~Capítulo 7: O Pecado de Hadassa
Sara permaneceu sentada no chão do elevador, segurando o carregador e o celular por muito tempo até que ele parou no saguão e as portas se abriram revelando duas pessoas que nem imaginava encontrar naquele momento. Tentava se acalmar antes que a vissem ali sentada, mas seus narizes tinham entupido e precisava respirar pela boca, seus olhos estavam bastante vermelhos e ela notara pelo espelho no elevador que seu rosto estava marcado com o rastro das lágrimas de tristeza que rolaram por ele nos últimos instantes.
Levantou com dificuldade e saiu antes que outras pessoas entrassem na caixa de metal no intuito de subir aos outros cômodos. Quando Victoria a olhou andou um pouco e a abraçou sentindo que algo de ruim pudesse ter acontecido para deixá-la naquele estado de imensa tristeza. Ela olhou para a mulher de cabelos ruivos que acompanhava sua amiga e a reconheceu rapidamente, abraçou-a e quando sentiu os braços a afagarem se permitiu chorar um pouco mais. Acompanhada das duas amigas se sentou em um dos sofás no saguão em frente a uma parede de vidro com vista para a parte dois do hotel e o imenso jardim que dividia aquelas construções a fim de conversar sobre o que havia acontecido.
Olhou mais uma vez para Giselle sem acreditar na mudança que acontecera. Passou as mãos por seus cabelos tentando sorrir para avisar o quanto ela estava bonita e bastante diferente, mas toda vez que indagava em dizer algo sua voz falhava e parava de tentar. Pegou um copo de água que apareceu em seu campo de visão e o bebeu ainda em choque com o que acabara de presenciar. A imagem de Brunno em cima daquela outra mulher a penetrando não saia de seu subconsciente e o sentimento de traição que perpetuava todos os seus pensamentos a levavam em longos devaneios sobre tudo que pensava acerca do namorado e a confiança que depositara em toda relação que havia nutrido naqueles meses.
Terminou todo o conteúdo do copo em tempo de olhar para Adryelle passando e entrando no elevador que tinha acabado de sair. Também olhou para Cintia e o novo homem que sempre a acompanhava passando sob seus olhos e entrando no elevador vizinho àquele. Virou o rosto e sabia que as amigas esperavam qualquer pronunciamento que pudesse dar, entretanto não fazia ideia se estava preparada o suficiente para contar aquele ocorrido sem que desabasse em lágrimas de tristeza e entrasse em outro devaneio acerca do sofrimento sentido.
- Se quiser podemos te levar até seu quarto e ficar lá até que durma – Disse Giselle tirando uma mecha de cabelo ruivo recém-pintado que descia até seus olhos – Não precisa tocar no assunto agora, estamos aqui para ajudar no que for necessário.
- Isso mesmo – Victoria colocou a mão direita no ombro da amiga e o apertou de leve tentando passar conforto e confiança para ajudá-la a enfrentar o momento difícil que aparentemente passava – Vamos ficar com você até se sentir melhor.
O apoio prestado por aquelas pessoas extraordinárias era tudo que necessitava naquele momento. Inclinou-se um pouco e deitou a cabeça no colo de Giselle, voltou a olhar para frente a tempo de ver Andrey deixar o hotel acompanhado de um dos funcionários e segurando a mão dele. Fechou os olhos e a imagem de Brunno novamente entrou em conformidade com tudo que sofria, quando uma lágrima escapou conseguiu sentir o polegar de Victoria a enxugar e quando a olhou, o sorriso lhe dava todo conforto que ela pretendia. Entendeu naquele momento que algumas pessoas decepcionam, mas outras são os pilares da superação.
Colocou um dedo no botão do elevador e esperou um pouco até que chegasse. Chegou ao hotel querendo fazer uma surpresa para a namorada, sua relação não ia bem por conta de várias discursões que teve nos últimos meses, mas a ideia passou por sua cabeça de um novo recomeço agradando a namorada em tudo que pudesse. Assim pegou o primeiro avião para Seattle e enfrentou uma viagem de horas até o Povoado Country apenas para encontrá-la. Cintia nem imaginava a surpresa que estava prestes a ter e como um golpe do destino a primeira coisa vista quando se afastou dos lábios do homem que a acompanhava e olhou para o corredor do hotel agora revelado pelas portas do elevador recém-abertas, foi sua surpresa desagradável que faria tudo que planejava entrar em um buraco.
- Herman – Citou o nome da pessoa que a olhava com fúria nos olhos, segurando uma mala da cor preta e com olheiras de cansaço da viagem que havia acabado de fazer. Pensou em perguntar o que ele fazia naquele lugar, mas era bastante óbvio para ela o que pretendia com a visita. Olhou para o homem que há poucos instantes degustava dos lábios e teve de murmurar algo que podia mudar o futuro aguardado – Sinto muito.
- Eu pensei que faria a surpresa, mas pelo que posso ver acabei sendo surpreendido – Herman se virou na direção oposta, pronto para subir a escada até o quarto que lhe tinha sido designado. Cintia e o homem que a acompanhara saíram do elevador antes que ele fechasse, ela correu e segurou o braço do namorado, pronta para dizer algo, quando ele virou e a interrompeu – Não quero que toque em mim ou que pense que seu perdão vai melhorar alguma coisa achando que vou voltar a me importar, você acabou de morrer pra mim – Ele virou novamente se soltando do aperto da mulher marejada em sua frente e tornou a subir as escadas no fim do corredor carregando a mala com a força de seus braços.
Ela o olhou subir. Virou o rosto para o outro homem atento no drama em sua frente. Sabia que Daniel havia se tornado o consolo que precisava já que as coisas com Herman não andavam bem e entendia que ele se sentisse usado, mas se sentiu mal com o olhar dele de incompreensão perante as atitudes tomadas por uma pessoa de confiança. Mesmo assim permanecia de pé esperando ela acabar com o aparente ex-namorado e voltar para se explicar.
Não sabia se eram seus pensamentos aflorados ou a imensa vontade de jogar tudo que pretendia na face da pessoa traída, mas subiu as escadas até conseguir segurar novamente o braço daquele homem e dizer com todas as palavras tudo que pretendia.
- Desculpe – Quando falou foi sincera e sabia que a pessoa em sua frente perceberia aquilo – Sinto muito em dizer-te que não me arrependo em nenhuma das ações tomadas. Passar esses dias com Daniel me mostrou o quão bom é não ser menosprezada pelas coisas que faço. Pude perceber o quão bom é estar com uma pessoa que me apoia mesmo sabendo sobre o fim próximo disso tudo. Passei muito tempo presa a você e nem percebi o quanto as limitações que meu relacionamento exigia me transformaram. Então eu peço perdão por colocar minha felicidade em cima de uma relação que não me favorecia. E peço perdão também por não ter feito isso antes e me livrado de todo seu machismo, devia ter terminado o nosso relacionamento antes que precisasse de outro homem para dividir a minha cama já que você não me servia mais.
Ele levantou a mão a fim de toca-la com força no rosto. Mas, ela segurou seu punho com uma raiva que não sabia que tinha e tornou a dizer a última coisa que queria.
- Sei que te trair foi errado, mas não me arrependo de ter tentado ser feliz todo esse tempo e ver que me bateria pelas verdades que eu disse agora, só mostra o tipo de canalha abusivo que chamava de namorado antes de entrar naquele navio.
Ela começou a chorar e desceu as escadas a fim de resolver o que pudesse para manter a única relação verdadeira que teve aquele ano. Daniel a esperava escorado em uma parede no corredor, aguardando que se explicasse. O amor que Herman sentia era verdadeiro, achava que podia resolver tudo entre eles com presentes ou palavras bem ditas como das outras vezes. Mas, após ouvir tudo que ela disse entendeu os apontamentos, estava sendo tudo aquilo dito e tentava evitar ser, querendo ou não as palavras o fieram perceber a mudança necessária. Entrou no quarto e deitou na cama com a cabeça cheia, fechou os olhos, preparado para dormir e pensar no que faria quando amanhecesse.
Ela esperava o perdão de Daniel depois das coisas faladas a Herman. Achava que o fato de se sentir usado ia passar quando soubesse de todas as situações passadas com o namorado. Entretanto, quando se aproximou percebeu o olhar ainda de incompreensão e decepção.
- Você mentiu para mim – Ouviu a voz daquele homem quando se aproximou e sentiu o arrependimento de não mencionar Herman quando a relação deles tinha começado a ficar séria – Disse que era solteira, então eu sou só uma pequena distração?
- Não. Sabe que não.
Ele virou de costas e chamou o elevador que não demorou a chegar. Entrou e abandonou aquela mulher sozinha para pensar em seus próprios atos. Estava decepcionado e Cintia sabia muito bem como acontecia o sentimento de traição, pois um dia já tinha sentido aquela coisa intensa por Arthur e sabia que assim como ela, Daniel jamais esqueceria aquele momento e passaria por sofrimento todas às vezes na qual pensasse sobre essa situação.
*Aracaju (27 de junho de 2017)*
As coisas tinham acabado de acontecer e ela precisava tomar um ar para espairecer tudo que havia presenciado. Passou pela sala e encontrou a Sra. Ning sozinha, logo percebeu que Andrey deveria estar na porta tomando o mesmo ar que ela necessitava. Visualizou-o sentado em um dos degraus da varanda da frente e esperou que Willian desse o costumeiro beijo na bochecha de despedida que sempre dava em Andrey para caminhar e se sentar ao lado do amigo. Quando chegou deitou a cabeça nos ombros macios que precisava relaxar, sentiu uma mão alisar seus cabelos e começou a chorar tudo que precisava chorar.
Ele pensava em perguntar o que havia acontecido, mas pensava nos problemas que acabara de arranjar. Ver o que uma amiga próxima sua fazia com a melhor amiga o fazia pensar sobre as pessoas que depositara a confiança. Desejava que Adryelle não tivesse ido embora mais cedo para desabafar o que queria e ouvir o conselho que ela daria. Mas, sabia que se a amizade de Lavínia fosse mesmo importante para Hadassa ela contaria as aventuras com Arthur. Outro desapontamento que passava era com o amigo, não acreditava que ele pudesse estar cometendo atos tão sujos quanto aqueles.
- Sabe quando você descobre algo que nem está destinado a você, mas isso te magoa como se fosse? – Ele sabia, pensou na traição que acabara de descobrir e ainda pensava se devia contar a Lav ou deixar que os pecadores limpassem a sujeira que tinham feito. Aquela altura já percebera que não devia se intrometer nos problemas alheios mesmo que a prejudicada fosse muito íntima, devia deixar que aqueles dois resolvessem parar com o erro que cometiam – Eu me sinto decepcionada por uma das pessoas que mais confiava.
- O que aconteceu exatamente? – perguntou com um profundo receio da resposta que pudesse chegar a seus ouvidos. Ela levantou a cabeça e sustentou o olhar do amigo, pronta para desabafar – Parece ter sido sério.
- Lavínia acabou de pegar o Arthur no banheiro com uma amiga da Iasmim, tal de Aylla. Isso me faz pensar no quanto eu confiava nele e no quanto nossa amizade importa.
Com a informação entendeu que Hadassa era apenas uma das demasiadas atrações que ele tinha para sobreviver. Usava as pessoas como se fossem objetos e sua relação com Lavínia pouco devia importar. Aquele Arthur não era o brincalhão que conhecia, não era o rapaz companheiro e humilde que tanto tentava se espelhar. Aquela pessoa não era o amigo que tinha e Cintia também sentia isso, por isso todo o desapontamento e sofrimento, sentiam aqueles atos como se fossem destinados a eles.
- Eu não entendia muito essa coisa de amizade – Andrey colocou uma mão no ombro da amiga que ainda chorava desapontada – Mas, agora que consegui amigos com quem me importar entendo que vocês são a família que escolhi para mim e nosso laço mesmo que não seja de sangue é muito importante. Fazer algo de errado com um de vocês seria como encarar o desapontamento de um primo ou irmão. A confiança de vocês vale mais que dinheiro e o que acontece na relação deles, apenas eles mesmos podem entender, nós só devemos mediar que se entendam e não deixem um clima chato para o conjunto.
- Momentos antes eu e Victoria ouvimos Hadassa contar que tem um caso com nosso professor de física. Quantos segredos nosso amigos não escondem da gente?
- O suficiente para acabar com minha confiança – Andrey respondeu e deitou no ombro de Cintia deixando que ela alisasse seus cabelos. Na expectativa que aquilo passasse a tristeza que sentia e a vontade de se intrometer e tentar resolver a situação impregnada.
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