~Capítulo 6.2: Traição
"Nada é tão mortal como um ferimento causado pela traição de alguém que amamos"
— Autor Desconhecido
Olharam um para o outro e Anny desejou ainda estar no balcão de bebidas com as amigas que demorou em reencontrar. Entendeu o que estava acontecendo e se tinha um momento para contar a verdade podia ser aquele. Conheceu Adryelle no primeiro ano do ensino médio e enlaçaram uma amizade muito pura e indicativa. Tornaram-se próximas e nunca se desgrudaram uma da outra, logo a amiga sabia sobre a situação do relacionamento e entendia que uma hora ou outra chegaria ao fim.
Anny colocou seus longos cabelos negros para trás e limpou um pouco de creme que sujara seus ombros. Tentou verificar o que o garoto de olhos verdes e cabelos castanhos tinha nos bolsos a fim de complementar suas impressões em verdadeiras ou falsas. Visualizando a entrada do salão de festas karaokê olhou para Andrey pedindo que ele ajudasse e temia o incrível silêncio que estava do lado de fora do hotel, mas sabia que seu amigo não podia fazer nada quanto àquela situação, apenas aconselhá-la a contar aquilo que a levava em devaneios de culpa e solidão por causa de seus atos.
— Ítalo tenho uma coisa a... — ela tentou confessar, entretanto sua voz vacilou. Mal tinha chegado à história da festa de Adryelle e já estava passando por seus próprios dramas pessoais. Percebeu que o namorado tinha parado a fim de ouvir o que queria dizer, mas com a parada súbita resolveu começar a soltar tudo que queria.
— Não diz nada, só respira — Ítalo ordenou retirando do bolso de trás uma pequena caixinha preta e revelando o conteúdo de dentro que deixou Anny perplexa e Andrey extremamente preocupado com o rumo que aquela coisa ia levar — eu sei que o momento não é dos melhores. Estamos em uma festa na qual podemos comemorar nosso noivado e mesmo um pouco novos para casamento, sabe que te amo e eu quero que seja eterno.
Ela ouvia as palavras e olhava de relance para o amigo na porta do salão com lágrimas nos olhos se perguntando quando ele interviria aquele momento. Sabia que a única pessoa capaz de tomar partido tinha sido ela e sabia que o erro tinha sido exatamente e exclusivo dela mesma. Foi à traição que tinha protagonizado que destruiu seus sentimentos pelo namorado e ao invés de terminar quando sentiu que não estava dando mais certo, continuou na esperança de sentir novamente tudo que um dia já tinha sentido.
— Aqui agora — ele se ajoelhou perante sua namorada — e vendo suas lágrimas de choro — colocou a aliança em seu campo de visão — peço com toda a sinceridade que eu poderia te dar — olhou no fundo dos olhos da pessoa a sua frente — que aceite se casar comigo e terminar de construir todos os nossos objetivos de uma vez por todas.
Anny já estava chorando antes do pedido e agora que as palavras tinham sido ditas e a ficha daquilo tinha caído ela soltava mais lágrimas do que tinha soltado em anos. Um simples aceito dito sem que o namorado soubesse da história iniciaria um noivado de mentira, uma relação baseada em traição e se tudo que ela tinha sentido por Ítalo um dia foi verdadeiro, era chegada a hora que ele deveria buscar sua própria felicidade sem envolvê-la.
— Eu sinto muito — disse com o pesar de suas lágrimas percebendo o quanto sua voz vacilava e o rapaz a sua frente desanimava — não posso aceitar, pois não fui fiel a você como deveria ter sido. Eu te traí há alguns meses atrás quando viajou com sua família e sinto muito por tudo, eu... — ela balbuciava, mas foi breve e direto ao assunto em questão. Sem enrolar, pois já passara muito tempo escondendo o segredo.
Não pretendia ser interrompida, porém o rapaz se levantou com certa raiva no olhar, colocando a mão direita na testa e tentando evitar que as lágrimas de fúria e indignação saíssem de seus olhos da forma que sairiam no calor do momento.
— Nossa. Você sabe mesmo como manter a confiança de alguém. Você é uma vadia — ela soltou um tapa na cara dele por causa da ofensa e percebeu quando seu rosto assumia um tom vermelho.
Deveria pedir perdão pela agressão, mas sabia que merecia a ofensa que ganhou e ele mereceu o tapa que levou. Ele abriu a mão da namorada e colocou a aliança, em seguida saiu e passou por Andrey na porta do salão envergonhado que uma pessoa conhecida pudesse ter visto tudo aquilo. As duas pessoas restantes naquele lugar se olhavam querendo conforto mútuo e dariam em instantes.
Andrey jamais ia intervir Anny de contar a verdade naquele momento, pois era o que queria que Hadassa tivesse feito anos atrás para manter a amizade deles dois e parar de magoar uma amiga em comum que arrancava bastante afeto de ambos.
Aracaju (27 de junho de 2017)
Um tempo significativo tinha passado desde a festa de Cintia. Os laços tinham ficado mais íntimos e agora como estavam de férias podiam se encontrar e marcar algumas festas para zelar a interação entre eles. Em uma das festas Arthur e Lavínia começaram a namorar de vez e sempre ficavam grudados em todos os lugares. Andrey manteve a aparência desde a festa que mudou sua vida, não usava mais os óculos e nem colocava nada que cobrisse seu cabelo. Começou a sentir orgulho de quem era e começou a aceitar que não era normal como todos os garotos, começou a se sentir mais confortável em falar com os amigos sobre a atração que sentia pelos dois sexos e todos o entendiam.
Em uma recepção na casa de Willian, todo mundo compareceu. A mãe do garoto de cabelos loiros tinha chamado todos para sua residência para comemorar o aniversário de seu filho mais velho: O Chris. O filho mais novo tinha completado seus quinze anos no dia três daquele mesmo mês e como ganhou uma festa, Charlotte Ning resolveu fazer outras duas para comemorar o aniversário de seus outros dois filhos. Também no intuito de passar uma tarde conversando com Andrey e jogando assuntos para se distrair.
Uma boate foi montada na entrada da casa, um cômodo antes da sala, no qual tinha a escada que levava para o andar de cima. Muitos curtiam na pista de dança e outros curtiam na escada, entretanto Andrey tinha ficado no sofá da sala conversando com Charlotte. Depois de um tempo Lavínia chegou e se juntou aos dois que falavam sobre a vizinhança e o trabalho da Sra. Ning que não era dos melhores.
Na maioria das festas isso acontecia. Eles sempre ficavam a festa toda conversando, era uma forma complementar de diversão. Sempre algum amigo aparecia e sentava para ouvir a conversa e se entreter. Ou um dos filhos da mulher aparecia e dava um abraço no garoto chamando ele para se divertir junto, mas sempre recusava já que amava bastante o tempo que passava com a amiga que conseguiu fazer naquele ambiente.
— Vou buscar mais refrigerante — Andrey falou para a Sra. Ning e para Lav. Saiu da sala em direção à cozinha esperando não demorar muito para ouvir mais sobre as histórias que estavam sendo contadas.
Chegou ao cômodo vazio e ouviu certo barulho de beijos na parte de trás da casa. Resolveu ir olhar quem estava se beijando para poder fofocar sobre aquilo com a Sra. Ning e quando olhou eram Hadassa e Arthur que estavam tendo um caso totalmente proibido, uma vez que ele namorava a melhor amiga dela. Os dois o olharam e exclamaram algo, ele saiu caminhando até à cozinha e parou escorado no balcão tentando digerir aquilo que vira.
— Andrey — Hadassa chamou passando pela porta dos fundos e dividindo espaço no cômodo que ele estava — eu posso explicar...
— Não quero sua explicação — falou olhando nos olhos da pessoa que julgava no momento como a mais desprezível do mundo — vai contar a Lav. Ela não merece isso.
Ele pegou uma garrafa de refrigerante da geladeira e saiu caminhando nervoso até a sala. Fingiu que não sabia de nada e esperou que ela fosse contar. Deixou Hadassa sozinha na cozinha com Arthur que não tinha ficado nem um pouco nervoso com o que estava fazendo. A partir daquele momento tudo que pensava sobre Hadassa mudou e a relação de amizade que os dois tinham acabou mudando também.
Povoado Country (09 de maio de 2020) — PRESENTE
Com um abraço o sofrimento do que tinha feito conseguiu ser amenizado de certa forma. O amigo a abraçava e a carregava até os balanços do parquinho ali perto. Ainda segurando aquela aliança na mão e arrependida com o que tinha feito. Sabia que deveria ter terminado o relacionamento em todas as chances que tivera, mas não conseguiu nenhuma vez dizer a Ítalo que já não sentia por ele o que sentia no início da relação.
Sentaram ao lado um do outro naqueles balanços. Não tocaram em uma palavra e Andrey sabia que como amigo deveria tirar a atenção de Anny do sofrimento que a apertava. Traição era realmente uma coisa impossível de se evitar e ele sabia disso. Tinha acompanhado anos antes Arthur traindo Lav com Hadassa - a melhor amiga dela e hoje em dia ainda era. Agora percebeu que tudo que a amiga precisava era ouvir alguma coisa que não fosse o próprio erro cometido para se distrair e ele sabia bem o que tinha que dizer.
— Engraçado né — começou balançando o pé para frente e se mexendo no balanço — as pessoas acham que mudam com o tempo, mas ainda continuamos sendo os mesmos do passado. Sempre com algum problema para resolver de algum erro que cometemos ou de algum erro que cometeram conosco. Como eu e o Chris, Cintia e o Herman, você e o Ítalo, Arthur e Lav e tantos outros problemas que a gente ainda tem para resolver.
— Que quer dizer com isso? — Anny perguntou com a voz triste sentindo sua mão ser apertada pelo amigo — ainda não se resolveu com o Chris? O plano de Adryelle falhou?
— Falhou feio. Eu quero falar sobre tudo que passamos nesses anos. Willian e Iasmim sumindo e o desastre com o Lucas — um professor que eles tiveram no primeiro ano do ensino médio — no baile de formatura que organizamos. O ser humano acha que muda com o tempo e melhora aprendendo com os erros, mas os erros acompanham a gente — ele sorriu querendo chorar tanto quanto Anny queria — aí não conseguimos andar em frente quando pensamos neles e na forma na qual os encaramos.
— O que eu fiz não tem perdão e o pior é que eu amo o Ítalo. Só não amo da forma que ele deseja que eu o ame.
— Eu amo o Chris exatamente da mesma forma que no passado. Ainda sou apaixonado por ele e continuo sendo idiota o bastante para admitir que um dia também senti o mesmo por Willian. E ainda sinto, então a indecisão de amar os dois me faz retroceder em tentar continuar com ele. Sem falar no fato dele exigir que eu ficasse e acabar indo embora. Aquilo me magoou muito.
Os dois se balançavam com os dedos enlaçados uns nos outros querendo conversar mais sobre aquilo. Ficaram alguns instantes ali quietos, até ouvir a música começar no salão e o início da competição ser declarado. A mulher levantou do balanço e avisou que iria deitar em seu quarto, mesmo que não esperasse seu namorado para lhe fazer companhia e Andrey ficou ali sentado por alguns minutos sozinho até que um dos funcionários do hotel apareceu e tomou o acento que antes era de sua amiga. O nome no crachá dizia que era Grant e ele olhava receando em pedir alguma coisa.
— Oi — falou Grant sorrindo para o garoto ao lado e ainda querendo dizer mais alguma coisa — notei você há um tempo no salão de festas e queria saber se não quer beber algo comigo já que meu expediente acabou nesse instante.
— Claro, seria um prazer. Mas, pode ser no bar que tem próximo ao invés de ser dentro do hotel? Tenho muitos amigos que poderiam ser inconvenientes.
— Sem problemas. Posso até passar em casa e trocar de roupa. Aliás, qual seu nome?
— Andrey, muito prazer.
— O prazer é meu, me chamo Edward Grant.
Parecia loucura sair dali com uma pessoa desconhecida. Mas, saiu junto do novo conhecido para buscar diversão em outro lugar naquela madrugada. Já o tinha visto carregando malas, provavelmente era o bagageiro do hotel. Passou caminhando por Ítalo sentado no jardim que separava as duas partes do hotel com uma garrafa de tequila na mão e resolveu deixar que passasse aquele momento sozinho. Entrou na recepção ainda acompanhado daquele homem e saiu com ele em um carro cinza, em direção a algum tipo de diversão.
A competição deu um pequeno intervalo e Sara resolveu ir ao seu quarto colocar o celular para carregar um pouco. Acima de tudo naquela noite, Ítalo não tinha sido o único que descobriu uma traição. Pois, quando Sara abriu a porta do quarto e acendeu a luz encontrou o namorado sem roupas na cama, em cima de outra pessoa.
Olhou estupefata aquilo que acontecia inesperadamente e para piorar sabia que não conhecia muito a outra pessoa com ele, tinha conhecimento apenas do nome dela e era Rúbia. Ao invés de tomar algum partido ficou observando os dois que a olhavam assustados sem nenhuma reação, sem nenhuma camada de roupa os cobrindo e mostrando a penetração aparente que agora brochava.
A traída entrou no quarto e retirou o carregador da mesinha próximo à varanda, passou pela porta do quarto enfurecida e magoada, sem falar nada ao seu namorado e entrou no elevador que chegava, sentou no chão e se permitiu chorar.
Traição perambula as pessoas e pode acontecer de diversas formas. Pode ser uma amizade ou um relacionamento amoroso. Muitas vezes o relacionamento anda de mal a pior e não acaba pelo pouco sentimento ainda existente. Mas, uma das duas partes vai buscar conforto em outro alguém.
Quando as portas de um dos elevadores abriram para o rapaz de mala que tinha acabado de se hospedar no Hotel Country, ele olhou com atenção as duas figuras que se beijavam dentro dele. Cintia e o rapaz que tinha conhecido no navio olharam com atenção para a pessoa que chamou o elevador e mesmo que para o rapaz aquele encontro não significasse nada, a mulher sabia que aquele encontro ia definir muitas coisas na sua vida.
Observava o namorado que tinha acabado de chegar e pegado ela o traindo no flagra com aquele outro homem e não haviam palavras que pudessem ser ditas a fim de explicar.
Victoria caminhava pelo salão e visualizou a mulher que a tinha interceptado mais cedo perguntando se a conhecia. Veemente lembrou-se de quem era aquela mulher e atravessou um salão abraçando a pessoa que estava mais diferente que qualquer outra.
Conseguiu chorar com o reencontro da amiga e ouviu os pequenos suspiros da amiga de cabelos ruivos que também chorava. Sussurrou o nome dela nos ouvidos e abraçou mais forte aproveitando cada momento que estava tendo com a amiga.
— Senti sua falta, Giselle — disse para uma figura que não via há muito tempo e que tinha ignorado mais cedo no salão de festas pela falta de recordação. Queria sentar e colocar assuntos em dia com aquela pessoa especial e foi isso que fez.
Uma noite bastante turbulenta. Adryelle caminhou até o quarto que se hospedou a fim de buscar a prancheta com os comunicados da competição de esportes em algumas horas. Quando entrou e acendeu a luz percebeu uma pessoa diferente sentada na poltrona de seu quarto. Olhou para aquele rosto e não compreendeu o que fazia ali.
— Você desapareceu — disse confiante vendo a figura se levantando e assumindo uma postura diferente do que se lembrava em 2017.
Iasmim estava de pé olhando-a e sorrindo. Adryelle estava assustada com aquele reencontro e não sabia de que serviria, sua vontade era de correr para o mais longe que pudesse. Do outro lado do povoado Andrey esperava o novo conhecido terminar o banho para que pudessem seguir, tirou uma foto de seu bolso.
Guardava aquela foto sempre consigo, tinha sido o primeiro retrato tirado com Willian e olhou para Iasmim naquela foto ainda se perguntando o que realmente havia acontecido com ela. Mas, no Hotel Country estava em pé à figura determinada e incompreendida na frente da aniversariante desejando algo que apenas ela poderia lhe entregar.
Grant saiu do banheiro e perguntou a outra pessoa em sua casa o que segurava, achando que era alguma de suas coisas. Antes que recebesse alguma explicação sentiu uma mão alisando seus cabelos molhados e lábios se aproximando de sua boca. Ele e seu convidado começaram a se beijar na sala de sua casa e não queria saber em qual momento aquilo iria parar, queria aproveitar o momento enquanto acontecia.
O bicho sem chifre é um animal indefeso não é mesmo? A tensão tensão A Festa de Sangue vai começar a ficar mais instigante, espero que gostem do decorrer.
Qual traição te deixou mais pasmo? Fala pra mim que eu vejo o que faço com esse personagem.
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