XVIII
— É lindo — disse, impressionada com o selo em minhas mãos. Realmente parecia um colar, mas não era exatamente um.
— Eu também achei quando o vi pela primeira vez — achou graça da minha reação.
Estava sentada na cama da princesa, segurando em minhas mãos a linda estrela de seis pontos. Constance, ao meu lado, concedia-me mais algumas novas informações sobre "a sociedade". Ela era terrivelmente sábia e inteligente. Ao contrario do que pensavam não era simplesmente um enfeite da coroa real e sim uma mulher com conhecimentos inimagináveis e uma forma impressionante.
— Como conseguiu esconder por tanto tempo quem realmente era? — indaguei, curiosa.
— Não foi muito difícil — ela "deu de ombros". — Meus pais sempre estiveram muito ocupados com o Reino e nunca prestaram muita atenção em mim. As únicas pessoas de quem eu realmente precisava me esconder eram o Natanael e a minha tutora, Lady Celestia. Ela era muito rígida e seus ensinamento possuíam um horário para ser, fora isso eu poderia andar "sozinha" no castelo. Quanto ao meu irmão também foi fácil, ele estava muito mais empenhado em conquistar a falecida do que em prestar atenção na irmã mais nova.
— A falecida? — perguntei, erguendo uma de minhas sobrancelhas.
Constance pareceu perceber que tinha falado algo errado porque seu rosto embranqueceu e os olhos arregalaram. Ela certamente não queria me sobre "a falecida" por quem o príncipe sacrificou tanto tempo e esforço com o intuito conquistar e isso me despertou ainda mais curiosidade. A princesa não ficaria assim se fosse uma história qualquer, além disso, o herdeiro ao trono não parece ter a personalidade de alguém que corre atrás de mulher – independente de quem seja. Era definitivamente estranho.
— Bom... eu não sei se deveria lhe contar isso — resmungou, desviando o olhar do meu.
Ponderei. Se pressionasse a princesa ela com certeza acabaria me contando toda a história, entretanto não era esse seu desejo, então decidi dar mais tampo a ela, afinal eu não tinha nada a ver com a situação.
— Tudo bem, Constance — sorri tentado transparecer verdade.
— Então.... eu tenho algo para mostrá-la, mas, você sabe, silêncio — murmurou a última parte.
Eu assenti, animada. A princesa andou até o outro lado do quarto e retirou de cima da bancada um grande livro, franzi o senho. O título não era do meu conhecimento e eu realmente não entendia porque era tão importante que ela me mostrasse aquilo. Rapidamente ela extinguiu a distância e entre nós e colocou o objeto sobre as minhas pernas, ordenando que eu o abrisse. O reconhecimento apoderou-se de mim assim que li a primeira palavra. No meio de uma daquelas páginas estava escrito a mais importantes de todas as frases: "Está consumado"*.
— É uma... — não consegui terminar a frase.
— Sim, é — ela sorriu. — Henrique me deu pouco antes de... você sabe — o sorriso dela morreu um pouco.
— É, eu sei — assenti, alheia a ela, folheando o grande livro. Parei em uma das páginas e deslizei meus dedos sobre as letras antes de ler: — E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial perdoe os seus pecados. Mas, se vocês não perdoarem, também o seu Pai que está nos céus não perdoará os seus pecados**".
— Eu amo esse trecho — disse. — Foi um dos meus primeiros impulsionadores para que eu perdoasse Natanael e meus pais por tudo que me fizeram ouvir. Sabe, Ester, doeu muito tudo que eles falaram, é excruciante ver meu irmão me tratar com descaso, todavia a Bíblia me mostrou que eu devo perdoar. Não por eles, mas por mim. Essa passagem fala, mais ou menos, para que perdoemos porque formos perdoados. Não é sobre a ausência de dor por que infelizmente vai doer muito, entretanto a maior dor foi depositada em Cristo... pelos nossos pecados. Às vezes parece tão... difícil e nesses momentos eu lembro que não foi fácil para Ele – ela solveu uma longa respiração antes de continuar — Foi doloroso, humilhante e solitário.
Funguei. Suas palavras tinham sido tão bonitas e cheias de verdade. Ele tinha, sim, morrido por amor a mim. Quando ninguém me via, Deus me viu... e me amou tanto que esteve disposto a entregar Sua vida em meu favor... logo por mim. Eu não merecia... Deus, eu nunca mereci.
Lágrimas começaram a banhar meu rosto, mas não eram solitárias nem dolorosas. Elas demonstravam alegria e preenchimento. Ia além de uma simples experiência... eu finalmente entendia. Tornou-se claro para como água para mim: eu precisava de um Salvador e Ele decidiu tornar-se um. Eu caí em mim naquele momento***. Jesus morreu pelos meus pecados, é pessoal, foi por mim. Fui eu que O crucifiquei. Na taberna tive um contanto com o Cristo, Ele mostrou-me que realmente existia e que me via, inundou-me com a Sua paz e trouxe a minha memória as palavras que eu precisava. Ele livrou-me do desespero e da sensação de morte, puxou-me para os seus braços e disse, mesmo que eu não escutasse claramente ainda, "você precisa de mim". Eu corri para os seus braços, não, eu ainda não compreendia, entretanto apenas Ele tinha a luz que poderia expulsar as trevas, a calmaria que substituiria a minha angústia. Hoje é diferente: Deus me faz entender que eu não preciso dEle apenas nos momentos difíceis, mas durante toda a minha vida porque sem Sua presença tudo se torna uma prisão. Agora Ele me mostra que eu pequei e é necessário ser aceita.
— É o Espírito Santo, Ester — pude ouvir a voz de Constance e sentir suas mãos alisando com cabelo. — Ele está te convencendo do pecado, da justiça e do juízo****.
Eu chorei por minutos a fio. Instantes após me acalmar e enxugar minhas lágrimas uma pessoa adentrou o quarto. Constance sorriu, da forma doce e principesca que apenas ela sabia fazer, e eu precisei virar-me, dando de cara com alguém que definitivamente eu não deseja ver: Annie.
— Annie — Constance cumprimentou com amabilidade e levantou-se da cama, eu fiz o mesmo.
Ela me analisou, friamente. O sorriso estava presente no seu rosto, o mesmo que eu vira no dia em que ela me deixara aqui, mas dessa vez não me enganaria... agora sabia quem ela era.
— Estava chorando, Ester? — indagou, dissimulada.
— Nós estávamos tendo uma conversa — Constance respondeu em meu lugar. — O que deseja, Annie? Minha mãe mandou-a aqui?
— Não, Alteza — ela negou. — Vim a pedido do Leon. O seu irmão pediu para lhe dizer que ele a pegará em frente a ala das mulheres para o jantar — sorriu, solicita.
— Obrigada, Annie. Na verdade, você já pode ir, Ester — a princesa me dispensou, educada. — Apenas chame as servas para mim, sim?
Eu assenti, fiz uma mesura e sai o mais rápido que pude, sendo seguida pela Annie. Essa era ideia. A mulher provavelmente ficaria lá por quanto tempo pudesse se eu não a puxasse. Constance a expulsou de uma forma educada.
— Está tudo bem mesmo, querida? — Annie indagou, sorridente. — Olha, a princesa pode ser um pouco... soberba, mas...
— Não me importa como a princesa age, senhorita Ivanov. Eu me submeto a ela como minha senhora e eu não falarei dela pelas costas, considero isso traição a coroa — comentei, seca.
As feições dela mudaram completamente e eu finalmente pude ver um pouco da verdadeira Annie.
— Para quem é daquele lugar você está muito fiel as autoridades — disse com uma ironia latente.
— Nós somos muito fiéis as autoridades, senhorita Ivanov — ouvi a voz do meu irmão soar e no mesmo momento olhei para o corredor. Ele e Natanael caminhavam, despreocupados.
Engoli minha raiva em seco.
— Leon! Alteza! — exclamou, surpresa.
— Annie... — o príncipe disse sem a menor mudança no tom de voz, como se nos tivesse encontrado conversando sobre o tempo e não visto uma louca quase pulando no meu pescoço.
Meu irmão manteve seu olhar sério em direção a mulher antes de finalmente virá-lo para mim.
— Ia te dar mais tarde, mas Natanael me aconselhou a fazer agora... assim você poderia usar no jantar — disse a última parte desconcertado.
— Me dar? — indaguei, confusa.
— Acho que nós devemos deixar o momento em família acontecer de forma particular — o príncipe disse, simpático.
Ele não esperou que ela respondesse, passou por mim – lançando uma piscadela – e depois por ela, que o seguiu, obediente. Ficara mais que claro que ela não gostava nada de mim e nem do lugar de onde eu vinha. Entretanto, se, como Constance havia falado, nós éramos apenas mais uma revolta de tantas, porque o general do exercito de guerra e sua filha se incomodavam tanto conosco?
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