Capítulo 12
Ir até a entrada do Mundo Inferior foi fácil, entrar por ela foi ainda mais. Percy e Annabeth enganaram Procusto e o fizeram cair em uma de suas armadilhas. Percy o enrolou com seu papo furado e Annabeth, usando seu boné, ficou invisível e o empurrou para uma das camas, que o prendeu.
- Já acabou? - Grover perguntou, pondo a cabeça para dentro da loja de Procusto, entrando logo em seguida. Celina o seguiu.
- Você não vai salvá-la! - Procusto disse. - Você não é o primeiro a tentar trazer alguém do Mundo Inferior, e não será o primeiro à fracassar.
- Que tal a gente sufocar ele com um travesseiro? - Celina sugeriu.
- A ideia é tentadora, mas não vamos perder tempo com ele. - Annabeth respondeu. - Não vale a pena.
Os quatro caminharam para os fundos da loja, para o escritório de Procusto, e encontraram a porta que os levaria ao Mundo Inferior.
- Tem certeza que é por aqui? - Percy perguntou.
Grover criou coragem e foi até a porta, pegou na maçaneta e girou, abrindo a porta. Imediatamente Celina sentiu o corpo se arrepiar com o som horripilante e o vento frio que saiu de trás da porta.
- Esse aqui é a entrada pro Mundo Inferior, ou esqueceram uma caixa de leite aqui nos anos noventa? - Grover perguntou, tapando o nariz.
- Você acha que gente morta tem cheiro de que? De rosas? - Celina perguntou, querendo espantar o clima sombrio.
Annabeth pegou uma bolinha antiestresse do armário de Procusto e entregou para Grover apertar.
- Se acontecer alguma coisa, elas são a nossa saída de lá. - Percy mostrou as pérolas em sua mão.
- Ninguém volta se todo mundo não voltar. - Annabeth disse.
- Ninguém nunca volta! - Procusto cantarolou.
- Cara, é melhor você não fazer eu voltar aí! - Annabeth ameaçou.
- A gente não faz ideia do que tem lá embaixo. - Percy continuou a falar. - Eu acho que é mais seguro se eu não tiver com todas elas.
Percy estendeu a mão, e todos pegaram uma pérola. Percy ficou com a dele e a da mãe.
Então todos atravessaram a porta.
- Sabe aquilo que o Procusto falou, sobre ninguém nunca ter conseguido buscar alguém do Mundo Inferior? - Celina perguntou, enquanto desciam as escadas.
- Que que tem? - Annabeth perguntou.
- Isso me lembrou uma das minhas histórias favoritas: do Orfeu e da Eurídice. - Celina respondeu.
- Eu conheço essa história. - Percy comentou. - Orfeu era um poeta, que um dia se apaixonou pela Eurídice, mas um dia ela foi picada por uma cobra e morreu.
- Orfeu ficou desolado, sentindo falta de sua amada, então decidiu ir até o Mundo Inferior pra salvar sua amada. - Annabeth continuou a história. - Ele abriu caminho com sua música pelo mundo dos mortos, e emocionou Hades e Perséfone com a história deles, e Hades disse que Orfeu poderia levar Eurídice de volta ao mundo dos vivos, desde que à guiasse sem olhar pra trás. Ele precisava confiar que Eurídice estava atrás dele, o seguindo até o fim. Mas ele olha, e acaba perdendo ela pra sempre.
- É lindo e triste ao mesmo tempo. - Celina completou. - Ele ama tanto ela que quer salvá-la, mas ama tanto que não consegue salvá-la. Porque isso que é amar: é você olhar pra trás.
- Caramba. Você queria espantar o clima sombrio, mas deixou um clima depressivo. - Percy comentou, fazendo Celina rir.
- Cala a boca. - Celina mandou.
Eles continuaram à descer até que finalmente chegaram ao Mundo Inferior.
Eles se apressaram em se esconder atrás de algumas rochas para observar, sem que fossem vistos.
‐ Não é o Kansas. - Percy comentou, atraindo a atenção de Celina.
- Tá doido?
- Ei, foco. Saímos do Kansas há quatro dias. - Annabeth lembrou.
- Eu sei, é que...- Percy negou com a cabeça. - Esquece.
- Aquele é quem eu acho que é? - Grover perguntou, respirando com dificuldade e apertando a bola que Annabeth lhe deu.
Celina seguiu o olhar de Grover, sentindo um arrepio nas costas.
- Caronte, o Barqueiro. - Annabeth confirmou. - Levando as novas almas pelo rio Estige. Quer dizer que ali fica o portão principal. Vamos lá, a gente pode tentar chegar antes.
Eles se levantaram e iam começar a caminhar, quando Annabeth parou Grover.
- Por que não deixa isso comigo um pouquinho? - Annabeth estendeu a mão, querendo a bola. Grover entregou. - Vamos lá.
Eles caminharam e logo encontraram uma enorme fila de almas, esperando que Caronte chegasse e os deixasse passar pelo portão, para que entrasse no Reino dos Mortos.
Percy e Celina se embrenharam por entre as almas, abrindo caminho e furando a fila.
- Eles não podiam ser intangíveis que nem os fantasmas? - Celina perguntou, enquanto empurrava almas e mais almas. - Com licença!
- Parece muito errado. - Grover comentou.
- Eles tem todo o tempo da morte deles pra esperar, a gente, não. - Celina respondeu.
- Só os trouxas esperam na fila. - Percy disse. - Olha, Grover, você devia passar mais tempo comigo na cidade, você ia aprender muito.
Percy parou, e Celina bateu nas costas dele. Estava pronta para xinga-lo quando percebeu o motivo para ele ter parado: Caronte estava bem na frente deles.
- Vocês não morreram. - Caronte disse, e não era uma pergunta, era uma afirmação.
- Assim... Todos estamos morrendo, de certa forma. - Percy respondeu.
- Só estamos um pouco adiantados. - Celina completou.
- E não pagaram a passagem. - Caronte continuou, se virando para ir embora.
- Espera! A gente vai pagar! - Grover começou a mexer em seus bolsos, tirando dracmas para dar para Caronte. Percy e Celina fizeram o mesmo.
- Toma, pega! - Percy estendeu os dracmas para Caronte. - Pode pegar tudo!
Caronte não pegou os dracmas, nem falou nada. Apenas pegou um apito e assoprou. Não saiu som algum.
- E compra um apito novo. ‐ Percy ofereceu.
De repente, o chão começou à tremer sob os pés de Celina. Um latido alto, que ficava cada vez mais próximo.
Do portão principal do Reino dos Mortos, surgiu uma, duas, três cabeças de cachorro. Era enorme. Ele saiu correndo de lá de dentro, farejando as almas vivas e correndo até eles.
Ninguém precisou dar o comando, os quatro começaram a correr de Cérebro, o mais rápido que conseguiam.
Não foi difícil os alcançar, e o primeiro que Cérebro pegou foi o Grover.
- Grover! - Percy gritou.
- Gente, por aqui! - Annabeth indicou o caminho.
Percy e Celina correram na direção indicada por Annabeth, mas Annabeth seguiu por outro caminho. Celina queria segui-la, mas Percy agarrou seu braço e à puxou para onde Annabeth tinha mandado.
Silêncio, e eles pararam de correr.
- Consegue ver alguma coisa? - Celina perguntou, apertando os olhos para ver através da névoa densa.
Um rosnando, Celina e Percy sacaram suas espadas, prontos para atacar.
Eles avistaram Cérebro e, para a sua surpresa, ele caiu no chão, fazendo barulhos de satisfação.
Annabeth fazia cócegas em seu pescoço.
Cérebro bocejou e deitou as cabeças no chão, aproveitando o carinho de Annabeth.
Da boca de uma das cabeças de Cérebro, saiu Grover, completamente molhado de baba.
- Eca. - Celina murmurou, mas se sentiu aliviada por Grover estar vivo.
- Você é um cachorro muito mau! - Grover brigou com o cachorro, estava ofegante.
- Tadinho dele, Grover. - Celina riu. - Ele é manso. Olha como ele aproveita o carinho da Annie. Ele só estava brincando!
- Gente, eu não vou conseguir segurar por muito tempo! - Annabeth avisou, ainda pendurada no pescoço de Cérebro.
- Acha que consegue levar a gente lá em cima com os tênis? - Percy perguntou para Grover, indicando o muro alto que dava para dentro do Reino dos Mortos.
- Você vai conseguir! - Annabeth incentivou quando percebeu que Grover parecia estar hesitando. - Um de cada vez, leva o Percy primeiro, depois a Celina, ok?
Grover agarrou Percy e voou com ele para cima, depois de alguns segundos, desceu e buscou Celina. Quando chegou lá em cima, um rosnando irritado chamou a atenção deles.
- Annabeth! - Celina chamou, sentindo o coração acelerar quando não obteve resposta.
Algo voou até a sua direção, Celina agarrou, era a bolinha que Annabeth tinha tomado de Grover. Celina franziu a testa.
De repente, Cérebro surgiu, e quase abocanhou Celina, mas ela deu passos para trás, se salvando no último segundo.
- Celina! - Annabeth chamou.
Celina correu até a beirada do muro, encontrando Annabeth pendurada, tentando se segurar.
- Annie, vem! - Celina estendeu a mão e Annabeth à agarrou. Celina não teve dificuldade em puxar Annabeth para cima, e as duas caíram no chão, abraçadas. - Você tá bem!
- Eu tô, eu tô! - Annabeth respondeu.
Elas ficaram assim alguns segundos, até que finalmente se separaram e se levantaram.
Annabeth pegou a bolinha que Celina tinha deixado cair, e a apertou, chamando a atenção de Cérebro, então à jogou para longe, e eles puderam ouvir o cachorro latir alegremente e correr atrás da bolinha.
- Que fofo. - Celina comentou. - Como você...
- Meu pai tinha um cachorro quando eu era pequena. - Annabeth respondeu. - Ainda lembro alguns truques.
- Legal. - Grover disse.
- Gente, olha isso. - Percy chamou a atenção deles.
Todos olharam na mesma direção, vendo o grande e imponente palácio de Hades.
- Foi ali que ele prendeu o raio mestre. - Annabeth disse. - E a sua mãe.
- Ah não. - Grover disse, e todos olharam para ele.
- Que foi? - Percy perguntou.
- A minha pérola, eu perdi ela! - Grover respondeu.
Eles se entreolharam e, rapidamente, começaram à procurar, se abaixando e tateando o chão.
- Eu acho que.. Tá com o cachorro. - Grover concluiu, encarando os amigos. Tinha medo em seu rosto. - O que a gente vai fazer?
- Eu não sei. - Annabeth respondeu. - Mas se não seguirmos, não vai fazer diferença. Vamos lá.
Ela começou à caminhar, e todos à seguiram.
[...]
Já fazia alguns minutos que eles estavam caminhando. Todos em silêncio, ninguém queria falar sobre o enorme problema que eles tinham arranjado.
- Não dá pra ignorar isso. - Grover disse de repente, quebrando o silêncio.
- Chega. - Percy mandou.
- É matemática! - Grover continuou. - Nós quatro, mais a sua mãe somos em cinco, e só temos quatro pérolas. Alguém vai ficar pra trás, e eu acho que deveria ser eu.
- Para de falar bobagens, a gente não vai te deixar aqui! - Celina disse. - A gente vai dar um jeito.
- Não foi sua culpa. - Percy disse, se virando para Grover. - E mesmo que fosse você não vai ficar pra trás.
Percy tirou uma das pérolas de seu bolso e entregou para Grover.
- Depois que a gente pegar o raio e acabar com a guerra, vocês vão embora com a minha mãe. - Percy disse, em um tom que não permitia discussões.
- Mas e você? - Grover perguntou.
Percy negou com a cabeça, então se virou e seguiu caminhando. Celina e os outros se apressaram em segui-lo.
- Espera, Percy! E você? - Grover repetiu a pergunta.
- Missões não são lineares, né? - Percy perguntou. - Eu vou dar um jeito nisso.
Percy parou no meio de sua caminhada. Todos pararam atrás dele.
Uma pessoa estava parada na frente deles, em completo silêncio, e parecia um tanto incomodada com tanto barulho e gritaria deles.
- Desculpa. - Percy pediu.
- Não conseguem te ouvir. - Annabeth disse.
- Eles quem? - Celina perguntou.
Ela olhou ao redor, percebendo várias pessoas iguais aquelea primeira, petrificadas no lugar, em silêncio.
- Devem ser Asfódelos. Eu li um livro sobre esse lugar. - Annabeth respondeu, indo até uma daquelas almas e vendo que em seus pés cresciam raízes. - As almas aqui estão presas no arrependimento. Assombradas pelo que fizeram em vida... Ou pelo que não fizeram.
Um latido e rosnando alto os assustou, era Cérebro, os caçando.
Ele estava se aproximando. Eles correram.
- Celina!
Celina parou na mesma hora, e olhou para trás, vendo que Annabeth continuava no mesmo lugar. Celina correu até ela.
- O que foi? - Celina perguntou. - Você tá bem?
- Não consigo me mexer! - Annabeth disse.
Celina olhou para as pernas de Annabeth, vendo que raízes cresciam por elas.
‐ Droga! - Celina sacou sua espada. - Não se mexe!
Celina se ajoelhou no chão, e tentou cortar as raízes, mas elas não cediam nem um pouco. Ela deixou a espada de lado e agarrou as raízes com as mãos, puxando com toda sua força, mas nada.
- Celina, não vai dar certo! Vai! - Annabeth mandou.
- Não vou te deixar aqui! - Celina disse, se levantando e olhando ao redor, procurando por Percy e Grover.
- Annabeth! Celina! - Percy gritou, as chamando.
- Percy! Grover! Estamos aqui! - Celina gritou de volta.
Eles logo apareceram, e perceberam as raízes nas pernas de Annabeth.
- Eu tentei cerrar elas, mas não deu certo. - Celina disse. - É forte demais!
- Como isso aconteceu? - Percy perguntou.
- É algum arrependimento. - Grover comentou. - Mas o que você teria pra se arrepender?
- Tá tudo bem. Vão. - Annabeth mandou. - Eu distraio o Cérebro e ganho tempo pra vocês.
- Sem chance. - Celina negou com a cabeça.
Annabeth pôs a mão no bolso e tirou de lá a sua pérola.
- Ela vai funcionar. Eu vou ficar bem. - Annabeth garantiu, querendo passar confiança para Celina com suas palavras. - Vocês vão conseguir. Eu sei que vão.
Percy, Celina e Grover se entreolharam, então assentiram. Afinal, eles não tinham outra opção.
- Que bom que não somos Orfeu e Eurídice. - Annabeth comentou, com um sorriso para Celina. - Se não eu teria te condenado a viver sem mim.
Celina sorriu de volta.
- Se fôssemos, eu me jogaria na boca do Cérebro pra ficar aqui com você. - Celina respondeu.
- Fomos de Orfeu e Eurídice para Romeu e Julieta muito rápido. - Annabeth disse, e as duas riram.
Os rostos delas se aproximaram e as testas se encostaram.
- Te vejo daqui a pouco. - Celina prometeu.
- Tá bom. - Annabeth assentiu. - Agora vão! Corram!
Percy e Grover correram, Celina os seguiu. Quando chegaram no fim do Campo de Asfódelos, eles se viraram, vendo uma luz forte surgir no meio do campo. Annabeth tinha voltado para o mundo dos vivos.
- Ela conseguiu! Vamos! - Celina sinalizou para Percy e Grover, e eles correram mais rápido, fugindo de Cérebro.
Quando eles estavam há uma distância segura, pararam de correr.
- Que estranho, faz tempo que eu não escuto o cachorro. - Grover comentou.
- Ele perseguiu a gente pelo caminho todo e só parou? - Percy perguntou.
- É, estranho. - Celina comentou.
- Sabe, aquela hora eu tomei um susto. - Percy disse, chamando a atenção para si.
- Que hora? - Celina perguntou.
- Eu achei que você e a Annabeth iam se beijar. - Percy respondeu, e Grover riu.
- Eu também achei! - Grover disse.
- Calem a boca! - Celina mandou, sentindo as bochechas esquentarem. - Não é hora, nem lugar pra isso. E eu não faria isso na frente de vocês!
- Que bom. Porque eu ia me sentir na obrigação de beijar o Grover pra não ficar de vela. - Percy respondeu, e os olhos de Grover dobraram de tamanho. - E isso não seria nada legal.
- Por que me beijar não seria legal, posso saber? - Grover perguntou, parecendo ofendido.
- É-é porque... Você sabe... Somos melhores amigos. É estranho. - Percy respondeu.
- Bom, beijar você também não seria nada legal. - Grover comentou, começando à andar rapidamente, Percy e Celina o seguiram.
- Por que me beijar não seria legal? - Percy perguntou.
- Porque você não faz meu tipo! - Grover respondeu.
- Vocês são estranhos. - Celina riu.
- Como assim não faço seu tipo? - Percy perguntou, franzindo a testa. - Onde você tá indo?
- Eu não sei! - Grover respondeu, agora correndo. - Percy! São os tênis!
Celina e Percy começaram à correr atrás de Grover.
- Faz ela parar! Manda ela parar! - Celina dizia, correndo atrás de Grover.
- Não tá funcionando! Percy! - Grover caiu no chão, e os tênis o arrastaram.
Eles estavam levando Grover para um enorme e profundo buraco. Celina sentia arrepios só de olhar para ele. Mas ela não tinha tempo para sentir medo, ela correu com Percy até alcançarem Grover.
Percy agarrou Grover e usou a espada para se fixar no chão. Os tênis ainda tentavam o arrastar para o buraco.
Celina foi até os pés de Grover e começou à desamarrar os tênis. Um foi para o buraco, e o outro teria o mesmo destino, mas os cadarços se amarraram no pulso de Celina, e agora ela era puxada para o buraco.
Ela usou a espada para cortas os cadarços, mas era tarde demais.
Ela tinha caído.
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O FINAAAAAAAAL 😭😭😭 GENTE NÃO ME MATEM CALMA CALMA 🙊
aproveitem o episódio do submundo pra relembrar uma das minhas histórias de amor favoritas da mitologia grega: orfeu e eurídice e fiz um paralelo com as celibeth 🥰 amo demais (não sei se vocês conheciam esse conto, mas agora vocês conhecem)
vocês gostaram???? espero que sim
até o próximo capítulo 😘
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