Capítulo 3
Celina? Celina, você está bem?
Celina! O que você tá fazendo?!
Respira! Você vai machuca-los!
Para! Você precisa se controlar!
Celina!
- Celina? Celina!
Celina balançou a cabeça, voltando à realidade, afastando as lembranças que tinha, afastando os ecos dos gritos de dor e agonia.
Era Clarisse que estava à chamando. Ela sorriu para a irmã.
- Sim, que foi?
- Você tá bem? - Clarisse perguntou, com a expressão preocupada.
- Estou. Por que a pergunta?
- Porque eu estou te chamando à cinco minutos e você tá aí, parada, com uma expressão bem pesada. - Clarisse respondeu, mordendo os lábios em seguida, como se estivesse se segurando para falar o que pensava.
As duas ficaram se encarando por longos segundos, até Celina desviar o olhar para sua mochila. Estava arrumando suas coisas para sair em missão com Percy, Annabeth e Grover, que foi designado para proteger os três na jornada deles.
- Você precisa mesmo ir? - Clarisse perguntou.
- Bem.. Sim. - Celina deu de ombros. - Você ouviu o Percy: se eu não for, ele não vai também.
- Não estou falando disso, e você sabe. - Clarisse resmungou. - Eu tô preocupada. Tenho medo de algo acontecer, como da última vez.
- Não vai acontecer. Eu nunca mais fiz algo minimamente parecido com aquilo. Me especializei em vários estilos de artes marciais apenas para não ter que recorrer aos meus poderes. Você viu o meu esforço. Você acreditou em mim naquela época. Por que você está preocupada que eu faça merda agora?
- Porquê eu tenho medo de te perder! - Clarisse respondeu. - Eu não tô ligando se você ferir outras pessoas, mas, se os deuses acharem que você é uma ameaça, eles podem te eliminar sem sequer pensar.
Celina não respondeu. Ficou em silêncio enquanto apertava uma blusa com as mãos.
- Não vai acontecer nada comigo. Eu prometo. - Celina largou a blusa e foi até a irmã mais velha. - E eu também não vou mais ferir ninguém. Eu não vou com a cara do Percy, mas não vou mata-lo como matei... Eles.
- É bom mesmo você cumprir essa promessa! Se não, quando você morrer, eu vou até o submundo para te matar de novo! - Clarisse brincou, querendo tirar o foco de Celina de suas lembranças. Celina agradeceu mentalmente por isso e riu da piada.
- Vem cá. - Celina chamou, deixando suas roupas de lado e abrindo os braços. Clarisse sorriu e foi até a irmã, à abraçando.
Elas não eram muito de abraços, mas quando acontecia, era muito bom.
Uma batida na porta do Chalé foi ouvida, as duas garotas se soltaram e encontraram Luke na porta, sorrindo para elas.
- Estou interrompendo o momento mágico entre irmãs? - Luke perguntou.
- Não está. - Celina respondeu, rindo enquanto terminava de enfiar suas roupas em sua mochila. - Estou nervosa. Faz tantos anos que não saio do apartamento.
- A Annie também. Cuida dela pra mim, ok? - Luke pediu, e Celina assentiu.
- Prometo que nada de ruim vai acontecer com ela. - Celina prometeu, colocando a mochila nas costas e caminhando para fora de seu Chalé junto com os outros dois.
- Ótimo. - Luke sorriu e baguncou os cabelos curtos de Celina. - Mas tudo vai ocorrer perfeitamente. Tenho certeza.
- Que bom que você acha isso. Clarisse estava preocupada, mas eu já disse que não vou me descontrolar dessa vez. - Celina disse, vendo Clarisse revirar os olhos.
- Você deveria confiar mais na Celina. - Luke provocou Clarisse, que deu um soco no braço de Luke. - Ai!
- Não fala o que você não sabe, Castellan. - Clarisse brigou, se virando para Celina em seguida. - Você já está de saída?
- Sim. - Celina assentiu.
- Acabei de sair do Chalé do Percy, eles estão te esperando, Lina. - Luke avisou, e Celina suspirou.
- Ok. Estou indo. - Celina deu um sorriso nervoso. - Vejo vocês em alguns dias?
Clarisse e Luke assentiram, então Celina deu um rápido abraço em Luke e outro mais rápido em Clarisse. Então ela se virou e se apressou para a saída do Acampamento. Lá ela encontrou Percy e Grover há uma certa distância de Annabeth, que olhava para a árvore de Thalia com pesar.
Grover e Percy, que tinha uma caixa em mãos, conversavam enquanto olhavam para Annabeth. Celina chegou perto o suficiente para poder escutar, mas não queria participar da conversa.
- Quando Annabeth chegou aqui pela primeira vez com Thalia e Luke, alguns monstros estavam os perseguindo. - Grover explicava para Percy, que ouvia atentamente. - Foram enviadas por Hades. Eram irmãs.
- As Fúrias. - Percy concluiu. - A Sra. Dodds?
- Sim. - Grover confirmou. - Uma delas era nossa professora de álgebra: Alecto. Thalia tentou ganhar tempo para que Luke e Annabeth chegassem em segurança no acampamento. Seu sátiro tentou dete-la, mas ela não quis ouvir. Então, no último momento, Zeus interveio para salvar sua vida e.. Mudou sua forma.
- A melhor ideia que o ser mais poderoso teve para salvar a vida de sua filha... Foi transformar ela em uma árvore? - Percy perguntou, incrédulo.
- Tenho que concordar com você. - Celina disse, chamando a atenção dos dois. - Ele não podia só, sei lá, tacar um raio na cabeça das Fúrias?
- A Thalia foi a mais semideusa mais corajosa que eu conheci. - Annabeth se aproximou deles, na defensiva por Thalia. - Ela lutou bravamente e teve um destino de herói.
- Ela teve um destino de semente. - Percy soltou, sem medir suas palavras.
Celina não conseguiu se segurar e riu, não estava esperando aquilo. Mas ela parou quando viu a expressão assustadora de Annabeth.
- Foi mal. - Celina sussurrou, desviando o olhar.
- Os filhos proibidos sempre estão em perigo. Até mesmo os mais fortes. Até mesmo a Thalia. - Annabeth disse, olhando para Percy. - E você não é ela. Então faça exatamente o que eu digo e talvez você sobreviva. Entendeu?
Annabeth não esperou a resposta de nenhum dos três, apenas se virou e começou à andar.
- Ela acha que está no comando? - Percy perguntou, alternando o olhar entre Celina e Grover.
- Quem você achou que estaria? Você? - Grover perguntou.
- Achei que faríamos uma votação. - Percy comentou, encolhendo os ombros.
- Que estupidez da sua parte. - Celina negou com a cabeça, começando a caminhar atrás de Annabeth, sendo seguida pelos outros dois. - Estou muito feliz por estar seguindo as suas ordens, Annie. Quer que eu leve sua mochila?
- Não. - Annabeth respondeu secamente, e Celina bufou. Annabeth era difícil.
[...]
A porta do banheiro do ônibus se abriu e um homem saiu por ela. Ele foi seguido por um fedor tão forte que os olhos de Celina arderam. Ela pode ver Annabeth, Percy e Grover fazerem caretas e tamparem seus narizes.
- Não posso acreditar que o sagrado cheira assim. - Percy comentou, abanando com a mão a frente do rosto, tentando afastar o cheiro.
- Somos soldados em uma missão. Não estamos de férias. - Annabeth o lembrou.
- Obrigado por esclarecer isso. - Percy respondeu, bufando. - Mas se é tão importante, por que Quiron não nos comprou passagens de avião? Olha onde estamos, essa missão não parece de alta prioridade, né?
- Você é idiota desde que nasceu, ou fez cursinho? - Celina perguntou, atraindo a atenção de Percy. - Não são somente os monstros que querem te deter e te matar. Você é um filho proibido, Percy!
- Exato, Zeus poderia te matar no céu mesmo. - Grover completou. - O céu é o domínio dele, viajar através dele é... Perigoso.
Percy parou por alguns instantes, absorvendo o que tinham lhe falado.
- Vocês tem razão. - Percy comentou.
- Vou comprar lanche pra gente. - Annabeth falou de repente, se levantando de seu acento quando o ônibus parou em um posto de gasolina.
- Vou com você. - Celina também se levantou quando não teve objeção de Annabeth.
- Eu também vou. - Percy disse, se levantando, mas Annabeth o empurrou para que se sentasse novamente.
- Não. Você fica aqui. Vamos, Celina.
- Por que ela pode ir? Vamos, tá fedendo muito aqui. - Percy pediu, alterando o olhar entre as duas garotas, para ver se alguma delas cederia.
- Os monstros não podem sentir seu cheiro com isso. Melhor você ficar. - Annabeth explicou.
- Eu quero votar. Quem acha que todos devemos sair para tomar um ar e comprar nossos próprios lanches? - Percy perguntou e levantou a mão.
- Cara, de novo essa história de votação? - Celina perguntou, pondo a mão na cintura e revirando os olhos. - De qualquer maneira, você perdeu; são eu e a Annie contra você.
- Batatas fritas e refrigerante? - Annabeth perguntou, vendo Percy negar e se virar para Grover, que estava sentando ao seu lado.
- Grover, por favor, me ajuda aqui!
- Não quero ter que votar. - Grover disse, começando a bater palma. - Tenho uma ideia melhor.
As palmas aumentaram o ritmo e Grover começou a cantar. Os outros três o olharam com estranheza.
- Cara, o que tá fazendo? - Percy perguntou.
- Está é a música do consenso. O segundo verso nos encoraja à falar coisas boas uns para os outros. Assim que vocês escutarem vão ver como os problemas vão... - Grover começou a explicar, mas parou quando percebeu os olhares dos outros três. - Desaparecer.
Um silêncio constrangedor se seguiu por alguns segundos, até Celina cair na risada.
- Você é fofo, Grover. Valeu pela tentativa. - Celina disse, vendo Grover sorrir animado com o elogio.
- Então... Batatas fritas com refrigerante? - Annabeth perguntou, vendo os dois garotos assentirem. - Vamos, Celina.
As duas desceram do ônibus e caminharam até a loja de conveniência do posto de gasolina. Se separando logo na porta.
Celina foi para uma das prateleiras e pegou dois pacotes, em seguida indo até Annabeth, que encarava uma prateleira cheia de doces, e cutucando seu ombro. A atenção de Annabeth se voltou para ela.
- Você quer um? - Celina perguntou, estendendo o pacote para Annabeth.
A filha de Atena olhou para a mão de Celina, vendo que ela tinha um pacote de absorventes em cada mão.
- Não. - Annabeth negou com a cabeça. - A minha ainda não desceu.
- Mas a gente não sabe quanto tempo vai demorar essa missão até termos o raio de Zeus de volta. É melhor comprar agora, do que quando estivermos correndo pela nossa vida. - Celina respondeu, e então Annabeth se deu por vencida e pegou o pacote.
- Odeio isso. Qual Deus que criou esse castigo para as mulheres? - Celina perguntou.
- Foi o Deus cristão. - Annabeth respondeu de imediato. - Depois que Adão e Eva comeram o fruto proibido, além de terem sido expulsos do Jardim do Éden, Deus castigou Eva com a dor do parto e com a menstruação.
- Que babaca. - Celina xingou, rindo logo em seguida com a história. - Mas não é como se todos os deuses não fossem babacas, não é?
Annabeth arregalou os olhos para Celina. Ela não respondeu, e olhou ao redor, como se estivesse com medo de que um exército de Deuses aparecesse e atacassem as duas.
- Você não deveria falar esse tipo de coisa. - Annabeth sussurrou. - Você pode ser punida pelos Deuses.
- A punição não deve ser pior do que ter nascido uma semideusa. - Celina respondeu, vendo Annabeth à olhar com pesar.
Celina desviou o olhar, para a prateleira cheia de doces.
- Você não disse que ia comprar só batatas e refri? - Celina perguntou.
- Eu quero comprar alguns doces pra você e pros meninos. Acho que estou sendo muito dura e grossa com vocês. - Annabeth respondeu, encolhendo os ombros. - Eu só tô muito nervosa com esta missão, quero provar que sou digna para ela, e para as próximas que eu for escolhida.
- Ai, Annie.. Isso é muito fofo. Os meninos vão adorar. - Celina sorriu, vendo Annabeth sorrir também e virar o rosto, um tanto envergonhada. - Estou até surpresa, não sabia que você tinha sentimentos.
- Eu não vou comprar os doces pra você, se continuar me provocando. - Annabeth ameaçou, tentando soar brava, mas Celina sabia que ela estava se fingindo de durona.
- Ok, senhorita, não está mais aqui quem falou. - Celina levantou as mãos em sinal de rendição, arrancando uma pequena risada de Annabeth.
Celina sorriu vitoriosa, essa tinha sido a melhor interação que tinha tido com Annabeth desde que se conheceram. Ela pensou que, se fracassarem naquela missão, pelo menos ela teria se aproximado da garota que gostava há anos. E isso era mil vezes melhor do que evitar uma guerra que acabaria com o mundo, na perspectiva de Celina.
Ela foi tirada dos seus pensamentos por Annabeth, que colocava os doces e devolvia o pacote de absorventes, juntamente com algumas notas de dinheiro.
- Vai pagando pra mim? - Annabeth pediu, e Celina assentiu, se virando e caminhando até o caixa, pôs as compras e o homem que à atendia passou as compras, ela pagou e ele devolveu suas coisas em uma sacola.
Em seguida, Celina voltou para o ônibus, ela não encontrou Annabeth no caminho de volta.
- Aqui. - Celina entregou alguns doces para Grover e Percy. - A Annie comprou pra vocês.
- Sério? - Percy perguntou, pegando um dos doces e pondo na boca. - Que legal da parte dela.
- Sim. Ela é muito legal. Mas não fica elogiando ela tanto assim. - Celina mandou, com uma expressão ameaçadora. Percy, se sentindo intimidado, engoliu uma bala inteira e acabou se engasgando, e Grover bateu em suas costas para o ajudar. - Só não morre, tá? A gente precisa terminar essa missão.
Quando Percy se secuperou, Annabeth apareceu, tirando seu boné e ficando visível para eles. Ela estava com uma expressão assustada.
- Abram as janelas! - Ela mandou.
Os outros três franziram a testa, não entendendo o comando de Annabeth.
- Acho que essas janelas não abrem... - Percy comentou, analisando elas.
De repente, a atenção deles foi voltada para uma mulher, que se transformou em uma Fúria, mais à frente deles no ônibus. Ela se aproximava dos quatro.
- Merda! Vamos, saíam daí! - Celina agarrou Grover e Percy e os fez sair de seus assentos. - Se protejam!
Por ser filha de Ares, Celina tinha uma força sobre-humana e, com apenas um soco, a janela quebrou, cacos de vidro voaram e só não acertaram eles porquê eles se protegeram.
- Vão! - Celina mandou, e Grover foi o primeiro à sair, e Celina o seguiu. - Vamos!
O que aconteceu à seguir foi rápido: uma outra Fúria entrou pela janela quebrada no ônibus logo depois que Celina saiu. Ela conseguiu ver Annabeth jogar sua faca na Fúria e ela se desfez em pó.
Annabeth e Percy saíram do ônibus logo depois, Annabeth caiu de mau jeito e Celina à ajudou a se levantar.
- Você tá bem? Consegue correr? - Celina perguntou, e Annabeth assentiu com a cabeça. As mãos das duas se entrelaçaram e elas começaram à correr, com Percy e Grover atrás delas.
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