Capítulo 31
Ana Elisa dirigia sem rumo, a música alta mal abafava a tempestade de pensamentos em sua mente. Rodolfo havia ligado vinte e sete vezes, mas ela desligou o telefone, incapaz de lidar com a situação. Seu coração estava em tumulto, sua mente um turbilhão de emoções contraditórias.
Havia apenas um lugar que poderia oferecer o conforto que ela desesperadamente procurava: os braços de sua mãe. Ela fez uma curva perigosa e acelerou, determinada a encontrar consolo.
Ao chegar, Ana Elisa não se deu ao trabalho de fechar as portas do carro. Na verdade, ela sequer estacionou corretamente; largou-o e saiu correndo para dentro da casa, passando pela mãe como um furacão. Ângela, assustada, recebeu o aviso do motorista sobre a situação e seguiu a filha.
Ao entrar, Ângela encontrou Ana Elisa caída no chão, soluçando desesperadamente. Seu coração apertou ao ver a filha naquele estado. Ana Elisa havia saído radiante para ver Rodolfo, e agora estava completamente desolada.
— Amor, o que aconteceu? — Ângela perguntou, sua voz um sussurro carregado de preocupação e amor.
Ana Elisa olhou para a mãe, os olhos inundados de lágrimas, mas não conseguia falar. Ela se lançou nos braços de Ângela, buscando o conforto e a segurança que apenas o calor maternal podia oferecer. Ângela segurou-a firmemente, acariciando seus cabelos, sussurrando palavras suaves, tentando acalmar a tempestade que assolava o coração de sua filha.
Quando Ana Elisa conseguiu se acalmar depois de muitas lágrimas derramadas, ela olhou para sua mãe com seus grandes olhos azuis, cheios de dor e confusão. Ângela, com o coração apertado, estava atenta a cada detalhe da angústia da filha.
— Mamãe, ele é um mentiroso.
— Ana Elisa, não fala isso — disse Ângela, suavemente, lembrando-se do pouco que conhecia sobre Rodolfo e de seu caráter.
— É sim, quando cheguei lá, papai estava lá — Ana Elisa disse, secando as lágrimas com as costas da mão.
— Seu pai? — Ângela estava perplexa. Ela havia despachado as malas de Eduardo, mas o que ele fazia na casa de Rodolfo?
Ana Elisa olhou para a mãe, mal conseguindo processar o que tinha a dizer. Novas lágrimas deslizaram pelo seu rosto enquanto continuava:
— Além disso, a ex-namorada do Rodolfo apareceu, com um bebê, mamãe, e ela disse que é dele.
— Rodolfo tem um filho? — Ângela não podia acreditar nisso. Ela apenas gesticulou que sim com a cabeça. — Filha, isso está muito mal contado. Rodolfo não é esse tipo de pessoa, você sabe disso. Ele é doce e gentil.
— ELE TEM UM FILHO, MAMÃE! — Ana Elisa gritou, a voz quebrada pelas lágrimas.
— Não, meu amor. Tenho certeza que não. Por que ele não assumiria a responsabilidade?
Ana Elisa não respondeu. Ela apenas se deitou na cama, o peso da dor e da confusão a envolvendo. Como sua vida tinha virado de ponta cabeça tão rapidamente? Sentia que tudo tinha a ver com a família do Caio novamente. Deveria fugir de novo?
O dia de Ana Elisa passou de forma confusa e dolorosa. Ela dormiu com o coração cheio de mágoa, tentando encontrar alguma paz em meio ao caos. Peter, preocupado, foi visitá-la e tentou consolá-la, mas seus esforços pareciam insuficientes diante do turbilhão de emoções que ela enfrentava.
Peter, conhecido por sua fama de galinha, era um homem que não costumava levar nada a sério, especialmente em se tratando de relacionamentos. No entanto, ele sabia reconhecer um amor verdadeiro quando o via. A relação entre Rodolfo e Ana Elisa era algo especial, único, e ele acreditava que ninguém poderia ser melhor para sua menina do que Rodolfo. Suspeitava que a história contada por Ana Elisa podia estar distorcida pelas emoções intensas do momento.
Ao sair da casa de Ana Elisa, Peter parou no bar da sala de visitas de Eduardo e pegou um whisky caro. Parte por saber que merecia um prêmio e outra parte porque sabia que Eduardo estava enfiado na casa de Rodolfo, como Ana Elisa dissera. Isso não era um exagero, pelo menos ele pensava assim.
Eduardo, como um homem de dinheiro, nunca soube o que era ter amigos de verdade. Ter Rodolfo por perto era uma emoção nova. Não que fossem amigos, mas Rodolfo não era o tipo de pessoa interesseira, e isso era raro no círculo de Eduardo.
Com a garrafa em mãos, Peter se dirigiu ao apartamento de Rodolfo, decidido a tentar salvar o dia e o relacionamento deles. Ao tocar a campainha, Milena abriu a porta, seu rosto sombrio e cheio de raiva.
— Minazinha, cara de quem chupou limão. — Peter passou por ela graciosamente. Quando entrou, viu Rodolfo e outras duas pessoas conversando, a mesa cheia de papéis. — O que está acontecendo?
— Eu não sei, não quero saber e vou pro meu quarto. — Milena saiu e bateu a porta, assustando todos.
Peter ficou surpreso pelo humor de Milena. Por mais nova que fosse, ela não parecia ter superado a fase adolescente sem causa. Talvez, afinal, tivesse uma causa. Ele também estava perplexo com a tranquilidade de Rodolfo. Como ele não havia ido procurar Ana Elisa em nenhum instante?
— Bom, achei que você estava de luto pelo término, mas pelo visto está bem — Peter disse, se aproximando da mesa.
— Término? — Rodolfo levantou os olhos, surpreso. Ele soltou os papéis. Havia sido convencido por Eduardo e Marcela a resolver as coisas, sempre priorizando suas responsabilidades acima de qualquer coisa. A palavra "término" ressoou em sua mente, trazendo à tona a dor latente que ele tentava suprimir.
— Senhor Ravanelli, o que faz aqui? — Peter só viu Eduardo ao chegar perto da mesa, onde eles estavam imersos em tarefas de homens importantes.
— Estamos resolvendo algumas coisas — Eduardo respondeu, sem sequer olhar para Peter, a tensão em sua voz evidente.
— São advogados por causa do divórcio? — Peter disse, encarando os papéis. — A notificação da senhora R está maravilhosa.
Todos ficaram em silêncio. A atmosfera ficou densa, carregada de emoções conflitantes. Rodolfo estava afobado pela palavra "término" que Peter mencionara. Ele não conseguia deixar de pensar em Ana Elisa, cada segundo mais doloroso que o anterior.
Peter, observando a tensão crescente, sentiu a urgência de aliviar o ambiente.
Rodolfo, ainda em choque com a menção do término, sentiu seu coração acelerar. As palavras de Peter tinham o poder de abrir feridas profundas. Ele queria levantar, ir atrás de Ana Elisa, mas as responsabilidades e as circunstâncias o mantinham preso.
Eduardo, por outro lado, tentava manter a compostura. Sabia que a presença de Peter podia desestabilizar ainda mais a situação. Ele queria resolver tudo de forma racional, mas a emoção que permeava o ambiente tornava isso quase impossível.
— Que término? — Rodolfo perguntou a Peter, quase desesperado.
— De você e Ana Elisa — Peter foi até a ilha da cozinha, colocou a garrafa e pegou um copo para si. — Em outras situações, eu estaria consolando ela, dando um banho de espuma, mas somos apenas amigos. — Peter bebeu um gole. — Vim te consolar e depois a ela.
— Nós não terminamos — Rodolfo disse, sua voz tremendo.
— Sim, ela me disse que terminou, que você é um traidor e um mentiroso. E esses foram os termos mais leves. — Peter sorriu, mas havia uma seriedade em seu olhar. — Ela falou até do seu filho.
Rodolfo sentiu um choque percorrer seu corpo. Pegou o celular e, com mãos trêmulas, voltou a ligar para Ana Elisa. Cada toque sem resposta era um golpe em seu coração. As palavras de Peter ecoavam em sua mente, aumentando a sensação de desespero e impotência. Ele precisava falar com ela, esclarecer tudo.
— Nem adianta insistir, eu consolei ela, mas quando disse que não ia sair com ela, me expulsou.
— Sair? — Rodolfo mal conseguia processar as palavras, o desespero em seus olhos.
— Bom, você é um traidor e mentiroso, e Ana Elisa não é do tipo que sofre em silêncio — Peter disse com um tom insinuante, enquanto enchia seu copo novamente.
— Está falando da minha filha.
Eduardo suspirou. Ele sabia que Ana Elisa não era mais uma menina, mas o tom de voz de Peter o deixava levemente irritado. A situação parecia sair de controle, e a leveza na voz de Peter contrastava com a gravidade do momento.
— Ah, senhor — Peter sorriu debochado para Eduardo — pensa que sua situação está melhor que a dele? Sinceramente, fiquem aí trabalhando, está certo. Não pense que elas vão perdoar vocês dois. Você perdeu a namorada — Peter apontou para Rodolfo — e você a esposa e a filha em duas tacadas. Mas que bom que vocês têm a empresa para ajudar vocês.
As palavras de Peter eram como lâminas afiadas. Rodolfo sentiu a pontada e a raiva crescente dentro de si. Ele não ia perder sua namorada. Levantou-se abruptamente, e Peter abriu um sorriso.
— Nem adianta, ela não está em casa, saiu com a Bruna.
— O quê? — Rodolfo pareceu bravo. — Por que você deixou?
Bruna era o pior tipo de companhia que Ana Elisa poderia ter. Rodolfo sabia disso, e o pensamento da noite terminando em uma orgia de seis pessoas o enchia de pavor e indignação. A tensão no ambiente crescia, e a calma aparente de Peter só servia para inflamar ainda mais os ânimos.
Eduardo, observando a cena, sentia a irritação crescer. As palavras de Peter o atingiam também. Ele sabia que estava em uma situação delicada com sua família, e a provocação apenas tornava tudo mais difícil de suportar.
— Ela precisa da minha autorização? — Peter riu para Rodolfo, bebendo um gole do líquido que queimava sua garganta. Ele encheu o copo novamente e entregou para Rodolfo, que tomou em um gole e disse:
— Onde ela está?
Peter apenas sorriu e se sentou. — Vamos conversar, amigo.
Eduardo e Rodolfo se entreolharam. Para Rodolfo, não havia nada mais importante do que encontrar Ana Elisa.
— Pode ir. Vamos entrar em contato. — Rodolfo disse, sua afobação evidente pelos dedos desesperados ao juntar suas coisas. As pessoas presentes na reunião se retiraram. Peter pegou outro copo e entregou para Rodolfo, já cheio.
O álcool queimava a garganta de Rodolfo, mas naquele momento, ele mal percebia. Sua mente estava focada em encontrar Ana Elisa, em consertar o que quer que estivesse quebrado entre eles. O desespero e a determinação se misturavam dentro dele, enquanto ele se preparava para partir em busca da mulher que amava.
— Pisou na bola, papai. — Peter piscou a ambos com o sorriso debochado, estava triste por eles e ao mesmo tempo feliz por não ser eles.
— Isso foi uma confusão — Rodolfo tentou explicar, suas palavras soando frágeis diante do olhar reprovador de Peter.
— A melhor forma de resolver a confusão foi com uma reunião de negócios? Isso foi uma decepção.
— É que pensamos que... — Rodolfo sentiu as palavras se perderem, sua justificativa desmoronando diante da expressão crítica de Peter.
— Pensou que a Ana Elisa vai aceitar ser tratada como cidadã de segunda classe, assim como a mãe dela aceitou? — Peter questionou, sua voz carregada de desaprovação. — Ela aceitou pela filha, até onde sei vocês não são casados. São?
— Onde ela está? — A voz de Rodolfo soou mais alta, ignorando as insinuações de Peter.
— Saiu com a Bruna, eu já disse e você não ouviu?
— Quero saber onde ela está.
— Ah, fica calado — Peter interveio, sua expressão debochada. — Senhor R, eu tenho uma solução para o problema de vocês, mas preciso de um apoio.
— Eu não preciso de conselhos de uma criança.
— Se eu fosse você, aceitaria. Sua esposa não está nada feliz com você. Inclusive, estava pensando em sair para jantar com uma amiga que diz que a melhor coisa da vida dela é o divórcio.
— Ok, Peter, fala logo — Rodolfo cedeu, sua impaciência evidente, suas emoções à flor da pele.
— Primeiro me explique, que história é essa de filho?
— Minha ex engravidou de um cara casado e quer fazer um chá revelação do pai, pediu pra fazer o exame. Ela vai casar, está bem e feliz, e o marido dela não ligou pra nada disso.
— Ah, que bom, liberal.
— Ele está na Suécia, por isso não liga. Ela vai se mudar depois dos resultados. — Rodolfo explicou, sua voz carregada de frustração e ansiedade.
— Certeza que não é seu?
— CLARO QUE SIM, PETER, PELO AMOR DE DEUS, ONDE ESTÁ ANA ELISA? — A voz de Rodolfo ecoou no apartamento, carregada de desespero e angústia. Ele estava à beira de um colapso emocional, sua preocupação com Ana Elisa se sobrepondo a tudo mais.
— Bom, eu sabia. Seguinte. Senhor R, você vai até a sua casa. Aproveite que a senhora R vai jantar sozinha e tomar o chazinho dela antes de dormir, e fala pra ela que está com o Rodolfo, que você sabe do ocorrido. E você sabe, né, senhor R? Faça as pazes com a gata da sua esposa enquanto ela te aceita.
Eduardo ponderou que poderia ser uma boa ideia. Ele estaria ajudando Rodolfo e Ana Elisa e caindo nas graças de Ângela.
Peter continuou: — E você, grandão, vamos atrás da sua bela namorada. Se arruma, roupa preta.
Eduardo sentia uma mistura de esperança e apreensão ao dirigir-se para casa. Conversar com Ângela poderia ser o primeiro passo para reverter a situação complicada entre ele e Rodolfo, mas também sabia que a conversa seria difícil e cheia de tensão.
Rodolfo, enquanto se arrumava, estava mergulhado em uma profunda angústia. A incerteza sobre onde Ana Elisa estava e o que ela estava sentindo o consumia, enquanto ele tentava manter-se calmo e composto por fora.
Peter, por sua vez, aproveitava o momento para relaxar, mas sua mente estava inquieta, planejando as próximas ações para ajudar seus amigos. Por trás do sorriso, havia uma determinação e preocupação evidentes.
Quando Mina saiu pelo quarto, Peter sorriu para ela vitorioso, expressando uma satisfação sutil por ver as coisas se movendo conforme seu plano.
— O que foi? — Mina perguntou observando Peter.
— Minazinha se um dia precisar de ombro amigo, você é a maior gata.
— Obrigada. — um rubor subiu na pele de Milena.
Mina, ao ouvir o elogio de Peter, sentiu-se inundada por uma mistura intensa de emoções. Seu coração acelerou enquanto suas bochechas coraram com a surpresa e o elogio inesperado. Ela estava com o coração partido por causa de babaca que mentiu para ela e elogio de Peter era algo incrível sabendo que ele se envolve com mulher com a beleza de Ana Elisa.
— É a verdade, você tem uma beleza única — Peter se levantou e caminhou para pegar outro drink.
A voz de Peter soava para ela uma melodia sedutora aos seus ouvidos, despertando uma sensação de desejo que ela mal podia controlar.
Ao se aproximar dele, sentiu uma onda de coragem e desejo subindo dentro de si. Seus lábios se encontraram com os dele num beijo impulsivo e ardente. Sua língua explorou a boca de Peter com uma atrevimento que ela nem sabia que possuía, enquanto suas mãos se agarravam aos ombros dele, buscando por uma proximidade ainda maior.
Para Mina, aquele momento foi como uma explosão de paixão e desejo reprimido. Ela se entregou ao beijo com uma intensidade que a surpreendeu, perdendo-se no calor e na sensualidade do momento. Ao se afastar, deixou Peter atordoado e ela mesma sentindo-se eletrizada pela ousadia de seu próprio gesto.
— Desculpa — Mina sussurrou correndo para dentro de seu quarto e fechado a porta com força. — O que eu fiz?
Peter, perplexo com o que acabara de acontecer, questionou a si mesmo se estaria alucinando. A intensidade do momento parecia ter o deixado atordoado, incapaz de compreender completamente o que acabara de ocorrer.
Quando Rodolfo saiu do quarto e o viu, percebeu a expressão perturbada em seu rosto.
— Você está bem? — perguntou Rodolfo, preocupado com a estranha reação de Peter.
— O que? — Peter respondeu, ainda atordoado e sem entender completamente o que estava acontecendo ao seu redor.
— Você está bem? — Insistiu Rodolfo na pergunta se aproximando de Peter.
— Sim. — Ele virou o copo de Whisky na boca, seja lá o que fosse aquilo iria carregar pro tumulo. — Vamos.
Peter pegou seu casaco enquanto Rodolfo pegava as chaves. Juntos, deram os primeiros passos em direção ao destino onde Ana Elisa se encontrava.
Enquanto Peter e Rodolfo se afastavam da casa, Milena permaneceu parada recostada na porta de seu quarto, tocando seus próprios lábios ainda quentes do beijo que havia trocado com Peter. Uma onda de confusão e desespero a inundou. Ela não conseguia entender completamente o que a levou a agir daquela maneira. Peter era bonito, com um charme que a deixava sem fôlego, mas não era apenas isso. Havia algo naquele momento, naquela tensão no ar, que a impulsionou a agir por impulso.
Ao pensar na possibilidade de Peter contar a Rodolfo o que aconteceu, Milena sentiu o desespero se intensificar. O que ela faria agora? Como explicaria seus atos? E, acima de tudo, por que diabos ela o beijou? Essas perguntas ecoavam em sua mente, sem respostas claras à vista.
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E agora gente, Mina e Peter, alguém me explica isso? Eu escrevi mas não sei explicar.
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