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2: Mundo louco

- ALERTA DE GATILHO –

Esse capítulo possui cenas de pensamentos depressivos e suicidas.

E eu acho meio engraçado

Eu acho meio triste

Os sonhos nos quais estou morrendo

São os melhores que já tive

Eu acho difícil te dizer

Eu acho difícil de aceitar

Quando as pessoas andam em círculos

É muito, muito

Mundo louco

Mundo louco

- Gary Jules -

26 de novembro de 2018, 7 meses e 24 dias para O Dia

É a tristeza que toma conta

Ó, mas os anjos não pensam

Em te devolver para cá

Mas eles não se zangariam

Se eu pensasse em me juntar?

(...)

Andressa Bittencourt analisava atentamente a estrofe que acabara de compor para sua música mais recente. Com seus dedos finos e delicados, ela levantou o pedaço de papel de cima da mesa e inclinou a cabeça. Em sua mente, ficou imaginando aquela letra junto com a melodia.

— Está perfeita!

— Deixa eu ver como ficou! — A outra garota, que estava sentada sobre sua cama, levantou-se e, apressadamente, pegou a folha que estava nas mãos da jovem, que cedeu sem reclamar.

Letícia se sentou com certa euforia na cama novamente, cruzou as pernas e pôs o papel na sua frente, para que iniciasse sua leitura. Vez ou outra, teve que tirar os fios de cabelo cacheados da frente de seu rosto que, vez ou outra, atrapalhavam sua visão.

Andressa, ainda sobre sua cadeira acolchoada na frente de sua escrivaninha, esperava ansiosa algum comentário da outra jovem. Pôs seus braços sobre o encosto da cadeira e a observava.

Após ler toda a música, Letícia abaixou o papel e, lentamente, fitou os olhos azuis de sua namorada que combinavam com a pele branca dela. Os olhos negros de Letícia se arregalaram e a mandíbula desta havia caído um pouco.

Engoliu em seco, pensando nas melhores palavras para dizer.

— Dêssa... É meio forte, não acha? "Me juntar"... Seria o quê? Morrer junto? — Ela questionou, levantando apenas a sobrancelha esquerda. Olhou novamente o papel, para se certificar se falara corretamente.

A garota deu um sorriso frouxo e passou a mão nos seus cabelos lisos e platinados que iam até o ombro.

— Se despertei emoções, então eu fiz certo! Se não for pra emocionar meu público, eu nem escrevo nada — Ela disse, gabando-se de mais uma obra sua — Eu só espero conseguir terminar até o concurso. Quem sabe, assim, consigo ter mais alguns inscritos no Youtube?

— É em janeiro a primeira etapa, né? — A menina negra perguntou, curiosa.

— Em janeiro é a etapa zero, digamos assim. Eles abrem o concurso, o participante se inscreve, a gente tem umas audições com eles em algum polo da emissora, eles selecionam os melhores, daí esses vão participar do programa, onde a sede é no Rio de Janeiro!

— Hum... — Ela ficou pensativa, levando o dedo indicador no queixo — E seu pai já sabe disso?

A cantora revirou os olhos imediatamente e observou a porta de madeira atrás de si.

— Não! Estou esperando o melhor momento...

— Melhor momento? Tá de brincadeira, né? Eu tenho certeza que ele não vai querer deixar a filhinha queridinha dele sair pra outra cidade — Ela falou, gargalhando logo em seguida, em tom de brincadeira.

— Ai, meu pai é um porre, sabe? — Ela bufou, pondo a mão no rosto — Não me deixa fazer nada. Que merda! Eu tenho dezenove anos! Sei muito bem cuidar da minha vida! Ele acha o quê? Que vou sair e voltar grávida, drogada e com uma dívida de cem mil reais? Por favor, né...

— Uai! Ele é teu pai, né? Ainda acha que tu é a princesinha dele... — Ela disse, depois de gargalhar com os exemplos da outra — Parece que o povo vira besta depois que tem filho. Deus me denfenderay!

A compositora deu mais uma risada, mas logo se recompôs.

— Ah, eu gostaria de ser mãe um dia... Você não? — Ela falou, comprimindo os lábios.

— Esse desgosto eu não terei, Dêssa! Será que não percebe que a sociedade que prega que nós todas temos que ter o sonho de sermos mães? É uma imposição! E tá cheio de criança no orfanato.

— Ah, mas independentemente disso, eu gostaria... Faria diferente do que minha mãe fez comigo. Não falo com ela há anos!

— Já estou até vendo! Andressa Bittencourt: bela, recatada e do lar. Mamãe do ano e dona de casa — Ela gesticulava com as mãos e falava eufórica, em tom de brincadeira, apesar de a loira não ter achado a menor graça — Ai, sinto até ânsia disso!

— Ué, Letícia? Não somos livres para escolher fazer o que quiser?

— Ai, Andressa! Chega! — Ela já começava a se irritar com o assunto, levantou-se da cama e deixou o papel com a letra da música em cima do travesseiro — Eu amo muito você, mas tu tem que sair da caixinha às vezes — Ela se aproximou da jovem e a olhou no fundo dos olhos — Vamo fazer o seguinte: eu e você vamos, juntas, pro Rio. Tá bem?

— Tenho que falar com meu pai primeiro e...

— Esquece o seu pai! — Ela exclamou, franzindo o cenho — Se inscreve nessa merda logo. A gente vai pro polo que eles tem aqui em BH. Se você for selecionada, a gente dá um jeito de ir pro Rio!

15 de janeiro de 2019, 6 meses e 5 dias para O Dia

As ruas da cidade de Belo Horizonte estavam bem agitadas naquela manhã de terça-feira mesmo com a maioria das pessoas de férias. Por isso, o carro que transportava Mariana Madalena demorara o dobro do tempo estimado para chegar em seu destino.

— Pode me deixar aqui, por favor! — Ela solicitou, educadamente, ao motorista do aplicativo, que atendeu ao pedido da mulher e estacionou no local. A conta foi paga e ela abriu a porta do carro.

Mariana podia, finalmente, respirar o ar livre das ruas. Como aquilo era bom para ela. Depois de tanto tempo, conseguiu a sua tão esperada liberdade. Agora, sentia-se pronta para encarar mais um desafio.

Observou a casa murada a sua frente. Era um domicílio simples, de dois andares, mas pequeno.

A mulher de cinquenta e três anos empinou seu nariz e se encheu de pensamentos nobres. Tirou de seu vestido preto um óculos escuro e o colocou por cima do nariz extremamente pálido e arrebitado.

Deu cinco passos até o portão e tocou a campainha.

Dois minutos depois, Iago Bittencourt abriu a porta com a expressão de quem acabara de ver um morto sair de seu túmulo

— Sentiu saudades, bebê? — Ela disse, esboçando um sorriso largo de orelha a orelha.

— Era pra você estar na cadeia de onde nunca devia ter saído! — Exclamou, tomando o devido cuidado de não chamar atenção.

— A madame pode ficar sossegada que não venho aqui falar com você — Ela anunciou, em tom de deboche, retirando seus óculos e exibindo seus olhos cor de mel — Onde está a minha filha?

— Ela é minha filha. E não sua. Entendeu? — Ele esbravejou, abaixando a sobrancelha, de forma que criara rugas entre elas.

— Amore, se em quatro anos de regime fechado eu não coloquei esse trem na minha cabeça, não vai ser você que vai botar, não é mesmo? — Ela falou, dando uma gargalhada histérica. Logo depois, recompôs sua postura. Esticou o pescoço e o observou com um olhar sério — Você sabe muito bem que é direito meu ver a Andressa.

Iago respirou fundo. Fechou seus olhos lentamente e depois encarou a mulher com o semblante sério.

— Você é louca! — Ele esbravejou, com o rosto já avermelhado de raiva.

Mariana suspirou e cruzou os braços.

— E você é uma anta. Uma besta. Uma porta é mais inteligente que você. Você é um corno de merda que não consegue entrar em casa sem arranhar o teto! — Ela disse, com deboche — Agora, dá licença que eu quero falar com a minha filha.

Ele engoliu a seco. De repente, as lembranças sofridas de anos atrás vieram em sua mente, desestabilizando-o um pouco. No entanto, tentou não transparecer isso para aquela mulher que o atormentava.

— Você não vai falar nada com ela! — Ele exclamou.

— Ah, não? E quem vai me impedir? — Ela disse, confiante, inclinando seu tronco para ele — Você e mais qual exército?

— Chega, Mariana! — Iago gritou, exaltado, recuando seu corpo e convicto em fechar o portão — Arreda daqui!

A porta foi batida bem próxima do rosto de Mariana. Por pouco ela não se machucou com aquilo. O barulho foi estrondoso.

Iago permaneceu lá. Sua respiração estava ofegante. Seus olhos estavam fixos no portão onde, do outro lado, Mariana persistia resmungando.

"Estava bom demais até ela voltar" Pensou.

Demorou alguns segundos até ela dar meia volta, e partir. Nisso, ele também fez o mesmo, mas quando se virou, percebeu que não estava sozinho.

Sua filha, Andressa, ouvira tudo. Com a mandíbula caída, ela não sabia o que fazer.

— Pai... — Ela disse, por fim, comprimindo os lábios — Minha mãe está aí? Ela voltou?

Ele respirou fundo e suspirou. Teria que contar a verdade.

"Merda"

— Sim, minha filha. Mas eu não deixei que ela entrasse aqui. Não quero que ela fale contigo. Não quero que ela chegue perto de você! Ela é perigosa, é má, é... — Ele começava a gaguejar enquanto procurava argumentos para justificar sua atitude.

— Pai, quando você vai entender que sou plenamente capaz de me proteger de gente ruim? — Ela reclamou, abaixando as sobrancelhas.

— Desculpe, é que... Você sabe... É a minha única filha, e... — Ele inclinou a cabeça. Seu coração batia forte. Apertado. Comprimiu os lábios.

— Não importa, pai! — Ela bufou, fazendo um bico com os lábios e andando até o portão — Eu sou grandinha demais para esse tipo de coisa!

Abriu o portão e, para a surpresa de Iago, Mariana ainda estava lá, com os braços cruzados. Quando viu a filha, logo esboçou um largo sorriso.

— E então... Como está a minha futura vencedora do Estrela do Rock? — Ela disse, piscando para a garota, que não demonstrou alegria com o aparecimento de sua progenitora.

20 de janeiro de 2019, 6 meses para O Dia

Um homem esguio de pele branca, pálida e cabelos castanhos, penteados em um topete, andava com o peito estufado, queixo erguido e postura elegante pelas dependências daquele estúdio da Rede Lins em Belo Horizonte. Vestia roupas escuras e um sapato de couro.

Em sua face, estampava seu humor positivo naquele dia. Por onde andava, era notado pelas pessoas ao seu redor, e ele percebia isso.

Leonardo Chantre estava com trinta e sete anos. Todavia, possuía a mesma disposição, energia e ânimo de quando tinha acabado de atingir a maioridade.

Era ele o diretor chefe do mais recente programa musical da emissora que trabalhava. Era ele o responsável por fazer o Estrela do Rock acontecer.

Aquele lugar parecia um labirinto para quem não o conhecia de verdade, o que não era o caso dele. Leonardo abriu uma porta dupla abruptamente, fazendo bastante barulho, conseguindo a atenção de praticamente todos que ali estavam.

Um grupo de, aproximadamente, cinquenta pessoas de diversas idades, se virou para ele. Todos estavam identificados com um crachá em estampado por um número que ocupava quase toda a área. Era um auditório espaçoso, com cadeiras acolchoadas onde cada um dos candidatos e acompanhantes esperavam pela hora dos testes. Logo na frente, existiam uma plataforma elevada.

— Bom dia, diretor! — Ele ouviu a voz de uma mulher conhecida por ele vindo da sua direita e logo virou seus olhos para lá.

Ela parecia ser um pouco mais velha que ele. Possuía um corpo desproporcionalmente atlético, quase sem gordura nenhuma. Seus peitos eram pequenos, quase inexistentes, porém, seu tórax era inchado. Seu rosto possuía traços marcantes. Boca larga, nariz grande, maçã do rosto bastante destacada e queixo protuberante.

Ela trajava um vestido roxo, discreto, com mangas até os punhos. Seu cabelo preto escondia parte da sua testa oleosa com uma franja e suas pontas caíam até os mamilos.

Sua maquiagem chegava a ser exagerada, mas preferia assim. Não queria que sua aparência escandalizasse o público que, posteriormente, participaria da seleção para o programa. Tentava, a qualquer custo, disfarçar seus traços e parecer mais feminina.

— Denise! — Leonardo exclamou, abrindo um largo sorriso e a envolvendo em um abraço apertado e demorado enquanto continuava com os elogios a sua amiga de longa data — Quanto tempo! Faz o quê? Duas semanas? Já te falei que você é a pessoa mais maravilhosa desse universo?

— Não é pra tanto, meu amigo! — Ela falou, após o abraço ser desfeito, ainda sorridente e com os olhos brilhando para o homem a sua frente — Como eu sei que não posso te deixar sozinho, tive que vir!

Os dois gargalharam logo em seguida. Em instantes, eles deixaram de ser o centro das atenções e os participantes, sentados em suas cadeiras, ansiosos para os testes, voltaram-se para seus pensamentos.

— E aí? Como é que você está? O que fez esses dias? Tá fazendo algo novo? — Ele perguntou, com as mãos na cintura. Estava eufórico, como se não coubesse tanta energia em seu corpo.

— Ah, eu vou bem. E nosso sistema de comunicação também. Deixei a Nicole, minha estagiária, lá na sede sob os olhos do Sérgio. Mas acho que vai dar tudo certo! — Ela disse, com um sorriso largo.

Era incrível como a alegria e o otimismo de Leonardo podia contagiar o ambiente, tornando-o muito mais leve e agradável para os desconhecidos.

Os que o conheciam, no entanto, engoliam a seco, preocupados com o que aconteceria a seguir.

Léo deu uma risada escandalosa. Ele era cerca de trinta centímetros mais alto que Denise, mas com seu braço esquerdo, envolveu o ombro da mulher e, abraçados de lado, foram andando e conversando pelas dependências do auditório.

Ele se empolgava na conversa. Denise já estava acostumada, mas a maioria das pessoas que estivessem no lugar dela não entenderia o que ele dizia devido a rapidez que pronunciava aquelas palavras.

— Mas eu não tô falando do trabalho, amorzão! Eu sei que tá tudo maravilhoso! Já contei a ideia incrível que eu tive? Eu vou colocar uma estrela enorme de cristal no meio do palco! Ela vai iluminar e vai deixar tudo muito bonito! Também falei com os jurados pra fazerem um show de abertura do programa em que tudo roupa deles vai brilhar no refrão. Quero também um grande investimento com luzes e uma câmera lá no alto que se mova e pegue a plateia. E um drone! Tenho que arrumar um drone! Você vai ver, Denise! Tudo isso vai criar uma identidade visual muito bacana pro programa! Em breve, vamos poder divulgar isso em tudo que é rede social e mídia!

A mulher ouvia tudo com atenção. Seu coração se enchia de orgulho e felicidade ao ver o amigo tão contente e empolgado. Mais empolgado do que o normal, até. Mas parecia estar bem. E isso, para ela, era o que importava.

— Ai, que genial, Léo! E você pode colocar aquele apresentador para falar com cada participante e organizar algo entre eles. Um piquenique, sei lá! — Ela disse, virando-se para ele com uma sobrancelha elevada.

Leonardo rondava os cantos do auditório com seus olhos castanhos bem arregalados e os lábios comprimidos. Instantes depois, fixou seu olhar em Denise.

— Mulher, tu é uma gênia! — Ele falou, apertando ainda mais o abraço e lhe dando um beijo caloroso na testa — Minha vontade era de dar um beijo nessa tua boca agora!

Ela imediatamente jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada histérica.

— Menos, Léo! Bem menos! — Ela falou e ambos voltaram a rir.

— Quer saber o que eu acho? — Ele falou, fingindo uma falsa seriedade.

— O quê? — Ela disse, ainda se recompondo da situação cômica de anteriormente.

— Que eu e você tínhamos que largar tudo e viver viajando o mundo num trailer! — Ele falou, imaginando aquela ideia insana que teve enquanto gesticulava com as mãos.

— Ficou louco, Léo? — Ela questionou — Já não basta aquela vez que comprou um ônibus de trezentos mil reais para viajar pros Estados Unidos e que precisou vender por oitenta já que ele quebrou e você não usou nenhuma vez !

— Ah, para! A ideia foi boa! — Ele ponderou — Semana passada eu fui até o shopping e comprei uma banheira de hidromassagem pra minha casa! Dezessete mil reais mais bem gastos da minha vida!

— Que isso, Léo! Você nem saiu da sua última dívida e já tá em outra? — Ela cruzou os braços e mudou seu tom para um tom mais repreensivo.

— Ah, pare de inveja! Se quiser ir pra lá tomar um banho também, beleza! Lembrando que eu estarei junto...

Apesar de, para alguns, aquilo soar ofensivo, Leonardo tinha intimidade suficiente com Denise para falar aquelas coisas.

— Ai, você não existe, Léo! Dispenso esse convite — Ela falou e deu uma pausa para continuar com a risada — E como você teve essa ideia louca de luzes, estrela e drones? — Ela perguntou, acabando-se de rir. Deu um tapa de leve no peito dele

— Foi ontem, enquanto eu tava tocando minha terceira punheta do dia na banheira! — Ele respondeu prontamente e sem pudor algum.

Denise quase engasgou com a própria saliva ao ouvir a resposta.

— Ah, não creio! — Ela falou, sorrindo para ele.

— É sim! Eu até gravei, olha — Ele falou, apanhando o celular rapidamente e indo até a sua galeria de fotos e vídeos.

— Vira esse troço pra lá! — Ela disse, afastando o celular com as mãos. Mas ele permanecia insistente, de forma que não estava desagradável para ela.

— Ah, qual foi, ó! — Ele disse, sorrindo com a boca aberta.

— Não quero saber. Me dá isso aqui! — Ela disse e logo se soltou dos braços dele, pegando o celular da mão do homem e tomando para si. Ele tentou pegar de volta, mas ela, com a mão esquerda, encostou no peito de Léo, para afastá-lo, e, com a direita, ergueu os braços para trás, segurando o aparelho — Eu vou jogar isso aqui fora!

Lançou-lhe um olhar desafiador. Elevou as sobrancelhas e esboçou um sorriso em que o canto direito de seus lábios ficou mais para cima.

— Tem gente querendo trabalhar agora, tá? — Ela disse, apontando para as pessoas que esperavam pelos testes enquanto eles falavam alto. Esperou seu amigo se acalmar e, só então, devolveu o celular.

"Graças a Deus ele está bem" A mulher dizia para si mesma, em sua mente, dando um suspiro de alívio.

Leonardo suspirou e passou a mão em seu topete. Semicerrou os olhos.

— Aliás... O que falta para começar isso, hein? — Ele questionou, pondo as mãos na cintura e analisando aquele espaço amplo e jeitoso para seu objetivo.

Chegou a vez da garota dos cabelos platinados subir ao palco. Ela trajava um vestido azul claro que ganhou do pai no mês anterior. Não era nada muito luxuoso, mas era bonito. Sua face estava enfeitada com maquiagem que ressaltava suas expressões.

Subiu os degraus sem pressa. Tentava não demonstrar, mas seu coração batia cada vez mais acelerado e suas mãos suavam frio. Comprimiu os lábios assim que atingiu a parte mais alta do palco.

Era apenas ela, o microfone, um banco redondo de madeira sem encosto e um violão de cordas de aço utilizado por alguns dos participantes.

Ao chegar lá na frente, olhou para os quatro jurados que pareciam já julgá-la antes mesmo de ela cantar. Não eram os jurados que estariam no programa, mas precisava agradá-los.

Ergueu a cabeça. Sabia que precisava transmitir confiança. Apanhou o braço do instrumento e o colocou no colo. Seu olhar cruzou com o das duas mulheres lá no fundo do auditório, sentadas, também ansiosas para a apresentação da jovem.

Letícia Bertoti. A garota que conhecera na escola, que lhe ensinou muito sobre ativismo político. Ela que se mostrou ser uma das melhores companheiras que alguém poderia querer.

Mariana Madalena. A mulher que a gerou e a levou até aquele lugar contra a vontade de seu pai. Apesar dos ressentimentos, ela parecia querer fazer algo bom. Afinal, as pessoas podem se redimir. E qual a melhor forma de pedir desculpas se não fazendo o que ela fizera?

Iago não quis que ela participasse do concurso? Pois Mariana quis. Ela a levou, arcou com os custos e com a viagem que ela faria se fosse aprovada naquela fase do programa. Sem que o pai da jovem soubesse.

Qual era o problema dele, afinal? A garota já estava enojada das atitudes dele. Ela precisava de liberdade. De espaço. E ele não cedia isso. Ela não tinha escolha se não escolher ficar com sua mãe.

Era estranho... Até então, nunca tivera mãe. Ela sabia bem o que aconteceu quando nasceu. Sabia que, se ela fosse Iago, provavelmente nunca perdoaria Madalena.

Mas ela não era Iago. E ela precisava do apoio. Ou melhor, do sustento que Mariana concederia para a realização do sonho de Andressa.

Ela comprimiu bem as pálpebras e esqueceu aquele assunto. Não era importante para ela no momento. Precisava se concentrar na sua canção.

A canção que dedicara um bom tempo para escrever.

E ela queria subir no palco e impressionar. Conseguir a admiração do público. Arrancar gritos, suspiros e lágrimas. E aplausos.

Uma música triste e emocionante. Era o que ela precisava. Mexer com os corações alheios.

Aproximou seus lábios no microfone e iniciou a canção que ela mesmo compôs:

Domingo é sombrio

Minhas horas são insônes

Queridas são as sombras

Com as quais meus olhos se encantam

Ó, as pequenas flores brancas

Não irão te acordar

É a tristeza que toma conta

Ó, mas os anjos não pensariam

Em te devolver para cá

Mas eles não se zangariam

Se eu pensasse em me juntar?

Dos olhos de Leonardo, começaram a brotar lágrimas. Comprimia seus lábios e tremia suas mãos e pernas. Sentou-se na cadeira do fundo e refletiu naquela letra. Ao som da voz tão melodiosa daquela garota. Ela parecia dar vida àquela música.

Ela recebeu uma nota muito alta, obviamente. Foi aprovada, de imediato, para a próxima fase. As duas mulheres que a acompanhavam lhe abraçaram e lhe parabenizaram por aquela conquista. Andressa foi um grande sucesso!

Em alguns meses, estaria no Rio de Janeiro, onde apareceria para todo o Brasil em um dos realitys shows musicais mais famosos do país! Estava com um sorriso estampado de orelha a orelha.

Logo, ela se retirou dali e outro candidato foi se apresentar.

Leonardo, que ainda se mantinha sentado na cadeira, não conseguiu prestar atenção no que o rapaz fez no palco. Ficou aliviado por ele não ser responsável por avaliar os participantes, pois não teria estruturas para aquilo.

Sua cabeça começou a latejar. O choro se intensificou, mas ele não produzia som algum. As lágrimas começavam a ficar mais frequentes. Ele não poderia mais se controlar e esconder que ficou profundamente abalado. Precisava ir ao banheiro mais próximo imediatamente.

Deu um suspiro e se levantou.

Abriu a porta, dando de cara com Denise, que passava pelo corredor. Ela arregalou os olhos e deu um suspiro ao perceber a expressão do seu amigo.

"Não! Não! De novo não!" Ela respirou fundo e pensou que teria um longo trabalho pela frente.

Chegando no banheiro, o diretor girou a torneira e pegou o máximo de água que podia com as mãos e jogou em seu rosto. Apoiou-se na pia e olhou para o espelho.

Seus olhos castanhos transmitiam o vazio que tinha dentro de si. Era como se aquela música tivesse cutucado na enorme ferida deixada pela morte da pessoa que mais amou em sua vida, provocando uma profunda e intensa dor. Faziam quinze anos que sua amada morreu e, desde então, ele não se relacionou amorosamente com ninguém.

Mas ele não se importava com isso. Gostava de ter um relacionamento amoroso com alguém, mas não era primordial para ele.

Era muito diferente na época em que convivia com sua amada. Ela era como ele. Ambos se compreendiam. Era um período bom... Mas ficou no passado.

Por que ainda pensava naquilo?

Ele não tinha a resposta. Só sabia que, após ouvir aquela música, sua mente o transportou para uma série de momentos negativos que precisou enfrentar em sua vida.

— Desgraça... — Ele vociferava, encarando-se no espelho com fúria. Seu coração batia forte. Apertado. As lágrimas não cessavam.Ele não estava bem — Não dá! É só desgraça que acontece que... Ah!

Cerrou os punhos e bateu com tanta força na pia de granito que fez quebrar um pedaço. A dor foi aguda, mas ele não se importou. De alguma forma, aquilo o permitia desabafar.

Fechou a mão direita novamente e a jogou para atrás, buscando impulso para um novo golpe. Dessa vez, não era na pia. Com toda a força que tinha, socou o espelho, se partiu em vários pedaços.

Um estardalhaço poderia ser ouvido de longe, mas ele não se importava. Não havia ninguém ali próximo. Os cacos do espelho furaram sua mão e a região do golpe ficou manchada pelo seu sangue. Sua mão ardia de dor.

Mas aquela dor ainda não conseguia ser maior que a sua dor interna.

Precisava de mais um ato atentatório ao seu corpo. Olhou para o chão e avistou um pedaço pontiagudo do espelho que caiu no tamanho de seu dedo indicador.

Apanhou o objeto e o observou.

Lembrou-se da canção.

Mas eles não se zangariam

Se eu pensasse em me juntar?

Fechou os olhos e deu um suspiro, deixando mais uma lágrima cair.

Por que não me juntar a você, meu amor?

Posicionou a ponta do pedaço de espelho em seu pulso esquerdo. Ainda trêmulo, perfurava, devagar, seu pulso já ensanguentado com o golpe que dera anteriormente.

— Léo! — Ele ouviu a voz de Denise vindo da entrada do banheiro masculino e parou imediatamente o que estava fazendo.

Ela não se importou em estar em um banheiro impróprio para pessoas do seu gênero. Acolher seu amigo naquele estado era mais importante. Os olhos avermelhados dele de tanto chorar, as mãos ensanguentadas com o soco que deu no espelho e a expressão acabada, prestes a cortar os próprios pulsos, eram de causar muita angústia.

A mulher comprimiu seus lábios, entrelaçou os dedos e inclinou a cabeça. Suplicaria, se necessário fosse, para Leonardo não continuar com aquilo.

— Léo, por favor! Não faça isso! — Ela implorou, observando-o com desespero.

O diretor do programa fechou os olhos e suspirou. Voltou a chorar, mas largou o objeto em sua mão.

Ele não conteve uns gemidos acompanhados pelas lágrimas após ver sua amiga tão preocupada com ele.

De fato, ela precisava estar com ele.

Com as mãos, ele escondia o rosto. Envergonhava-se. Mas o que poderia fazer?

Denise se aproximou, caminhando até ele e oferecendo um abraço que logo foi dado. Eles ficaram por poucos segundos daquele jeito até as pernas de Leonardo enfraquecerem e seus joelhos caírem ao chão, mas mesmo assim permaneceu com os braços entrelaçados nos da mulher.

Ela também se agachou, com cuidado para não se machucar com os pedaços de espelho, e ficou sentada sobre sua perna.

Permaneceu por cerca de dez minutos ali. Com Leonardo chorando descontroladamente com a cabeça enterrada no seu colo. Ela correspondendo, acariciando seus cabelos lisos.

O que ela poderia fazer a não ser servir como ombro amigo? Um porto seguro para ele? Se ela não o fizesse, quem faria? Ele não tinha ninguém.

Leonardo possuía sérios problemas. E Denise se sentia a única capaz de ajudá-lo, enquanto todos os outros procuravam evitar o homem que, ora estava extremamente eufórico e contente, ora estava profundamente depressivo e abalado.

Não é qualquer um que aguentaria conviver com aquele ser totalmente instável. Mas Denise possuía a compaixão necessária para não permitir que seu chefe e amigo cometesse alguma loucura irreversível.

Seu único desejo era que ele se recuperasse de uma vez por todas.

Porém, como ela contribuiria para isso? Denise não era médica.

E Leonardo estava muito doente.

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