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8: Grande Astro

Hey, agora você é um Grande Astro

Continue seu jogo, vá jogar

Hey, agora você é um Astro do Rock

Continue o show, seja pago

E tudo que reluz é ouro

Só estrelas cadentes são uma exceção a regra

- Smash Mouth

2 meses e 17 dias para O Dia

3 de maio, sexta-feira

A manhã daquela sexta-feira foi preenchida por ansiedade no coração da maioria dos participantes da terceira edição do Estrela do Rock.

Henrique fez como a maior parte deles. Chegou no estúdio bem cedo para preparar os últimos detalhes necessários para a sua apresentação.

A viagem com seus pais até lá não foi muito confortável, já que precisou ouvir com frequência as diversas frases racistas sobre o que seu cabelo e tatuagem representavam.

— Ninguém vai querer votar em você se te verem assim. Depois que perder, não vai dizer que eu não avisei! — Disse sua mãe no carro — Absurdo um filho meu se parecer com esses bandidinhos daí!

O cantor só se lembrou que engoliu em seco após aquela frase no carro com a família.

— E aquela garota loirinha que você tava conversando, Henry? — Nicole, percebendo o constrangimento do irmão.

Naquele momento, Rayane lançou um olhar para o rapaz que só os dois conheciam. A caçula da família sentia-se com o poder de ter as atitudes do irmão em suas mãos. Afinal, ela estava presente naquela festa e viu com seus próprios olhos Henrique embriagando-se e estando bem íntimo de Andressa.

— A Dêssa? Ela vai cantar hoje...

— Tá namorando aquela garota? — O patriarca da família mostrou-se curioso.

— Eu? Não! Imagina... Ela é lésbica.

— Não é nada! — Rayane se intrometeu, antes que alguém pudesse falar, mas foi ignorada.

— Quem te disse isso? — Bernardo perguntou para o filho.

— Ela mesma.

— Lésbica nada! Dá um beijão nela que ela se apaixona na hora!

— Ela não é lésbica! — Rayane repetiu — Sexta-feira, quando eu fui na casa da Lavínia pra fazer aquele trabalho, a gente viu o Facebook dos participantes do programa e tinha uma foto antiga dela abraçada com um carinha, o ex dela há uns cinco anos.

— Então você foi pra casa da Lavínia fazer fofoca, é? — Joana estreitou os olhos e os lançou para o banco de trás, alcançando as pupilas da filha.

— Ah, é... — A garota engoliu em seco e abriu bem as pálpebras. Precisava arrumar uma resposta para sustentar aquela mentira — Foi quando a gente já tinha terminado, ué!

— Hum... Acho bom — A mulher se deu por convencida e posicionou-se como antes na poltrona.

— Na verdade, aquele garoto foi o primeiro namorado dela. Depois disso, ela teve mais duas namoradas.

— Nossa! — Bernardo exclamou — Três namoros? Meio vadiazinha essa garota, hein... E só tem dezenove anos. Nem parece!

— Ah, filho, verdade. Essa daí o bom é você não se misturar! — A mãe dele disse.

— Se bem que dá pra dar uns beijos uma vez ou outra... Não mata! — Completou o pai — Só tem que tomar cuidado porque tem mulher que faz de tudo pra engravidar do cara só pra viver de pensão!

— Apesar de tudo, Henrique é servo do Senhor. Ele não vai fazer isso! — Joana exclamou, repreendendo a filha.

A garota mais nova abriu os em um sorriso. Mas no seu interior, estava segurando uma gargalhada escandalosa.

Dentro do estúdio, fora da vista da inquieta plateia, Andressa se preparava para seu show enquanto assistia as palavras de João Victor Lima em uma tela dos bastidores.

João, naquele momento, apresentava os três cantores famosos que compunham os jurados.

Ao redor da garota, ela conseguia sentir o nervosismo e ansiedade de todos os seus concorrentes. Quase duzentos. Todos com o mesmo sentimento que ela.

De repente, sentiu uma mão gélida tocar seus ombros.

— Ei — A garota virou para trás, assustada, mas logo se acalmou ao perceber que era Henry. Com um sorriso no rosto, os dois deram um abraço forte — Como você tá?

— Nervosa — admitiu, afastando-se do garoto.

Ele a observou de cima a baixo. A garota usava um vestido peculiar. Seu tecido era bem fino. Quase transparente. E ia até seus punhos, alongando-se. Quando chegou aos seus pés, continuou sua extensão ainda por um tempo.

— Está... Linda!

— Obrigada — disse, corando suas bochechas — Você também está ótimo.

Repentinamente, a voz do apresentador se fez mais evidente entre os concorrentes.

— E agora, para a primeira apresentação, eu chamo ele: Henrique Martins!

O casal se olhou. O coração do rapaz disparou.

— Vai lá! — Andressa a segurou pelo braço, puxando-lhe a atenção — Arrasa!

Os olhos negros do rapaz brilhavam. Nunca sentira o que sentia agora por Andressa. Em um momento sem pensar, os dois selaram um beijo de poucos segundos.

Quando o rapaz negro caminhou até o centro do palco, procurou não demonstrar insegurança nenhuma, apesar de estar com o coração disparando aceleradamente.

Demorou um pouco para a ficha cair e ele perceber que estava diante de um público de milhões de pessoas e, a sua frente, estavam os artistas mais populares do momento.

Com um sorriso simpático, o garoto arrumou sua jaqueta de couro sintético e seu cabelo formado por dreads.

Quando ouviu os primeiros acordes da sua música escolhida, respirou fundo. Flexionou suas pernas, braços e lábios. Era o momento de interpretar de forma bem feita a obra feita por Ney Matogrosso na sua própria versão:

Quando eu estava pra nascer

De vez em quando eu ouvia

Eu ouvia a mãe dizer

Ai meu Deus como eu queria

Que essa cabra fosse home

Cabra macho pra danar

Ah! Mamãe aqui estou eu

Mamãe aqui estou eu

Sou homem com H

E como sou!

Na hora do refrão, o garoto partiu para a plateia, que vibrou intensamente com aquela apresentação. Os jurados, aparentemente, estavam gostando, afinal, os cinco apertaram o botão que indicava que aprovavam o candidato e o queriam em sua equipe. Aquilo só aumentava o espírito de Henrique e o animava a continuar com seu show.

Aquela energia positiva... Aquela euforia... Tudo aquilo era a sensação que Henrique queria. Era o que motivava. Não precisaria de bebida alcóolica se tivesse aquilo.

Nunca vi rastro de cobra

Nem couro de lobisomem

Se correr o bicho pega

Se ficar o bicho come

Porque eu sou é home

Porque eu sou é home

Menino eu sou é home

Menino eu sou é home

E como sou!

No final do show, a plateia aplaudiu por uns dez minutos ainda, inclusive os jurados.

— Bravo! Bravo! — Alice Mello, uma das cantoras escolhidas para ser a avaliadora, ficou de pé e, com um sorriso, aplaudiu o garoto — Rapaz, eu tô arrepiada! De onde vem todo esse talento?

— Rio de Janeiro, capital — Ele falou, corando as bochechas.

— De onde eu vim só pode sair coisa boa, não é mesmo? — O outro jurado falou, deixando Henrique ainda mais orgulhoso de si mesmo.

Apesar de estar recebendo uma série de elogios dos jurados, a mente de Henrique se distanciou daquela cena e procurou pela sua família. Aquela que sempre estaria lá para apoiá-lo e lutar por ele.

Demorou um pouco, mas quando encontrou sua mãe com os braços cruzados, cara fechada, uma veia sobressaltada na testa e os olhos fuzilando o rapaz, ele engoliu em seco.

Mais a frente, seu pai se distanciava da cena. Provavelmente, não queria mais ver aquilo.

— E então, Henry? — Pedro Xavier, o outro cantor naquela mesa, fez o rapaz sair de seus devaneios — Quem você escolhe para ser seu mentor?

Sem pensar muito, escolheu o primeiro que veio a sua mente.

— Alice Mello.

Tu és o Cristo, filho do Deus vivo

Sobre esta rocha Tua igreja está

Tu és o Cristo, filho do Deus vivo

Rocha inabalável, outro igual não há

Com sua voz doce e carisma contagiante, Ana Laura também conseguiu fascinar os jurados e o público utilizando uma das músicas que mais gostava de cantar na igreja. Era a especialidade dela, apesar de cantar outros gêneros também. Entrou, então, no mesmo grupo de seu amigo de infância.

Me beije antes de ir

É a tristeza de verão

Só espero que consiga ouvir

Você está com o meu coração

Eu sinto essa tristeza, tristeza de verão

Tristeza, tristeza de verão

Eu sinto essa tristeza, tristeza de verão

Oh oh oh

Com uma música de sua autoria, Andressa Bitencourt emociona uma parcela significativa da plateia, dos telespectadores e dos jurados com seu tom de blues e letras mais tristes e melancólicas. Também ficou no grupo de Alice.

Terceiro mundo, se for

Piada no exterior

Mas o Brasil vai ficar rico

Vamos faturar um milhão

Quando vendermos todas as almas

Dos nossos índios num leilão

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Alexandre foi a última apresentação da noite. O rapaz era, sem dúvida, um dos mais confiantes daquele dia e, por isso, foi escolhido por todos os jurados e aplaudido por toda a plateia.

No fim, abriu um sorriso, olhando para a família de sua noiva, aplaudindo de pé seu genro que, apesar de seus ideais progressistas que eles não concordavam, tinha um futuro promissor e poderia dar a Nicole uma vida digna e agradável.

— E então, Alexandre... Você foi, sem dúvida, um dos candidatos que mais nos impressionou — Falou João Victor, o apresentador, ainda admirado pelo show — Mas, agora, a quem você dará a honra de te ter no time?

— Bem... — O homem começou, coçando a cabeleira ruiva já úmida devido ao suor — Eu sempre admirei todos vocês. Mas, antes de tudo, eu queria fazer um pedido.

— Ora... Se for para entrar na minha equipe, fique à vontade! — Kátia Perez, a jurada mais cômica, falou logo em seguida, arrancando algumas gargalhadas da plateia.

— Na verdade, eu queria falar uma coisa, mas não é para vocês, jurados...

— Então, querido, fique à vontade — Pedro Xavier se pronunciou — aposto que essa pessoa está te ouvindo em casa!

— É... Na realidade, essa pessoa está aqui entre nós. Se não me engano, bem ali atrás — Ele falou, virando seu corpo e apontando para a entrada do palco onde existiam cortinas que levavam para os bastidores do programa.

— Ora, mas fale logo, homem! — Kátia não segurou sua emoção.

— Nicole, você pode vir aqui? — Ele perguntou, olhando diretamente para a câmera.

— Seu noivo tá te chamando — Denise tocou os ombros da garota que ainda demorava para acreditar no que acabara de acontecer naquela TV que assistia a poucos metros do palco.

— Quê? Como assim? — Ela segurou as mãos da chefe engolindo em seco e com os lábios comprimidos — Eu não tô acreditando nisso!

— Nicole! Nicole! — Quatro funcionários da empresa correram até ela, para chama-la — Você precisa vir agora pro palco!

— Ai, gente, calma, eu tô toda horrível e...

— Querida, não é hora pra isso. Vai lá que teu homem tá te esperando!

Engolindo em seco, a jovem seguiu aquelas pessoas e, tremendo de nervoso, caminhou até eles.

Quando abriu as cortinas, esforçou-se para manter a postura esbelta, um andar elegante e um sorriso carismático, mas sua maior dificuldade foi encarar o fato de que milhões de pessoas a assistiam. Seu coração palpitava em alta velocidade.

Sua presença resultou em aplausos e gritos. Aproximou-se de seu noivo que carregava um violão em uma bandoleira, ainda sem jeito para se expressar.

— Nicole Martins... — O homem se virou para ela e segurou suas duas mãos com delicadeza. Naquele momento, os olhos dos dois se cruzaram e a câmera gravou a cena em um ângulo harmônico — Isso tudo que tá acontecendo comigo é graças a você. Eu sou muito grato por tudo. Por tudo o que representa em minha vida. Nicole, eu te amo muito! Nicole, você...

Naquele momento, a jovem engoliu em seco. Sua mandíbula deu uma leve caída. Ficou sem palavras. Alexandre pôs o violão nas costas e apoiou o joelho direito no chão, sem deixar de fixar seus olhos na mulher, e pegou uma pequena caixa preta do bolso de trás e a abriu, mostrando a ela o seu conteúdo: um par de alianças douradas.

Ele vai me pedir em casamento? De novo?

— Você quer se casar comigo?

A plateia foi à loucura.

Os jurados foram à loucura.

Todos se levantaram para aplaudir a emocionante declaração de amor. Logo, vieram os gritos de "Aceita! Aceita!"

Nicole levou as mãos a boca. Suas pálpebras estavam bem abertas e ela não acreditava naquilo.

Ele está se declarando para mim em público. Isso que é amor!

— É claro que eu aceito, meu vencedor! — Ela disse, exibindo um sorriso largo de orelha a orelha.

Os dois, então, deram um beijo rápido ali mesmo e se abraçaram enquanto os expectadores da cena comemoravam aquela demonstração sincera de amor e cumplicidade que simbolizaria o compromisso de duas pessoas comprometidas a fazer a outra feliz.

— Eu tô sem palavras... — Pedro Xavier admitiu, secando uma lágrima que forçadamente fez cair em seu rosto.

— E eu tô feliz demais por vocês. Com uma invejinha dela, mas muito feliz — Kátia confessou.

— Gente, calma aí, acho que caiu um cisco no meu olho — As câmeras se voltaram para João, que entrou na frente do casal — A Nicole trabalha na parte de TI da emissora e jamais soube disso! Foi uma atitude de amor realmente singela.

— Obrigado, João! — Alexandre falou, ainda envolvendo os ombros de sua noiva com um braço — Eu precisava fazer isso.

— A gente te entende, Alex, mas agora você precisa fazer outra escolha... Quem vai ser seu mentor durante sua jornada aqui no programa?

O homem não precisou pensar muito. Seguiria conforme o plano que, provavelmente, iria lhe oferecer mais popularidade.

— Escolho a Alice Mello.

Após a apresentação de Andressa, a mesma se juntou à Mariana e, de lá, não desgrudou mais dela. Queria poder falar com Henrique, mas hesitou. Ele foi se encontrar com sua família, que não pareceu ter ficado muito feliz com sua apresentação.

Em suas redes sociais, a loira recebia uma chuva de mensagens vindas de seus amigos, familiares, colegas e até mesmo de desconhecidos. Todas elogiando sua música, sua voz e sua simpatia.

No entanto, a pessoa que ela mais queria ver a felicitando não estava ali.

Letícia Bertoti havia lhe perdido para o orgulho.

De repente, uma dor aguda no coração lhe tirou a concentração do resto do programa. A lembrança daquele que sempre esteve nos momentos mais importantes de sua vida.

Iago Bitencourt... Não o julgava por não ter lhe enviado nenhuma mensagem ou feito ligações. Afinal, a garota havia bloqueado seu contato em todas as mídias sociais.

Ao olhar para sua mãe, não conseguiu sentir a mesma alegria que saberia que sentiria se seu pai estivesse ali. Afinal, Mariana nunca havia demonstrado verdadeiramente seu amor pela filha. Nunca esteve nos momentos em que ela mais precisava. Não fazia a mínima ideia do que ela passou nem de seus segredos mais profundos.

Tentava esconder o fato, mas a ausência do homem que a criou estava lhe custando a saúde mental.

2 meses e 16 dias para O Dia

4 de maio de 2019, sábado

Definitivamente, foi um dia cheio e gratificante. Nos últimos dias, sentia-se extremamente cansada. Mais que o habitual. Andressa não teve outra alternativa a não ser chegar em casa e ir dormir. Deitou na cama e apagou, acordando apenas às oito horas do dia seguinte, sentindo um certo enjoo, com a voz de Daniela:

— Dêssa? — Ela dizia — Cê tá bem?

— Já tô indo — a jovem respondeu, ainda sem se mover da cama. Vagarosamente, a jovem deu um bocejo, coçou os olhos e se sentou, lembrando-se do dia anterior e da enorme conquista que teve.

De repente, a fechadura se abriu e a jovem arregalou os olhos. Imaginou logo como devia estar com a aparência horrível.

Engoliu em seco quando Iago se fez presente em seu quarto, entrando devagar no quarto de hóspedes onde a jovem dormia. E então, sua preocupação anterior já não existia mais.

O homem não trazia, consigo, uma expressão de repreensão ou decepção. Pelo contrário, ele comprimia seus lábios e deixou cair suas pálpebras. Com Andressa não era diferente. Não falou nada, apenas acompanhou com os olhos, brilhando, o percurso que Iago fazia ao se aproximar dela e, por fim, sentar-se em sua cama.

O orgulho que ainda os mantinha resistentes em se entregar aos sentimentos começava a ruir. Naquela situação, ambos já viram que aquele conflito era desnecessário e que os dois eram mais felizes juntos do que separados.

Andressa, enfim, tomou a iniciativa de avançar para abraçá-lo. Um gesto que logo foi correspondido.

Iago suspirou. Lembrou-se dos primeiros meses de vida dela. Da felicidade que sentia toda a vez que a segurava no colo e podia cuidar daquele ser humano. Era o mesmo sentimento.

— Dêssa! — Ele exclamou, de olhos fechados, ainda envolvido nos braços da filha — Me perdoa, minha filha! Me perdoa!

— Tudo bem, pai! Eu que te peço perdão!

Os dois se afastaram e fitaram um ao outro. Ambos já com os olhos lacrimejando.

— Você foi demais naquele palco, minha filha! Eu estava na plateia — Ele falou, secando uma lágrima do rosto da jovem.

— Obrigada — respondeu, dando um sorriso singelo — Ouvir isso de você é tão importante pra mim...

— Eu sei... Eu devia reconhecer seus dons antes e estar contigo nesses momentos.

— Tudo bem, pai... Tô feliz em te ver hoje.

Os dois ficaram conversando sobre o que ocorreu nos dias em que ficaram distantes. Sem entrar em detalhes sobre a briga de Letícia e o envolvimento de Andressa com o Henry, obviamente. Os dois desabafavam sobre seus sentimentos e expressavam o quanto estavam arrependidos de seus erros.

— O que tá acontecendo aqui? — A voz de Mariana sobressaiu na conversa, de frente para a porta, chamando a atenção dos dois. A mesma não se importou com o fato de seu cabelo estar extremamente bagunçado e sua maquiagem borrada.

— Não é da sua conta, Mariana! — Iago, com as sobrancelhas unidas, falou, virado para a mulher.

— Ah, pronto! — A mãe de Andressa, com as mãos na cintura e os olhos enfurecidos e fixos no homem, aproximou-se dos dois — Chegou a madame arrependida que pensa em roubar minha filha de mim.

— Quem roubou a Andressa foi você!

— Não se faça de sonsa, viado! Tenha senso de ridículo! — Ela apontou o dedo indicador na face de Iago enquanto a outra mão permanecia na cintura — Tu quer mentir pra mentirosa? Todo mundo sabe que você nunca apoiou a coitada nas cantorias dela, agora que ela é a topzera da balada, tu vem dar uma de bom moço e acha que tá arrasando.

Iago trincou os dentes e fechou o punho. Assim que Mariana terminou de falar, levantou-se e a fuzilou com os olhos, em uma expressão intimidadora. Aquelas palavras mexeram com ele e, em partes, com Andressa também.

No entanto, a mulher não demonstrou sentir medo. Com os braços cruzados, arregalou os olhos e olhou para cima, já que Iago era mais alto.

— Você não ouse falar isso nem de brincadeira! — Ele semicerrou os olhos e disse. Sua raiva era grande. No entanto, apesar de sua aparência o fazer parecer um homem rude e ignorante, Mariana sabia que ele não seria capaz de encostar um dedo nela, mesmo com todas aquelas ofensas. Todos sabiam disso — Você é maluca! É nojenta! Dissimulada! E tá querendo fazer a cabeça da minha filha. Mas ela é mais inteligente que isso!

— Amada? Olha, amore, pra começo de conversa, você não tinha nem que estar aqui! Faz um favor pra todo mundo e some da minha casa!

— A casa não é sua. É da Daniela.

— Que seja!

Iago comprimiu ainda mais os lábios. Olhou para trás. Andressa chorava ainda com mais intensidade. Seu coração estava apertado e doía muito.

— Dêssa... Vem comigo.

— Andressa! — A mulher gritou, chamando sua atenção — Vai mesmo acreditar nele? Quando você menos esperar, ele vai te colocar no carro e te levar embora pra Belo Horizonte! Ou então, vai fazer sua cabeça pra sair do concurso!

— Filha... — O homem engoliu em seco. Estava quase chorando de novo. A jovem pode perceber o desespero do pai, mas não deixava de acreditar que sua mãe podia estar certa.

— Você não precisa de um cara que quer controlar toda a sua vida, meu amor — Ela insistiu.

Andressa experienciava um momento de profunda agonia.

De um lado, o pai que sempre esteve com ela. Deu-lhe amor, carinho, comida, educação, atenção... Tudo o que precisava. No entanto, no momento que ela mais precisou, quando teve a oportunidade de viver seu sonho, ele não a compreendeu e a proibiu.

Do outro, estava a sua mãe. Ex-presidiária, alcóolatra, debochada, pobre e oportunista. Mas, pelo menos, apoiava o seu sonho. Andressa podia ter a certeza absoluta que, com Mariana, ser cantora seria possível.

Precisava dar uma resposta ali. Naquele momento.

Precisava?

Não. Ela não tinha essa obrigação.

Sem dizer uma palavra, Andressa apanhou sua bolsa com celular e carteira, levantou-se de sua cama, abriu seu armário, colocou o vestido menos amarrotado que encontrou por cima de sua camisola, cobriu-se com uma jaqueta, retirou-se do quarto e, posteriormente, do apartamento. No caminho, tentou arrumar seus cabelos com as mãos, para que ficasse o menos bagunçado possível.

— Andressa? Onde vai? — Daniela perguntou, ao vê-la partir.

— Dêssa? — Iago correu para alcançá-la, mas sentiu Mariana puxar-lhe pelo braço.

— Nem pense em ir lá! Isso tudo é culpa sua!

— Minha? Olha, Mariana, você...

— Basta! — Daniela gritou, franzindo o cenho, fazendo os dois se calarem por alguns segundos — Mas parecem duas crianças! A garota foi espairecer a cabeça. Ninguém aguenta essa pressão toda não! Pelo menos uma vez, deixem ela em paz!

— Ora, mas quem você pensa que... — Iago, indignado, não ia deixar ser silenciado por uma desconhecida. No entanto, hesitou em continuar, ao perceber que ela tinha razão.

— Não interessa! — Ela gesticulou com as mãos — Querem um conselho? Sigam com suas vidas! Mais tarde, se ela não voltar, vou tentar fazer contato com ela e nós duas conversamos. Nenhum de vocês vai encher o saco. Ok?

Ainda resistente, Iago assentiu, seguido de Mariana.

Contrariando os conselhos de não andar sozinha no Rio de Janeiro, Andressa utilizou um aplicativo em seu celular para ir a um lugar que pudesse organizar seus pensamentos e fugir de todas as aflições que irritavam sua mente.

Seu pai. Sua mãe. Sua ex-namorada... Queria esquecer de tudo aquilo. Pelo menos, por alguns minutos.

Ao sair do carro, respirou fundo. Sabia que a Praia da Barra da Tijuca não era o melhor lugar para ir com aquelas suas roupas, mas não se importava mais.

Ela olhava para algumas pessoas se banhando, tomando sol, divertindo-se e procurou se distanciar. Nem passou pela sua cabeça que era a primeira vez que ia à praia. Pelo contrário, sentou-se com as pernas cruzadas na areia e fez silêncio, ouvindo apenas o barulho das ondas e a brisa que mexia em seus cabelos platinados.

Fechou os olhos e deixou as lágrimas virem.

Quando olhou seu relógio, eram meio dia e meia. Não fazia ideia de quanto tempo permanecera naquele estado. Mas sabia que foi por muito tempo.

Apanhou seu celular do bolso e notou que recebera muitas mensagens.

"Mariana Madalena: Filha, não escute o corno do teu pai. Você sabe muito bem que ele não te quer ver como vencedora do Estrela do Rock. Volta logo pra casa. Mamãe tá te esperando"

"Iago Bitencourt: Dêssa, novamente eu te peço perdão por não ter te ouvido. Não quero te pressionar nada. Respeito o seu tempo. Quando se sentir bem, saiba que estarei aqui para o que precisar, viu? Eu te amo do jeitinho que você é"

"Daniela Tavares: Onde você está, querida? Mande notícias. O Rio tá muito perigoso... Me fala que eu te busco aí"

"João Victor Lima: Parabéns! O público amou sua apresentação. Lembre-se: teremos ensaios com os mestres todas as segundas e quartas, às 15 horas! Entre no grupo do Estrela do Rock. Estamos combinando um monte de coisas entre os participantes"

"Henrique Martins: Oi, Dêssa! Eu tô até agora fascinado com a sua apresentação. Meus parabéns! Como você está? Gostaria muito de a gente combinar algo pra conversar um pouco"

Engoliu a saliva após ler a última mensagem. Seu coração passou a bater tão rápido que podia sentir seu pulsar sem encostar a mão no peito.

Henry...

Sem demorar muito, respondeu-lhe.

"Sim. Está livre agora? Eu tô aqui na Praia da Barra. Tô precisando de uma conversa também..."

Não precisou esperar mais que um minuto para receber uma resposta positiva. Ela respirou fundo. Com as bochechas rosadas, ela enterrou a cabeça entre as pernas e as abraçou. Lembrava-se dos momentos que vivera há alguns dias.

Era estranho demais para ela. Tinha certeza que era lésbica. Depois de ter sido flagrada beijando a primeira menina, todos diziam isso, principalmente Letícia. De repente, descobriu-se envolvida de uma maneira intensa demais com um rapaz. O que diria para as pessoas ao seu redor? Que virara hétero?

Não ficou muito tempo refletindo sobre aquelas questões. Logo, foi surpreendida por uma voz vinda por trás.

— Bem a sua cara vir pra praia com vestido e jaqueta — A voz de Henrique, seguida por uma risada, despertou um calafrio na jovem que ela não sentia há tempos. Virou-se para o rapaz e abriu um sorriso, mas não quis fazer mais do que isso.

— Olha quem fala — Ela entrou na brincadeira, observando-o dos pés a cabeça. Ele vestia uma bermuda jeans laranja, camisa de manga curta branca e um óculos escuro — Você também não tá muito praieiro...

— Não tô com clima de praia hoje — Ele revelou, sentando-se ao lado da jovem. Os dois permaneceram em silêncio, com os olhos fixos no mar.

Engolindo em seco, Henrique se aproximou ainda mais da garota, de forma que seus corpos ficassem tão perto a ponto de se encostarem. Ela percebeu e o fitou por alguns minutos até os dois não se conterem e tocarem seus lábios rapidamente.

— É... — Ele disse, afastando-se devagar seu rosto do dela. — Você tá bem?

Ela deu um suspiro.

— Mais ou menos. Meu pai acabou de ir lá em casa.

— Sério? E o que rolou?

A jovem explicou toda a situação. Desde a chegada do homem até sua partida, inclusive seus sentimentos que a levaram estar ali naquele momento.

— Nossa, Dêssa... Que situação! Eu lamento muito. Não sei se posso fazer algo pra te ajudar nisso, mas se precisar de mim pra alguma coisa...

— Tudo bem. Já me ajuda muito sendo meu companheiro e ouvindo o que tenho que dizer. É estranho, mas as pessoas que mais estão perto de mim não fazem isso...

— Eu te entendo.

— Oh, o que houve? Você tá bem?

— Bem? — Ele suspirou e se preparou para continuar — Eu tô arrasado, Dêssa! Tô pensando seriamente em usar o dinheiro que recebemos e sair de casa. Depois daquele show, meus pais fizeram um escândalo! Minha mãe gritou me chamando de vergonha, falando que o que eu fiz era inaceitável, falou um papo de que eu os odiava e por isso queria vê-los passando desgosto, etc. Meu pai disse que não aceitaria "homossexualismo" em sua casa, que não saberia o que dizer para seus amigos, que me deixaria de castigo, falaram até de me proibir de continuar no reality...

— Meu Deus, Henry! — Andressa ouvia a tudo aquilo indignada, com os olhos arregalados e as mãos tampando a boca — Que horror! E o que você fez?

— No primeiro momento, tentei convencê-los de que não era nada daquilo, mas depois, eu cansei de argumentar. Ouvi tudo quieto. Eu não consegui dormir, Dêssa. Não sei o que faço!

— Meu Deus... E quanto ao Alexandre?

— Ah, o que você acha? — Ele arqueou as sobrancelhas — Aplaudiram de pé a performance dele. Acho que eu só tive sossego quando ele e a Nico chegaram e a atenção se voltou para os dois. Aquele ridículo já tinha pedido minha irmã em casamento e só fez aquele showzinho pra ganhar fama!

— Nossa, Henry. Que tenso! Sei nem o que dizer... Só que eu sinto muito mesmo. Imagina se eles me conhecessem? — Ele bufou, poupando Andressa de saber os comentários que fizeram dela no dia anterior — Ficariam horrorizados e...

— Que foi? — De repente, a jovem interrompeu seu próprio raciocínio e franziu a testa para um elemento estranho atrás de Henrique. E então, ele acompanhou seu olhar, cerrando os olhos para a direção.

— Eu vi algo estranho ali... Será que...

— Ah, não! Não é possível! — Ele se levantou e deu dois passos na direção do sujeito há cerca de cem metros dos dois, escondido atrás de uma barraca de pipoca na rua da Barra.

— Merda! Paparazzis! — Andressa praguejou, fazendo o mesmo — Gente fofoqueira!

O indivíduo, percebendo que foi notado, correu em direção contrária.

Com os punhos cerrados e os dentes trincados, Henrique sentiu vontade de ir atrás, mas não o fez. Andressa engoliu em seco e segurou suas mãos, tentando acalmá-lo.

— Ei, espera!

— Dêssa... Vamos sair daqui? Já almoçou? Preciso beber algo...

— Bebida alcóolica a essa hora?

— Ah, eu tô precisando!

— Tá bem. Eu não almocei. Aliás, tô cheia de fome. Vamos comer em algum lugar aqui, ok? Tudo o que eu não preciso agora é de gente me enchendo o saco.

Henrique assentiu, fazendo como lhe foi sugerido.

Alguns dias após O Dia

Aplausos. Gritos. Sorrisos. Confetes. Um show de luzes.

A anunciação do vencedor acabara de ser feita.

Os olhos da loira se encheram de lágrimas nos primeiros momentos de sua vitória. Finalmente, seu momento chegara. Seu grande sonho estava se tornando realidade. Mal podia acreditar.

Atrás dela, o enorme telão exibia sua reação e seu nome. Ana Laura.

A voz de João Victor Lima falando, no microfone, seu nome após "Quem vence a terceira edição do Estrela do Rock é..." ainda permaneceria sua mente por um bom tempo.

Permaneceu com os olhos arregalados e a boca meio aberta por alguns segundos, fitando a plateia eufórica gritando o seu nome enquanto os outros dois participantes a abraçavam a parabenizando. Até que, enfim, sua ficha caiu e ela gritou e pulou de alegria.

— E então, nossa vencedora, quer falar alguma coisa? — no meio de sua comemoração, João Victor a interrompeu, trazendo-lhe novamente para a realidade com uma postura mais séria. Afinal, houve uma morte entre os participantes.

— Claro! — Ela disse, caminhando até o apresentador e pegando seu microfone. Respirou fundo — É com muita felicidade que agradeço a Deus e a vocês por terem me concedido essa vitória. Esse prêmio significa muito pra mim e, com certeza, usarei ele da melhor forma — Ela fez uma pausa para respirar. Estava ofegante — Mas eu não posso ignorar o fato de que ele foi designado a mim após terríveis assassinatos que, inclusive, mudaram os rumos da prova final! — O público ficou em silêncio, recordando-se do terrível incidente — De qualquer forma, vamos ficar em cima para que a justiça seja feita! Todos nós esperamos, agora, que os parentes não fiquem desamparados. Então, telespectadores, João Victor, plateia, jurados... Eu venho dar minha homenagem às vítimas dessa violência recorrente na nossa sociedade.

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