A Filha do General - IV
Elena se afastou e logo encontrou com Enepay que observava curioso a cena.
一Os conhece? 一 O garoto questionou esticando o pescoço tentando reconhecer algum rosto.
一 De vista 一 disse se posicionando de forma para que o garoto não percebesse Edward entre os soldados. 一 Eu só queria saber se Andrew está bem.
一 Certo, eu sei que está furiosa, mas vai ficar tudo bem. A vida aqui não é ruim e com o tempo o senhor Norton vai esquece-la, devia fazer o mesmo. Agora venha, vamos servir os guerreiros essa noite.
一Achei que fosse um guerreiro de como você o chama? Lua Negra? Vai servi-los agora?
一Eu fui rebaixado, graças a você então acho que está os quites e devia ter aceitado o nome que Witchashawakan lhe deu. Agora Todos estão te chamando de Misae Ynene
一E o que significa?
一 Feiticeira branca.
一 Não parece pior do que a que dança com os espíritos. 一Elena falou tomando a frente.
一 Acredite, não é um nome honroso. Mas é bom não ser o único visto como um mau agouro por aqui. Mas enfim, somos servos e vamos tentar as coisas direito para que um dia quem sabe sejamos aceitos completamente.
一 Servos? Assim que chamam seus escravos.
一Não somos escravos.
一Não? Você mesmo disse que pertencemos a Tokalah, somos obrigados a trabalhar e privados de liberdade, isso é um conceito de e escravidão Enepay.
一 Não é como vocês fazem, 一 disse o garoto balançando a cabeça incomodado 一 mas você está zangada e qualquer coisa que eu diga não mudará sua opinião. Então vamos ajudar a servir e parar com essa conversa.
Apesar da vitória e do saque de armas e pólvora ter sido extremamente bem sucedido, Elena podia sentir o sabor agridoce que embalava aquela noite.
Alguns homens haviam perdido a vida e pela manhã seus corpos agora envoltos em mantos de couro que agora eram decorados pela família, seriam cremados pela manhã em piras que eram montadas a margem do rio.
Por mais que tenha tentado prestar a atenção, não havia qualquer indicação que as armas trazidas estivessem em alguma das tendas do vale. Por mais que forçasse a mente, não tinha visto um homem sequer portando um rifle ou pistola desde que chegaram, então certamente as armas haviam sido guardadas na entrada do vale. Talvez em uma das cavernas que serviam de esconderijo para os vigias da tribo, inalcançáveis a ela.
一 Leve isso pra Tokalah e Navalha. 一 Disse Kimimela entregando-lhe duas porções de comida e carne.
一Não gosto daquele homem, da cicatriz. Eu não fiz nada contra ele, mas ele me olha como se quisesse cortar minha garganta一
Disse lembrando-se da bofetada que lhe deu mais cedo sem motivo aparente.
一E provavelmente ele quer 一 respondeu a índia fazendo Elena arregalar os olhos 一 Pelo que sei, é um dos homens de confiança de Crazy Horse e ouvi dizer que ele serviu como farejador do exército por alguns anos.
一O que é um farejador?
一Ele caçava outros nativos, que fugiam das reservas. Dizem que quando foi recrutado, ele tinha uma família de seis filhos, que os waikiki o obrigaram a escolher dois e depois o fizeram matar os outros quatro com uma navalha. 一 Disse Kimimela e Elena engoliu a seco.一 Depois daquilo ele ainda teve que trabalhar pra eles para mante as crianças que sobraram vivas. Dizem que ele mesmo fez aquela cicatriz no rosto, com a navalha com que
matou os filhos. Acho que pode entender agora porquê ele odeia tanto a sua gente
一 Isso é horrível. 一Elena falou ainda chocada.
一 O mundo é um lugar horrível, senhora Norton, principalmente aqueles que não partilham da sua cor. Agora leve a comida antes que esfrie.
💕💕🙈 lhe contou, Navalha ainda lhe causava arrepios.
Tokalah ofereceu uma pequena faça para 1 gesticulando com as mãos para que cortasse a carne. Elena soltou um suspiro incomodado, mas decidiu seguir a ordem.
Se o plano de Edward desse certo, em breve estaria em casa, até lá era melhor não chamar mais atenção do que já era lhe dada.
Cortou os pedaços com certa dificuldade e voltou a entregar o punhal a ele que o pegou de sua mão deixando que seus dedos se encostassem por um tempo que Elena julgou maior que o necessário fazendo com que ela recusasse instintivamente.
一Hey 一Ele chamou a atenção e tomou a mão dela colocando o pequeno punhal e fechando seus dedos sobre os dela a obrigando a segurar o presente e em seguida disse alguma palavras que foram traduzidas por Navalha.
一 Ele disse que é seu, pra se proteger e usar com sabedoria. 一 Falou o homem com o semblante fechado e Elena concordou com a cabeça de afastando em seguida. 一Achei que não confiasse nos brancos. 一Navalha se voltou a Tokalah.
一 E não confio.
一 Acabou de dar uma faca pra aquela mulher.
一 Eu sei.
一De onde ela veio? Ela parecia conhecer o filho do general que trouxemos hoje, tenho certeza que ouvi ela ela gritar o nome dele.
一 É irmão dela.一 Enepay me disse que ela é filha do General Krigher 一 Disse Tokalah levando um pedaço de carne a boca.
一 Tem a filha do General Krigher como refém e não nos disse nada? A quanto tempo ela está aqui?
一 Ela não é uma prisioneira de guerra já lhe disse isso hoje e direi de novo 一. Ele fez uma pausa largando a tigela a sua frente e encarnado Navalha 一 ela é minha, entendeu, não fará parte de barganhas ou acordos de guerra. Ela me pertence.
一Já ouviu falar no chefe falcão amarelo? Um cheyeene do leste.一 Navalha arranhou a garganta 一 Ele arrancou mais escalpos do que qualquer um, achavam que ele era indestrutível, mas ele morreu picado por um inseto. Um dia ele encontrou um pequeno escorpião em sua tenda, mesmo sabendo o quão perigoso era, ele ficou tão encantado com suas cores e formas, que o deixou viver, dias depois ele foi picado. Um animalzinho minúsculo que ele poderia ter esmagado com os pés, mas escolheu não fazer. Espero que ela não corte a sua garganta com a faca que lhe deu de presente. 一 Falou navalha se levantando.
Tokalah permaneceu sentado e seguiu Elena com o olhar, tinha algo nela que o atraia e perturbava. Podia sentir o espírito forte que ela emanava, envolta naquela aparência frágil e delicada de mulher que atiçava seus instintos masculinos.
Contou o tempo desde que a pós sob o lombo da égua a caminho do vale até o momento que pode ve-la de novo. Jamais se sentiu-se de tal forma e nem mesmo a ausência de Hana, havia despertado tal ansiedade.
A Observou-a por um longo tempo, servindo comida, trocando palavras com Enepay e Kimimela e pela primeira vez em sua vida desejou dominar a língua dos brancos para entender o que os lábios dela pronunciavam.
Quando as danças ritualísticas terminaram as crianças dominaram o espaço, seguindo os mais velhos com passos desengonçados provocando risos em todos. Wewomi seguia entre eles rindo e brincando com um chocalho de contas coloridas.
一Venha dançar comigo, papai 一 a menina o puxou pela mão e ele a tomou-a puxando para deu colo e girando com a criança em seguida fazendo a menininha gargalhar.
Elena sorriu levemente ao ver a cena, lembrando-se de que quando criança se equilibrava sobre os pés de seu tio Armand e ele a conduzia numa valsa enquanto tia Augustine dedilhava o piano.
Os sons ali produzidos eram infinitamente diferentes da sofisticação inglesa, porém ilimitadamente mais estimulantes aos sentidos. Quando se viu balançando o corpo, sorrindo e tentando cantarolar, encarou os escalpos dos soldados mortos, pendurados em um palanque como verdadeiros troféus e sentiu o peito apertar.
Andrew estaria vivo? Teria sido morto em batalha, seu escalpo poderia estar ali entre os outros desafortunados que perderam a vida? Os olhos se encheram de lágrimas e saiu dali o mais rápido que pode, sem perceber que os olhos atentos de Tokalah a acompanhavam.
Depois de entregar a filha a Lytonia seguiu Elena cautelosamente por entre as tendas até a casa de Witchashawakan, onde a viu entrar e vasculhar o lugar, levantando o couro onde viu os barris de pólvora com o símbolo da cavalaria americana. Procurou por rifles, mas como imaginava, não havia nenhum ali e quando virou-se se deparou com olhos firmes do indígena sobre ela.
一Eu só estava... Eu... Porquê estou tentando me explicar, você não entenderia. 一 Disse esperando alguma reação dele, porém este apenas estemdeu-lhe a mão e acenou com a cabeça em direção a entrada. Elena nao ousou toca-lo mas seguiu para fora da cabana e fora dela ele insistiu que ela o seguisse com olhares e acenos de cabeça.
Andaram por entre as tendas até Tokalah enveredar por uma trilha entre a plantação de abóboras. Elena hesitou por instantes, mas a curiosidade sobre onde a levaria superava o medo que tinha daquele selvagem. Seguiu-o durante um tempo por entre a plantação de milho até uma clareira onde uma cerca baixa de bambu parecia seguir por longos quilômetros.
Tokalah saltou sobre ela e ao tentar ajudar Elena a fazer o mesmo viu-a recuar e pronunciar algumas palavras incompreensíveis a ele mas num tom áspero que o fez afastar-se e esperar que ela fizesse o salto sem sua ajuda.
Ela pairou o olhar no enorme campo verde escuro iluminado apenas pela enorme lua e estrelas faíscantes, que tornava as montanhas do vale douradas e brilhantes. Nenhum monumento que vira na Europa era comparável a beleza daquela noite.
O ouviu um assovio forte do índio seguido de um grito que ecoou ao longe a tirou daquele momento de contemplação e em questão de segundos sentiu o chão tremer e viu dezenas de cavalos trotearem na direção deles. Mesmo de longe pode reconhecer condessa entre eles, destacando-se com seu branco neve entre os mustangs malhados dos nativos. Os animais diminuíram a velocidade e alguns se espalharam ao entorno deles, Elena caminhou até sua égua e acariciou seu pescoço, encostando sua testa na cabeça do animal.
一Eu senti sua falta 一 disse ela a égua, enquando outros animais cheiravam curiosos o entorno delas 一 você fez amigos? Você parece ótima. Sem dúvida essa campina é muito melhor do que o estábulo que você costumava dormir. 一 Ela falou e quando virou-se novamente a Tokalah percebeu um sorriso satisfeito em seus lábios.
Ele se aproximou dela e acariciou um dos animais.
一Omaha 一 ele disse dando uns tapinhas leves na cabeça de um cavalo marrom e branco
一O nome dela é condessa 一Elena disse imitando o gesto dele.
一Omaha, tashunka ayete.
一Disse o nativo e Elena balançou a cabeça negativamente e ele levou a sua mão sobre a dela que puxou-a de volta. 一Yah 一disse ele levantando as duas mãos e depois oferecendo a dele a ela que assentiu. com a cabeça e deixou que ele segurasse a sua e a guiasse pelo cavalo.
一Omaha 一Disse fazendo-a tocar a cabeça do animal e depois abaixou-se indicando falo do animal e ela riu encabulada.一 Tashunka 一 e novamente guiou as mãos dela até os desenhos feitos na anca do bicho que retratam bonecos rudimentares portando arcos e machados.
一Ah... Omaha é um cavalo macho de guerra. 一Isso? 一Elena constatou orgulhosa 一 Cavalo ela passou a mão dele pelo lombo e depois segurou um arco imaginário 一 de guerra. 一 Disse e Tokalah sorriu para ela.
一Omaha, cavalo guerra. 一 Ele repetiu com esforço que a fez a sorrir.
一Condessa é... 一 Elena pensou por instantes 一 Bom, ela foi demitida do exército por ser lenta e por isso a ganhei como presente. Mas eu não vou lhe explicar isso e magoar os sentimentos dela. Seria algo deselegante de se fazer com uma amiga. 一 Ela falou rapidamente deixando Tokalah com uma expressão confusa. 一Condessa 一 ela tomou a mão dele e pós sobre a face do animal 一 é uma égua amiga. 一 Disse apertando a mão dele.
一 Condessa amiga 一 ele repetiu, apertando a mão de Elena.
一 É isso. 一 Ela disse, você aprende rápido.
一El ... Elena amiga 一 ele disse a encarando ternamente sem soltar mão dela. 一Disse e ela puxou a mão o obrigando a soltá-la.
一Eu acho melhor voltarmos 一 falou Elena já se dirigindo a cerca.
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