la em lugar algum. Mergulhou tentando enxergá-la, porém quando submergiu novamente também estava sendo carregado em direção as pedras, chocando-se com força contra uma que rasgou a sua carne. Mais a frente conseguiu se segurar a uma delas e manter sua cabeça para fora da água 一 Wewomi!!!!一 Ele gritou tentando ver a criança. 一 Ouviu um estrondo no céu e rapidamente a chuva começou a cair com força, aumentando ainda mais a dificuldade de manter-se agarrado a pedra, mesmo assim não hesitou em soltar uma das mãos e agarrar o braço da garotinha já desacordada sob a água. O jovem mestiço, usou todas as forças que tinha, para puxar a menina contra a correnteza forçando seu pequeno corpo desfalecido sobre a pedra.
一Socorro! Socorro! 一Gritou o mais alto que pode, sabendo que a tempestade estrondosa impediria qualquer um de ouvir seu apelo.
***
Andrew juntou os papéis que haviam sido derrubados ao chão e colocou-os novamente sobre a mesa e mais uma vez sentiu a culpa pairar sobre seus ombros.
一 Capitão? 一 Ouviu a voz de Gilbert cortar o silêncio.
一 Diga Gilbert. 一 Respondeu sentando-se a mesa,disfarçando estar interessado na pilha de papéis agora amassados.
一 Vi a senhora Stewart sair apressada, algum problema?
一 Minha esposa que também é sobrinha dela está desaparecida, provavelmente entre índios, há problemas maiores que este? 一 Respondeu Andrew intempestivo.
一 Imagino que não, no entanto... 一 Gilbert fez uma pausa correndo o olhar pela sala. Sabe que lhe admiro muito capitão, e mesmo sendo eu fiel aos preceitos do casamento e da santa mãe igreja, entendo que as vezes um homem tem certas necessidades, principalmente sem a companhia esposa por tanto tempo.一 falou alisando o grosso bigode 一 E não lhe falaria nada, se tivesse procurado uma prostituta ou uma criada para ... Bem para se aliviar... No entanto, a senhora Stewart é uma mulher casada, esposa do tio da sua mulher e isso me parece uma profanação sem tamanho.
一 Eu não sei o que pensa que ouviu, mas está enganado. 一 Respondeu Andrew tentando mascarar a ansiedade na voz.
一 Ora capitão, tenho alguns anos de estrada a mais que você, sei bem o que aconteceu aqui hoje e saiba que pode contar com a minha discrição. Apenas queria alertá-lo sobre as tentações que muitas vezes satanás coloca em nosso caminho para que nos desviamos da palavra do senhor.
一 Eu sempre fui religioso e temente a Deus, sargento. Todo o domingo estava na igreja ouvindo a palavra e veja como fui recompensado. Minha primeira esposa morta, meus filhos nem tiveram a chance de abrir os olhos e agora Elena, está nas mãos de selvagens pagãos. Ainda creio e respeito a palavra, mas se Deus está ocupado demais para mim, também estarei para ele. Quanto a Augustine... Foi um momento de fraqueza de ambos os lados, que não voltará a se repetir. Então que está conversa não saia daqui, entendido sargento.
***
Tokalah adentrou a tenda escapando da chuva e Elena o recebeu com um sorriso, pousando um cobertor sobre seus ombros.
一 Eu odeio as tempestades. 一Disse ela olhando a chuva cair forte do lado de fora e Tokalah correu o olhar pela tenda em busca da filha.
一 Wewomi não está com você? 一 Ele questionou e ela acenou negativamente com a cabeça.
一Ela estava com Lytonia e outras crianças, ainda deve estar com ela.
一 Eu acabei de sair da tenda de Lytonia e ela não estava lá 一 disse já saindo para fora. 一 Wewomi! Gritou e viu alguns rostos espiarem pelas aberturas das tendas.一 Wewomi! 一 Abaixou-se a altura abertura e disse a Elena que iria procurar a criança.
一 Duas pessoas são mais eficazes para procurar. 一 a mulher falou colocando um couro sobre as costas e saindo logo atrás dele.
Passaram nas tendas mais próximas em busca da menina, até que na casa de kimimela, Squanto revelou ter visto a menina perto do rio mais cedo. Tokalah e Elena saíram em disparada seguidos por kimimela e Kinauhauk em direção ao rio e antes que pudessem avistar algo entre o clarão dos relâmpagos e o barulho de trovões, ouviram a voz abafada de Enepay pedindo por ajuda.
一 Precisamos de uma corda.一 Elena disse, mas antes que pudesse terminar o índio lançou-se a água e se pôs a nadar em direção até as crianças. 一 Uma corda rápido kianauhauk, ele não vai conseguir nadar de volta!
Assim que alcançou a pedra sentiu o peito apertar ao ver o corpo desfalecido na filha. Chamou- a e balançou sua cabeça porém Wewomi permaneceu inconsciente.
Kinaukauk surgiu com uma corda de couro trancada e lançou aos três. Tokalah segurou na ponta e sinalizou para o garoto seguir em frente enquanto ele ajeitava o corpo de Wewomi sobre os ombros.
A chuva caia de forma pesada quando alcançaram a margem, o pai colocou a filha sobre o chão, agora lamacento e Elena se abaixou ao lado deles.
一 Me de licença, disse afastando Tokalah que sentou-se ao chão desolado.
一 Vamos Wewomi. Vamos! Ela disse virando o corpo da criança, apertando seu peito e sobrando ar através da sua boca. 一 Vamos Wewomi.
一O que está fazendo?! 一 questionou kimimela.一 Ela se foi...
一 Não! 一 Protestou Elena 一 ainda não 一. Que continuou o procedimento entre lágrimas. Apesar de ainda pouco difundido, a técnica descoberta por um médico escocês, prometia trazer vítimas de afogamento e asfixia de volta a vida, se feita em tempo ábil. Apesar de ver o tio pratica-la algumas vezes, nunca sequer havia tentado, mas não desistiria facilmente.
一 Vamos Wewomi, vamos.... Por favor... Respira... Respira! 一 Gritou já se entregando ao dessespero quando a menina contraiu o corpo golfando água pela boca. 一 Obrigada jesus, disse Elena virando a menina para o lado a fim que toda agua saísse.
Minutos depois estavam na tenda, Wewomi fora despida e enrolada nas peles mais quentes que dispunham e agora era embalada pelo pai, enquanto Elena costurava o ferimento causado pela pedra na testa do garoto.
一 Salvaram a vida dela, vocês dois. 一 Disse a Elena e Enepay, e voltou-se a filha que ainda estava pálida e fria. 一 Sabe que não pode entrar no rio sozinha, ainda mais quando há tempestade as águas ficam bravas. 一 Disse a garotinha em seus braços.
一 Hauk jogou meu brinquedo na água, eu não queria que ele se perdesse pra sempre. 一 Ela disse com a voz fraca intercalada com um pouco de tosse. Tokalah a doutou sobre os tapetes tomou o seu arco favorito em mãos e partiu-o em dois fazendo a menina arregalar os olhos.
一 Você gostava dele, porque fez isso?
一Porque é apenas um arco, eu posso ter outros. Assim como como você terá outros brinquedos, mas não posso ter outra Wewomi, entende? Nós arriscamos por aquilo que é valioso de verdade, nossa família, amigos, nossa nação, como Enepay fez por você, mas não por coisas, filha. Nunca mais faça isso, entendeu? Você poderia ter morrido, Enepay poderia ter morrido... Compreende?一 Ele questionou e ela assentiu com a cabeça. 一 Ficará sem seus brinquedos a partir de hoje.
一 Todos? 一 perguntou com os olhos lacrimejantes.
一 Sim, todos.
一 Não acha que está sendo duro demais com ela, ela é muito pequena ainda e tenho certeza que já aprendeu a lição, não é Wewomi? 一 Elena interveio em favor da criança.
一 Wewomi foi imprudente, mas não é a única culpada. Hauk, Squanto e dois outros garotos vem causando problemas,一 Enepay decidiu falar 一 Não é a primeira vez que fazem brincadeiras inapropriadas com os pequenos e as vezes até machucam os outros. Sei que esse tipo de problema não é assunto para o grande chefe, mas se eles não pararem, o que aconteceu hoje, pode voltar a se repetir.
一 Fez bem em me contar, todos os assuntos do clã são de interesse do chefe. Tomarei providências ao amanhecer.
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