~Capítulo 12.3: A Festa de Sangue
O elevador parou no andar que deveria estar. Caminhou pelos corredores a fim de conversar com a melhor amiga acerca dos desaparecimentos antes de qualquer evento futuro que pudesse acontecer na mesma noite. Quando se aproximou da porta e bateu, lembrou de duas coisas, duas pistas, sempre na cara dele e que nunca havia percebido o que realmente queriam dizer, até aquele momento por causa da ajuda de Chris.
A porta do quarto se abriu e Adryelle apareceu com seu vestido vermelho, algumas pedras brilhavam na extensão do tecido. Ele não tinha alças e se prendia em um lindo decote, fica colado no corpo da garota até a cintura, depois ficava mais folgado com uma saia rodada. Era completamente vermelho com algumas pedras brancas e um dos vestidos mais bonitos que os dois já viram por toda uma vida.
— Está linda — Andrey sussurrou naquele imenso corredor, olhando para o único quarto no qual a porta estava aberta — temos que descer em alguns minutos, mas precisamos conversar agora.
— Aconteceu alguma coisa? — ela já estava preocupada, abriu espaço para que o amigo entrasse e fechou a porta de seu quarto. Estava sozinha uma vez que Kelvin e João já estavam no salão de debutantes esperando para dançar o instante da valsa — precisa de alguma coisa? — falou enquanto o amigo procurava algo e não encontrava.
Ele o olhou e duas lágrimas desceram seus olhos de uma forma melodramática favorecendo o drama prestes a irradiar dentro do cômodo.
— Acho que fomos negligentes, não só nós dois — disse com uma total certeza na voz e escancarou um terrível medo na moça de vestido vermelho — o senhor que alugou o carro para Micaelly conversou comigo, quem alugou o carro foi um homem e pediu que ele mentisse. O para-brisa estava quebrado quando o buscou e não temos notícias da Mica há muito tempo.
— Você acha que...? — deixou o término da oração para o entendimento do ouvinte.
Olhando para a cômoda, Andrey achou o que procurava. O álbum de fotografias no qual percebeu uma característica que antes não achou que fosse nada importante. Agora que achava de verdade tudo muito estranho era melhor verificar.
— Pense no quanto fomos imbecis. A gente sempre acredita que tudo vai ficar bem, certo? — ela balançou a cabeça — logicamente nossos amigos são uns estúpidos e nunca duvidamos da capacidade deles em fazer merda. Leticia Costa não apareceu e nem deu notícias, Mayara a mesma coisa e a gente nem parou pra pensar nisso?
— As duas mandaram mensagem dizendo que estariam aqui hoje. Devem estar contando as experiências loucas lá embaixo. Como sempre fazem...
Ele respirou fundo com o álbum na mão e voltou a falar:
— É disso que eu falo. A gente taxa todos de irresponsáveis e nem se preocupou com eles. Todo mundo faz merda e depois fica bem e se dessa vez algo realmente tiver acontecido. No sistema do hotel Lindinêz e Daniel não saem do quarto a mais de um dia, sem falar que eu não vi a Hadassa em lugar nenhum há tempo.
Adryelle respirou fundo acerca do acontecimento com Hadassa, estava escondendo durante aquele tempo. Até que encontrassem o corpo e colocassem suicídio na certidão de óbito, ela não ficaria em paz.
— Adry, muita gente sumiu. Alguma coisa está acontecendo. Aquilo no meu quarto não foi uma brincadeira, foi um aviso.
— Estou ouvindo, fiquei preocupada.
— Acreditamos a semana toda em justificativas idiotas sobre o desaparecimento deles. Até tentamos ligar e passar mensagem, mas nem nos preocupamos com as respostas que não vieram. Fomos negligentes.
— Eu nunca pensaria que algum deles estava em perigo — falou discando o número de Mayara no celular — já sumiram por dias antes Andrey e talvez tudo esteja mesmo bem. Só paranoia sua.
Mayara não atendeu ao telefone e Adryelle encarou o objeto com uma peculiaridade obcessiva. Andrey voltou a falar:
— Nem você acredita nisso.
Ela discou o telefone de várias pessoas — Lindinêz, Letícia Costa, Hillary — nenhum deles foi atendido e agora sim estava realmente preocupada com a situação.
— Andrey a festa é agora. Você não podia ter me dito isso tudo após a valsa? A gente precisa manter as aparências até achar eles, está bem?
— Concordo com você. Se apavorarmos eles... vai ser pior, agora sim temos que chamar a polícia — Adryelle quase se engasgou com a saliva que desceu sua garganta, pois a polícia podia descobrir alguma coisa sobre Hadassa. Ela não podia contar sobre aquilo, não naquele instante. Eles precisavam acreditar que era suicídio.
— E se eles mexerem no caso do Willian? — era uma forma de fazer Andrey retroceder sobre a ideia e tentar resolver tudo entre eles sem envolver autoridades.
Ele respirou fundo e mais uma lágrima quente desceu do seu olho esquerdo, precisava ser altruísta ao menos uma vez na vida.
— Já fiz muita merda para esconder isso. Meu crime foi não ter pedido ajuda, tudo podia ter sido enquadrado como legítima defesa e eu seria inocente. Mas depois de tudo que fizemos para esconder a morte dele, agora somos criminosos e se esse segredo for machucar mais pessoas que admiro e gosto, prefiro ser preso. Tenho medo por eles, Adryelle — ele já chorava muito — você sabe mais que ninguém que nosso apreço por eles pode ter feito isso. Tem uma pessoa que faria de tudo pra se vingar da gente e se está fazendo?
— O pai do Willian? Nunca nem vimos o cara. Você que sempre teve essa paranoia de que ele voltaria pra se vingar da gente.
— O moço falou que o homem que alugou o carro era ruivo e se ele só trocou o loiro do cabelo dele igual eu fazia antes de me envolver com o Willian?
Fazia sentido. Tudo encaixava como em um quebra-cabeça manual. Os desaparecimentos e uma possível vingança de uma pessoa que sempre quis vingar o lance do desvio de verba na escola. Tudo realmente fazia um sentido absurdo.
— Quando foi inocentado ele jurou que um dia encontraria a verdadeira pessoa que desviou o dinheiro, disse que era capaz de matar — Adryelle mencionou algo que o amigo não sabia — meu pai foi lá quando ele foi solto, disse que o homem repetia isso várias vezes.
Ele abriu o álbum e encontrou a primeira peculiaridade. Em uma foto Letícia Costa estava colorida enquanto todas as outras pessoas e o cenário estavam em preto e branco. Ele retirou a foto e no verso encontrou o número dois. Ao mostrar a Adryelle ela se arrepiou, não podia sentar na cama por causa do vestido, mas teve uma ideia na cabeça.
— Tem alguma outra que nem essa aí?
Andrey retirou outra foto e no verso havia o número três. Era a foto de Mayara que tinha as mesmas características que a foto de Letícia Costa. E percorrendo o álbum encontrou outras fotos da mesma forma. Uma com Micaelly e no verso uma barra, outra com Hillary e no verso o número um, a próxima foi a de Lindinêz com outro número um. Ítalo também estava no álbum expresso por uma barra, na sequência apareceu Lavínia com o número dois, Hadassa com o número zero e Daniel com o número um.
— Aí meu Deus — gritou Andrey olhando para as fotos sem saber que atitude tomar, já tinha retirado todas as pistas. Adryelle havia entendido o que as fotos juntas queriam dizer. Na ordem expressa no álbum todas formavam uma data, era 23/11/201.
— Não tem como saber o ano. Se for em 2017 é sobre o Willian que as pistas querem falar, mas se for em 2018 vai ser sobre o Timothy — Adryelle olhava para os números que passavam e sentia sua cabeça latejar.
— Adryelle eles não estão se divertindo nem nada. Todos devem ter sido sequestrados. O 23 de novembro marca dois acontecimentos trágicos na nossa vida. Ou alguém quer vingança pelo Willian, ou alguém quer vingança pelo Timothy.
Andando de um lado para o outro, Adryelle nem sentiu medo de amassar o vestido bem passado que vestia e da mesma forma Andrey já não se importava com o terno que usava.
— O que aconteceu com o Timothy não foi nossa culpa. Mesmo que nós dois tenhamos nos envolvido com ele, foi suicídio. Ele se atirou de um lugar alto na Serra de Itabaiana, caiu em cima das pedras e morreu. Não tem haver conosco.
Batidas ecoaram nos ouvidos, alguém estava à porta. Sabiam que a pessoa no corredor não teria ouvido nada do longo diálogo. Foi Andrey que caminhou até o objeto e girou a maçaneta mostrando um cara de cabelos negros e um traje destinado a todos os funcionários.
— Oi Grant...
— Está na hora de dançar a valsa, todo mundo espera vocês no salão de debutantes. Tem um tapete vermelho no jardim e alguns estão formando um corredor para vê-los. Tudo pronto.
— Vamos? — Andrey se virou para a melhor amiga e estendeu a mão. Ela entendeu na hora o que estava fazendo. Caso eles não aparecessem para aquela valsa todos estranhariam, então era melhor manter as aparências e depois correr até a xerife em busca de ajuda.
Ao olhar o relógio e constatar que era meia noite, percebeu o que devia fazer antes de sair do cômodo segurando a mão da melhor amiga e assim fez:
— Feliz aniversário, debutante fora de época.
— Obrigada — ela o abraçou sem se preocupar que o vestido amassasse. Observou Grant entrar em um dos elevadores e descer afinal devia ter muito trabalho — vamos ser melhores amigos para sempre — sussurrou no ouvido da pessoa que abraçava e tomou o impulso de sair do quarto e fechar a porta.
— Quando a valsa terminar e tivermos cantado os seus parabéns, sabe o que vamos fazer.
— Sim, eu sei — ela garantiu e foi caminhando com o melhor amigo pelo corredor, logo após de fechar a porta do quarto.
Atrás deles se projetava uma figura peculiar. Não era o costumeiro capuz verde, mas sim um capuz preto que escondia aquela pessoa. Os dois amigos não perceberam quando ele entrava no quarto de Adryelle.
Entraram no elevador sabendo que os próximos acontecimentos seriam os melhores da vida de Adryelle. Mesmo com toda a preocupação acerca do sumiço de seus amigos e sabendo que o momento não ia ser curtido da melhor forma, eles foram. O elevador descia enquanto pensavam em toda a batalha até aquele momento, todas as coisas acontecidas para chegar onde estavam agora. Todos os eventos construtivos passados nos anos anteriores para alcançar à maturidade existente naquele momento.
Os dois sentiam medos, inseguranças e apreensões. Mas ficaram juntos por anos e anos. Compartilhando ajudas, abraços e apoios. Era esse o significado de amizade. Amigos são a família que se escolhe e família não se abandona.
Andrey locomoveu sua mão até que pudesse apertar a da melhor amiga. No dia que tudo se transformou para ele, ela andou até o garoto com o cabelo cortado e sem o par de óculos que não precisava. Apertou sua mão sabendo que estava nervoso e prestou o suporte no qual sabia que era necessário. Agora, anos depois, ele fez o mesmo, aperta o membro suado de formas suaves e quando as portas do elevador abriram limpou a lágrima trapaceira que rolava por sua bochecha com a mão vazia.
Duda e Brenda apareceram e fizeram menção em abraçar Adryelle. Como no dia em que tudo mudou para Andrey, Chris estava ali um pouco distante olhando para o garoto que um dia havia conquistado. Eles sorriram um para o outro como naquele dia, mas a anfitriã precisava atravessar o jardim para dançar sua valsa na segunda parte do hotel.
Quando as portas fechadas da primeira parte do hotel se abriram. Os dois melhores amigos da vida toda de mãos dadas se assustaram com a quantidade de pessoas que estava no jardim. Um tapete vermelho cortava o cenário e nas duas laterais, várias pessoas estavam limitadas por uma corda, gritando o nome de Adryelle e a aplaudindo. Seu sonho estava começando.
Eles começaram a caminhar enquanto ouviam os gritos de seus amigos mais próximos, gritos de pessoas que não conheciam. Toda a população do povoado Country teve acesso à festa e estava ali para comer e beber de graça. Era o evento da década naquela região, caso seus pais fossem famosos talvez tivesse muitos repórteres fazendo uma cobertura completa da festa.
Por mais exibida que Adryelle fosse, ela não queria repórteres. Achava melhor deixar o mistério acerca da festa para as pessoas que acabaram não indo. Queria que ninguém pudesse saber dos acontecimentos se não fossem por comentários dos que ali estavam.
Giselle pulava junto com Sara. Farias e Rúbia tinham um cartaz em cima das cabeças gritando pelos dois. Mas, no mesmo instante, Andrey achou que tivesse visto Willian na plateia e lembrou-se da ação que desencadeou todos os eventos que deveriam ser resolvidos após a valsa.
Ele nunca se esqueceria de descer as escadas e olhar para o corpo de Willian com a cabeça ensanguentada e os olhos fechados. Lembrava-se de aproximar o dedo do nariz daquele menino e não sentir o ar quente de sua respiração. Adryelle não demorou a chegar, abriu a porta com tudo e observou o amigo no chão, agarrado ao corpo ensanguentado sem saber o que fazer. Suplicando que qualquer coisa pudesse ser dita pelo rapaz dono dos lindos olhos azuis.
Mas era apenas a sua imaginação pregando uma peça. Ele saiu da lembrança quando ouviu um grito de Cintia. Olhando para a lateral direita, Cintia e Victoria dançavam algo bem coreografado. Desciam até o chão, empinavam a bunda, faziam perfeitos quadradinhos e não cansavam de gemer durante a coreografia. Ambos deram risadas daquelas duas loucas no meio da plateia fazendo palhaçada.
A risada de Adryelle acabou quando pensou ter visto a si mesma na plateia. Sua imagem estava completamente suja de terra. aquilo a fez refletir sobre o medo que percorria suas veias acerca do desaparecimento de alguns dos convidados. A memória do dia em que estava suja de terra adentrou seu subconsciente.
Foi ela quem o convenceu, ela pensou até que algo saiu. Os dois juntos limparam todo o sangue. "Se enterrarmos em um lugar próximo, limparmos tudo e desaparecermos com suas roupas... vão pensar que ele fugiu" — ela disse para o melhor amigo que olhava desesperadamente para os olhos fechados de Willian. "A caixa de areia do parquinho na lateral dessa casa" — Andrey falou dessa vez com a voz extremamente embargada e eles tomaram conta de tudo.
A chuva limpava os rastros do corpo que foi arrastado pela areia do parquinho. O corpo foi jogado em um fundo buraco na caixa de areia e eles enterraram para sempre aquele perigoso segredo. Saindo das memorias que mais a afugentavam, percebeu que sua suja imagem havia desaparecido da plateia.
Finalmente nas portas da segunda parte do hotel. Eder e Grant estavam ali para abrir a porta. Andrey e Adryelle dançariam e depois João tomaria sua mão, caminharam juntos até o meio do salão ficando em frente ao enorme bolo da festa e começaram a dançar.
— Está vendo João Victor? — Adryelle sussurrou enquanto dançavam, mas Andrey não teve como responder. Pois todas as luzes do salão se apagaram.
Um holofote se acendeu apenas nos dois. Andrey e Adryelle ficaram paralisados com a forte luz em seus rostos. Os amigos mais próximos estavam na frente ainda gritando pelos dois, achando que aquilo tinha sido planejado, mas pararam ao perceber a estranheza estampada na face deles.
— O que está acontecendo? — Andrey sussurrou para Adryelle — nada disso estava previs... — sentiu-se banhado e ao olhar para Adryelle percebia que ela estava completamente suja de um liquido vermelho. Ele olhou para a própria roupa manchada de vermelho antes de ouvir o estrondo na mesa onde estava o bolo. Todas as luzes acenderam, pessoas começaram a correr e gritar. Sara caiu no chão sendo segurada por Giselle, o corpo de Brunno tinha destruído o bolo e estava em cima da mesa completamente sujo de doce e sangue.
A próxima pessoa que caiu no chão foi Victoria. Do teto do salão caíram várias fotos, como um golpe do destino aos pés de Vic estava Letícia Costa. Várias outras imagens caíram no chão todas com as pessoas marcadas em um X vermelho por toda a dimensão das fotos. O salão estava quase vazio, mas Cintia tomou o retrado da amiga e virou o verso, tinha algo escrito ali.
"Letícia Costa;
Morta durante o cruzeiro;
Afogada na piscina enquanto todos festejavam;
Corpo jogado no oceano."
Andrey e Adryelle olhavam para os amigos que choravam e olhavam para os dois. Giselle, Cintia e Duda estavam dispersas no enorme salão ouvindo os gritos das duas garotas e sem saber o que fazer.
Foi Grant que apareceu do mesmo canto onde se estabelecera com Chris e correu para puxar o braço de Andrey antes que algo amarrado por uma corda caísse bem no lugar onde estava. Primeiro pensaram ser um boneco, mas era Anny pendurada pelo pescoço no meio do salão.
— Tem um homem de capuz verde ali em cima — Duda falou e todos olharam, no entanto nenhum deles viu nada.
Andrey estava paralisado sentindo seu braço sendo apertado por Grant e olhando para cima como todos os outros. Adryelle estava parada e baixou a cabeça até que ficou olhando a amiga no meio daquele salão. As outras seis pessoas visualizavam assustadas aquele evento sem saber que reação tomar.
Adryelle percebeu ali no meio do salão, em frente ao corpo de dois amigos e segurando uma das fotos que tinham caído, o que devia fazer. Assim, começou a gritar.
Seu sonho terminou.
*Fim Do Ciclo 1*
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro