20: Sete Vidas
Só nos últimos cinco meses
Eu já morri umas quatro vezes
Ainda me restam três vidas pra gastar
- Pitty -
♫
11h22m
— Então... — Astrid pôs o dedo indicador sobre os lábios, sentada à mesa, com um olhar distraído — Rayane sabe de mais coisa do que imaginávamos!
— E você, Joaquim? — Vinícius franziu a testa e encarou o presidiário — Sabia disso também?
— O quê? Que o Henrique me apresentou a Rayane porque ela pediu? Sim, mas não sabia que ela tava fazendo chantagem com ele.
— Não. Sobre a possibilidade do Henrique se sentir atraído por homens.
— Rapaz... — Ele olhou para a direita, tentando raciocinar — Não me lembro de nenhuma vez ele ter ficado com homem nenhum não. Só com a Andressa.
— Seria mais uma mentira da Rayane? — O estudante de Direito cruzou os braços e manteve pensando.
— Acho que não. A Rayane falou, mas a Nicole viu o histórico do Henrique. Ele assistia mesmo pornô gay com frequência — Astrid falou — Apesar de isso não ser suficiente para determinarmos a verdadeira sexualidade dele. Se é que isso importa aqui...
— Ah, mas... — Joaquim pensava, também tentando ajudar os dois nessa questão — Sei lá, vai... Ele ficava com a Andressa e, bem... Nem dava pinta. Será mesmo?
— "Dar pinta" — Astrid falou, com o sinal de aspas — Não significa nada. Você pode muito bem falar como uma drag queen e, ainda assim, sentir atração por mulheres. E o contrário também.
Joaquim assentiu e os três ficaram em silêncio por alguns minutos.
— Kim, sobre o caso da Mariana agora — Vinícius falou — Preciso que me conte o que aconteceu na quinta-feira!
O rapaz respirou fundo antes de contar a sua versão da história. Comprimiu os lábios e vasculhou, em sua memória, todos os detalhes importantes.
— Na verdade, eu não dormi em casa no dia. Eu estava na casa, digo... Na igreja da pastora Rosa.
— A pastora? O que fazia lá?
— Então... Tá ligada quando eu fui lá na ONG? — Questionou, e ela fez que sim com a cabeça — Então, ela anotou lá meu endereço. Perguntou umas coisas. E na quarta ela foi na minha casa. Disse que tinha uma programação legal lá pra jovens como eu na igreja e tal...
— Sim! O culto de vigília! — Astrid disse — Eu só não fui porque tinha faculdade no dia seguinte. Mas eu queria muito ir. Nossa, já tava pra acontecer esse culto há muito tempo...
— O que rolou no culto? — Vinícius, com uma sobrancelha levantada, perguntou.
— Ah, mano, foi massa! A gente assistiu uns filmes, ela falou sobre Deus, sobre amor, umas paradas assim... Daí a gente teve um lanche, eu conheci a galera, teve uns louvores... Eu já tinha ido a uns troço desse antigamente, mas nunca gostei.
— Nossa! Que coisa boa, Kim! — Astrid não deixou de escapar um sorriso — Não imaginava que você mesmo fosse lá pro culto.
— Então... — Ele inclinou a cabeça e deu uma risada — Na verdade, foi ela quem me visitou lá em casa.
— A cara dela — Astrid riu.
— Ela chegou de manhã e me convenceu a ir lá e, bem... Daí eu fui, né.
— E então?
— A gente acabou dormindo por lá mesmo. Acordei lá pras seis da manhã. A pastora usou um aplicativo pra me deixar em casa. Quando eu cheguei, bem... Lá estava ela.
O rapaz contou aos dois, com detalhes, sobre tudo o que ocorreu naquela manhã. Principalmente a violência excessiva utilizada por Daniela com a certeza de que ele realmente era o assassino.
— Meu Deus! — Astrid pôs as mãos na boca — Que monstra!
— Eu ainda não tô acreditando nisso, mano! — Vinícius bateu na mesa de leve, visivelmente irritado — Como ela teve coragem?
— Eu nunca me senti tão na merda quanto naquele dia... — Os olhos de Joaquim começavam a querer lacrimejar, mas ele se esforçava para não deixar descer nenhuma lágrima.
— Kim, fica tranquilo! A gente vai te tirar daqui! — Astrid afirmou.
— Como? Tem provas contra mim.
— Você tem um álibi! A igreja! Você esteve na igreja o tempo todo. Não tem como estar em dois lugares ao mesmo tempo! — Ela disse, enfática, quando depois semicerrou os olhos e o perguntou — Você esteve lá durante o tempo todo, né?
— Estive.
— Então pronto!
— Como vão acreditar? Não tem câmeras?
— A gente pode usar o testemunho das pessoas que lá estavam, Kim! Eles vão dizer que você estava lá e...
— Astrid! — Vinícius pegou na mão dela, interrompendo-a. Joaquim estava profundamente emocionado com tudo aquilo. Uma lágrima caiu.
— Ela... — Joaquim começou, cabisbaixo — Ela disse que, se depender dela, eu vou morrer aqui. Que eu ia pagar por tudo... Por um assassinato que não cometi, pelas drogas... Tudo — Ele fez uma pausa e encarou os dois universitários — Ela pegou umas meia dúzia de provas contra mim e me prendeu! Por enquanto, tô esperando julgamento que nem data marcada tem! E convenhamos, Astrid... Olha pra mim! Sou preto, cabelo enrolado, favelado, drogado, condenado por outro crime... Quem vai botar fé que alguém como eu é inocente?
O coração dos três ficaram mais acelerados. Astrid não podia sentir o que era aquilo, mas podia imaginar. Usar a empatia que a mesma era dotada para se compadecer com aquela realidade que Joaquim e outros indivíduos passam por serem negros.
Joaquim errou, sim. Mas a cor de sua pele foi fator determinante para um tratamento diferenciado.
— Bom... Se é difícil demais convencer ao juiz de que você é inocente, tudo bem... — A loira suspirou — Sendo assim, a gente mostra quem é o assassino.
— Vai mesmo se envolver em dois casos o mesmo tempo?
— Vou!
— Eu também vou — Vinícius afirmou, encarando o rapaz com seriedade — Pode ter certeza, Joaquim, você não tá sozinho nessa!
Os olhos dele brilharam.
— Eu não tenho nem palavras pra agradecer...
— Não se preocupa com isso não — Astrid pôs a sua mão sobre a mão dele — A Mariana foi encontrada nos fundos da sua casa, né?
— Sim. Por quê?
— Porque a gente vai fazer uma visita lá.
♫
11h18m
— Andressa Bitencourt das Lages? — A detetive perguntou, lendo em voz alta o nome da moça a sua frente, com os olhos fixos no documento impresso a sua frente.
— Sim, senhora — A jovem magra dos cabelos platinados respondeu, sentando-se na mesma poltrona que Nicole e Alexandre outrora sentaram.
No mesmo instante sentiu o mesmo desconforto que eles.
— Como você está? — Ela perguntou, encarando os olhos azuis e vazios da cantora.
— Eu? — Seus lábios mantinham-se ligeiramente voltados para baixo — Destruída, é claro. Eu perdi minha mãe, meu amante e, agora... — Seus olhos começavam a ficar marejados — Meu bebê!
Louise comprimiu os lábios. Podia imaginar o sofrimento que aquela moça, tão jovem, sentia.
— Eu sinto muito mesmo — Ela falou, docilmente — Quando você ficou sabendo que estava grávida?
— Quinta. Lá pras sete da manhã... Teve o maior rolo lá em casa... Letícia querendo que eu abortasse, Daniela dizendo que era pra eu ter a criança... Mas aí me acontece isso e...
— Sua mãe sabia que você tava grávida?
— Não — respondeu, em um suspiro — Ainda bem. Porque do jeito dela, ela iria me fazer abortar. E eu, ai... É tão complicado!
— Sei bem... — Ela falou, apanhando a folha de papel que recebera mais cedo por Ulisses e mostrando para a interrogada — Este é o exame que foi feito durante essa madrugada com seu sangue. E confirmamos: misoprostol! A mesma substância, inclusive, que estava em forma de comprimido naquela cartela de remédios que você tomou.
Com as pálpebras bem abertas, Andressa fitou aquele papel em silêncio.
— Deus! — Ela exclamou — Como... Como isso foi parar aqui?
— Vamos recapitular aqui, Andressa. Você, primeiro, disse pro seu pai, pra Daniela e pra Letícia que estava grávida. Certo? — Perguntou, e ela assentiu — Daniela queria que você ficasse com o bebê e Letícia que abortasse. Certo? — Mais uma vez, a jovem confirmou com a cabeça — E o seu pai? O que ele disse a respeito?
— Bom... O meu pai, ele.... — A jovem passou os dedos entre seus cabelos, tentando se lembrar do que houve — Na verdade, ele foi bem de boa em relação a isso. Não me julgou nem nada. Ele quis que eu pensasse naquilo e me apoiaria e me confortaria na minha escolha.
— E você realmente queria ter essa criança?
— Olha, não vou dizer que sim. Eu queria, sim, ser mãe. Mas não agora! Não do Henry! Mas, quando pensei na possibilidade de abortar eu... Eu não consegui! Eu ia ficar com um trauma enorme!
— Pois é. Muitas mulheres que abortam costumam ficar traumatizadas... — Ela comentava — Apesar de que, a outra opção também as deixa bastante inseguras.
— Exato! — Ela exclamou — Eu não tava segura pra ter o bebê também. Senhora policial, olha pra mim! Eu não tenho estruturas psicológicas pra ser mãe!
— Nunca passei por essa situação, querida. Não posso te julgar pelo pouco que te conheço, mas realmente para criar um filho precisa de muita maturidade.
— Sim. E no fim... Eu percebi que eu tinha duas opções que não me agradavam! Mesmo assim, quis manter a gravidez. Pelo menos até eu pensar melhor sobre o assunto. Eu ia arrumar a maturidade de um jeito ou de outro. E você sabe como essa questão é delicada, né? Morreria de medo de sofrer algo nessas clínicas... Como o que sofri ontem.
— Quando contou isso pra Letícia, o que ela achou?
— Ela foi contra, mesmo assim. Aquilo me desanimou bastante... Poxa, se eu tivesse mesmo essa criança, será que a Letícia se afastaria mesmo de mim? Será que ela não amaria meu filho? — Ela fez uma pausa e, então, continuou — Mas depois ela aceitou. Ficou de boa, pelo menos. Mas toda a oportunidade que tinha pra me convencer de abortar ela usava.
— Acha que ela poderia ter falsificado o remédio?
— Eu não sei! — Mais uma lágrima caiu de seu olho — Quer dizer, talvez. Acho que não. Ela não iria tão longe... Letícia não é má.
— Mas é egoísta?
— Acho que... Um pouco. Quando a gente começou a namorar, senhora, eu tava apaixonada demais por ela. A gente se entendia e tudo mais... Daí ela começou a ficar muito em cima de mim. Ela nunca me ofendeu ou me fez querer me sentir inferior nem nada. Mas me incomodava a insistência dela em querer saber com quem eu tava conversando ou toda aquela insegurança e tal...
— E quem mais sabia da sua gravidez?
— O Henrique. Eu contei pra ele no mesmo dia.
— E como ele reagiu?
— Ele... Bem...
Em um instante, as lembranças daquele momento voltaram para a mente da jovem. Da conversa que tiveram pelo celular.
♫
— Grávida? — O rapaz perguntou, com a respiração ofegante.
— É, Henrique! Eu estou! — A jovem disse, aos prantos.
— Eu tô... Surpreso, eu acho. Eu vou, é...
— Não, Henrique! Não precisa fazer nada! — Ela gritou, exaltada — Pode deixar que eu cuido dessa criança.
— Quê? Não! Você não precisa! Eu vou estar junto nisso!
— Junto? Dispenso, Henrique! Dispenso! Só te liguei porque... Ah, sei lá! Porque sou trouxa, não sei... Pra você saber mesmo!
— Espera, eu vou aí. Eu...
— Henrique, se você vir aqui, eu chamo a polícia! — Ela ameaçou.
— Dêssa, por favor... Por que tá assim? Por...
— Me deixa em paz, viu? Olha, as pessoas já me falavam que você não prestava. Eu via seus amigos. Sua turma... Tua obsessão por álcool... Uma hora isso ia acontecer de você me magoar.
— Dêssa, eu não divulguei aquele vídeo...
— Não se faça de sonso, Henrique! Eu vi a tua postagem! Eu vi aquele teu amigo lá... Ele fazendo comentários escrotos de mim!
— Por favor, amor... Eu... — Pela voz que ele usava no telefone, estava chorando — Me dê essa oportunidade de melhorar. Eu vou abandonar a bebida. Eu vou parar...
— Henrique, o que era pra eu ter feito, eu fiz. Agora, lide com essa informação e nunca mais olhe na minha cara! Tchau!
E, assim, desligou o celular.
♫
Após narrar a conversa para a investigadora, a cantora chorou com ainda mais intensidade.
— Os outros sabiam que você tinha contado pra ele?
— Não.
— E você terminou com ele só por causa do vídeo mesmo? — Ela perguntou, com os braços cruzados — Ou teve algum outro motivo?
— Foi uma série de fatores... Acho que me deixei levar demais pelas palavras da Letícia e da Daniela.
— O que elas diziam?
— Que ele era um alcóolatra. Que só queria se aproveitar de mim... Que me magoaria...
— E elas falavam a verdade?
— Em partes... Ele realmente tinha problemas com álcool. Ele tinha amizades bastante perigosas também. A forma como aquele amigo dele lá falou de mim foi tão... Nojento! Mas por outro lado, eu sinto que ele me amava.
— Você conheceu ele em um momento de crise. Tem características em comum. Ele estava doente e você chegou meio como um alívio pra ele. E ele, pra você, que também enfrentava dificuldades na família e com sua namorada. Estou errada? — Ela disse que não — Vocês estavam apaixonados.
— Estávamos sim. Mas... É uma contradição tão grande que...
— Querida, ele não filmou nem divulgou aquele vídeo.
As pálpebras de Andressa se abriram por completo ao mesmo tempo que suas sobrancelhas se ergueram.
— Mesmo?
— Sim. Ele teve sua conta hackeada pela irmã — Louise falou, lembrando-se da informação que acabara de receber de Astrid — A mais nova, Rayane, que postou o vídeo.
— Coitado — ela resmungou, tristonha, sem fazer esforço algum para as lágrimas deixarem de cair de seus olhos — Fui tão injusta.
— Ele estava claramente com depressão, mas não foi apenas o término do seu namoro que fizeram isso — Ela fez uma pausa e pegou mais alguns papéis que tinha em mãos — Andressa, me conte tudo o que fez na noite de ontem.
A moça suspirou. Fechou os olhos por um tempo. Refez seus passos na mente e, por fim, abriu as pálpebras.
— Era umas seis e meia da noite, se não me engano, quando eu entrei no carro pra ir. Daniela foi dirigindo. Eu, Letícia e meu pai viemos de carona. Eu e o resto do pessoal do reality estávamos ainda decidindo qual música cantaríamos juntos lá na frente e tal... Cheguei era quase sete horas lá. Fui logo recebida pelo Alexandre, que cumprimentou a mim e aos outros. A gente já tinha uma mesa reservada, então apenas fomos sentar — ela deu uma pausa, tentando se lembrar do resto — Não deu cinco minutos e já veio jornalista me chamando pra tirar foto e responder perguntas.
— Fã? Teve algum?
— Só uma moça apareceu pra tirar foto comigo, diferente de duas semanas atrás, por exemplo. Que eu não podia parar quieta na rua.
— Ok. Continue...
— Quando deu sete e trinta, se não me engano, a Ana Laura me chamou para subirmos ao camarim. Os maquiadores iriam fazer os últimos retoques na nossa maquiagem e iríamos fazer um briefing.
— O Henrique estava te procurando nesse tempo. Ele chegou a falar com você?
— Só na hora que a gente se encontrou. Tiramos uma foto nós quatro e uns membros da equipe e subimos. Os maquiadores fizeram um trabalho show em trinta minutos conosco. Henrique estava junto, mas a gente se tratava como se a gente não conhecesse. Conversamos sobre a sensação que era fazer esse trabalho e cantarolamos alguma coisa. Às oito e vinte, eu desci de volta para a minha mesa.
— Letícia, Daniela ou Iago não te perguntaram nada?
— Os três estavam na mesa quando eu cheguei. Só Letícia falou da minha maquiagem. Disse que estava ótima e me deu um beijo.
— Sei...
— Daí o mal estar começou. Eu saí da mesa vinte minutos depois. Lá pras nove horas.
— Tá bem. Antes de você chegar a mesa, você viu o Henrique. Certo?
— Vi sim.
— E ele usava essas roupas? — Louise perguntou, apresentando a ela uma foto das roupas molhadas encontradas dentro da banheira.
— Sim! São as roupas dele!
— Ótimo. E como ele estava? Tinha algo estranho?
— Eu sou suspeita pra falar, senhora policial — Ela passou as mãos pelo cabelo — Eu sempre senti uma sensação incomum quando estou perto do Henry. Mas como eu tava tentando evitá-lo, tentei não repará-lo. Desde que a gente se conheceu ele sempre foi meio caladão e pra baixo, então não notei nada de diferente.
— Sei bem... E ele desceu junto contigo?
— Ai... Complicado. Eu fui na frente. Nem cheguei a vê-lo. Nem olhei pra trás porque...
— Tudo bem. Eu entendi — Ela deu uma pausa e voltou a fitar a jovem — E então, você começou a sentir o incômodo e...
— Na verdade, eu já estava meio desconfortável antes, mas quando eu sentei na cadeira, o negócio piorou. Percebi que estava sangrando e corri pro banheiro. E não saí de lá até me encontrarem...
— Mais alguém estava com você no banheiro?
— Não. Só até a hora que uma senhora apareceu, isso lá para as nove e quarenta da noite, pouco antes da Nicole dizer "não" e aquele reboliço todo que aconteceu... Ela chamou a enfermeira, que me conduziu pra enfermaria.
— E lá permaneceu durante todo o tempo?
— Sim.
— E Letícia e seu pai? Quando foram te ver?
— Logo depois que fui pra enfermaria, já devia ser umas dez horas, eles foram informados de que eu tava passando mal. E foram até lá.
— E a Daniela?
— Ela veio um pouco depois. Mas depois voltou porque tinha que chamar a polícia e tal. Foi quando o pessoal viu o corpo do Henry...
Louise respirou fundo e semicerrou os olhos. Não era possível que aquele crime teria sido tão perfeito a ponto de não deixar brechas. E a mensagem de Henrique encontrada com Vinícius e com Letícia? O que Andressa poderia ter a ver com aquilo?
— Henrique chegou a se comunicar com você sozinho?
— Sozinho não. Sempre tinha a equipe do programa com a gente. E eu bloqueei ele no meu celular.
— E você tem algum palpite de quem poderia ser o assassino dele?
— Sinceramente, senhora, não. Não faço ideia.
— Nem tem percebido ele ficar mais... Estranho? Ou feito coisas diferentes nos últimos dias?
— Bom... — Ela coçou a cabeça — Na quarta-feira, eu vi que ele tava junto com o João, o apresentador. E ontem ele parecia um pouco mais colado na Ana Laura também.
— Sobre essa festa que ocorreu na noite do falecimento da sua mãe... O que aconteceu?
— Eu já tava brigada com o Henry. Só fui também porque era meio que obrigatório para os cantores se promoverem e tal. Todo mundo tava lá, inclusive ele. Pra falar a verdade, naquele dia ele parecia estar bem alegre... Talvez por causa da bebida.
— E o João? Como ele tava?
— Ah, ele tava de boa também. Pelo menos, não lembro de nada demais não.
— Não notou nenhuma... Aproximação mais íntima entre os dois?
— Espera, tipo... Beijos? Coisas do tipo?
— Exatamente.
— Ah, não! Não que eu saiba.
— E a sua mãe? — Louise coçou o queixo — Conte sobre como foi essa noite.
— Eu fui com ela e a Letícia. Nem ficamos lá por muito tempo. Tirei umas fotos com alguns fãs, falei com algumas pessoas, bebi e comi um pouco... Até que encheu o saco. Afinal, eu estava cheia de dor de cabeça e com algumas náuseas. O Alexandre chegou todo afobado pra cima da gente e aí a gente decidiu voltar.
— O Alexandre fez o quê?
— Ah, ele foi cumprimentar a gente e beijou a mão da Letícia. E não queria tirar uma foto comigo porque, né... Eu tava meio que mal falada já.
— Ok. Continue.
— Daí a gente rodou a festa inteira pra achar minha mãe. Ela tava dentro da casa do Leonardo, que era o diretor do programa e o cara que organizou o evento. A gente pediu pra ela nos levar de volta pra casa, que não era muito distante do apartamento da Daniela. Cerca de uns vinte minutos. Ela aceitou, mas voltou logo em seguida usando um aplicativo. Afinal, estava bêbada demais. Nem sei se chegou a pisar de novo naquele lugar...
— Iago e Daniela saíram naquele dia?
— Que eu saiba, a Daniela ficou no seu apartamento e meu pai na casa que tava alugando.
— E você realmente acha que quem matou sua mãe foi o rapaz que, hoje, tá preso?
— É... — Ela moveu suas pupilas para cima — Acho que sim, ué. Não estão investigando o caso?
— Então você me diz que não possui nenhum envolvimento com o assassinato de Henrique, nem com o de Mariana, não sabia sobre seu aborto e muito menos que Leonardo sofreu um acidente ontem?
— Leonardo sofreu? — Ela arregalou os olhos.
— Sim. Mas isso ainda será apurado... — Ela respondeu — Mas, voltando a minha pergunta. Você tá envolvida ou sabe de alguma coisa que possa ajudar na investigação?
— Não. Não estou envolvida. E, infelizmente, não posso ajudar.
— Sendo assim, Andressa, está dispensada.
A cantora se levantou, ainda com o rosto úmido devido as lágrimas. Virou seu corpo e se retirou de lá.
— E aí? — O escrivão perguntou para a detetive, assim que a suspeita deixou o recinto.
— É possível que ela esteja envolvida, de certa forma, com cada um dos crimes, mas não poder nos dar mais nenhuma informação...
— Talvez ela sabe, mas acha que não é relevante...
— Pode ser. Mas eu ainda manterei contato com ela.
— E sobre o aborto? Será que ela realmente não saberia? Porque se ela não soubesse, isso poderia significar que...
— Eu sei disso. Mas não dá pra afirmar nada. Ela disse de madrugada, na enfermaria, que a Letícia comprou pra ela na farmácia. A gente pode ver no código de barras se isso procede e verificar as câmeras da farmácia. Mas qualquer um que esteve com as duas de terça até ontem poderia ter sabotado os remédios e entregado para a Andressa.
— Ela poderia estar fazendo isso pra nos atrasar! Ir atrás de detalhes que não nos importam!
— Ficaremos o tempo que for precisar. Não aceitarei que esse caso não seja solucionado como outros são por aí. Henrique não poderá ter sua morte esquecida. E digo mais! Também não vou deixar que Daniela prenda um garoto negro por homicídio sem provas concretas — Ela se levantou também e se dirigiu a porta.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro