17: RESPEITA
Você que pensa que pode dizer o que quiser
Respeita aí, eu sou mulher
Quando a palavra desacata, mata, doí
Fala toda errada que nada constrói
Constrangimento, indetrimento de todo discernimento quando ela diz
Não mas eu tô vendo, eu tô sabendo
Eu tô sacando o movimento
É covardia no momento
Quando ele levanta a mão
Ela vai, ela vem
Meu corpo, minha lei
Tô por aí, mas não tô à toa
Respeita, respeita
Respeita as mina porra
Respeita - Ana Cañas
♫
09h58m
Paula se deparou com a ex-noiva de Alexandre saindo da sala onde Louise fazia seu interrogatório.
Como a porta havia sido deixada entreaberta, Paula entrou devagar.
— Inspetora? — Ela chamou, tirando a mulher de suas reflexões, fazendo-a focar sua atenção no que a outra policial tinha para dizer — O médico legal quer falar com a senhora sobre os resultados da análise.
— Já vou! — Louise falou, levantando-se e acompanhando a colega.
As duas foram diretamente ao escritório de Louise, a pequena sala onde havia um tapete, mesa, computador, quadro com suspeitos e, naquele momento, um homem vestindo jaleco utilizando o computador pessoal dele.
— Bom dia — Ela o cumprimentou, estendendo a mão que foi, prontamente, apertada.
— Bom dia — Ele sorriu — Detetive Louise?
— Exatamente.
— Nessa manhã me debrucei no caso do senhor Henrique e, há poucos minutos, cheguei a algumas conclusões — Ele falou, levando a mira de seus olhos novamente para a tela de seu notebook, onde eram mostradas fotografias do corpo de Henrique Martins — Como já era esperado, Henrique morreu mesmo entre vinte horas e vinte e uma horas e meia. O que o matou também não é uma surpresa muito grande: foi a tesoura. O assassino enfiou toda a parte metálica do objeto que o fez ter uma hemorragia severa. E como tudo foi imerso a água, não foi possível analisarmos a existência de DNA do assassino.
— E os hematomas?
— Ele aparentemente sofreu uma briga. Vários cortes irregulares sobre seu corpo foram desferidos. Ao todo, foram seis. Como se o assassino saísse como um louco passando a tesoura pra qualquer lado até que, finalmente, cravou a tesoura pontiaguda em sua barriga.
— E quem o acertou provavelmente usou a mão...
— Direita, certamente!
— Mais alguma coisa?
— Teve uma. Na sua ferida, eu encontrei restos de... — ele fez uma pausa — de uma toalha. Uma toalha branca.
— Toalha? — A mulher pôs a mão no queixo — Seria para... Estancar a hemorragia?
— Foi o que eu pensei também. Mas pode ser para limpar o sangue que caiu em algum outro lugar, quem sabe...
— Vou ligar agora para o salão. Vamos ver se há alguma toalha no quarto de Nicole que foi roubada! — Ela falou, sacando o seu celular, mas ficando imóvel logo depois de lembrar de outra coisa — E ver se a arma do crime já não era de alguém.
09h59m
Quando Nicole saiu da sala de interrogatório, percebeu que mais pessoas aguardavam sua saída para ter uma sessão com Louise.
As cadeiras de espera estavam ocupadas por Andressa, Letícia, Iago, Daniela e Alexandre.
Engoliu em seco quando avistou todas aquelas pessoas e permaneceu estática com os olhos arregalados.
— O que foi que você falou lá, sua ridícula? — Uma terceira pessoa, uma senhora de baixa estatura, bastante conhecida por ela, a surpreendeu vindo por trás. Com as sobrancelhas unidas e cara de poucos amigos, ela apontava para a jovem, quase a agredindo — Você não sabe o caos que causou! Inconsequente! Mimada!
— Deixa ela, mãe — Alexandre se aproximou, tentando fazê-la se acalmar — Quando perceber que ninguém além de mim quis ficar com ela, ela vai perceber a burrada que fez!
— Eu devia ter confiado nos meus instintos de mãe! — A velha disse, rudemente — Sabia que você não prestava! Você tem que crescer, garota!
— Crescer? — Ela cruzou os braços e indagou a mulher — Seu filho não sabe lavar uma louça. Nunca lavou a própria cueca! Sou eu mesmo que preciso crescer? Me poupe!
A maioria das pessoas ao redor se levantaram e começaram a prestar mais atenção na discussão. Os ânimos se agitaram e a mulher elevou seu tom de voz.
— Garota, você me respeite, viu? — Ela gritou — Abusada! Ainda bem que Alexandre se livrou de uma louca desequilibrada feito você!
— Você devia ter vergonha de ficar lambendo sua cria desse jeito, viu?
— Você cale sua boca, Nicole! — Em um surto de raiva, Alexandre se exaltou e, com o rosto avermelhado, apontou o dedo agressivamente para a jovem e deu dois passos na direção dela — Sempre querendo me confrontar! Sempre me irritando! Errado sou eu que resolvi me casar com você, né? Sua piranha maldita, você vai ver só!
O homem se aproximava dela, até que Letícia, sem conseguir se controlar com aquela cena, resolveu entrar no meio dos dois.
— Ela vai ver o quê? — A jovem negra, com as mãos na cintura e olhar penetrante se intrometeu, fazendo Alexandre parar — Hein? Me mostra que eu quero ver! Quero ver se você tem coragem!
— Garota, não se mete em briga de...
— Cala a sua boca! — Ela gritou, furiosa — Nenhuma mulher será agredida aqui! Nem física, nem psicologicamente. A Nicole fez a melhor decisão da vida dela dando um pé na bunda num machistinha escroto como você!
— Quem é vo...
— Eu não falei pra você calar a boca? — Ela aumentou seu tom de voz, visivelmente indignada com o que acontecia antes de sua interferência e com a apatia das outros civis e policiais ali presentes — Eu vou defender a vítima dessa história! Porque ela foi machucada por um cara que é incapaz de entender que não é dono de mulher alguma!
— Você é podre, Alexandre! — Andressa, que pousava suas mãos na cintura, ao seu lado, falou — Aquele discursinho fajuto seu... Dá nojo! Tome um rumo nessa tua vida e, pelo amor de Deus, aprende a respeitar as mina, porra!
— Qual o problema de vocês, hein? Nem conhecem a história da Nico...
— Não importa! — A moça olhou para trás. Nicole lacrimejava calada, suspirando. Letícia estendeu sua mão a ela e Andressa, do outro lado, fez o mesmo. Ela segurou firmemente nas duas — Nós estamos juntas nessa!
— Você pode tentar ferir, de qualquer forma que seja, uma de nós — Andressa disse — Mas não vai conseguir nos ferir juntas.
Alexandre e sua mãe engoliram a seco. Assustados, não sabiam o que fazer. Houve um silêncio perturbador que só foi rompido com a chegada de Louise.
— O que está havendo? — A detetive perguntou, chegando no local.
— É... Nada, senhora policial! — O ruivo respondeu, com seus membros trêmulos.
— Senhor Alexandre Galdino, por gentileza, me acompanhe na sala para realizarmos o interrogatório!
— S-sim, s-senhora! — Gaguejando, o homem acompanhou a policial.
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10h22m
— O que aconteceu na noite de ontem, senhor Galdino? — Ela falou, com os braços cruzados, analisando, com os olhos, cada mínimo sinal de mentira do ruivo — Conte como foi o seu dia.
— Bem, eu acordei bem cedo. Seis da manhã — Ele tentou desviar os olhos do olhar penetrante de Louise — Levantei e tomei o café que minha mãe tinha preparado. Lá para as oito eu fui ver como estava o salão. Conversei com a cerimonialista, acertei os últimos detalhes, entrei em contato com a TeleMil e, quando reparei, já estava na hora de eu ir pro spa que me ofereceram para o dia. Almocei, descansei, treinei um pouco o canto e, enquanto atendia a alguns telefonemas, me preparava até chegar a hora de ir para o casamento.
— Tá bem, mas... A partir do momento que chegou no salão. Quais foram os seus passos?
— Basicamente o que qualquer noivo faz no dia da cerimônia antes do casamento em si. Receber os convidados.
— E, em algum momento, subiu ao andar de cima?
— S-sim — Ele respondeu — Quando o Henry, a Andressa e a Ana Laura chegaram, nós quatro e a equipe da TV subimos para os últimos detalhes sobre nossa apresentação.
— Quando e onde rolou essa conversa?
— Ela rolou assim que a Dêssa chegou. Lá para as dezenove horas ou dezenove e trinta. Fomos para a cabine dois, que era a sala mais espaçosa onde nós, cantores, nos preparamos. Decidimos, de vez, cantar Hallelujah juntos. Fizemos um ensaio rápido e estabelecemos algumas condições. Logo, voltamos para o andar de baixo.
— E você voltou lá pra cima antes do casamento?
— Negativo!
— E mais alguém voltou? — Ele semicerrou as pálpebras e fez que não com a cabeça. Louise olhou para baixo e mudou a pergunta — Tinham quatro cabines para produção, certo? Para quê elas eram?
— A primeira cabine era só para a noiva. Era dedicado apenas para quando a Nicole fosse subir lá, após o casamento, para retocar a maquiagem e iniciar a sessão de fotos e vídeos. A segunda era para nós, cantores, que seríamos os destaques, né. E para o João Victor, é claro. Por isso era a maior. A terceira, também grande, era para todos os padrinhos e a quarta para as madrinhas.
— Sei — Ela falou, conferindo se o escrivão digitava tudo corretamente — E como era a sua relação com o Henry?
Ele respirou fundo antes de responder.
— Não costumávamos falar muito. Principalmente depois que ele saiu de casa. Só nos víamos nas audições e ensaios do programa, mas não tocávamos no assunto de seu afastamento da família ou sua relação com a bebida...
— O que tem a dizer sobre essa situação toda?
— Sinceramente? — Ele torceu um pouco o nariz — Acho que o Henry colheu o que plantou, infelizmente. Ele se meteu com gente ruim. Gente da pior espécie. Se envolveu logo com a maluca da Andressa, que só pelo estardalhaço que deu ainda pouco dá pra ver que é uma má influência!
— Achei que fosse mais simpático com a causa feminista...
— E eu sou! Sou muito, aliás! Mas, veja bem, tanto a Andressa quanto a Letícia são mulheres descontroladas que se acham a última bolacha do pacote! Não sabem discutir. Acham que até eu — enfatizou a última parte —, só porque sou homem, sou uma ameaça a elas e não posso estar certo. Daí defendem a Nicole! Esse feminismo delas é completamente errado!
A detetive se manteve inexpressiva com as palavras de Alexandre. Mesmo discordando com tudo que ele falava, não tinha paciência nem tempo para instruir o rapaz e mostra-lo como ele estava errado.
— Mas eu ainda não entendi — Ela suspirou e se aproximou mais do homem — Como você acha que as atitudes de Henrique contribuíram para a morte dele? Tem alguma teoria sobre o que houve?
— Pra falar a verdade, detetive, eu tenho sim — Ele olhou para cima e, logo depois, para Louise, que o fitava com o cenho franzido — Henrique estava envolvido com Joaquim. Que estava envolvido com drogas. Joaquim matou a Mariana e foi preso. Mas por que ele faria isso? Bom, pelo que pesquisei, Mariana também não tinha uma índole muito... Confiável, certo? Daí eu penso: e se Mariana estava envolvida com Joaquim da mesma forma que também estava com Henrique? O que liga os dois? O que...
— Joaquim está preso! — Ela exclamou, interrompendo o raciocínio do ruivo — Como acha que ele poderia ter matado o Henrique da cadeia?
— Não digo que foi ele o assassino — Ele encostou suas costas no encosto da cadeira acolchoada e cruzou os braços, lançando um sorriso orgulhoso para a policial — Mas penso em alguém que odiava tanto Henrique quanto Mariana, que usou Joaquim para levá-los a um mundo perverso e fazê-los morrer.
— Vá direto ao ponto! — Ela ordenou, já visivelmente estressada.
Alexandre, no entanto, deu uma leve risada, exalando soberba.
— Letícia Bertoti!
— Quê? Por quê? — Ela cruzou os braços e cerrou suas pálpebras em direção ao cantor.
— Letícia era apaixonada por Andressa! Sempre foi! Cheguei a conhecê-la quando ela nos visitava nos ensaios. Era possessiva e lunática! Não tenho dúvidas que seu sangue quente a impulsionou a ordenar o assassinato da Mariana e executar o Henrique.
— Tem certeza? — Ela levou as mãos na cintura.
— Absoluta!
— E por que ela e não o senhor, senhor Alexandre? — Ela inclinou seu tronco para frente, lançando-lhe um olhar desafiador que fez o ruivo engolir a própria saliva e, instantaneamente, tomar uma postura diferente. Menos altiva. Mais desconfortável — Porque me parece que você tinha também boas motivações para a morte de seu cunhado!
— Eu? — Ele pôs a mão direita sobre o peito e arregalou os olhos — Como?
— Senhor Alexandre, não me engane! Você e Henrique não tinham um bom relacionamento. Ele tinha grandes chances de te vencer no concurso e, ainda, convencer Nicole de que não deveria se casar com você!
— A senhora suspeita mesmo que eu tenha matado meu cunhado só para vencer um reality show? — Indagou, cruzando os braços e levantando uma sobrancelha — Ou até mesmo... Porque ele não ia com a minha cara?
— Senhor Alexandre! — Ela bateu na mesa, fazendo o escrivão se assustar com tal atitude — O que eu suspeito ou deixo de suspeitar não lhe diz respeito. Acho bom que o senhor reconheça seu lugar aqui ou teremos um problema!
— Eu não poderia ter matado Henrique!
— Por que não?
— Ora, a morte dele desgraçou com a minha vida! — Sua expressão passou a ser de desespero — Agora, perdi meu casamento, meus fãs me odeiam, sou suspeito de assassinato e ainda não tenho chance alguma de vencer o reality que estava tão perto de vencer! — Ele passou as mãos pelos cabelos — Eu realmente odeio o Henrique por ter feito a cabeça da Nicole! Aproveitou que ela é uma garota influenciável que tem mente vazia e implantou suas ideias rebeldes! Mas sua morte me deu um prejuízo irreparável!
Um silêncio perturbador se instalou no ambiente naquele momento. Louise analisava seu discurso com atenção, pensando em tudo o que era dito. Após suspirar, tomou sua decisão e quebrou o silêncio.
— Está dispensado, senhor Alexandre!
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10h58m
Ulisses entrou no local segundos depois de Alexandre sair.
Louise ainda processava as informações que obtivera ali, naquele interrogatório com o ex-noivo de Nicole.
— Inspetora?
— Entre — Ela solicitou, dando uma pausa nos seus próprios pensamentos para prestar atenção no que o perito desejava lhe falar — E então?
— Não foi encontrado celular algum. Dei uma outra varredura na cena. Vimos todas as cabines e vasculhamos todo canto que ele poderia ter deixado o aparelho. Nada.
— Alguém pegou, Ulisses!
— Sim! Se quiser, eu tento arrumar um jeito para rastreá-lo. Deve ter um jeito! — Ele disse — Você sabe, desde que o perito em TI foi embora, eu tento me virar do meu jeito, mas talvez demore...
— Tudo bem. Eu sei que você vai conseguir — Ela disse e logo sorriu para ele — E o que mais descobriu?
— Descobri que uma toalha, sim, foi roubada. Mas não da cabine da Nicole. Mas da cabine dos cantores!
— Oh! Isso pode significar muita coisa! — A mulher pôs a mão na boca — Mais alguma coisa?
— Sim! E tenho certeza da importância disso que o perito acabou de nos fornecer — Ele disse, entregando para a detetive uma folha com alguns escritos. Até porque... Todas as toalhas do quarto da noiva eram vermelhas. Não brancas.
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10h23m
Do lado de fora da Delegacia, as três jovens formavam uma rede de apoio.
— Nem acredito que estou dizendo isso, mas... — Nicole falou, passando a mão sobre a testa e, ligeiramente envergonhada — Muito obrigada, meninas! Vocês não sabem o alívio que senti quando percebi que não estava sozinha.
Letícia deu uma leve risada.
— Nós, mulheres, somos criadas para competirmos entre nós mesmas — Ela falou, encarando a moça com carinho — Prestar apoio uma a outra é um ato de subversão.
— Me sinto tão culpada por, um dia, ter julgado vocês... — Ela comprimiu os lábios — Na hora que mais precisei, foram vocês que me ajudaram. Me perdoem!
— Sem problemas, querida — Andressa se aproximou e a envolveu em um abraço — Você é tão linda, inteligente, simpática... Não precisa daquele traste! Você merece ser feliz!
— Vocês têm razão — Ela admitiu, desfazendo-se do gesto — Apesar de isso ser tão difícil após a morte do meu irmão...
As duas engoliram a própria saliva, ao voltarem a se lembrar do caso.
— Vai dar tudo certo — Letícia disse.
Nicole assentiu e, finalmente, despediu-se das duas. Foi ao ponto de ônibus e se preparou para retornar a sua casa.
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10h30m
— Ela falou isso mesmo?
Joana tentava não perder o controle de si mesma. Todo o caos ocorrido no dia seguinte devido a recusa de Nicole em se casar e, principalmente, a morte de seu filho do meio, a deixaram em um estado delicado demais.
Enquanto seu marido, Bernardo, dirigia o carro até a Delegacia, a mulher falava, no banco ao lado, com a ex-sogra de sua filha pelo celular no viva-voz.
— Falou! E depois se juntou com aquela Andressa e a amiga dela... Uma preta toda marrenta! — A mulher esbravejava.
— Elas não são amigas não, dona Lurdes. São namoradas — ela corrigiu, em tom de desprezo na última palavra.
— Que aberração! Duas sapatonas andando com a tua filha, Joana! Tava sabendo disso? Foi desse mesmo jeito que Henrique começou e terminou morto!
— Não sabia disso. Vou ter uma conversa com ela.
— Seja rápido antes que seja um caso perdido, viu? E segure a Rayane! Até agora, ela é a única que se salvou dessa tua família. Agora você vai ter que...
Sem paciência, Joana desligou o celular. Nem mesmo esperou a mulher concluir seu pensamento. Revirou os olhos.
— Por que desligou? — Bernardo questionou.
— Sem condições, Bernardo! Tô cansada demais pra ouvir essas coisas...
— Você não pode simplesmente desligar na cara das pessoas! Já falamos sobre isso... — Ele falou, repreendendo a mulher, que se lembrou de outra ocasião que ela fez o mesmo com ele — E ela não tá falando nenhuma mentira! Nicole vai ouvir umas poucas e boas por ficar andando com essas duas depravadas!
Joana suspirou. Realmente, seu psicológico não estava em condições de discutir com a outra. Seu cansaço mental conseguia superar o físico.
Seus músculos ainda não haviam descansado de todo o esforço que fez naquela semana. Após vinte e quatro horas no plantão do hospital, na quarta-feira, a mulher enfrentou um engarrafamento estressante no ônibus até chegar em casa e, quando chegou, deparou-se com a casa em uma extrema desordem. Naquele dia, Nicole estava ocupada demais com os preparativos para seu casamento e Rayane tinha acompanhado.
Apesar de Bernardo estar presente, a organização da casa ficou toda por conta dela. E após tudo, foi repreendida pelo marido por não ter preparado o jantar a tempo.
Nos dias seguintes, auxiliou a filha nos preparativos do casório. Sem dormir o suficiente. Apenas as maquiagens poderiam esconder seu cansaço.
— Eu tinha, na semana que vem, duas palestras lá em Natal e uma reunião com a nova editora. Cancelaram! — Ele falou, praguejando logo em seguida — Onde foi que erramos? Já não bastava o Henrique, Nicole também colocou na cabeça dela que nos odeia e vai fazer de tudo pra nos causar desgosto!
— E depois falava que a gente controlava demais a vida dela... Se controlássemos, esse tipo de coisa não aconteceria!
— Pois é! Mas eu sempre falei pra você, Joana, que você devia estar mais presente na vida da sua filha!
— Eu? — Ela se virou pro marido com uma sobrancelha levantada — Vai me culpar agora?
— Ah, e isso é responsabilidade de quem? Quem tem que estar por dentro das coisas da filha? — Ele indagou, sem tirar os olhos da estrada, enfatizando o sufixo 'a'.
— Querido, eu não sou vidente! — Da forma mais sútil possível, Joana tentava não se exaltar com o marido.
— Que seja!
Para o contentamento de Joana, Bernardo acabara de estacionar o carro em local apropriado na Delegacia. Já era acostumada a ouvir absurdos que lhe desagradava calada, mas ser poupada de ouvir ainda mais, era um alívio.
Abriu as portas e saiu.
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