~Capítulo 12.2: A Festa de Sangue
Sara estava bastante animada por causa da grande festa que começaria na noite daquele mesmo dia. Como o dia que Adryelle completava aniversário era o dia 13 de maio, a grande festa estava prevista para começar no dia 12 e prolongar as festividades padrão de uma debutante as meia noite como era tradição. Estava no bar tentando festejar um pouco antes de tudo acontecer.
Sua tristeza estava relevada na traição do Brunno e na descoberta que o mesmo fora embora na noite passada. Agora olhava para uma garrafa de uísque pela metade e para o amigo ao lado que estendia a mão para colocar mais um pouco no pequeno copo de drinks. O bar estava vazio, segundo Dulcy - dançarina e garçonete do estabelecimento - o fluxo de pessoas seria bem pequeno naquele dia, mas não explicou o motivo.
— Eu estou bebendo por causa do meu ex — Sara estava com a voz de bêbada e pelo estado provavelmente vomitaria em instantes. Percebendo aquele estado de embriaguez, Dulcy se aproximou e começou a beber da garrafa para secar logo — vocês estão bebendo pelo o que?
O amigo ao lado ficou temeroso em contar, mas assim que a pergunta foi feita a resposta logo entrou em suas cordas vocais:
— Lógico que é pelo meu ex e eu que dei um pé na bunda dele — falou Kayo ainda sóbrio e sorrindo da situação. Queria mesmo dar aquele apoio para a amiga e contava com a ajuda de Dulcy para colocá-la de volta no hotel — mas se serve de consolo... Brunno não merece esse seu estado.
Dulcy finalmente se intrometeu na conversa e começou a conversar com eles:
— A bicha sem noção que fala coisas que eu não entendo, tem razão — Kayo a olhou com a ofensa e percebeu que aquilo era um deboche inofensivo e sem a intenção de ofender de fato — eu sei que um chifre dói, mas é bem melhor ser abandonada assim do que precisar fugir do relacionamento mais tarde — ela colocou mais uísque em seu copo e virou com cara de dúvida para os dois clientes - você deu um chute nos ovos dele?
Kayo riu da pergunta, mas Sara parou em um devaneio e depois respondeu ainda com a voz meio embargada e falas enroladas:
— Eu de... dei foi algumas gostosas sentadas — os dois no cenário começaram a sorrir e a garota bêbada começou a se divertir junto — você já chutou os ovos de algum macho escroto?
— Eu sempre gostei de jogar futebol — Dulcy falou levando o copo a boca e engolindo todo o conteúdo — uma pena que estava mais para ping pong.
Novamente todos caíram na risada e Kayo notou que a garçonete estava começando a ficar bêbada, visto que começou a contar histórias de sua própria vida:
— Eu falei que é melhor levar um chifre e se tornar um animal com defesa por experiência própria — Dulcy puxou um banco e se sentou do outro lado do balcão de drinks e limpou uma lágrima que descia dos seus olhos — por muito tempo fui a menina que todo pai queria ter. Estudada, boas notas e equilibrada...
Ela parou bruscamente na história meio que com medo de contar uma coisa tão íntima sobre sua vida.
— Não precisa falar nada se não tiver vontade — Kayo mencionou a fim de demonstrar apoio e sensatez perante aquela mulher.
— Não, estou bem — disse a garçonete antes de voltar a narrar seu conto — eu já namorava o escroto do meu ex quando os meus pais morreram. Eles não me deixaram nada, ninguém para morar comigo, nenhum dinheiro e com dezessete anos juro que não queria ter que ficar em um desses abrigos. Precisei ir morar com ele e o cachorro meigo dele — quando parou para encher o copo mais uma vez um cachorrinho branco saiu da porta atrás de Dulcy e pediu um afago.
Depois de beber o líquido e perceber os olhos interessados dos dois clientes resolveu continuar:
— Ele já tinha vinte e cinco, uma ficha criminal por roubo e outra por violência doméstica, fui uma burra por me envolver com ele sabendo quem era — pausou para limpar duas lágrimas que rolavam em seu rosto e percebia o olhar de compreensão dos dois — todo mundo comete erros, mas ele era um fofo comigo. Todos os dias me buscava na escola e me levava chocolates ou flores... Até que eu terminei o ensino médio.
Pegou o cachorrinho no colo e começou a alisar a cabeça dele, aparentava ser um pouco velho, parecia estar com a mulher há alguns anos. Com o cachorro no colo, continuou a falar:
— Comecei a trabalhar e sustentar ele. O dinheiro dele sumia e ele saia sempre dizendo que ia trabalhar e nunca tinha dinheiro. Então, eu o segui e peguei com a minha melhor amiga, aquela vagabunda, piranha, cachorra, safada, quenga... — começou a falar um monte de adjetivos horríveis para a mulher em questão e bebeu mais um pouco do líquido marrom forte.
Sara extremamente bêbada e Kayo quase chorando com a história, entreolharam-se antes que ela continuasse:
— Bom — ela riu desenfreadamente — eu bati nela e quebrei o nariz dela. Quase foi atropelada e eu só ri esperando que morresse. Sou uma pessoa ruim por isso?
— Eu faria igual com a vaca da Rúbia — falou Sara percebendo que Kayo balançava a cabeça em negação sabendo que eram apenas delírios de uma pessoa alcoolizada.
— Eu perdoei o babaca do cara e ele começou a ser agressivo. Em um dia deixou quatro marcas roxas em mim e pra completar cortou minha bochecha com uma faca que ele tratava a carne. Fui à polícia e ele foi preso, nunca soube se foi solto ou não, acho que foi melhor assim ou eu estaria morta agora.
Kayo pegou a mão da mulher e alisou carinhosamente. Depois começou a dizer o que estava em sua cabeça desde o inicio da história:
— Nem sempre um término é o fim de algo. Muitas vezes é um início. Acabar com o babaca do seu ex foi o seu recomeço e sei que vive feliz aqui.
— Sim. A dona é a Natália, ela está em Seattle passando uns dias, também é uma prima distante, os policiais pesquisaram e a encontraram. Como era amiga de infância dos meus pais me trouxe para ficar com ela. Insiste que não devo trabalhar, mas eu gosto e como sempre quis ser dançarina de sucesso, acabo fazendo meus shows aqui. Mesmo que fosse para ser um bar gay.
Sara teve uma ideia e mesmo sem entender todo o desenrolar da conversa, praticamente gritou sua sugestão:
— Vem para a festa da Adryelle com a gente hoje à noite, vai ser divertido.
Como Dulcy assentiu, continuaram bebendo até secar a garrafa. Imediatamente, Adryelle ganhava mais uma convidada para a grande noite de sua vida.
Iasmim esperou Larissa por um bom tempo e nada da amiga chegar. Seu plano de interromper a festa e fugir com o Willian não ia funcionar sem a conhecida. Para Iasmim, seu irmão estava vivo e assassinando pessoas embaixo do capuz verde. Por isso, achava necessário que a festa fosse cancelada e as buscas pelo assassino se intensificassem pela região, assim quando tudo estivesse muito acirrado, o menino de cabelos loiros pediria a ajuda da irmã e eles fugiriam juntos como deveria ter sido a princípio.
Já era noite e a festa ocorreria em instantes. Quando desse meia noite Adryelle ia descer as escadas e andar todo o comprimento do jardim até a segunda parte do hotel, dançar sua valsa, cantar seus parabéns e sorrir feliz sem fazer ideia dos assassinatos.
— Larissa cadê você? — falou Iasmim ansiosa para que tudo aquilo terminasse logo.
Uma seringa penetrou seu pescoço e ela desmaiou instantaneamente. A pessoa embaixo do capuz verde ergueu seu corpo para longe da vista e notou, caminhando pela pequena estradinha de acesso ao loteamento residencial, um dos convidados mais especiais de Adryelle: Andrey. O rapaz usava um terno preto e caminhava até o estacionamento em frente ao restaurante para subir e buscar a amiga no quarto.
A pessoa embaixo do capuz verde observou quando Chris chegou e o abordou rapidamente, parando para que conversassem no estacionamento. Depois carregou o corpo de Iasmim o mais longe possível para que não estragasse seus planos.
— Andrey? — Chris chamou sorrindo, usava o terno que Adryelle alugou para todos os funcionários e ficava mais bonito que qualquer outro.
— Oi, Chris - sorriu falando com o ex-namorado e querendo saber qual o assunto em pauta da vez — aconteceu alguma coisa?
O rapaz de cabelos negros e sorriso branco o olhou de cima a baixo com um grande desejo de fazer tudo que aconteceu em seu sonho. Infelizmente nada daquilo seria possível em meio a um estacionamento, logo entregou um aviso:
— Tem um homem na recepção querendo falar com alguém que tem suas descrições. Quando falou dos olhos castanhos me lembrei logo de você. Talvez não seja, mas queria que fosse tirar essa dúvida, por favor.
— Como sabia onde me encontrar? — perguntou com medo que Chris pudesse ter assistido "You" demais ou aprendido muitas coisas com "Pretty Little Liars".
O ex-namorado sorriu novamente notando a apreensão e resolveu contar seu imenso segredo:
— É na recepção que Adryelle pede para fazermos as reservas e colarmos os avisos. Sei onde esteve a semana todinha. Pensei que estivesse no alfaiate, ia correr até lá e te achei aqui.
Ao invés de sorrir junto do rapaz em sua frente. Andrey começou a acompanhá-lo para falar com o suposto homem que o procurava na recepção. Atravessaram o jardim e adentraram a porta dos fundos da primeira parte do hotel.
— Ele está aqui na recepção dos fundos — Andrey assentiu quando olhou para um senhor sentado em um dos sofás da recepção e reconhecendo-o.
— O senhor trabalha naquela loja que aluga carros — falou Andrey enquanto o homem se levantava com ar de preocupação na face.
O homem se aproximou de Andrey enquanto Chris caminhava até a recepção para voltar ao trabalho. Victoria e Cintia ensaiavam alguma coisa em um canto afastado da recepção e apenas olharam para o terno do amigo e fizeram faces surpresas, mas logo voltaram a ensaiar o que quer que estivessem aprontando.
Preocupado, Andrey precisou perguntar:
— Por qual motivo queria me encontrar?
— Quando nos vimos da última vez eu menti. Não foi sua amiga quem alugou o carro, foi um homem alto de cabelo ruivo. Pediu que eu dissesse a você e sua amiga que outra pessoa tinha alugado o carro e me deu o envelope para entregar.
O rapaz quase engasgou com sua própria saliva. Ele estava desconfiando dos sumiços entre os amigos, mas ainda não havia chegado a uma conclusão. Ficou com positividade acerca de tudo, mesmo com os acontecimentos estranhos da semana, resolveu acreditar que as coisas eram brincadeiras ou apenas saídas irresponsáveis de jovens de dezoito e dezenove anos. Pelo visto tudo era diferente do que pensava.
— Você podia ter ido à polícia e... — foi interrompido por um senhor com aparente medo.
— Não. Aquele homem me pagou e disse que era apenas para fazer uma pegadinha. No entanto, o carro a que vim buscar agora está com o parabrisa destruído. Alguma coisa deve ter acontecido, mas se contar a polícia que fui negligente eles fecham meu estabelecimento e eu não tenho para onde ir. O carro deveria ser devolvido, ao invés disso recebi uma ligação avisando que encontraram o carro. O pessoal do povoado me conhece e...
— Calma. Tem mais alguma coisa que me precise dizer sobre esse homem?
Uma parada brusca no assunto e o senhor começou a pensar, depois de alguns segundos tornou a falar:
— Usava um casaco verde com capuz.
Eles se despediram e Andrey garantiu que não falaria sobre a mentira do senhor apenas para não deixa-lo mais apavorado. Chris apalpou suas costas preocupado e esperou uma resposta da pessoa pasma em sua frente. A coloração do rosto do rapaz era muito branca e olhava para os cantos pensando em várias coisas.
— Chris, olhe no sistema para mim. Quantas pessoas não usam as chaves dos quartos a mais de um dia.
— Algum motivo em especial?
— Por favor, só olha — estava quase chorando e com aquela preocupação constante e medo não existia nada que o ex-namorado não fizesse para acabar com sua apreensão.
Chris checou o sistema e olhou preocupado para Andrey. O relógio do computador avisou que em breve a festa ia começar. Muitos convidados com trajes de gala desfilavam pela recepção dos fundos e caminhavam até a parte em frente, no qual ficava o salão de debutantes. O rapaz de cabelos negros terminou com o sistema e falou alguns nomes:
— Anny e Brunno encerraram a estadia e foram levados até a marina. Adryelle me avisou sobre alguns desses que não chegaram a pedir um quarto ou não frequentam o próprio cômodo a algum tempo.
— Que tipo de explicação? Tipo que a Letícia Costa saiu com alguém, mas voltava para a festa?
Ele assentiu e voltou a olhar o sistema, alguns nomes apareciam e a chave de quarto não era usada a mais de vinte e quatro horas. O tempo era incomum uma vez que todos estavam em um hotel resort. Iriam querer trocar de roupas para frequentar as festas e tomar banho depois de usar uma das piscinas. Nenhum outro convidado passou mais de quinze horas sem usar a chave do quarto, algo de estranho estava acontecendo com aqueles.
— Esse mesmo tipo de explicação e as pessoas que não usam as chaves dos quartos são nossos conhecidos.
— Quem são?
— Além das outras três tem Lindinêz, Lavínia, Hillary, ítalo, Hadassa e Daniel. Na verdade não tem nada no sistema que diga que a Lindinêz e o Daniel saíram de seus quartos. Ah... e a Micaelly e a Mayara não fizeram pedidos de quartos, parece que também não chegaram junto com vocês do cruzeiro.
Ainda temeroso, Andrey o olhava com uma horrível preocupação. Não existiam motivos para coisas ruins estarem acontecendo. Adryelle tinha organizado tudo da melhor forma que podia e tudo saira como combinado. Cada detalhe feito estava dentro dos conformes, essas pessoas que sumiram e não deram satisfações, onde estavam?
— Talvez a Adry saiba onde estão, então muito obrigado Chris.
Com os cabelos negros realçando seus olhos e o terno dos funcionários parecendo em nada comum, o rapaz atrás do balcão da recepção se aproximou e segurou uma das mãos do ex namorado, querendo dizer mais uma coisa antes que ele fosse embora:
— Sabe que sempre vai poder contar comigo, pois ainda gosto de você Andrey. Mas, você nunca vai superar o que aconteceu com Willian, né?
— Eu matei uma pessoa. Anos passaram e isso não se apaga — sussurrou para a pessoa a sua frente deixando uma lágrima avulsa escapar de seu olho esquerdo — essa pessoa era seu irmão e mais do que meu melhor amigo, ainda sou apaixonado por ele.
Chris olhou para os lados com medo de que alguém os ouvisse. Voltou a atenção para o agora amigo e continuou:
— Eu tentei lutar contra seus sentimentos com o Willian, mas ele morreu e você devia seguir em frente — falou sorrindo como nunca havia feito ao mencionar aqueles acontecimentos — nada daquilo foi sua culpa e, por favor, viva.
— Mais tarde conversamos — Andrey começou a caminhar se despedindo do olhar terno de Chris e caminhou até o elevador. Puxar do passado tudo que fez ao Willian era traumatizante e entendia que sem o apoio das pessoas que realmente entenderam tudo sobre aquele dia, ele não teria liberdade invicta até seus dezoito anos.
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