18: No Ar
Estive no ar
Com a cabeça fora do lugar
Preso em um momento de emoção
Que destruí
Isto que sinto é o fim?
No ar
Com a vida ferrada
Todas as regras que quebrei
Amores que sacrifiquei
Isto é o fim?
Thirty Seconds to Mars
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11h00m
Louise organizava os fatos conhecidos até o momento na sua cabeça. Haviam, ainda, muitas perguntas sem respostas. No entanto, ainda haveriam muitas pessoas para interrogar naquela manhã.
— Primeiro, então, Henrique era um bom moço. Cantava na igreja, estudava, teve seu carro, tinha amigos... Até entrar pro concurso e encontrar com Andressa.
— Na verdade, não — O escrivão a corrigiu — Foi quando ele reencontrou o Joaquim que tudo começou a dar ruim!
— Sim! Isso mesmo! — Ela exclamou — A partir daí, ele começou a abusar do álcool. Talvez até outras drogas. Mas só dá pra saber depois do resultado do exame...
— A situação se agravou, sim, com Andressa.
— É... Eles se envolveram mesmo — Ela disse — Até ocorrer o lance do vídeo.
— Já viu o vídeo?
— Já sim. Não sei exatamente onde ele foi gravado, mas parece que foi da janela. Em um local escondido. Não dá pra ver com nitidez a cara deles, pelo menos. Estava um pouco longe.
— Inspetora, e se esse vídeo, de alguma forma, conter alguma pista, ou se ele mesmo for uma prova do crime? Ou de alguma motivação?
— As possibilidades são grandes, mas eu já pensei nisso. Paula está, agora mesmo, encarregada em descobrir quem postou o vídeo, e se foi o próprio Henrique que gravou. E o porquê de ter feito isso.
— E sobre o assassinato da Mariana? Será mesmo que não existe relação com esse?
— Pode deixar, querido — Ela passava os dedos no queixo, como faz quem tem todo o controle da situação — Já tomei as providências em relação a isso.
♫
08h39m
— Certeza de que prefere assim?
Vinícius perguntou, assim que ele e sua amiga fecharam a porta do veículo, já dentro dele. Acabavam de sair de uma papelaria.
— Absoluta! — Astrid colocava seu cinto de segurança enquanto folheava as páginas que acabara de imprimir — Pode me chamar do que quiser, mas minha leitura é muito melhor com materiais físicos do que digitais.
— Sou um pouco assim também — Ele falou, dando uma risada e ligando o motor do carro — Lê pra mim, ok?
— Claro! — Ela assentiu. O automóvel mal tinha começado a se mover quando fez outra exclamação — Nossa, Víni! Eu nunca ia imaginar que dava pra eu encontrar, na internet mesmo, os dados do processo do Kim desse jeito... Incrível!
— Hum, e o que tem aí?
— Bom, aqui diz que o processo foi aberto na quinta-feira, dia dezoito, às oito e quarenta da manhã. Após a denúncia de um estudante chamado... Gustavo Zhang! — Seus olhos se arregalaram e se voltaram para Vinícius após pronunciar o nome do rapaz — Não é aquele cara que escreve uma coluna no jornal da universidade?
— Será que ele conhecia o Kim?
— Acho que sim. O Kim vivia lá perto, apesar de não ser aluno.
— Continua!
— Aqui diz que, após a chegada da Polícia, o corpo foi encontrado e identificado pela própria investigadora, que informou a Delegacia e realizou a busca, na casa do principal suspeito, provas. Até que declarou prisão em flagrante a Joaquim Castanho por tráfico de drogas e, posteriormente, o juiz encarregado decretou prisão preventiva para ele pelo assassinato de Mariana. Aqui não consta a data para o julgamento...
— Claro que não consta — Ele bufou — Porque não é prioridade para eles solucionar um caso de mais um garoto preto e pobre. Do jeito que as coisas são, esse julgamento pode demorar meses. Até mesmo anos! Enquanto isso, Joaquim vai estar na cadeia junto com líderes de quadrilha e assassinos. Podendo muito bem ser inocente.
— Víni! — A voz da loira chamou sua atenção — A gente não pode deixar isso acontecer! Temos que investigar esse caso!
— Sim. E eu vou.
Durante o resto do percurso até o presídio de Joaquim, os dois continuaram lendo, folha por folha, o que dizia a respeito sobre a prisão preventiva do rapaz. Pela visão da policial, obviamente.
Quando desceram do veículo, precisaram esperar cerca de uma hora em todo o processo entre a entrada da penitenciária e a sala de visitas. Já eram onze horas da manhã.
Quando entrou no enorme salão onde vários detentos conversavam com seus parentes e amigos, Astrid logo reconheceu o rapaz corpulento de camisa cinza e barba por fazer.
Ele estava virado de frente para a porta, então logo seus olhos escuros se encontraram com os azuis da loira. Sua mandíbula deu uma leve caída.
— Kim! — Ela exclamou de emoção.
O olhar triste e desesperado do rapaz tocaram o coração da jovem. Suas olheiras, sua barba por fazer... Aqueles dois dias certamente não estavam sendo nada fáceis. Quando chegou perto para se sentar, sentiu o odor desconfortável que ele exalava.
Ele sabia disso e ficava profundamente envergonhado.
— Astrid? O que estão fazendo aqui? Por que estão...
— Como você está, meu amigo? — Ela disse, envolvendo o jovem em um abraço.
Quando entrou na cadeia, imaginou que aquele seria seu fim. Como sua avó já estava morta, era só ele naquele mundo. Ninguém iria vê-lo. Lembrar-se de que haviam pessoas que se importavam com ele foi importante.
— Eu? É... Tô indo — Ele disse, desfazendo-se do abraço. Logo percebeu a presença de Vinícius e estendeu a mão para cumprimenta-lo — É... Oi! Acho que te conhe...
— Sou Vinícius Dantas, da universidade. Sou amigo da Astrid.
— Ele está se formando em Direito, Kim — ela explicou — É um dos melhores da turma. E vai ajudar a te tirar daqui.
— Me tirar daqui? — Ele levantou uma das sobrancelhas e se sentou. Os outros dois fizeram o mesmo — Acha mesmo possível?
— Até agora, temos apenas a versão da policial dos fatos — falou Vinícius — Precisamos da sua. E quem sabe, acelerar o seu processo...
— Olha... — Ele suspirou, olhando para baixo — Quando cheguei aqui, conheci gente de todo o tipo, saca? Aqui tem assassino, ladrão, nego que assalta loja... E muita gente inocente que está há anos esperando um julgamento, na mesma situação que eu.
— Ei! — A moça segurou a mão do rapaz — Conta com a gente! Sabemos que você não é um criminoso!
— Joaquim — Vinícius começou — Nos documentos do seu processo consta que tinha, na sua casa, fios de cabelo da vítima agarrados em uma possível arma do crime. E quarenta gramas de cocaína. Você confirma isso?
— Confirmo — Ele suspirou, tentando evitar encarar o outro rapaz nos olhos.
— Você confirma, então, que traficava drogas?
— Traficar? — Ele torceu o nariz — Não! O que eu comprei foi era pra mim mesmo, pô.
— Ué? — Astrid inclinou a cabeça — Como que a Daniela pode ter colocado isso no...
— Não existe uma quantidade específica para determinar quem é usuário ou traficante, Astrid. É tudo critério do policial — Ele explicou, prosseguindo com a conversa — E como você conseguia dinheiro pra comprar as drogas?
— Eu tinha sim ligação com um dos líderes do tráfico, tá ligado? — admitiu — Depois que meus pais morreram e eu não fiquei sem grana pra dar conta das contas, eu roubava algumas coisas e vendia. Celulares, joia, relógio... Esse tipo de coisa, saca?
— E você vivia assim?
— De vez em quando. Às vezes, só às vezes, o padrinho também me fazia de mula. Tipo assim... Eu transportava o que ele quisesse para algum lugar ou alguma pessoa. E isso podia ser drogas, armas... Qualquer coisa! Em troca, ele me acolhia na gangue, me pagava pelos serviços com dinheiro e cocaína.
— Você era viciado?
— Pô, cara... Eu cheguei a usar bastante sim — Ele engoliu a própria saliva com raiva ao pronunciar aquelas palavras, cerrando seus punhos — Mas porra, num sou marginal assassino nem traficante não!
— Kim — Astrid sentia um aperto forte no coração — É provavelmente difícil se manter positivo nesse momento, mas te envio energias boas. Estarei orando pela sua recuperação.
Contra sua vontade, uma lágrima caiu dos olhos do jovem.
— Eu agradeço muito — Ele falou — É tão... Não sei como fala... Mas... Eu não esperava que alguém viesse me visitar. Muito menos tentando me ajudar. Nunca ninguém fez isso por mim. Num sei se mereço isso...
— Claro que merece.
— Não sou nenhum coitadinho, Astrid! Eu fiz muita coisa errada sim! Tenho consciência disso!
— Não estamos aqui pra julgar seu passado, Kim — Ela argumentava — Queremos apenas informações. E promover um julgamento justo pra você.
— Não quero que tenham pena de mim. Posso não ter matado a Mariana, mas eu já roubei, trabalhei pra traficante, abusei de muita gente e fui escroto por diversas vezes! — Ele se exaltava e as lágrimas caíam mais depressa.
— Mas está arrependido.
— Como sabe? — Ele olhava para a poça formada pelas suas lágrimas.
— Vejo no seu rosto — Ela falou — Kim, alguém além da gente veio aqui te ver?
Ele engoliu a própria saliva. Sua respiração estava ofegante. Com um movimento de cabeça, fez que sim.
— Foi a pastora Rosa, não foi? — Perguntou ela.
— Sim.
— E ela conversou contigo, né?
— Foi.
— E você não para de pensar no que ela falou. Porque eu sei bem o que ela falou. E eu vou repetir — Ela avançou seu corpo contra ele. Delicadamente, puxou seu queixo para cima, podendo encará-lo — Jesus entregou a vida Dele por você. Ele te quer. Do seu próprio jeito.
— Você acredita nisso? — Ele disse, entre as lágrimas.
— Você tem a oportunidade de se redimir, Kim — Ela falou, ignorando completamente a pergunta do rapaz — A Deus e aos homens.
— Como? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— Henrique está morto — Ela disse, voltando a posição que estava anteriormente.
— Quê? — Levou sua mão aos lábios — Como? Ele...
— Assassinado.
Vinícius, que até então observava a conversa emocionante dos dois com o coração batendo aceleradamente, comprimiu os lábios e resolver falar.
— Na noite do casamento da Nicole. Ele, bem... Foi encontrado morto.
— E o que eu... — Como se uma lâmpada acendesse seus pensamentos, seus olhos arregalaram — Ah! Acham que eu tenho a ver com isso?
— Não você — Vinícius pegou os papéis do processo penal do rapaz — Mas acreditamos que possa existir alguma relação entre a morte de Mariana e a dele. E, como você era amigo dele... Talvez possa nos dar alguma informação importante.
— Eu... Não sei nem por onde começar!
— Kim! — Astrid exclamou — Qualquer informação vai nos ajudar! Assim, você vai poder nos ajudar a pegar o culpado!
— Certo...
— Olha... — Vinícius continuou — Pode começar sobre sua relação com o Henrique. Como ela teve início?
— Eu já conhecia o Henry há anos. A gente estudava na mesma escola. Cê sabe, Astrid — ele falava, e a loira concordou com a cabeça — Mas daí deu naquilo, né... Meu pai matou a minha mãe e foi pro xadrez. Depois disso, fui viver com minha tia lá em Bangu. Faz seis meses que vim morar com minha avó. Estavam querendo a minha cabeça lá em Bangu porque meu pai tinha uma dívida com o chefe do tráfico. Quando cheguei aqui, não consegui emprego em lugar nenhum e minha avó estava ficando doente... Pô, cara... Entrei pra quadrilha. E, em um dos serviços que fiz pro chefe de levar droga pra aluno na festa, reencontrei Henrique. A gente foi se falando. Até que, em outro dia, ele estava se queixando muito das coisas que aconteciam na casa dele...
— Que coisas? — Vinícius o interrompeu.
— Ele dizia que queria ser cantor, mudar o estilo... E que não concordava muito com a forma que os pais tratavam ele e as irmãs, tá ligado? — Os dois afirmaram — Daí eu falei pra ele se esquecer daquilo e entreguei um copo de cachaça.
— E então?
— Daí que ele não gostou muito. Mas no dia seguinte, a gente saiu de novo com a galera pra uma festa. Ele bebeu. Mas bebeu muito mais. Daí ele enchia a cara sempre. Só vivia bêbado. E eu nem precisava entregar mais bebida nenhuma.
— Qual foi a última vez que você o viu?
— Vish... — Ele segurou o queixo — Acho que na terça. A gente teve um... Desentendimento.
— Como assim? O que houve?
— A gente não chegou a se ver. Ele só me enviou umas mensagens pelo celular.
— Hum... Explica. O que aconteceu?
— Então, na segunda à noite, ele tinha enviado para um grupo numa rede social, um vídeo dele transando com a Andressa.
— Que grupo? Como assim? — Ela questionou.
— Toma — Vinícius disse, entregando a ele seu celular — Deixa eu ver a publicação.
Pacientemente, o rapaz entrou em sua conta em uma das redes sociais mais populares do momento e pesquisou pelo grupo secreto onde ele e mais um monte de outros cidadãos compartilhavam conteúdo pornográfico. A única postagem que Henrique havia feito era a do tal vídeo.
— Kim, essa cena não te lembra nada? — Astrid semicerrou os olhos.
— Esse lugar... Olha, eu acho que sei sim de onde é — Astrid e Vinícius se entreolharam. Com as pálpebras bem abertas — E eu acho que vocês também.
— E é de onde?
— Sabe do bandeijinha? Aquele prédio abandonado que fica atrás do Instituto de Agronomia?
— Você acha?
— Não percebem? — Ele fez uma pausa — Vão lá e comparem. O piso, as rachaduras da parede... Tudo! Isso foi tirado de uma janela. Esconderam bem, até.
— Joaquim — Vinícius respirou fundo, e prosseguiu — Eu não queria te assustar não. Mas essa informação meio que está complicando para o seu lado.
— Quê? Não! Não fui eu quem filmei isso.
— Sabe quando aconteceu?
— Quantas festas da UNIFRJ teve nos últimos quatro meses? — Astrid questionou a Vinícius.
— Tá perguntando pra pessoa errada, Astrid. Acho que várias!
— Tá. Mas quantas festas da UNIFRJ ocorreram perto do Instituto de Agronomia em que Henry e Andressa foram vestindo essas roupas?
— É. Não vai ser tão difícil descobrir...
— Eu sei! — Joaquim arregalou os olhos. Lembrou-se — Quando foi o primeiro dia do programa?
— Vinte e seis de maio. Por quê?
— Porque isso aconteceu dois dias antes. Foi quando eles se conheceram! Óbvio! Eu estava na festa e...
— Kim! — Astrid começava a desconfiar dele, mas não percebia, em suas expressões faciais, sinais de mentira.
De repente, seu celular tocou, e a jovem logo se prontificou a atendê-lo. Levantou-se e se afastou um pouco dos dois.
— Ficaria mais fácil se você contasse a verdade. Se foi você quem filmou, ou quem divulgou, é melhor dizer logo. Porque se você se lembra a data, a roupa deles, o...
— Víni! — Astrid lhe chamou, interrompendo seu raciocínio — Não precisa insistir! — A jovem suspirou. Ainda com o celular sobre a orelha, continuou — Já sei quem divulgou o vídeo.
— É claro! — Joaquim pôs a mão na testa — Era tão óbvio!
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11h02m
Nicole abriu a porta de madeira sem cerimônias.
— Foi você, não foi? — Ela cruzou os braços e encarou, com as pálpebras semicerradas, o olhar desesperador da irmã que foi pega de surpresa em seu quarto.
Rayane vestia uma camisola e um short curto, confortável. Desde que acordara, estava utilizando seu computador portátil no colo.
Quando notou o repentino mau humor no rosto de sua irmã mais velha, lembrou-se do que fizera meses antes, o que provavelmente teria sido descoberto.
— Do que você tá falando? — Ela fechou seu notebook e o guardou na escrivaninha ao seu lado — Que foi, hein? Uma hora dessas...
— Rayane, responde só uma vez: foi você quem compartilhou o vídeo do Henrique transando com a Andressa? — Ela pôs as mãos na cintura e uniu as sobrancelhas.
Rayane engoliu a própria saliva.
— Eu não faço ideia do que você tá falando!
— Não adianta mentir pra mim, Rayane! — Ela se aproximou da caçula e apontou o dedo direito para ela — Eu descobri o IP do aparelho que divulgou o vídeo. E foi do seu computador!
— Não, Nico! Tá doida! Eu não... — A garota comprimiu seus lábios e vasculhou, em vão, alguma resposta cabível para aquela acusação pelos cantos do seu quarto.
— Eu não acredito! — Ela bateu o pé no chão com força. Seus punhos estavam cerrados.
— Ah, qual foi, Nicole! Eu também tô super triste pelo que aconteceu, cara! Mas o que isso tem a ver? Eu não sou assassina, tá legal? — Ela se levantou, seus olhos começavam a lacrimejar — Por favor, Nico! Não fala pra ninguém não! Eu não tenho nada a ver com a morte do nosso irmão! Eu só... Só gravei e divulguei o vídeo, poxa!
A mulher torceu o nariz.
— Você não tem ideia, né? — Ela passou as mãos nos cabelos. Sua voz já estava exaltada — Como dá pra acreditar em você, Rayane?
— Nico! — Ela a chamou, e fez uma pausa — Você realmente acha que eu matei o Henry?
— Não, Rayane. Eu não acho — Ela falou, moderadamente — Mas eu vou descobrir quem foi. Vou descobrir tudo. Já estou descobrindo...
— O que você descobriu?
— Rayane, por que você filmou esse vídeo? — Ela cruzou os braços e ficou esperando por uma resposta.
— Nico... — Quando deu por si, seu rosto já estava cheio de lágrimas. Sentou-se na cama e cobriu o rosto — Eu filmei porque queria guardar isso pra mim. Queria ver. Só isso! Cê sabe do que tô falando...
— Queria ver eles transando? — Ela inclinou a cabeça.
— Puta merda, sim! Tá satisfeita? Sim, queria! — Tirou as mãos do rosto. Suas bochechas estavam levemente coradas — Ai, saco! Se você contar pra alguém eu não sei o que sou capaz de fazer, viu? Mas... Quer saber? Eu curto assistir esse tipo de coisa, tá legal?
— Pornografia — Ela disse, engolindo em seco.
— Que seja!
— Desde quando você assiste essas merdas, Rayane?
Com uma sobrancelha arqueada, encarou a irmã.
— Eu não sou a única que assiste pornô adoidado nessa casa não, sabia?
A mandíbula de Nicole deu uma leve caída.
— Como assim?
— Procure o histórico do Henry — Ela se levantou e pôs a mão na cintura — E o do papai!
— Como é?
— Pois é, Nico! Pasme! Todo aquele papo de — ela fez um sinal de aspas — "ser uma moça recatada e de respeito" era só para que outros não façam conosco o que eles fazem com outras garotas!
— Você só pode estar brincando. Não é possível...
— Você conseguiu rastrear o meu IP. Consegue descobrir o que meu pai anda fazendo. Só não sei como você se surpreende com isso... Logo você.
Ela engoliu a própria saliva e, por alguns instantes, ficaram em silêncio.
— Você tem razão... Por que me surpreendo com isso? — Pôs a mão sobre a testa — Ai, que ódio! Essa família nunca foi esse centro de amor e carinho que fazíamos parecer. Só agora que estão percebendo. Nossa família não está desmoronando. Ela já caiu faz tempo. O Brasil tá vendo. Botaram a culpa no Henry e, agora, em mim por isso!
Nicole já estava ofegante. A cada dia, sentia-se mais desconsolada. Iludida pela ideia de herói que tinha do pai como exemplo de homem. Percebia que, tanto ele, quanto sua mãe, erraram bastante.
— Eu te entendo, irmã! — Rayane falou, em um suspiro.
— Espera! — Ela uniu as sobrancelhas de novo, encarando a mais nova — O que te fez publicar o vídeo?
— Porque eu queria ver o circo pegar fogo mesmo — Ela falou, inclinando o rosto.
— Rayane! — Nicole gritou, fazendo um bico.
— Eu... Eu... Eu achei que não seria nada demais e... — Ela começou a gaguejar e, da mesma forma que antes, passou os olhos por todos os cantos do recinto em busca de uma resposta convincente — E ele também não cumpriu com a nossa parte do acordo!
— Que acordo? Explica isso direito!
— A gente tinha feito um acordo, tá? — Ela passou as mãos no cabelo — Eu não contaria nada do que eu sabia sobre ele. E ele arrumaria um amigo dele pra me namorar.
Nicole demorou alguns segundos para processar aquela informação.
— Eu não tô acreditando. Você tá falando sério, Rayane?
— Estou! E, bem... Ele me levou em umas duas festas e lá eu fiquei com o Joaquim. Já adianto que não rolou nada além de beijos.
— E foi nessa festa que você...
— Sim! Foi aí que gravei o vídeo.
A mais velha ficou caminhando pelo quarto por mais um minuto, sem falar uma palavra. Em sua mente, imaginava infinitas possibilidades sobre o que cada uma daquelas informações poderia estar relacionada com a morte de seu irmão.
De repente, parou e apanhou seu celular do bolso, discando o número de contato de sua amiga Astrid Hoegen. Pouco antes de completar a discagem, voltou a olhar a irmã. Com as pálpebras semicerradas.
— O que mais sabe sobre o Henrique?
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