Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

5: Fogo de Artifício

- ALERTA DE GATILHO –

Esse capítulo possui cenas envolvendo baixa autoestima, relacionamentos abusivos, alcoolismo e racismo. Respeite os seus limites!

...

Você já se sentiu

Como um saco plástico

Flutuando com o vento

Querendo começar de novo?

Você já se sentiu

Se sentiu tão frágil

Como um castelo de cartas

A um sopro de desmoronar?

Você já se sentiu

Como se estivesse enterrado bem fundo

Gritando a sete palmos

Mas ninguém parece ouvir nada?

Você sabe que ainda

Há uma chance para você?

Porque há uma faísca em você

- Katy Perry -

4 meses e 26 dias para O Dia

Às quatro horas da tarde, as aulas do curso de Psicologia daquele dia acabaram. Ao tocar o sinal, Astrid arrumou suas coisas na mochila e se preparou para pegar o ônibus e partir para a sua querida residência.

Ao chegar no ponto de ônibus, percebeu alguns dos seus colegas de classe esperando o transporte público e se juntou a eles.

Cinco minutos depois, sentiu uma movimentação no portão de saída da escola. Virou-se em direção aquilo e ergueu as sobrancelhas ao visualizar um carro nunca visto naquela instituição de ensino antes por ela.

O veículo prata passou pelo ponto de ônibus mas, ao invés de seguir destino, estacionou. Enquanto isso, Astrid tentava adivinhar quem era o ser por trás daquelas janelas com películas escuras para a proteção do sol.

Não precisou demorar muito em seus pensamentos sobre aquilo. Logo, o dono do carro abaixou o vidro.

— Henrique? — A jovem arregalou os olhos e ficou boquiaberta, caminhando em direção a ele.

— Tá indo pra casa? — Ele perguntou, quase se atropelando nas palavras.

Ela assentiu e, empolgada com aquilo, entrou no veículo pela porta do carona.

— E aí? O que é isso? — Astrid questionou, colocando seu cinto de segurança e vendo o rapaz pisar no acelerador, rumo a sua moradia.

— Meus pais compraram pra mim! — Ele disse, com sorriso de orelha a orelha — Depois que a gente almoçou, meu pai me ligou e mostrou a surpresa que ele tinha. Disse que foi um presente para me parabenizar pela aprovação no Estrela do Rock!

— Nossa, imagino o quanto você deve estar feliz!

— Pra caramba! Astrid, desde pequeno, eu sonhava com o dia em que eu fizesse dezoito anos e pudesse dirigir!

— Uau! Meus parabéns, hein! Seus pais foram muito generosos.

— Foram sim! Eu até me assustei — ele disse, rindo, enquanto conduzia o veículo — Mas vou ter que pagar uma parte das parcelas do financiamento.

— Ah, entendi... — A jovem assentiu. Não queria falar mais sobre aquilo, pois discordava daquele tipo de atitude, mas não queria estragar a alegria do amigo.

Astrid sabia que um carro, para a situação financeira dos Martins, era um "suicídio econômico". O pai, Bernardo, vivia com a venda de seus livros, CD's e trabalhos religiosos em alguns lugares. Ele possuía uma casa própria que alugava.

Joana Martins era, acima de tudo, dona de casa. Apesar de ser formada como técnica em enfermagem e trabalhar em um hospital da região, o serviço no próprio lar sempre veio em primeiro lugar.

Em outras palavras, a família de Henrique, na opinião de Astrid, pecava muito na administração do dinheiro, pois faziam compras que cobriam todo o orçamento. Foi só o filho do meio ter a chance de conseguir arrecadar mais dinheiro, que eles já fizeram uma compra para ter um padrão de vida que eles não podiam sustentar e que, se nada fosse feito, poderia levar aquelas pessoas à falência.

— E quando você tirou sua carteira? — Astrid questionou, olhando-o preocupada.

— Carteira? Que carteira? — Henrique, por sua vez, gargalhou com aquela pergunta, o que fez a loira engolir a seco e arregalar os olhos. Após perceber que conseguiu assustar a garota, revelou a verdade — Tá aí no porta-luvas, pô.

Ela suspirou, aliviada. Conferiu e realmente estava lá.

— Ufa! Ainda bem.

— Sou maluco, mas nem tanto! — Ele disse. Astrid riu. Sentiu-se um pouco mal por ter caído naquela brincadeira, mas relevou. Após alguns segundos, Henrique decidiu mudar de assunto — Mas fala. E a tua irmã? Como está? Quais são os planos dela e quais as expectativas dela pra esse concurso?

— Ah, ela vai colocar nas mãos de Deus, né? Mas quer muito vencer. Você sabe que eu gosto muito de cantar, mas a Ana tem paixão pela coisa. Ela sente um prazer enorme fazendo aquilo. E eu só consigo apoiar a minha irmã...

— Mas ela não quer fazer faculdade?

— Olha, ela quer... — o assunto começava a ficar mais delicado, mas Henrique não percebia isso, mas mesmo assim, Astrid preferiu prosseguir — Mas você sabe... Ela já tentou tantas vezes e não conseguiu. Ela estuda, estuda, estuda... Mas não passa no vestibular de jeito nenhum! Ela tem muita dificuldade em aprender as coisas na escola.

— Puts! — Ele esbravejou, franzindo o cenho — Ah, mas é bom ela investir mesmo na área da música. Você sabe, né... Inteligência nunca foi o forte da Laura.

Imediatamente, a jovem uniu as sobrancelhas e virou os cantos de sua boca para baixo.

— Minha irmã tem dislexia e discalculia! — Ela falou, enraivecida, mas de maneira bem didática — São distúrbios que tornam mais difícil a vida de alguém que está inserido nosso atual sistema de ensino! E você fala de inteligência como se isso se resumisse na capacidade de fazer contas e escrever uns textos! Isso não é verdade! Existem gênios aí que se destacam em muitas outras áreas.

— Ok, ok! Desculpa! — Ele falou, abrindo bem as pálpebras — Não queria ofender.

— Não ofendeu. Só falou besteira. Você é um cara legal, Henry. Mas ficaria melhor se colocasse mais no lugar das outras pessoas. Fica a dica. — Ela falou, tentando ser simpática e criar um clima melhor entre os dois.

— Está bem. Você está certa — Ele falou e a viagem prosseguiu em silêncio por uns dois minutos, quando ele resolveu dizer algo que estava em sua mente há um tempo — Você tá ficando com o Vinícius?

Ela se virou para ele com uma sobrancelha erguida. No entanto, riu da pergunta.

— Não. Ele é meu amigo. Apesar de eu saber que ele gosta de mim.

— Ah, é? E como sabe disso?

— Por várias coisas... Mas sabe anteontem? Quando eu me sentei naquela lanchonete, percebi ele na janela me olhando.

— E como você sabia que ele estava olhando justamente pra você? Existem muitas pessoas e coisas naquela área.

— Pois é. Mas a técnica do bocejo é infalível — Ela disse, rindo um pouco — Quando as pessoas veem outra pessoa bocejando, elas tendem a fazer o mesmo.

— Ah, não creio! — Ele disse, rindo descontroladamente — E qual o teu objetivo em fazer isso?

— Não quero iludir ninguém, sabe. Eu não me sinto atraída por ele. Nem quero me sentir. Você sabe que, comigo, as coisas são mais devagar. E mesmo se estivesse atraída e apaixonada, eu não vou querer entrar em relacionamento em que eu sei que não vai resultar em um casamento feliz. Isso só causaria sofrimento para mim e para ele.

— Ué, como assim?

4 anos, 8 meses e 2 dias para O Dia

Ao pisar naquele lugar, Ana Laura podia sentir os pelos de seus braços se arrepiarem. Afinal, as lembranças que tinham ali eram inesquecíveis. As ministrações, teatros, orações, louvores entre outras coisas foram importantes para aquela sensação.

Ela ia para lá sozinha toda terça-feira. Por livre e espontânea vontade.

Sobre suas costas, ela deixava seu violão dentro da bolsa própria para o instrumento. Ostentava o seu objeto com orgulho e amor.

— Ana Laura! — A Pastora Rosa Batista exclamou com um sorriso, ao avistar a primeira aluna a chegar.

A jovem encheu a face de alegria e apertou o passo pelo corredor principal do templo, entre os bancos, para abraçar a mulher.

— Oi, pastora! Como está?

— Vou ótima! E você?

Ela suspirou.

— Tudo sim. — Ela disse, empolgada, mas logo se lembrou que, na verdade, nem tudo corria bem em seu interior. Não era justo esconder essa verdade para Rosa — Quer dizer...

— Pode falar, meu bem...

— Eu acho que vou reprovar de ano de novo.

— Por que acha isso? — A expressão de alegria deu lugar a uma séria e preocupada. Rosa ficou boquiaberta e puxou a jovem pelo braço até o banco mais próximo para que pudessem conversar melhor.

— Eu falhei de novo, pastora! — Por um momento, a sensação positiva que sentiu quando entrou naquela igreja foi se acabando. E ela começava a reviver os momentos de baixa autoestima de minutos atrás — Fui horrível na prova hoje!

— Minha filha, tenha calma. Está tudo bem.

— Acho que, na hora de nascer, a inteligência que era pra vir em mim e na minha irmã foi toda pra ela — Ela fez um muxoxo e apoiou o queixo com as mãos — Fico boba com a Astrid que consegue aprender as coisas tão bem enquanto eu...

— Ana Laura, tenha calma! — A mulher interrompeu, antes que a jovem fale algo contra si mesma — Você pode não ter tanta habilidade com matemática ou português, mas existem muitas coisas que é boa.

— Ah, é? — Ela encarou a mulher com os olhos cheios d'água — Diga uma.

— Menina, você já viu o tanto que você canta? E você tocando violão então... Nossa! É um espetáculo! Nem todo mundo tem essa facilidade pra arte como você.

— Ninguém se importa com isso, pastora. — Ela bufou, olhando para seu instrumento dentro da bolsa, desviando sua visão na mulher.

— Ei! Não diga isso! — Delicadamente, a mulher puxou o queixo da moça para a sua direção, forçando Ana Laura a encará-la — Eu já disse que todos nós temos um chamado, né? — Ela fez que sim com a cabeça — Com você não é diferente. Você tem um dom muito especial para Deus, Ana Laura! Mesmo que ninguém entenda, saiba que você é uma estrela. E, em breve, chegará a sua hora de brilhar!

As pupilas da jovem se dilataram com o discurso da mais velha. Sem perceber, ajeitou sua coluna e se sentiu levemente mais confiante.

— Laura? — A voz de Henrique se fez presente no grande recinto. Imediatamente, a moça fez de tudo para secar suas lágrimas sem que o rapaz percebesse o que acontecera.

— Oi, Henry! — Ela abriu um sorriso largo ao ver o seu amigo de infância se aproximando dela.

— Que houve? — Ele perguntou. Não deixou de perceber que Ana estava chorando. A pastora Rosa deu uma risada tímida e arrumou seus óculos, mas ninguém percebeu.

— É.. Eu... Eu tava meio mal e acabei desabafando com a pastora sobre umas coisas... — Ela disse, evitando cruzar olhares com o rapaz.

Henrique bufou e se sentou ao lado da menina. Entre ela e a pastora — que logo se retirou sorrateiramente dali.

Enquanto Ana Laura assentava sobre o banco acolchoado de frente para o púlpito, com as pernas encolhidas e as bochechas ligeiramente coradas, Henrique se posicionava de frente para ela, com uma perna um pouco cruzada e um braço estendido no encosto do assento, com sua mão quase que tocando os ombros da moça branca de cabelos loiros.

— Levanta a cabeça, princesa — ele falou, fazendo a jovem encará-lo nos olhos e sentir um arrepio que nem ela entendia — Você sabe que pode contar comigo, né?

— Ah, eu...

— Ah, vamo lá! Eu sou seu amigo. O que eu posso fazer pra te deixar mais felizinha? — Ele falou, fazendo a jovem dar uma risada de leve e, assim, ele abriu um sorriso vitorioso de orelha a orelha.

— Ah, sei lá... Não sei mesmo.

— E que tal se a gente tocasse aquela música?

— A que a gente fez? Nossa, mas... Falta ainda mudarmos umas coisas e... — Ela virou a cabeça novamente, desviando do olhar do rapaz, que pegou o violão de sua bolsa e o posicionou no colo.

— Não importa — ele falou, olhando para a jovem com ternura. Ele não sabia qual era o problema da amiga, mas, definitivamente, Henrique sabia fazer Ana Laura se sentir bem.

E então, Henry iniciou a introdução da música calma que ambos compuseram meses atrás.

Meu amor, essa é a última oração

Pra salvar seu coração

Coração não é tão simples quanto pensa

Nele cabe o que não cabe na despensa

O garoto de pele negra bem escura e vestes comuns observava aquela cena atrás da janela com admiração. Seus olhos escuros brilhavam com aquela cena. Imaginava-se naquele lugar. Curtindo um momento lúdico assim.

— Por que não entra, Joaquim? — Uma voz feminina e já conhecida por ele foi ouvida vindo de trás, para a surpresa do jovem, que arregalou os olhos e logo se virou. A pastora Rosa não esboçava nenhuma expressão de repreensão. Pelo contrário, parecia bem acolhedora — Eu estava pensando tanto em você...

— Eu também. Mas... Promete que não vai contar pros meus pais?

— Eles brigaram de novo? — Ela lhe lançou um olhar triste.

— Sim... — Falou, após um suspiro — Ontem, meu padrasto voltou bêbado e jogou um tijolo na minha mãe... De novo.

A mulher levou as mãos a boca, em espanto.

— Que Deus guarde a vida de vocês... — Ela disse, aninhando o garoto em um abraço — Mas, venha! Junte-se aos outros. A aula de música já vai começar. Você pode ir lá e começar a ter novas amizades como...

— A Astrid é daqui? — Ele perguntou, arregalando os olhos em surpresa ao notar a sua colega de classe entrando na igreja. Em saltos alegres, a jovem se aproximava da sua irmã e de seu amigo que cantavam alguma coisa. Atrás delas, outros indivíduos também entravam para se reunirem.

Pareciam todos tão felizes. Tão alegres. Cheios de vida. Com um sorriso bem aberto no rosto. Roupas bonitas, pele saudável, aparência impecável.

E Joaquim não se sentia, nem um pouco, à vontade naquele meio. Como se aquelas pessoas não o representassem. Sua vida dentro de casa era um caos e aqueles outros jovens, provavelmente, não sabiam o que era isso.

— Já vou lá, pastora! Pode deixar! — Ele sorriu para ela.

A mulher se sentiu aliviada com aquela resposta. Virou de costas para o rapaz e seguiu até o interior do templo novamente. Precisava falar com os outros que ali estavam presentes também.

O jovem aguardou ela entrar para, enfim, sumir de vista. Deu meia volta e, revoltando-se contra parte do que o seu coração falava, foi para outro caminho.

No entanto, sua atitude foi descoberta por Rosa minutos mais tarde. Ela, por sua vez, chegou a comentar com Astrid, que era colega de classe do rapaz. A partir de então, a menina se sentiu na obrigação de iniciar um contato maior com ele. Joaquim estava em um momento difícil da vida. E precisava de ajuda.

4 meses e 25 dias para O Dia

"Número desconhecido: Olá"

Às sete horas da manhã, assim que se levantou de sua cama, a mensagem do celular de Henrique o fez levantar uma das sobrancelhas e comprimir os lábios.

"Henrique: Oi!

Desculpa, mas... Eu te conheço? Rs rs"

Esperou por alguns segundos, ainda encarando a tela de seu eletrônico.

"Número desconhecido: Não, não! Meu nome é Andressa Bitencourt e passei pro Estrela do Rock, assim como você. Primeiramente, queria dizer que amei de paixão sua apresentação e, por isso, sei que terei um concorrente forte hahaha.

Enfim, eu sou de Belo Horizonte, em Minas Gerais, e nunca fui pro Rio de Janeiro e, bem, pelo que vi, você é o que mora mais perto do estúdio"

Henry arqueou as sobrancelhas. Observou bem a imagem de quem falava com ele. Uma jovem de pele bem clara, olhos azuis e cabelos quase que brancos.

— Hum... Andressa Bitencourt?

"Henrique: Não sabia que eu sou o que mora mais perto. Mas de qualquer forma, obrigado pelo elogio! No que eu puder ajudar, pode falar"

O rapaz coçou a sua nuca e inclinou a cabeça. Seu estômago começou a formigar. Espontaneamente, abriu os lábios em um sorriso bobo. Logo adicionou o número da garota em seus contatos e foi pesquisar mais sobre as músicas dela.

"Andressa: Ai, que bom! Eu vi aqui que aí tem dois aeroportos, certo? Mas não sei se pego o do Galeão ou o do Santos Dumont"

Ele demorou cerca de três minutos para notar a mensagem. Nesse tempo, ficou assistindo os vídeos em que a loira cantava suas músicas autorais.

"Henrique: Pra você, o melhor seria o Santos Dumont mesmo.

Nossa! Você canta muito bem! Essa música foi você quem escreveu?"

4 meses e 22 dias para O Dia

Seus olhos castanhos pareciam mais brilhantes naquele momento. Talvez seja pelo fato de seus cílios estarem úmidos devido ao banho que tomara.

Henrique ficou fitando seu próprio reflexo no espelho do banheiro sobre a pia por um minuto. Engoliu em seco. O que o futuro reservava para ele?

Na tarde do dia anterior, o rapaz foi ao barbeiro sem a ciência de seus pais e mudou seu visual. No lugar dos cabelos crespos e enrolados, o rapaz fez dreads. Logo em seguida, foi a um estúdio de tatuagem.

Finalmente, estava sendo ele mesmo. Gostava daquele estilo e era nele que se encontrava.

Desviou seu olhar. Do reflexo do espelho para seu corpo semi nu. Ao observar seu braço direito, reparou na tatuagem que fizera na tarde passada. Um desenho que ocupara uma área de cerca de um palmo. Um dragão cuspindo fogo.

Por que aquilo era motivo para tanta perturbação na sua família?

Naquela manhã, quando seus pais viram a tatuagem e o cabelo, houve um escândalo.

"Você vai tirar essa merda nem que eu corte isso!"

"Tá parecendo um vagabundo! Não aceito filho meu assim!"

"Amanhã eu quero você sem essa tatuagem se não eu mesmo arranco ela daí"

"O que o pessoal da igreja vai dizer?"

Suspirou.

Era tão estranho aquilo. Joana e Bernardo nunca demonstraram preocupação pela vida pessoal de seu filho. Jamais tiveram uma boa comunicação. Sequer perguntavam-lhe sobre seus sentimentos, desejos, aspirações, entre outras coisas.

O que eles negligenciavam com Henrique, por outro lado, cobravam em dobro com Nicole e Rayane. As vestimentas, o cabelo, a postura, o modo de falar, de se comportar e os hábitos. Tudo era controlado pelos pais. Elas não podiam, de forma alguma, parecer desleixadas.

Henrique sentia um vazio dentro de si. E não era em sua família que encontraria o que preencheria esse vácuo. Ele queria se sentir vivo. Descobrir-se. Esquecer-se da hipocrisia de dentro de sua casa.

Aquilo era tão errado assim? Era só um corte de cabelo e uma tatuagem. Que conclusão poderiam tirar de alguém com essas características físicas?

Necessitava esquecer daquela discussão. Necessitava do álcool mais uma vez.

Suspirou de novo. Com a toalha ainda enrolada em seu corpo, saiu daquele recinto em direção ao seu quarto.

Quando abriu a porta, surpreendeu-se. Arregalou os olhos. Naquele cubículo de paredes cinzas, também estava Rayane Martins, sua irmã mais nova.

A caçula virou seu rosto em direção ao irmão e logo esboçou um sorriso cínico. Pelo que Henrique conhecia dela, coisa boa não estava para acontecer.

— Oi, irmãozinho! — Ela disse, com as mãos nas costas.

— Quer fazer o favor de ir embora do meu quarto? — Ele falou, segurando com mais firmeza a toalha que cobria suas partes íntimas.

— Só se você me explicar que merda de água é essa que você anda bebendo! — Ela falou, tirando de sua retaguarda uma garrafa com um líquido transparente que ele sabia muito bem o que era.

— Você andou mexendo nas minhas coisas? — Ele elevou o volume de sua voz, indignado. Franziu o cenho e uniu as sobrancelhas.

— Não mude de assunto! — Ela falou, estendendo o dedo indicador para ele — Você tá ferrado, viu? O que o nosso pai diria se soubesse que seu filho, além de ter tatuagem e cabelo de maconheiro, também é alcóolatra?

— Você não...

— O que mais tem pra esconder, Henry? — Ela se aproximava do rapaz com passos lentos e um sorriso sinistro na boca, provocando-o — Você é traficante de drogas? É gay? Ou então... É um assassino?

— Cala a boca e some do meu quarto!

— Me obrigue — ela se virou e se sentou na cama dele com as pernas cruzadas — Você tá encrencado, moço!

— E pensa que eu não sei que você fica colocando volume no sutiã pra parecer peituda?

— Prove isso! — Ela abriu bem as pálpebras e trincou os dentes. Logo em seguida, gargalhou — Tá lascado, Henry! Vai pra igreja, todo mundo acha que é bonzinho, as garotas querem sempre ficar com você, mas na verdade, não passa de um hipócrita!

— O que você quer pra ficar calada?

Ela coçou o queixo e deu um sorriso. Finalmente ouviu o que queria.

— Eu quero que você me ajude a namorar.

— Como é?

— Foi o que você ouviu. Eu tô cansada de ser sempre a esquisita do rolê e a única que, ainda, nunca beijou ninguém. Eu quero namorar, Henrique! E eu preciso que você me ajude. Sei lá, me apresenta um amigo seu. Tá de bom tamanho!

— Tá falando sério, garota? Você tem catorze anos!

— E daí? Idade e maturidade são coisas diferentes, viu? Eu sou muito madura para a minha idade.

— Esquece! — Ele bufou, incrédulo com as palavras da irmã — Cê tá louca mesmo! Vaza do meu quarto!

— Ah, é? — Ela inclinou a cabeça e elevou uma das sobrancelhas — Então eu conto pro meu pai que você bebe vodca e, de quebra, também conto que você fica a noite toda tocando punheta pra filme por...

— Ei, ei! — Ele arregalou os olhos e seu coração acelerou por alguns instantes — Cala a boca!

Rayane deu uma gargalhada escandalosa que preencheu todo aquele quarto.

— E então? O que me diz? — Ela o fitou nos olhos, cruzando os braços e o encarando.

Após respirar fundo, Henrique bufou. Pôs a mão na testa, para tentar amenizar a dor que sentia na região ao se deparar com mais aquele problema provocado pela irmã mais nova.

— Tá. Eu te passo o contato. Mas nenhum amigo meu vai querer ficar com você.

— Ah, é? — Ela elevou uma das sobrancelhas — E por quê?

— Rayane, se enxerga! Você não precisa de um namorado agora. Quer o quê? Engravidar e trazer desgosto pra sua família?

— Eu? Desgosto pra família? — Ela pousou a mão no peito e o encarou em deboche. Ele entendeu o que ela quis dizer — Não, meu bem. Eu só quero viver a minha vida como uma pessoa normal! E para de falar merda. Eu tenho princípios! Cristo é mais na minha vida. Não vou deixar perder a minha virgindade. — Ela falou, chegando bem perto dele, cerca de um palmo de distância. Como Henrique era bem mais alto, ela precisava olhar para cima — E você? Ainda conserva sua pureza?

— Mas, que pergun... — Ele virava a cabeça na horizontal, esticando a bochecha direita, sem querer acreditar no que ouvia — Quer saber, Rayane? Não é da sua conta. Eu já te disse que te mando o contato de um colega meu. Agora, saia já do meu quarto!

— E quem disse que é você quem escolhe? Isso aqui é o quê? A Pré-História? — Ela se afastou, falando como se fosse superior — Não! Eu que vou decidir qual dos seus amigos eu quero conversar... Estamos combinados?

Ele suspirou novamente. Estava farto daquilo já.

— Que seja!

Ela abriu um sorriso de orelha a orelha e bateu algumas palmas antes de, finalmente, retirar-se daquele quarto.

Quando Henrique ouviu a porta se fechar, fechou os olhos. Tentou se concentrar em coisas que o faziam bem.

Por que tudo aquilo estava acontecendo com ele?

Por que não podia voltar a ser aquele rapaz alegre de antes?

Pensou em jogar-se na cama e dormir. No entanto, pegou a sua garrafa de vodca e a tomou por inteiro. Sem deixar restar uma gota do conteúdo.

E então, só depois, caiu no colchão e apagou.

4 meses e 25 dias para O Dia

Desde que acordara, às dez da manhã, Henrique não saíra de sua cama. E estava há uma hora ali. Mesmo tendo aula, o rapaz optou por faltar. Afinal, estava muito mal para prosseguir com aquele dia.

Lembrou-se daquela madrugada, quando chegara às duas da manhã em casa — que, se comparar com as outras pessoas que foram àquela festa, era cedo.

"Será que não perceberam?"

Ele perguntava a si mesmo. Henrique estava nitidamente embriagado quando chegou. Seu hálito e seu raciocínio lento o denunciavam.

Aquela não era a primeira vez. Desde que começou a se juntar com Joaquim e seus colegas e frequentar as mesmas boates e festas, Henrique criou o hábito de sempre consumir bebida alcóolica para se divertir. Era o seu jeito de fugir da realidade que vivia.

Sua mãe, Joana, estava acordada quando ele chegou. Porém, não falou nada. Perguntou aonde ele tinha ido e, depois de ter respondido com a verdade, ela assentiu e voltou para seu quarto.

Após ficar cerca de uma hora imerso em seus pensamentos, o repentino toque de seu celular que estava sobre seu criado-mudo o fez levar um susto e saltar da cama. Alguém o ligava.

Sentou-se em seu colchão e apanhou o aparelho, em dúvida sobre quem estaria lhe chamando.

— Andressa?

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro