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27: O Dinheiro

Talvez eu deva ir embora

Longe do jogo, longe do perigo

Mas eu admito, eu gosto de jogar

Se é sobre mim que vamos falar

Onde eu esqueço tudo e estou saindo

Eu vou andar

Ingênuo como nunca

Longe de olhares amargos

Pra que isso?

Você está tão sozinho atrás da sua tela

Você pensa sobre o que as pessoas vão pensar

Mas você deixa todos indiferentes

- Angèle -

09h32m

O homem de meia idade, com cabelos parcialmente grisalhos, vestido com uma camisa social e o distintivo de delegado da Polícia Civil anexado em suas roupas assistia, sentado em seu escritório, mais uma vez as provas que recebera a respeito da morte de Mariana.

Dessa vez, o computador a sua frente era compartilhado por mais duas pessoas. Ao terminar o vídeo, o homem se virou para a de menor altura e lhe observou com as sobrancelhas baixas e as veias da testa sobressaltadas.

— Então você realmente se dedicou na investigação desse caso, Daniela? — Ele perguntou, balançando a cabeça instintivamente.

— Eu... Eu... Jamais poderia imaginar isso! — A mulher gaguejava, comprimindo seus lábios — Tava tudo tão claro que era o garoto lá que...

— Você sequer checou as filmagens das câmeras de monitoramento da via! — Louise falou, com as sobrancelhas unidas.

— Mas eu vi o saco com drogas, vi as provas lá e... — A policial ponderava, tentando se justificar.

— O que o Joaquim disse que viu foi ver sua casa sendo invadida, ele sendo covardemente humilhado pela Polícia enquanto não oferecia risco algum — ela deu uma pausa — e castigos físicos executados por um membro do Estado em inocentes tem um nome, Daniela: tortura.

— Você só pode estar delirando, Louise! — Ela rebateu, furiosa.

— Não. Você sempre foi uma policial racista! — De repente, ela se virou para o homem que assistia à discussão — Delegado, eu tenho uma coleção de outros casos da Daniela que foram mal solucionados e todos envolviam pessoas negras.

— Deixa de ser vitimista — Ela cruzou os braços e torceu o nariz — Você é louca!

— Já chega! — O delegado elevou seu tom de voz e se levantou, revelando sua estatura alta, direcionando seu descontentamento à policial de pele clara — Daniela, você está sendo afastada do caso. E da Instituição. E ainda apurarei melhor sobre essas denúncias...

— Quer saber? — A mulher o interrompeu, torcendo o nariz, unindo as sobrancelhas e cruzando os braços — Poupe-se desse trabalho, delegado! Eu não aguento mais essa merda!

— Ficou louca? — O homem semicerrou os olhos para ela — Posso muito bem te punir por conta dessa atitude...

— Não estou louca. Estou farta! — Ela disse e, em seguida, arrancou seu broche da Polícia Civil e o colocou sobre a mesa — Meu lugar é no BOPE, PM... Um lugar onde posso dar tapa na cara de vagabundo à vontade!

— Sendo assim, a porta da rua é a serventia da casa. Retire-se agora! — Ele falou, bufando logo em seguida.

— Já tô indo... — Ela disse, virando-se em direção a porta e caminhando para fora do recinto.

Demorou alguns segundos até os dois que restaram na sala processarem aquilo tudo.

— Lamento por tudo isso que ela te causou, Louise — ele falou, de cabeça baixa — Mas uma mulher racista como ela não pode integrar a nossa Instituição. Abrirei hoje mesmo uma investigação contra ela.

— Concordo. Isso porque o senhor não ouve o que ela fala do senhor.

— Eu imagino. De qualquer forma, quero que você fique encarregada do caso de Mariana. Você terá acesso a tudo que envolveu o crime. Tudo bem para você?

— Sim, senhor, delegado!

Louise respirou fundo e estufou o peito. Nada a pararia agora em seu objetivo de fazer justiça. Levantando o queixo, a mulher agradeceu e se retirou do lugar.

Ao virar o primeiro corredor, a inspetora quase esbarrou com Paula, sua auxiliar.

— Louise! — Ela exclamou, virando-se para a bolsa que carregava — Não vai acreditar no que recebemos.

09h23m

Vinícius parou o veículo no próprio estacionamento do condomínio. Ele, Astrid e Nicole saíram ainda sentindo os calafrios que a última informação sobre o caso os fez sentir.

Passaram pela portaria sem dirigir o olhar para o porteiro, de forma a evitar mais constrangimentos.

— Aonde vão? — O homem perguntou, carrancudo, quando eles passavam em sua frente.

— Apartamento 605 — Nicole disse, sem olhar para trás. Parou assim que esteve de frente para o elevador. Apertou o botão e, em cinco segundos, as portas se abriram e os três puderam entrar. A estagiária se posicionou no centro e se virou, encarando o funcionário do prédio — Já volto, seu Cláudio. Preciso pegar umas coisas que meu irmão deixou pra mim, ok?

Ela falou, piscando para o homem que, instantaneamente, deixou cair um pouco a sua mandíbula. Antes de ele falar alguma coisa, as portas do elevador se fecharam.

— Ele me conhece — explicou a jovem, enquanto subiam até o sexto andar — Já vim aqui uma vez.

— Sério? Para fazer o quê? — Vinícius cruzou os braços.

— Faz umas três semanas. Não demorou muito porque o Henry ia se encontrar com a Andressa, mas eu precisava conversar com ele sobre o casamento.

— Tenso — ele comentou.

Finalmente, os portões se abriram e um corredor com algumas portas pôde ser visto. Caminharam até o apartamento seiscentos e cinco e Astrid utilizou a chave que tinha em mãos para destrancar.

— Primeiramente — disse Astrid, assim que a entrada da casa foi aberta — Não vamos nos esquecer do porquê de estarmos aqui: descobrir qualquer coisa que sirva de pista para solucionarmos esse crime.

O interior da residência de Henrique estava tão em ordem quanto a saúde mental da vítima. Haviam peças de roupas espalhadas por todos os cômodos da casa. Inclusive peças íntimas. No chão, embalagens de balas, amendoins e diversos tipos de produtos também eram encontrados, além de pedaços de papel toalha. No sofá, além da poeira, haviam algumas manchas que Astrid se recusava deduzir de que eram.

Um cheiro descomunal vindo da cozinha obrigava os três estudantes a prender a respiração ao entrar lá. Logo, perceberam a lata de lixo que quase transbordava cheio de restos de comida que eram consumidos pelas moscas e baratas que vez ou outra circulavam pelo recinto. Além disso, a pequena geladeira também guardava uma pequena quantidade de alimento também já em estado de podridão, além de uma boa quantidade de bebida alcóolica.

Abrindo a porta do quarto, Vinícius encontrou um ambiente pequeno, com uma cama com o colchão que fedia a álcool. Sobre ele, os lençóis e travesseiros estavam amontoados de forma desordenada.

Do outro lado do quarto, um guarda-roupa com as portas abertas. Ao se aproximar, o rapaz franziu o cenho e torceu o nariz.

— Isso é mofo! — Ele disse ao avistar o acúmulo de fungos nas roupas do jovem cantor.

Virou-se novamente para a cama e, lá, um objeto escondido por entre as cobertas lhe chamou a atenção.

Vinícius usou apenas o dedo polegar e indicador para apanhar o pequeno livro preto por entre as cobertas. O local era extremamente insalubre e o rapaz não queria nem imaginar o que passara por ali.

— O que é isso? — Astrid entrou no quarto e levantou uma de suas sobrancelhas para o amigo.

— Você deve conhecer melhor do que eu. Tome — Ele disse, estendendo o objeto na direção da loira, que arregalou os olhos ao avistar aquilo e logo o pegou.

— Uma Bíblia? — Ela falou, com suas pupilas dilatadas, apenas pensando no que aquele livro tão importante para ela fazia ali. Por instinto, ela folheou algumas páginas e logo percebeu que havia algo marcando um trecho específico. Curiosa, direcionou seus olhos às palavras e leu em voz alta — Quem anda com integridade, anda com segurança, mas quem segue veredas tortuosas, será descoberto. Provérbios 10:9.

— Tenso — Vinícius comentou — O Henry não estava apenas triste com o que tava acontecendo. Ele estava desesperado.

— Parece que nos últimos dias ele andou lendo muito essa parte de Provérbios... Veja o que vem logo em seguida! — Ela falou, mostrando o livro novamente ao rapaz.

A integridade dos justos os guia, mas a falsidade dos infiéis os destrói. Provérbios 11:3 — Vinícius leu, em voz alta, o trecho marcado e voltou seu olhar para Astrid — Deus do Céu! O que é isso?

— Essa Bíblia é nova. Bem nova mesmo. E está com o nome dele. Com a letra dele.

Astrid permaneceu encarando aqueles trechos por alguns segundos, tentando, de alguma forma, colocar-se no local de seu amigo que veio a ser assassinado.

— Galera! — A voz de Nicole vindo da sala fez os dois correrem para ver o que a jovem queria dizer — A chave do carro do Henry!

Com o objeto em mãos, a irmã da vítima fez um sinal para que os três a acompanhassem até o veículo de Henrique para análises mais profundas.

Após assentirem, eles fecharam o apartamento e partiram novamente para o estacionamento até chegarem de frente para o Celta Spirit e Nicole destrancar o veículo.

Com os olhos quase apertados, Astrid examinou novamente o capô do carro. Logo, notou alguns arranhões e amassados que logo a fez lembrar das cenas que assistiu naquele vídeo.

Vinícius, por outro lado, abriu a porta do carona dando de cara com as garrafas de vodca no chão. Além delas, avistou outros detalhes interessantes que preferiu analisa-los em silêncio e com cautela.

— Que está vendo? — Perguntou a loira.

— Cinco, seis, sete! — Ele falou, agachando-se para apanhar um objeto que, no momento, Astrid foi incapaz de deduzir o que era até vê-lo nos dedos de seu amigo — Sete cacos de vidro.

— Vidro? Acha mesmo? — A jovem loira se aproximou, semicerrando os olhos para analisar o material — Está mais para uma lente...

— Vocês têm alguma sacola ou algo parecido pra eu guardar esse material?

Rapidamente, Nicole tirou de sua bolsa uma bolsa de plástico e a entregou para o colega que logo fez questão de guardar o material.

— Qual foi a última vez que Henrique usou esse carro mesmo? — Astrid perguntou, mais para si mesma do que para os outros — Ah, sim. Foi na madrugada de quinta-feira mesmo, certo?

— Sim. Foi!

10h05m

Apesar de toda a grande chuva de informação que teve naquela manhã, Louise tentou manter a calma e prosseguir com seus planos para aquele dia.

Sentada na cadeira acolchoada ao lado de seu escrivão, a mulher aguardava impaciente a chegada daquela que, possivelmente, lhe ajudaria a esclarecer muitas dúvidas que ainda tinha sobre o assassinato de Mariana.

De repente, a porta se abriu.

— Inspetora?

— Pode entrar, Denise — A mulher falou, mostrando-lhe o lugar para se sentar.

— Me desculpe, sei que me atrasei um pouco. Acabei perdendo o horário e... — Ela procurava desviar o olhar da detetive enquanto se acomodava na cadeira.

— Está tudo bem — ela falou, levantando a mão direita e a abaixando logo em seguida — Denise, você conheceu o Henrique, não conheceu?

— Sim. Nunca conversei com ele nem nada do tipo. Mas ele era a grande estrela do programa que eu ajudava a produzir. Afinal, sou a Chefe da Seção de Tecnologia da Informação. Fora que ele também é o irmão da Nicole, que é a minha estagiária — ela fez uma pausa e resolveu mudar de assunto — Senhora inspetora, realmente acredita que eu tenho algo a ver com esse crime? Eu nunca troquei uma palavra com esse rapaz. Acho que a morte dele é uma pena, é claro, mas eu não tenho relação alguma com isso.

Louise suspirou.

— Você é bastante próxima do Leonardo Chantre, não é mesmo?

Denise gelou, engolindo a própria saliva com os olhos bem arregalados.

— S-sou. Por quê?

— Ele sofreu um incidente complicado naquela noite, não foi? Acredito que você pode explicar essa história melhor, não é mesmo?

— É... Sim. É... — A mulher de músculos proeminentes comprimia os lábios e mantinha uma respiração acelerada — Por onde eu começo?

— Pode começar falando sobre a sua relação com ele. Como iniciou tudo...

— A gente se conheceu na faculdade de TI. Antes de trocar e ir fazer o que ele realmente queria, que era Cinema. E, bem, antes disso eu morava em Lorena, uma cidadezinha no interior de São Paulo. E é de se imaginar que lá eu já sofria muito por causa de... — ela engoliu a própria saliva e encarou a detetive com as pupilas dilatadas — Você sabe, da minha aparência nem um pouco comum para uma mulher. E quando cheguei aqui, as pessoas foram muito ruins comigo. Na faculdade, eu sofri por coisas tão humilhantes que jamais imaginaria que passaria. Eu, certamente, teria jogado a toalha, desistido de tudo, se não tivesse o apoio do Léo.

— Vocês eram bem próximos, então?

— Sim. No início, era eu e ele. Ele nunca foi de se misturar com os outros, era o tipo quietão que ficava no fundo. Não sei o que aconteceu, mas ele não se importava de ficar andando pra lá e pra cá com a — ela fez um sinal de aspas — "rascunho do capeta". Ele foi a primeira amizade que fiz aqui. Ele me defendia, me dava apoio, me chamava pra sair... Foi assim que consegui arrumar forças pra enfrentar tudo. Com o tempo, as agressões foram diminuindo. Depois de dois anos, ele já estava cursando Cinema, conhecemos a Gisele. Ela era demais. A única garota preta da turma dela. Formamos o trio até o fim da universidade. Até que, bem... Ela se declarou pra ele.

— Como? — Louise inclinou a cabeça.

— Sim! Ela o pediu em namoro e, bem... Ele ficou indeciso e disse que não. Mas duas semanas depois, eles começaram a namorar e eu, bem, apoiei horrores. Continuamos saindo juntos quando podíamos. Afinal, eles faziam questão de não me deixar desconfortável segurando vela... — Ela fez uma pausa, parando para respirar com mais calma e prosseguir com a sua narrativa — Até que Gisele descobriu ter câncer de mama. E naquela época, há oito anos atrás, era muito mais complicado essas coisas e ela acabou morrendo.

— Céus! — Louise exclamou.

— Leonardo ficou em estado de choque. Permaneceu de luto por um longo tempo. Por outro lado, nossa relação só se estreitou mais ainda. Ficamos juntos nos apoiando naquele momento difícil... Aperfeiçoamos nossos estudos. Fiz meu mestrado. Ele também. Ele fez diversas produções sensacionais e foi reconhecido por isso. Viajou a trabalho para os Estados Unidos, México, Canadá, Rússia, Alemanha, Egito, Iraque, Austrália... Ele fez seu nome até chegar na TeleMil. Ele, inclusive, que me indicou para o cargo de Chefe da Seção.

Louise apertava os olhos, esperando pelo momento em que ela finalmente falaria sobre a relação entre ela e Leonardo para, talvez, arrancar alguma pista sobre o que poderia ter ocorrido na madrugada de quinta-feira e na noite de sábado.

— Ele sempre foi o tipo de cara descontraído, às vezes até inconveniente, e de bem com a vida, até que, faz uns dois anos, que ele mudou totalmente o seu comportamento.

— Como assim?

— Não sei dizer se bateu saudade da Gisele, ou se foi alguma decepção no trabalho, ou o fato de se sentir sozinho... Mas ele entrou numa depressão profunda. Ele já não se sentia suficiente. E foi quando o rendimento dele na empresa começou a cair. O Léo já não fazia mais piada, eu já não sabia o que fazer para ele se sentir bem. Nada parecia levantar o astral daquele homem. Ele permaneceu assim por uns três meses, até que eu o levei para um psiquiatra e, bem... Depois daquilo, ele melhorou e voltou ao normal. Mas não durou nem um mês essa melhora. Porque depois, o comportamento dele mudou da água pro vinho.

— E como era esse comportamento?

— A depressão deu lugar à euforia. Era como se ele tivesse com os pensamentos acelerados e uma autoestima elevadíssima, quase uma loucura. Fazia festas do nada, falava sem pensar, contraía dívidas, não dormia... Ele dizia que estava alegre e muito confiante, mas era muito bizarro vê-lo daquele jeito.

— Oh, céus! E por quanto tempo ele ficava assim?

— Umas três semanas, quase. Até voltar ao normal e reduzir essa ansiedade toda.

— E ele já deu alguns sinais de paranoia, psicose ou coisa do tipo?

— O Léo? — A mulher abriu bem as pálpebras dos olhos — É... Não. Digo, acho que não. Não está pensando que ele possa ter...

— Como era a sua relação com ele, Denise? — Louise cruzou os braços e encarou a mulher no fundo de seus olhos.

— A gente trabalhava junto. Continuávamos amigos. Mas depois que o humor dele virou uma montanha russa, a situação mudou um pouco. Antigamente, era eu a mais debilitada, que precisava ser salva... E ele que me ajudou a encarar a realidade. Mas hoje, é ele! Eu vejo o meu amigo se afundando nesse negócio e eu me sinto no dever de estar com ele nisso. Porque no fundo eu sei que não é ele mesmo. É uma doença mental isso.

— Transtorno bipolar — A detetive completou, com os olhos semicerrados e encostou sua coluna novamente no encosto da poltrona — Já levou ele ao médico?

— Sim! Mas é complicado. Ele não aceita fazer o tratamento. E às vezes, eu me sinto mal em pensar em levá-lo à força.

— Poxa, mas veja onde ele está agora...

— Sim. Eu sei... — Ela olhou para baixo, triste.

— Então me diga sobre a madrugada de quinta-feira. Aquela em que ele deu uma festa pra um monte de gente e que acabou dormindo com a Mariana... Mãe de Andressa, que acabou morrendo.

Denise não respondeu de imediato. Antes, abaixou o olhar e comprimiu os lábios. Resgatar aquelas memórias dificilmente seria uma tarefa fácil para ela.

— Eu não sei muito bem... Ele estava muito animado, apesar de ele não ter o costume de — ela deu uma pausa e engoliu própria saliva — ficar com outras pessoas. Ele pode ser sempre extrovertido, mas em questão de sexo, ele mesmo se define como assexual. Mas quando ele fica desse jeito... Não sei. Parece que muda, sabe?

— Continue então... O que aconteceu naquela noite? — Louise ignorou completamente os rumos da conversa que Denise tentava conduzir. Ela assentiu e resolveu obedecer à policial.

— Bem... Lembro que depois que ele trocou olhares com a Denise, e eles flertaram, eles foram pro quarto. Depois de alguns minutos, ela saiu e o Léo estava muito, mas muito mal.

— Entrou na depressão.

— Exato! Ele não costumava ter mudanças de humor assim tão repentinas. Mas dessa vez, toda a autoconfiança e a euforia se desfez e ele acabou destroçado.

— E me fala: como ele estava? O que foi dito?

— Eu fiquei desesperada. A Mariana havia acabado de sair da festa com as acompanhantes dela. Parecia apressada. Quando eu olhei pra cama, vi o Leonardo de cueca, desacordado e com o rosto cheio de lágrimas. E tinha também um pote com remédios na escrivaninha ao lado da cama e um monte de pílulas de remédios espalhados pelo chão e pelo colchão. Inspetora, ele tentou se matar! E essa não foi a primeira — ela fez uma pausa para segurar as lágrimas — e nem a última vez que ele fez isso.

— Ele então fez isso porque recebeu um fora da Mariana?

— Não dá pra saber. Logo após a Mariana sair do quarto, ele recebeu uma ligação do nosso chefe. Ele ficou perplexo com tudo o que estava acontecendo e deu a notícia de que ele estava demitido. Depois disso, foi a cena que eu te disse. Eu chamei um enfermeiro e ele logo foi atendido.

— Então foram duas pancadas de uma vez.

— Exato! — Ela exclamou.

— E depois disso? O que aconteceu?

— Fiz questão de visitá-lo todos os dias e deixar um enfermeiro tomando conta dele durante na quinta e na sexta. Pra certificar que ele estava tomando os medicamentos corretamente. No sábado ele não tinha ninguém. Eu o visitei pela manhã, mas à tarde eu tive que ir pra minha casa para me preparar pro casamento da Nicole.

— E como ele estava?

Denise respirou fundo, lembrando-se do que acontecera naquela manhã de sábado.

Abrindo a porta do espaçoso quarto branco com cortinas vermelhas, Denise logo colocou os olhos em seu amigo de longa data e não conseguiu conter um leve sorriso.

— Léo! — Ela exclamou, baixinho, com suas pupilas dilatadas.

O homem, dessa vez vestido com uma camisa e calça de moletom e coberto por uma manta de veludo, não parecia estar plenamente acordado em sua cama, mas quando viu a mulher, retribuiu o sorriso e se esforçou para se sentar e encará-la melhor.

— Oi! — Ele falou.

— Como você está? — Ela disse, aproximando-se devagar e, por fim, sentando-se ao seu lado sobre o colchão.

— Eu tô bem melhor já. Sério.

— Isso é ótimo! — Ela exclamou — O Chico me disse ontem que você só precisa dosar certo os antidepressivos. Não abusar deles.

— Sim, senhora! — Ele falou, em tom de brincadeira — Pode deixar.

Os corações de ambos batiam forte. Denise sentia um aperto agudo e ardente dentro do peito. Lembrou-se de quando era ela naquela situação. Frágil e carente. Esforçava-se ao máximo para conter as lágrimas.

Seus olhos eventualmente iam em direção a boca de seu amigo. Como seria a sensação de tocá-lo os lábios?

Comprimiu as pálpebras por um instante. Seria loucura pensar nele assim naquele estado. Não ousaria, por mais que seu coração pulsasse por aquilo.

— Você é tão especial pra mim — ela deixou escapar. Quando se deu conta do que disse, não disfarçou. Acariciou a mão direita de Leonardo, apanhou-a e a beijou.

— Você que é.

Os dois continuaram se encarando por mais tempo, até Denise voltar em si.

— Seus remédios pra hoje... Você já tomou?

— Já. Agora é só amanhã.

— Ótimo — Ela se levantou, ficando em pé — Vou levá-los comigo então. Ok?

— Oi? — Ele ergueu a sobrancelha — Por quê?

— É o melhor pra você, Léo — Ela falou, comprimindo os lábios — Por favor...

— Você não confia em mim, né?

— Confio — respondeu, apesar de o contrário ressoar em sua mente.

— Se confiasse, não me deixaria aqui sem meus remédios. Acha o quê? Que vou me matar?

— Tenho motivos pra acreditar nisso.

— É claro que tem — Não conseguiu conter as lágrimas dentro de si. Seus olhos já transbordavam e ele se exaltava conforme prosseguia seu desabafo, ajoelhando-se na cama e chegando bem perto dela — Mas eu tô melhor, Denise! Poxa... Eu tô vivendo um inferno! Eu tenho quarenta anos e tá todo mundo me chamando de louco! Eu não consigo ser autossuficiente em nada. Estrago minha carreira, minha casa, meus relacionamentos... — Ele pausou por um instante, enxugando a coriza que saía de seu nariz já avermelhado — Só você ainda está aí.

— Não fique assim, Léo. Você não... — Seu rosto corou ao vê-lo naquele estado em sua frente e mexeu nos cabelos encaracolados.

— Eu te amo, Denise.

Ela gelou por um bom tempo. Comprimiu os lábios.

— Ora... É... Bem... — Ela não conseguia se estabilizar em cima daquele salto alto. Precisava ser forte — Eu também te amo, Léo... Sempre te amei. Lembra? Na faculdade...

Leonardo respirou fundo e segurou as mãos grossas de sua amiga, encarando-a com os olhos fixos nela.

— Não é mais como amigo, Denise — Ele sacudia a cabeça, mas a técnica em informática custava para aceitar aquilo — Eu já não consigo viver mais sem você.

— Léo, você... — Seus olhos também lacrimejavam.

— Por favor... — O olhar do homem não saía do rosto dela nem por um segundo. Diferentemente dela, que tentava se afastar, sem sucesso. Não tinha coragem para aquilo.

Leonardo fechou suas pálpebras lentamente e, após um longo silêncio, mirou nos lábios de sua amada e se aproximou. Seu toque foi ficando cada vez mais sutil e carinhoso e, aos poucos, Denise foi perdendo sua resistência, deixando que ele chegasse cada vez mais perto.

A mulher sentia a respiração da sua grande paixão cada vez mais quente e presente e seu cheiro mais forte. A quanto tempo esperava por aquilo?

Seus lábios se tocaram.

Quando os músculos da boca de Leonardo se moveriam para prosseguir com o beijo, Denise deu um passo para trás em um ímpeto de desespero. Quase que Leonardo se desequilibrou da cama.

— Desculpa — Ela se virou de costas para que ele não a visse chorando — Eu... Eu... Eu volto mais tarde. Só... Fique bem. Pode deixar que eu tranco aqui.

Com a respiração ofegante, Denise abriu a porta do quarto e se retirou.

O ex-diretor do Estrela do Rock permanecera com a mandíbula levemente caída por alguns instantes e as pupilas sem foco. Denise só aparecera para lhe dar uma fração da sensação de estar completo. Com sua saída repentina, o vazio naquela casa e no seu interior se tornaram evidentes.

Sem ânimo para continuar de joelhos, jogou seu corpo para trás, deixando jorrar mais uma vez as lágrimas que molhavam todo seu rosto e sua cama.

— Os remédios! — Louise exclamou, após ouvir os relatos de Denise sobre o dia do crime.

— Sim — Ela levou as mãos ao rosto — Fui tão burra que, na hora, acabei deixando eles lá!

— E como foi que tudo aconteceu no sábado? Você não estava na festa?

— Estava sim. Era umas nove horas e alguma coisa... A Nicole nem tinha aparecido. Recebi uma ligação da vizinha dele, uma senhora já de idade, dizendo que ele tinha acabado de chegar em casa totalmente alterado, tenso e chorando muito, e quando bateu a porta para ver se tinha acontecido algo, uns vinte minutos depois, encontrou ele no sofá com um pote cheio de remédios espalhados e uma faca cravada na barriga.

— A porta estava aberta então?

— Sim. Ele não havia fechado.

— Isso é muito estranho... Iniciaremos com um processo para investigar o caso e...

— Ele já me disse que foi ele mesmo quem fez tudo isso — Denise a interrompeu — Agora, ele vai ficar no hospital até receber alta. Nem é bom a Polícia ir lá ficar fazendo perguntas. Ele precisa se recuperar.

— Querida, a Polícia vai fazer o que tiver que ser feito, sinto muito — Louise falou, seca. Observou com os olhos semicerrados a reação de Denise, que comprimia suas pálpebras inferiores.

— Está... Bem. — Ela falou, esticando os lábios na horizontal.

— Após você receber a tal ligação, o que você fez?

— Peguei minhas coisas imediatamente e fui embora. Peguei meu carro e fui até o apartamento dele o mais rápido possível e, quando cheguei lá, encontrei o Léo da mesma forma que a vizinha disse. Felizmente, a ambulância chegou quase na mesma hora que eu e ele já foi encaminhado para lá.

A idosa virou quando ouviu o movimento vindo na direção da entrada do corredor daquele prédio. Era Denise Soares, a amiga e responsável pelo seu vizinho.

Quando a mulher a viu, apertou seu passo. Seu corpo já suava.

— Ele está aqui. Já chamei a ambulância. Eu não sei o que fazer e — quanto mais a senhora falava, mais rápido a profissional em T.I andava.

No momento em que ela entrou no recinto, avistou a mesma cena que foi descrita para ela.

— Oh, Céus! Léo! — Ela gritou, em desespero, jogando sua bolsa no chão e correndo em direção ao amigo.

O homem gemia de dor em um tom baixo. A faca ainda permanecia enfiada em seu corpo, mas já não tinha mais força para prosseguir. Em seu lado, haviam alguns remédios.

Denise se ajoelhou e, sem se importar, deixou ser suja pelo sangue que jorrava exponencialmente da ferida no abdômen.

— Me deixe ir, Dê... Me deixe...

— Não! Não fale isso! — Seus olhos transbordavam em lágrimas — Você vai ficar bem! Eu vou fazer um curativo e...

— Licença! Licença! — Uma voz desconhecida e masculina surgiu da entrada do quarto. Era o SAMU.

Rapidamente, ela se esquivou. Seus olhos brilhavam mesmo no escuro devido às lágrimas. A imagem de Leonardo ferido permaneceu em sua mente por muitas horas.

Um dos homens, cuidadosamente, fez os primeiros socorros enfaixando o corpo do diretor de TV sem retirar a faca que ali estava, enquanto o outro preparava a maca que o retiraria daquele recinto.

— Ei! — Uma terceira pessoa exclamou, chamando a atenção de Denise — O celular dele... A perícia vai querer investigar isso tudo — O homem falou, observando o aparelho situado em cima da mesa e, logo em seguida, direcionando seu olhar para a amiga de Leonardo — Senhora, peço que aguarde lá fora. Iremos chamar a Polícia.

— Posso acompanhar vocês? — Ela perguntou, ainda paralisada.

— É parente da vítima?

— Pode-se dizer que sim.

— Tá bem. Desce lá.. Já estamos partindo.

— E como é a sua relação com a vítima? O Henrique.

— Nunca trocamos muitas palavras. Eu nem teria razão para querer matá-lo. Ele só era irmão da minha estagiária. Nem tenho opinião formada sobre ele...

— E você teria alguma informação para acrescentar na investigação? Cada detalhe é importante.

— Infelizmente, não.

— Sendo assim, está dispensada, Denise. Pode ir.

— Obrigada.

A profissional em Tecnologia da Informação se levantou e, elegantemente, se retirou do local. Louise e seu escrivão fez o mesmo logo depois.

No corredor da Delegacia, a inspetora ouviu a voz de Paula a lhe chamar.

— Inspetora! — Ela dizia, caminhando em passos mais rápidos na direção de Louise com uma caixa de madeira em mãos — Acabou o interrogatório com a Denise?

— Sim. Por quê?

— Acho que vai querer ver o que tem dentro disso — Ela falou levantando o queixo como se apontasse para o objeto em suas mãos.

Delicadamente, a mulher levantou a tampa do material e arqueou as sobrancelhas quando avistou, embalado de plásticos protetores, um smartphone de última geração.

Uma etiqueta acima indicava de quem era seu dono: Leonardo Chantre.

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